ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

domingo, 26 de abril de 2015

Começou a ostensão do Santo Sudário em Turim

Começou a ostensão do Santo Sudário em Turim

Em junho, o papa irá venerá-lo e prestar homenagem a São João Bosco

Por Redacao

ROMA, 21 de Abril de 2015 (Zenit.org) - A ostensão do Santo Sudário começou neste domingo na cidade italiana de Turim. Também chamado de Síndone, o sudário é o pano em Jesus teria sido envolto antes de ser colocado no sepulcro.

Para os crentes, é um símbolo da ressurreição de Cristo; para os não crentes, um mistério que a ciência não consegue explicar.

O arcebispo de Turim, dom Cesare Nosiglia, presidiu a missa com que foi aberta a exposição da Síndone aos fiéis. A ostensão irá até o dia 24 de junho.

“O Santo Sudário, que guarda os sinais do sofrimento de Cristo, é também o anúncio da Ressurreição e, portanto, da esperança que nos diz que o bem vence o mal”, declarou o arcebispo. Jesus nos ensinou, prosseguiu dom Nosiglia, uma resposta diferente ao mal: não retribuir com outros males.

Nosiglia também recordou o drama dos prófugos cristãos lançados ao mar e o da imigração: é necessário “incentivar o diálogo inter-religioso, porque os extremistas sempre existiram em todas as religiões, etnias e Estados que querem impor a sua vontade”.

O papa Francisco viajará a Turim nos dias 21 e 22 de junho para venerar a Síndone e prestar tributo a São João Bosco no segundo centenário do seu nascimento.

Durante a visita à cidade, o Santo Padre celebrará uma missa aberta ao povo na Piazza Vittorio, com lugar reservado para jovens e doentes, e almoçará com um grupo de menores detidos no centro Ferrante Aporti. Francisco visitará ainda o santuário de Nossa Senhora da Consolação e terá vários encontros na Basílica de Santa Maria Auxiliadora, no Cotolengo e no Templo Valdense.

Um milhão de pessoas já se inscreveram para ver o tecido de linho com a imagem de um homem que apresenta os traumas físicos da crucificação: um homem sobre o qual a ciência ainda não tem uma explicação clara.

A Igreja católica não se pronunciou oficialmente sobre a autenticidade do sudário, que, há anos, é submetido a exames científicos. Alguns estudos históricos o datam da época de Cristo; outros, como o exame com carbono 14, concluíram que a peça é medieval, feita entre 1260 e 1390. Todos os resultados levantaram objeções. A imagem é vista com mais clareza em negativo, efeito descoberto pelo fotógrafo amador Secondo Pia.

Nos 200 anos do nascimento do fundador dos salesianos, o Santo Sudário está sendo exposto de forma extraordinária. A última vez em que tinha sido apresentado ao público foi no ano 2010. O acesso ao local da ostensão é gratuito.

Vaticano confirma viagem do Papa a Cuba

Vaticano confirma viagem do Papa a Cuba

A visita será em setembro, antes de chegar aos Estados Unidos

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 22 de Abril de 2015 (Zenit.org) - O Santo Padre Francisco, aceitando o convite das autoridades civis e bispos de Cuba, decidiu visitar a ilha antes de sua viagem para os Estados Unidos por ocasião do Encontro Mundial das Famílias.

Portanto, a viagem do Pontífice a Cuba está confirmada e acontecerá antes de sua chegada aos Estados Unidos de 23 a 27 setembro. O programa e as datas exatas da viagem serão publicados posteriormente.

Papa aos novos sacerdotes: "O perfume de vossa vida será o testemunho"

Papa aos novos sacerdotes: "O perfume de vossa vida será o testemunho"

Neste IV Domingo de Páscoa, Domingo do Bom Pastor e 52º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa ordenou 19 novos sacerdotes

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 26 de Abril de 2015 (Zenit.org) - Na manhã deste IV Domingo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor e 52º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco ordenou 19 novos sacerdotes. A celebração na Basílica de São Pedro teve início às 9h30 e foi concelebrada, entre outros, pelo Cardeal Vigário de Roma Agostino Vallini.

Treze dos ordenados foram formados nos seminários diocesanos de Roma. Nove no Colégio Diocesano “Redemptoris Mater”, três no Pontifício Seminário Romano Maior e um no Seminário de Nossa Senhora do Divino Amor. Dos outros seis, quatro pertencem à Congregação da Família dos Discípulos, um à Ordem Franciscana dos Frades Menores Conventuais e um é de rito malabarense, da Diocese de Thamarassery, Índia. Os novos sacerdotes, assim, são provenientes do Peru, Colômbia, Chile, Coreia do Sul, Croácia, Madagascar,  Índia e Itália. Todos tem menos de 40 anos. O mais jovem, completará 28 anos em 2 de junho.

O Papa recordou inicialmente que todo o povo santo de Deus foi constituído povo sacerdotal, “todos nós!”. No entanto, “o Senhor Jesus quis escolher alguns em particular, para que, exercendo publicamente na Igreja em seu nome o exercício sacerdotal em favor de todos os homens, continuassem a sua pessoal missão de mestre, sacerdote e pastor”. O bispo – observou o Santo Padre – arrisca ao refletir sobre um vocacionado e ao escolhê-lo, “assim como o Pai arriscou com cada um de nós”.

Dirigindo-se àqueles que em poucos instantes “seriam promovidos à ordem dos presbíteros”, o Santo Padre recordou que “seriam partícipes da missão de Cristo, único Mestre". "Deem a todos - disse ele - a palavra de Deus que vós mesmos recebestes com alegria. Leiam e meditem assiduamente a Palavra do Senhor para acreditar naquilo que leram, ensinar aquilo que aprenderam na fé e viver aquilo que ensinaram”. E acrescentou:

“E isto seja alimento para o Povo de Deus; que as vossas homilias não sejam monótonas, que as vossas homilias cheguem justamente ao coração das pessoas porque saem do coração de vocês, para que aquilo que vocês dizem a eles seja aquilo que vocês tenham no coração. Assim se dá a Palavra de Deus e a vossa doutrina será alegria e apoio aos fiéis de Cristo, o perfume de vossa vida será o testemunho, para que o exemplo edifique, mas as palavras sem exemplo são palavras vazias, são ideias e não chegam nunca ao coração, e até mesmo fazem mal, não fazem bem!”.

O Papa recordou aos futuros sacerdotes, que quando celebrarem a Missa, devem “reconhecer aquilo que fazem. Não fazer com pressa!”:

“Imitem aquilo que celebram – não é um rito artificial, um ritual artificial – pois assim participando ao mistério da morte e ressurreição do Senhor, levareis a morte de Cristo nos vossos membros e caminhais com Ele na novidade da vida”.

“Nunca recusem o Batismo a quem o  pedir!”, advertiu o Santo Padre. “E com o Sacramento da Penitência, perdoai os pecados em nome de Cristo e da Igreja”:

“E eu, em nome de Jesus Cristo, o Senhor, e da sua Esposa, a Santa Igreja, vos peço para não vos cansarem de serem misericordiosos. No confessionário vocês estarão para perdoar, não para condenar! Imitem o Pai que nunca se cansa de perdoar”.

Ao continuar a traçar o perfil de um verdadeiro sacerdote, Francisco advertiu:

“Conscientes de terem sido escolhidos entre os homens e constituídos a seu favor para esperar as coisas de Deus, exerçam na alegria e na caridade sincera a obra sacerdotal de Cristo, unicamente com a intenção de agradar a Deus e não vós próprios. É feio um sacerdote que vive para agradar a si mesmo....É um pavão!”.

Por fim, o Papa exorta a serem “ministros da unidade na Igreja, na família”, para conduzi-la a Deus Pai por meio de Cristo no Espírito Santo”, tendo sempre diante dos olhos “o exemplo do Bom Pastor, que não veio para ser servido, mas para servir; não para permanecer nas suas comodidades, mas para sair e buscar e salvar aquilo que estava perdido”. 

(Fonte: Rádio Vaticano)

Papa no Regina Coeli: "O bom pastor pensa nas ovelhas e doa a si mesmo"

Papa no Regina Coeli: "O bom pastor pensa nas ovelhas e doa a si mesmo"

Texto completo. Papa reza pelos nepaleses e pede solidariedade

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 26 de Abril de 2015 (Zenit.org) - Neste IV Domingo de Páscoa, após ordenar 19 sacerdotes na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco recitou a Oração do Regina Coeli na presença dos milhares de peregrinos e fiéis presentes na Praça São Pedro. Antes da oração, o Papa pronunciou as seguintes palavras:

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

O IV Domingo de Páscoa - este - chamado de "Domingo do Bom Pastor", a cada ano nos convida a redescobrir, com estupor sempre novo, esta definição que Jesus deu de si mesmo, à luz da sua paixão, morte e ressurreição. "O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (João 10,11). Essas palavras se tornaram realidade quando Cristo, obedecendo livremente a vontade do Pai, se sacrificou na cruz. Então, torna-se bastante claro o que significa Ele como "o bom pastor": deu a vida, ofereceu a sua vida como um sacrifício por todos nós: para você, para você, para você, para mim, para todos! Por isso é o bom pastor!

Cristo é o verdadeiro pastor, o maior modelo de amor pelo rebanho: Ele dispõe livremente a própria vida, ninguém a tira (cf. v 18.), Ele a dá em favor das ovelhas (v. 17). Em oposição aberta aos falsos pastores, Jesus se apresenta como o verdadeiro e único pastor do povo: o mau pastor pensa em si mesmo e usa as ovelhas; o bom pastor pensa nas ovelhas e doa a si mesmo. Ao contrário do mercenário, Cristo pastor é um guia cuidadoso que participa da vida do seu rebanho, não busca outro interesse, não tem outra ambição a não ser guiar, alimentar e proteger suas ovelhas. E tudo isso ao preço mais alto, o do sacrifício da própria vida.

Na figura de Jesus, bom pastor, contemplamos a Providência de Deus, a sua solicitude paterna por cada um de nós. Não nos deixa sozinhos! A consequência desta contemplação de Jesus Pastor verdadeiro e bom, é a exclamação de profunda admiração que encontramos na segunda leitura da liturgia de hoje: "Considerai com que amor nos amou o Pai..." (1 João 3,1). É realmente um amor surpreendente e misterioso, porque dando-nos Jesus como Pastor que dá a vida por nós, o Pai nos deu tudo aquilo que de maior e precioso poderia nos dar! É o amor mais alto e mais puro, porque não é motivado por nenhuma necessidade, não é condicionado por nenhum cálculo, não é motivado por nenhum interessado desejo de troca. Diante deste amor de Deus, nós experimentamos uma alegria imensa e nos abrimos ao reconhecimento por aquilo que recebemos gratuitamente.

Mas somente contemplar e agradecer não basta. É necessário seguir o Bom Pastor. Especialmente aqueles que têm a missão de guia na Igreja - sacerdotes, bispos, papas – são chamados a assumir, não a mentalidade do administrador, mas a de servo, à imitação de Jesus que, despojando-se de si mesmo, nos salvou com a sua misericórdia. A este estilo pastoral, de Bom Pastor, são chamados também os novos sacerdotes da Diocese de Roma, que tive a alegria de ordenar esta manhã na Basílica de São Pedro.

E dois deles se aproximarão para agradecer-lhes pelas orações e para cumprimentá-los... [dois padres recém-ordenados se aproximam do Santo Padre]

Maria conceda para mim, para os bispos e sacerdotes do mundo inteiro a graça de servir o povo santo de Deus por meio do anúncio jubiloso do Evangelho, a celebração dos sacramentos e a paciente e humilde guia pastoral.

(Após o Regina Coeli)

Queridos irmãos e irmãs,

Quero assegurar a minha proximidade às populações atingidas por um forte terremoto no Nepal e países vizinhos. Rezo pelas vítimas, pelos feridos e por todos aqueles que sofrem por causa desta calamidade. Que tenham o apoio da solidariedade fraterna. E rezemos a Nossa Senhora para que lhes seja próxima. Ave Maria...

Hoje, no Canadá, é proclamada Beata a Irmã Maria Elisa Turgeon, fundadora das Irmãs de Nossa Senhora do Rosário de São Germano. Uma religiosa exemplar, dedicado à oração, ensinamento nos pequenos centros de sua diocese e às obras de caridade. Demos graças ao Senhor por esta mulher, modelo de vida consagrada a Deus e de generoso empenho a serviço do próximo.

Saúdo com afeto todos os peregrinos de Roma, da Itália e de vários países, especialmente aqueles que vieram em grande número da Polônia por ocasião do primeiro aniversário da canonização de João Paulo II. Amados, ressoe sempre em seus corações a sua chamada: "Abri as portas a Cristo!", que dizia com aquela voz forte e santa que ele tinha. O Senhor vos abençoe e às vossas famílias e Mario os proteja.

Saúdo os fiéis de Budapeste, Madrid, Burgos, Bratislava e Cairo; bem como aqueles de Trieste, Giovinazzo, Gorga, Gorlago, Pesaro, Lamezia Terme. Saúdo os jovens de Niscemi e Trezzano Rosa, e os jovens dos vicariatos de Casalpusterlengo e Codogno, que vão renovar a profissão de fé.

Desejo a todos um bom domingo. Por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até logo!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Papa usa a palavra 'genocídio' armênio e a Turquia protesta

Papa usa a palavra 'genocídio' armênio e a Turquia protesta

Depois que Francisco leu a mensagem sobre a deportação e extermínio de 1,5 milhão de armênios, Ancara afastou seu embaixador junto à Santa Sé e convocou o Núncio

Por Sergio Mora

ROMA, 13 de Abril de 2015 (Zenit.org) - O Santo Padre Francisco durante a missa celebrada no domingo (12), na Basílica de São Pedro, por ocasião do centenário da deportação e extermínio de 1,5 milhão de armênios, descreveu o acontecimento histórico como o primeiro genocídio do século XX, citando uma declaração assinada por João Paulo II e o Patriarca Arménio Karekin II, em 2001.

Na missa também a Sua Beatitude Nerses Bedros XIX Tarmouni lembrou o genocídio que começou em 24 de abril de 1915, e indicou que a Igreja Armênia declarará mártires, dia 23 de abril próximo, todos aqueles que aceitaram a morte cristã durante as deportações forçadas.

A Turquia reconhece a morte da população armênia deportada, mas nega que foi um genocídio e atribui o fato ao resultado da aliança dos armênios com a Rússia e as vicissitudes da Primeira Guerra Mundial.

Um problema que paira sobre o reconhecimento é que se a Turquia aceitasse o genocídio, surgiria então a necessidade de restituir parte do território dos armênios que foi ocupado.

Em protesto contra as palavras do Papa, o embaixador junto à Santa Sé, Mehmet PacacI, foi afastado. O diplomata tinha convocado uma conferência de imprensa na embaixada para o domingo (12), mas suspendeu no sábado.

Em 10 de fevereiro, quando o diplomata convidou para um almoço na embaixada três jornalistas, Fausto Gasparoni da agência de notícias ANSA, Andrea Tornielli do La Stampa, e Sergio Mora coordenador de Zenit em espanhol que assina esta matéria, considerou que a posição da Turquia sobre a deportação e morte dos armênios tinha começado a mudar com as recentes declarações do Presidente Erdogan e outras atitudes, mas admitiu que seria necessário muito tempo para conciliar a versão que indicam os descendentes dos deportados que sobreviveram.

Por sua parte, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu escreveu hoje em sua conta no Twitter: "A posição do Papa, tanto do ponto de vista histórico como jurídico é simplesmente inaceitável".

E pouco antes em outro tweet: "As funções religiosas não podem ser um meio para fomentar o ódio e animosidade através de argumentos infundados".

O Ministério das Relações Exteriores turco também convocou em Ancara, o núncio junto à Santa Sé, Dom Antonino Lucibello, para explicações sobre por que o Papa usou a palavra "genocídio" durante a missa na Basílica de São Pedro.

Em comunicado citado pela imprensa turca, e retransmitido pela agência AFP, o Ministério das Relações Exteriores turco manifesta sua decepção pelas declarações de Francisco, acreditando que ele "tomou partido", ignorando assim o sofrimento dos muçulmanos e de outros grupos religiosos no mesmo período. E acrescenta que as declarações do Papa "contradizem a mensagem de paz, de reconciliação e de diálogo" que Francisco anunciou em novembro, durante sua visita à Turquia.

Entre os sinais de abertura, o governo turco autorizou a construção de uma igreja cristã de rito siríaco no distrito de Yeşilköy, fora de Istambul, conforme notícia publicada em 5 de janeiro. É a primeira vez que isso acontece desde 1928, quando teve início a república, em um país onde menos de 1 por cento da população é cristã, com diversos ritos.

Ao regressar da Turquia, o Papa durante a Audiência Geral, indicou que teve a oportunidade de reafirmar a importância da garantia da liberdade de culto. Também recordou a declaração que assinou com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, na qual renova o seu compromisso de trabalhar para restaurar a "plena comunhão".

"O Papa foi corajoso sobre os armênios"

"O Papa foi corajoso sobre os armênios"

O Presidente do Movimento Cristão de Trabalhadores denuncia: As polêmicas de Erdogan distanciam a Turquia da Europa

Por Redacao

ROMA, 13 de Abril de 2015 (Zenit.org) - "Palavras fortes e claras, aquelas do Santo Padre, que, pela primeira vez, reconheceu o massacre armênio como o "primeiro genocídio do século XX", referindo-se ao sacrifício de milhares de armênios, e de cristãos, acontecido há 100 anos, e à consequente diáspora que ainda constitui uma das vergonhas do nosso tempo”. Com estas palavras Carlo Costalli, presidente do Movimento Cristão de Trabalhadores da Itália(Mcl, na sigla em italiano), comentou a forte condenação expressada pelo Papa Francisco, por ocasião do centenário do massacre.

"Um Papa corajoso – disse ainda Costalli –, que não tem medo de lutar pelos pobres, os oprimidos e os cristãos perseguidos duramente em muitas partes do mundo, mesmo à custa de uma releitura ousada dos clichês que a História oficial gostaria que engolíssemos”.

Finalmente uma palavra sobre a Turquia que, para Costalli “com a sua atitude inutilmente polêmica e com os protestos inconsistentes e sem credibilidade de Erdogan, vira as costas definitivamente para a UE. Neste momento - concluiu o presidente do MCL - seria apropriado uma tomada de posição oficial do nosso Governo em apoio ao Papa".

Papa no Regina Coeli: Testemunha é alguém que viu e deixou-se envolver

Papa no Regina Coeli: Testemunha é alguém que viu e deixou-se envolver

 Francisco recorda que o cristão não pode ser levado pelas comodidades. E exprime sua dor pela tragédia no mar Mediterrâneo

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 19 de Abril de 2015 (Zenit.org) - Como todos os domingos, durante o período pascal, o papa Francisco rezou o Regina Coeli da janela de seu escritório no Palácio Apostólico, diante de uma multidão presente na Praça de São Pedro.

Dirigindo-se aos fiéis e peregrinos de todo o mundo, que saudaram o Pontífice com um aplauso longo e caloroso, o Papa argentino disse:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Nas leituras bíblicas da liturgia de hoje ressoa duas vezes a palavra "testemunha". A primeira vez nos lábios de Pedro que após a cura do paralítico exclama: “Matastes o autor da vida, mas Deus ressuscitou-o dos mortos: nós somos testemunhas”. A segunda vez em que ouvimos a palavra “testemunhas” nas leituras deste domingo são pronunciadas pelo próprio Jesus Ressuscitado que na noite de Páscoa diz aos discípulos: “Disto vós sois testemunhas”.

Os Apóstolos, que viram com os próprios olhos Cristo ressuscitado, não poderiam silenciar a extraordinária experiência. Ele apareceu a eles a fim que a verdade de sua ressurreição chegasse a todos através do testemunho deles. E a Igreja tem o dever de prolongar esta missão; todo batizado é chamado a testemunhar com palavras e com a vida, que Jesus ressuscitou, que Jesus está vivo e presente no meio de nós. Todos nós somos chamados a dar testemunho de que Jesus está vivo.

Podemos perguntar: afinal, quem é uma testemunha? Testemunha é alguém que viu, que recorda e conta. Ver, recordar e contar são os três verbos que nos descrevem a identidade e a missão. A testemunha é alguém que viu, mas não com olhos indiferentes; viu e deixou-se envolver pelo evento. Por isto recorda, não somente porque sabe reconstruir em modo concreto os fatos que aconteceram, mas porque aqueles fatos falaram-lhe e ele colheu o seu sentido profundo. Então, a testemunha conta, não em maneira fria e destacada, mas como um que se deixou pôr em questão, e desde aquele dia mudou de vida.

O conteúdo do testemunho cristão não é uma teoria, não é uma ideologia ou um complexo sistema de preceitos e proibições ou moralismo, mas uma mensagem de salvação, um evento concreto, aliás uma pessoa: é Cristo Ressuscitado, vivo e único Salvador de todos. Ele pode ser testemunhado por aqueles que tiveram uma experiência pessoal com Ele, na oração e na Igreja, através de um caminho que tem o seu fundamento no Batismo, seu alimento na Eucaristia, o seu selo na Confirmação, a sua conversão contínua na Penitência. Graças a este caminho, sempre guiado pela Palavra de Deus, todo cristão pode se tornar testemunha de Jesus ressuscitado. E o seu testemunho é tanto mais credível quanto mais transparece um modo de viver evangélico, alegre, corajoso, manso, pacífico, misericordioso. Se, ao invés, o cristão se deixa tomar pelas comodidades, pela vaidade, pelo egoísmo, torna-se surdo e cego ao pedido de "ressurreição" de tantos irmãos, como poderá comunicar  Jesus Vivo, como poderá comunicar a potência libertadora de Jesus vivo e sua infinita ternura?

Maria nossa Mãe nos sustente com a sua intercessão, para que nos tornemos, com as nossas limitações, mas com a graça da fé, testemunhas do Senhor Ressuscitado, levando às pessoas que encontramos os dons pascais da alegria e da paz.

Após o Regina Coeli:

Queridos irmãos e irmãs,

Estão a chegar, nestas horas, notícias relativas a uma nova tragédia nas águas do Mediterrâneo. Um barco carregado de migrantes virou-se na noite passada a cerca de 60 milhas da costa líbia e temem-se centenas de vítimas. Exprimo a minha sentida dor perante a tal tragédia e asseguro para os desaparecidos e as suas famílias a minha oração. Dirijo um forte apelo a fim de que a comunidade internacional atue com decisão e prontidão, para evitar que semelhantes tragédias se repitam. São homens e mulheres como nós, nossos irmãos que buscam uma vida melhor, famintos, perseguidos, feridos, explorados, vítimas de guerras; buscam uma vida melhor. Eles estavam à procura de felicidade... Eu os convido a rezar em silêncio, primeiro, e depois todos juntos por estes irmãos e irmãs.

Ave Maria...

Dirijo uma cordial saudação a todos vindos da Itália e de várias partes do mundo: os peregrinos da Diocese de Santo André, Brasil; os de Berlim, Colônia e Monaco; alunos de Grafton (Austrália), e Sant Feliu de Llobregat (Espanha). Saúdo os poloneses da diocese de Rzeszów e estão próximo aos participantes da "Marcha pela santidade da vida", que tem lugar em Varsóvia, incentivando a defender e promover sempre a vida humana.

Saúdo a Ação Católica de Formia; os fiéis de Milão, Lodi, Limbiate e Torre Boldone (Bergamo); os jovens de Turin, Senigallia, Almenno San Salvatore,  Villafontana e Grassina; jovens de Noventa Vicentina e Catania; o coral de Trecate e membros do Lions Club.

Uma saudação especial ao grupo da Universidade Católica Sacro Cuore, por ocasião do Dia Nacional de apoio a esta grande Universidade. É importante que esta possa continuar a formar os jovens para uma cultura que conjugue fé e ciência, ética e profissionalismo.

Hoje começa em Turim a solene exposição do Santo Sudário. Eu também, se Deus quiser, irei venerá-la em 21 de junho. Espero que este ato de veneração ajude a todos a encontrar em Jesus Cristo, a face misericordiosa de Deus, e a reconhecê-la no rosto dos irmãos, especialmente aqueles que mais sofrem.

Por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço.

domingo, 12 de abril de 2015

"Somos convidados a contemplar nas chagas do Ressuscitado, a Divina Misericórdia"

"Somos convidados a contemplar nas chagas do Ressuscitado, a Divina Misericórdia"

Palavras do Papa antes de rezar o Regina Coeli neste domingo 12 de abril

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 12 de Abril de 2015 (Zenit.org) - Após ter recordado o centenário do martírio armênio e proclamado São Gregório de Narek Doutor da Igreja na Missa celebrada na Basílica de São Pedro, o Papa, da janela do apartamento Pontifício, rezou a Oração do Regina Coeli com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro. Antes da oração, dirigiu aos presentes as seguintes palavras:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje é o oitavo dia após a Páscoa, e o Evangelho de João nos documenta as duas aparições de Jesus ressuscitado aos Apóstolos reunidos no Cenáculo: na noite de Páscoa, em que Tomé estava ausente, e depois de oito dias, na presença de Tomé. Na primeira vez, o Senhor mostrou as chagas de seu corpo para os discípulos, fez o gesto de soprar sobre eles e disse: "Como o Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20,21). Transmitindo-lhes a sua própria missão, com o poder do Espírito Santo.

Mas naquela noite estava faltando Tomé, que não queria acreditar no testemunho dos outros. "Se não vir e não tocar suas feridas - disse ele – não acreditarei" (Jo 20, 25). Oito dias depois - ou seja, como hoje - Jesus volta a apresentar-se aos seus e se dirige a Tomé, convidando-o a tocar nas chagas de suas mãos e de seu lado. Vai ao encontro de sua descrença, para que através dos sinais da paixão, possa alcançar a plenitude da fé pascal, a fé na ressurreição de Jesus.

Tomé é um que não se contenta e procura verificar pessoalmente, ter uma experiência pessoal. Depois das suas iniciais resistências e inquietações, por fim também ele acredita, mesmo com dificuldade mas chega à fé. Jesus o espera pacientemente e se oferece às dificuldades e inseguranças do último a chegar. O Senhor proclama "bem-aventurados" aqueles que acreditam sem ver (cf. v. 29) - e a primeira é Maria, sua mãe - embora também vai ao encontro à exigência do discípulo incrédulo, "Coloque aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado"(v. 27). Ao contato salvífico com as chagas do Ressuscitado, Tomé manifesta as próprias feridas, as próprias lacerações, a própria humilhação; no sinal dos pregos encontra a prova decisiva de que era amado, esperado, entendido. Encontra-se diante de um Messias pleno de doçura, misericórdia, ternura. Era Ele o Senhor que buscava nas profundezas secretas do próprio ser, porque sempre soube que era assim. E quantos de nós buscamos nas profundezas do coração encontrar Jesus, assim como Ele é: doce, misericordioso, terno! Porque sabemos que, no fundo, Ele é assim. Ao ter esse contato pessoal com a amabilidade e a misericordiosa paciência de Deus, Tomé compreende o significado profundo da ressurreição e, interiormente transformado, declara a sua fé plena e total nele, exclamando: "Meu Senhor e meu Deus" (V. 28). Bela, bela expressão, a de Tomé!

Ele pode "tocar" o mistério pascal que manifesta plenamente o amor salvífico de Deus, rico de misericórdia (cf. Ef 2,4). E, como Tomé também todos nós neste segundo Domingo de Páscoa, somos convidados a contemplar nas chagas do Ressuscitado, a Divina Misericórdia, que supera todas as limitações humanas e brilha na escuridão do mal e do pecado. Um tempo intenso e prolongado para acolher as imensas riquezas do amor misericordioso de Deus será o próximo Jubileu extraordinário da Misericórdia, cuja Bula promulguei na tarde de ontem aqui, na Basílica de São Pedro. A Bula começa com as palavras "Misericordiae Vultus": o Rosto da Misericórdia é Jesus Cristo. Tenhamos o olhar voltado para Ele que sempre nos procura, nos espera, nos perdoa; tão misericordioso, não se espanta com as nossas misérias. Em suas chagas, nos cura e perdoa todos os nossos pecados. E que a Virgem Mãe nos ajude a sermos misericordioso com os outros como Jesus é conosco.

Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia

Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia



CIDADE DO VATICANO, 12 de Abril de 2015 (Zenit.org) - O Papa Francisco presidiu, na tarde deste sábado (11), às Primeiras Vésperas do Domingo da Divina Misericórdia, por ocasião da convocação oficial do Jubileu extraordinário da Misericórdia.

A cerimônia teve início diante da ”Porta Santa”, com a entrega da Bula “Misericordiae Vultus” (“O rosto da Misericórdia”) aos quatro Cardeais-Arciprestes das Basílicas papais de Roma. 

Eis o documento na íntegra:

Misericordiae Vultus

Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia

Francisco

Bispo de Roma

Servo dos Servos de Deus

A quantos lerem esta carta

graça, misericórdia e paz

1. Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. O Pai, « rico em misericórdia » (Ef 2, 4), depois de ter revelado o seu nome a Moisés como « Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade » (Ex 34, 6), não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a sua natureza divina. Na « plenitude do tempo » (Gl 4, 4), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor. Quem O vê, vê o Pai (cf. Jo 14, 9). Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa,[1]Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus.

2. Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

3. Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes.

O Ano Santo abrir-se-á no dia 8 de Dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição. Esta festa litúrgica indica o modo de agir de Deus desde os primórdios da nossa história. Depois do pecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humanidade sozinha e à mercê do mal. Por isso, pensou e quis Maria santa e imaculada no amor (cf. Ef 1, 4), para que Se tornasse a Mãe do Redentor do homem. Perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa. Na festa da Imaculada Conceição, terei a alegria de abrir a Porta Santa. Será então uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança.

No domingo seguinte, o Terceiro Domingo de Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Latrão. E em seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais. Estabeleço que no mesmo domingo, em cada Igreja particular – na Catedral, que é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral ou então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta da Misericórdia. Por opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta também nos Santuários, meta de muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares sagrados, se sentem tocados no coração pela graça e encontram o caminho da conversão. Assim, cada Igreja particular estará directamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual. Portanto o Jubileu será celebrado, quer em Roma quer nas Igrejas particulares, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira.

4. Escolhi a data de 8 de Dezembro, porque é cheia de significado na história recente da Igreja. Com efeito, abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão do Concílio Ecuménico Vaticano II. A Igreja sente a necessidade de manter vivo aquele acontecimento. Começava então, para ela, um percurso novo da sua história. Os Padres, reunidos no Concílio, tinham sentido forte, como um verdadeiro sopro do Espírito, a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais compreensível. Derrubadas as muralhas que, por demasiado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de maneira nova. Uma nova etapa na evangelização de sempre. Um novo compromisso para todos os cristãos de testemunharem, com mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai.

Voltam à mente aquelas palavras, cheias de significado, que São João XXIII pronunciou na abertura do Concílio para indicar a senda a seguir: « Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade. (…) A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecuménico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados ».[2] E, no mesmo horizonte, havia de colocar-se o Beato Paulo VI, que assim falou na conclusão do Concílio: « Desejamos notar que a religião do nosso Concílio foi, antes de mais, a caridade. (...) Aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio. (…) Uma corrente de interesse e admiração saiu do Concílio sobre o mundo actual. Rejeitaram-se os erros, como a própria caridade e verdade exigiam, mas os homens, salvaguardado sempre o preceito do respeito e do amor, foram apenas advertidos do erro. Assim se fez, para que, em vez de diagnósticos desalentadores, se dessem remédios cheios de esperança; para que o Concílio falasse ao mundo actual não com presságios funestos mas com mensagens de esperança e palavras de confiança. Não só respeitou mas também honrou os valores humanos, apoiou todas as suas iniciativas e, depois de os purificar, aprovou todos os seus esforços. (…) Uma outra coisa, julgamos digna de consideração. Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades ».[3]

Com estes sentimentos de gratidão pelo que a Igreja recebeu e de responsabilidade quanto à tarefa que nos espera, atravessaremos a Porta Santa com plena confiança de ser acompanhados pela força do Senhor Ressuscitado, que continua a sustentar a nossa peregrinação. O Espírito Santo, que conduz os passos dos crentes de forma a cooperarem para a obra de salvação realizada por Cristo, seja guia e apoio do povo de Deus a fim de o ajudar a contemplar o rosto da misericórdia. [4]

5. O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, 20 de Novembro de 2016. Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça. Confiaremos a vida da Igreja, a humanidade inteira e o universo imenso à Realeza de Cristo, para que derrame a sua misericórdia, como o orvalho da manhã, para a construção duma história fecunda com o compromisso de todos no futuro próximo. Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus! A todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós.

6. « É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua omnipotência ».[5] Estas palavras de São Tomás de Aquino mostram como a misericórdia divina não seja, de modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da omnipotência de Deus. É por isso que a liturgia, numa das suas colectas mais antigas, convida a rezar assim: « Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis…»[6] Deus permanecerá para sempre na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso.

« Paciente e misericordioso » é o binómio que aparece, frequentemente, no Antigo Testamento para descrever a natureza de Deus. O facto de Ele ser misericordioso encontra um reflexo concreto em muitas acções da história da salvação, onde a sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição. Os Salmos, em particular, fazem sobressair esta grandeza do agir divino: « É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e ternura » (103/102, 3-4). E outro Salmo atesta, de forma ainda mais explícita, os sinais concretos da misericórdia: « O Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores » (146/145, 7-9). E, para terminar, aqui estão outras expressões do Salmista: « [O Senhor] cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas. (...) O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão » (147/146, 3.6). Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras. É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor « visceral ». Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.

7. « Eterna é a sua misericórdia »: tal é o refrão que aparece em cada versículo do Salmo 136, ao mesmo tempo que se narra a história da revelação de Deus. Em virtude da misericórdia, todos os acontecimentos do Antigo Testamento aparecem cheios dum valor salvífico profundo. A misericórdia torna a história de Deus com Israel uma história da salvação. O facto de repetir continuamente « eterna é a sua misericórdia », como faz o Salmo, parece querer romper o círculo do espaço e do tempo para inserir tudo no mistério eterno do amor. É como se se quisesse dizer que o homem, não só na história mas também pela eternidade, estará sempre sob o olhar misericordioso do Pai. Não é por acaso que o povo de Israel tenha querido inserir este Salmo – o « grande hallel », como lhe chamam – nas festas litúrgicas mais importantes.

Antes da Paixão, Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia. Assim o atesta o evangelista Mateus quando afirma que « depois de cantarem os salmos » (26, 30), Jesus e os discípulos saíram para o Monte das Oliveiras. Enquanto instituía a Eucaristia, como memorial perpétuo d’Ele e da sua Páscoa, Jesus colocava simbolicamente este acto supremo da Revelação sob a luz da misericórdia. No mesmo horizonte da misericórdia, viveu Ele a sua paixão e morte, ciente do grande mistério de amor que se realizaria na cruz. O facto de saber que o próprio Jesus rezou com este Salmo torna-o, para nós cristãos, ainda mais importante e compromete-nos a assumir o refrão na nossa oração de louvor diária: « eterna é a sua misericórdia ».

8. Com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto misericordioso, podemos individuar o amor da Santíssima Trindade. A missão, que Jesus recebeu do Pai, foi a de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude. « Deus é amor » (1 Jo 4, 8.16): afirma-o, pela primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João. Agora este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. A sua pessoa não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente. O seu relacionamento com as pessoas, que se abeiram d’Ele, manifesta algo de único e irrepetível. Os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. Tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele, nada há que seja desprovido de compaixão.

Vendo que a multidão de pessoas que O seguia estava cansada e abatida, Jesus sentiu, no fundo do coração, uma intensa compaixão por elas (cf. Mt 9, 36). Em virtude deste amor compassivo, curou os doentes que Lhe foram apresentados (cf. Mt 14, 14) e, com poucos pães e peixes, saciou grandes multidões (cf. Mt 15, 37). Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era apenas a misericórdia, com a qual lia no coração dos seus interlocutores e dava resposta às necessidades mais autênticas que tinham. Quando encontrou a viúva de Naim que levava o seu único filho a sepultar, sentiu grande compaixão pela dor imensa daquela mãe em lágrimas e entregou-lhe de novo o filho, ressuscitando-o da morte (cf. Lc 7, 15). Depois de ter libertado o endemoninhado de Gerasa, confia-lhe esta missão: « Conta tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti » (Mc 5, 19). A própria vocação de Mateus se insere no horizonte da misericórdia. Ao passar diante do posto de cobrança dos impostos, os olhos de Jesus fixaram-se nos de Mateus. Era um olhar cheio de misericórdia que perdoava os pecados daquele homem e, vencendo as resistências dos outros discípulos, escolheu-o, a ele pecador e publicano, para se tornar um dos Doze. São Beda o Venerável, ao comentar esta cena do Evangelho, escreveu que Jesus olhou Mateus com amor misericordioso e escolheu-o: miserando atque eligendo.[7] Sempre me causou impressão esta frase, a ponto de a tomar para meu lema.

9. Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a dum Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas, três em especial: as da ovelha extraviada e da moeda perdida, e a do pai com os seus dois filhos (cf. Lc 15, 1-32). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão.

Temos depois outra parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã. Interpelado pela pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, Jesus respondeu: « Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete » (Mt 18, 22) e contou a parábola do « servo sem compaixão ». Este, convidado pelo senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente depois, encontra outro servo como ele, que lhe devia poucos centésimos; este suplica-lhe de joelhos que tenha piedade, mas aquele recusa-se e fá-lo meter na prisão. Então o senhor, tendo sabido do facto, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: « Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti? » (Mt 18, 33). E Jesus concluiu: « Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração » (Mt 18, 35).

A parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para connosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: « Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento » (Ef 4, 26). E sobretudo escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: « Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia » (Mt 5, 7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo.

Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para connosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstracta. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na actividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.

10. A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua acção pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. A Igreja « vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia ».[8] Talvez, demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia. Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que esta é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança.

11. Não podemos esquecer o grande ensinamento que ofereceu São João Paulo II com a sua segunda encíclica, a Dives in misericordia, que então surgiu inesperada suscitando a surpresa de muitos pelo tema que era abordado. Desejo recordar especialmente dois trechos. No primeiro deles, o Santo Papa assinalava o esquecimento em que caíra o tema da misericórdia na cultura dos nossos dias: « A mentalidade contemporânea, talvez mais que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desenvolvimento da ciência e da técnica nunca antes verificado na história, se tornou senhor da terra, a subjugou e a dominou (cf. Gn 1, 28). Um tal domínio sobre a terra, entendido por vezes unilateral e superficialmente, parece não deixar espaço para a misericórdia. (...) Por esse motivo, na hodierna situação da Igreja e do mundo, muitos homens e muitos ambientes guiados por um vivo sentido de fé, voltam-se quase espontaneamente, por assim dizer, para a misericórdia de Deus ».[9]

Além disso, São João Paulo II motivava assim a urgência de anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo contemporâneo: « Ela é ditada pelo amor para com o homem, para com tudo o que é humano e que, segundo a intuição de grande parte dos contemporâneos, está ameaçado por um perigo imenso. O próprio mistério de Cristo (...) obriga-me igualmente a proclamar a misericórdia como amor misericordioso de Deus, revelada também no mistério de Cristo. Ele me impele ainda a apelar para esta misericórdia e a implorá-la nesta fase difícil e crítica da história da Igreja e do mundo ».[10] Tal ensinamento é hoje mais actual do que nunca e merece ser retomado neste Ano Santo. Acolhamos novamente as suas palavras: « A Igreja vive uma vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora ».[11]

12. A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma acção pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia.

A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia.

13. Queremos viver este Ano Jubilar à luz desta palavra do Senhor: Misericordiosos como o Pai. O evangelista refere o ensinamento de Jesus, que diz: « Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso » (Lc 6, 36). É um programa de vida tão empenhativo como rico de alegria e paz. O imperativo de Jesus é dirigido a quantos ouvem a sua voz (cf. Lc 6, 27). Portanto, para ser capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Isso significa recuperar o valor do silêncio, para meditar a Palavra que nos é dirigida. Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.

14. A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há-de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é connosco.

O Senhor Jesus indica as etapas da peregrinação através das quais é possível atingir esta meta: « Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco » (Lc 6, 37-38). Ele começa por dizer para não julgar nem condenar. Se uma pessoa não quer incorrer no juízo de Deus, não pode tornar-se juiz do seu irmão. É que os homens, no seu juízo, limitam-se a ler a superfície, enquanto o Pai vê o íntimo. Que grande mal fazem as palavras, quando são movidas por sentimentos de ciúme e inveja! Falar mal do irmão, na sua ausência, equivale a deixá-lo mal visto, a comprometer a sua reputação e deixá-lo à mercê das murmurações. Não julgar nem condenar significa, positivamente, saber individuar o que há de bom em cada pessoa e não permitir que venha a sofrer pelo nosso juízo parcial e a nossa pretensão de saber tudo. Mas isto ainda não é suficiente para se exprimir a misericórdia. Jesus pede também para perdoar e dar. Ser instrumentos do perdão, porque primeiro o obtivemos nós de Deus. Ser generosos para com todos, sabendo que também Deus derrama a sua benevolência sobre nós com grande magnanimidade.

Misericordiosos como o Pai é, pois, o « lema » do Ano Santo. Na misericórdia, temos a prova de como Deus ama. Ele dá tudo de Si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca. Vem em nosso auxílio, quando O invocamos. É significativo que a oração diária da Igreja comece com estas palavras: « Deus, vinde em nosso auxílio! Senhor, socorrei-nos e salvai-nos » (Sal 70/69, 2). O auxílio que invocamos é já o primeiro passo da misericórdia de Deus para connosco. Ele vem para nos salvar da condição de fraqueza em que vivemos. E a ajuda d’Ele consiste em fazer-nos sentir a sua presença e proximidade. Dia após dia, tocados pela sua compaixão, podemos também nós tornar-nos compassivos para com todos.

15. Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo actual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo.

Não podemos escapar às palavras do Senhor, com base nas quais seremos julgados: se demos de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede; se acolhemos o estrangeiro e vestimos quem está nu; se reservamos tempo para visitar quem está doente e preso (cf. Mt 25, 31-45). De igual modo ser-nos-á perguntado se ajudamos a tirar da dúvida, que faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão; se fomos capazes de vencer a ignorância em que vivem milhões de pessoas, sobretudo as crianças desprovidas da ajuda necessária para se resgatarem da pobreza; se nos detivemos junto de quem está sozinho e aflito; se perdoamos a quem nos ofende e rejeitamos todas as formas de ressentimento e ódio que levam à violência; se tivemos paciência, a exemplo de Deus que é tão paciente connosco; enfim se, na oração, confiamos ao Senhor os nossos irmãos e irmãs. Em cada um destes « mais pequeninos », está presente o próprio Cristo. A sua carne torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga ... a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós. Não esqueçamos as palavras de São João da Cruz: « Ao entardecer desta vida, examinar-nos-ão no amor ».[12]

16. No Evangelho de Lucas, encontramos outro aspecto importante para viver, com fé, o Jubileu. Conta o evangelista que Jesus voltou a Nazaré e ao sábado, como era seu costume, entrou na sinagoga. Chamaram-No para ler a Escritura e comentá-la. A passagem era aquela do profeta Isaías onde está escrito: « O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; para proclamar um ano de misericórdia do Senhor » (61,1-2). « Um ano de misericórdia »: isto é o que o Senhor anuncia e que nós desejamos viver. Este Ano Santo traz consigo a riqueza da missão de Jesus que ressoa nas palavras do Profeta: levar uma palavra e um gesto de consolação aos pobres, anunciar a libertação a quantos são prisioneiros das novas escravidões da sociedade contemporânea, devolver a vista a quem já não consegue ver porque vive curvado sobre si mesmo, e restituir dignidade àqueles que dela se viram privados. A pregação de Jesus torna-se novamente visível nas respostas de fé que o testemunho dos cristãos é chamado a dar. Acompanhem-nos as palavras do Apóstolo: « Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria » (Rm 12, 8).

17. A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus. Quantas páginas da Sagrada Escritura se podem meditar, nas semanas da Quaresma, para redescobrir o rosto misericordioso do Pai! Com as palavras do profeta Miqueias, podemos também nós repetir: Vós, Senhor, sois um Deus que tira a iniquidade e perdoa o pecado, que não Se obstina na ira mas Se compraz em usar de misericórdia. Vós, Senhor, voltareis para nós e tereis compaixão do vosso povo. Apagareis as nossas iniquidades e lançareis ao fundo do mar todos os nossos pecados (cf. 7, 18-19).

As páginas do profeta Isaías poderão ser meditadas, de forma mais concreta, neste tempo de oração, jejum e caridade. « O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente, e a glória do Senhor atrás de ti. Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: “Aqui estou!” Se retirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo, se repartires o teu pão com o faminto e matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na escuridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. O Senhor te guiará constantemente, saciará a tua alma no árido deserto, dará vigor aos teus ossos. Serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis » (58, 6-11).

A iniciativa « 24 horas para o Senhor », que será celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser incrementada nas dioceses. Há muitas pessoas – e, em grande número, jovens – que estão a aproximar-se do sacramento da Reconciliação e que frequentemente, nesta experiência, reencontram o caminho para voltar ao Senhor, viver um momento de intensa oração e redescobrir o sentido da sua vida. Com convicção, ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior.

Não me cansarei jamais de insistir com os confessores para que sejam um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai. Ser confessor não se improvisa. Tornamo-nos tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer penitentes em busca do perdão. Nunca esqueçamos que ser confessor significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino que perdoa e salva. Cada um de nós recebeu o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados; disto somos responsáveis. Nenhum de nós é senhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus. Cada confessor deverá acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens. Os confessores são chamados a estreitar a si aquele filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por o ter reencontrado. Não nos cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que ficou fora incapaz de se alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo é injusto e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem limites. Não hão-de fazer perguntas impertinentes, mas como o pai da parábola interromperão o discurso preparado pelo filho pródigo, porque saberão individuar, no coração de cada penitente, a invocação de ajuda e o pedido de perdão. Em suma, os confessores são chamados a ser sempre e por todo o lado, em cada situação e apesar de tudo, o sinal do primado da misericórdia.

18. Na Quaresma deste Ano Santo, é minha intenção enviar os Missionários da Misericórdia. Serão um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que entre em profundidade na riqueza deste mistério tão fundamental para a fé. Serão sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, para que se torne evidente a amplitude do seu mandato. Serão sobretudo sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu perdão. Serão missionários da misericórdia, porque se farão, junto de todos, artífices dum encontro cheio de humanidade, fonte de libertação, rico de responsabilidade para superar os obstáculos e retomar a vida nova do Baptismo. Na sua missão, deixar-se-ão guiar pelas palavras do Apóstolo: « Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia » (Rm 11, 32). Na verdade todos, sem excluir ninguém, estão chamados a acolher o apelo à misericórdia. Os missionários vivam esta chamada, sabendo que podem fixar o olhar em Jesus, « Sumo Sacerdote misericordioso e fiel » (Hb 2, 17).

Peço aos irmãos bispos que convidem e acolham estes Missionários, para que sejam, antes de tudo, pregadores convincentes da misericórdia. Organizem-se, nas dioceses, « missões populares », de modo que estes Missionários sejam anunciadores da alegria do perdão. Seja-lhes pedido que celebrem o sacramento da Reconciliação para o povo, para que o tempo de graça, concedido neste Ano Jubilar, permita a tantos filhos afastados encontrar de novo o caminho para a casa paterna. Os pastores, especialmente durante o tempo forte da Quaresma, sejam solícitos em convidar os fiéis a aproximar-se « do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça » (Hb 4, 16).

19. Que a palavra do perdão possa chegar a todos e a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente. O meu convite à conversão dirige-se, com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de vida. Penso de modo particular nos homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que mudeis de vida. Peço-vo-lo em nome do Filho de Deus que, embora combatendo o pecado, nunca rejeitou qualquer pecador. Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não levamos o dinheiro connosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade. A violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar.

O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmplices de corrupção. Esta praga putrefacta da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projectos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima: dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode sentir-se imune desta tentação. Para a erradicar da vida pessoal e social são necessárias prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e destrói-nos a vida.

Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afectos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os meus irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia.

20. Neste contexto, não será inútil recordar a relação entre justiça e misericórdia. Não são dois aspectos em contraste entre si, mas duas dimensões duma única realidade que se desenvolve gradualmente até atingir o seu clímax na plenitude do amor. A justiça é um conceito fundamental para a sociedade civil, normalmente quando se faz referimento a uma ordem jurídica através da qual se aplica a lei. Por justiça entende-se também que a cada um deve ser dado o que lhe é devido. Na Bíblia, alude-se muitas vezes à justiça divina, e a Deus como juiz. Habitualmente é entendida como a observância integral da Lei e o comportamento de todo o bom judeu conforme aos mandamentos dados por Deus. Esta visão, porém, levou não poucas vezes a cair no legalismo, mistificando o sentido original e obscurecendo o valor profundo que a justiça possui. Para superar a perspectiva legalista, seria preciso lembrar que, na Sagrada Escritura, a justiça é concebida essencialmente como um abandonar-se confiante à vontade de Deus.

Por sua vez, Jesus fala mais vezes da importância da fé que da observância da lei. É neste sentido que devemos compreender as suas palavras, quando, encontrando-Se à mesa com Mateus e outros publicanos e pecadores, disse aos fariseus que O acusavam por isso mesmo: « Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores » (Mt 9, 13). Diante da visão duma justiça como mera observância da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da misericórdia que busca os pecadores para lhes oferecer o perdão e a salvação. Compreende-se que Jesus, por causa desta sua visão tão libertadora e fonte de renovação, tenha sido rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei. Estes, para ser fiéis à lei, limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando porém a misericórdia do Pai. O apelo à observância da lei não pode obstaculizar a atenção às necessidades que afectam a dignidade das pessoas.

A propósito, é muito significativo o apelo que Jesus faz ao texto do profeta Oseias: « Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios » (6, 6). Jesus afirma que, a partir de agora, a regra de vida dos seus discípulos deverá ser aquela que prevê o primado da misericórdia, como Ele mesmo dá testemunho partilhando a refeição com os pecadores. A misericórdia revela-se, mais uma vez, como dimensão fundamental da missão de Jesus. É um verdadeiro desafio posto aos seus interlocutores, que se contentavam com o respeito formal da lei. Jesus, pelo contrário, vai além da lei, a sua partilha da mesa com aqueles que a lei considerava pecadores permite compreender até onde chega a sua misericórdia.

Também o apóstolo Paulo fez um percurso semelhante. Antes de encontrar Cristo no caminho de Damasco, a sua vida era dedicada a servir de maneira irrepreensível a justiça da lei (cf. Fl 3, 6). A conversão a Cristo levou-o a inverter a sua visão, a ponto de afirmar na Carta aos Gálatas: « Também nós acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da lei » (2, 16). A sua compreensão da justiça muda radicalmente: Paulo agora põe no primeiro lugar a fé, e já não a lei. Não é a observância da lei que salva, mas a fé em Jesus Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, traz a salvação com a misericórdia que justifica. A justiça de Deus torna-se agora a libertação para quantos estão oprimidos pela escravidão do pecado e todas as suas consequências. A justiça de Deus é o seu perdão (cf. Sl 51/50, 11-16).

21. A misericórdia não é contrária à justiça, mas exprime o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, converter e acreditar. A experiência do profeta Oseias ajuda-nos, mostrando-nos a superação da justiça na linha da misericórdia. A época em que viveu este profeta conta-se entre as mais dramáticas da história do povo judeu. O Reino está próximo da destruição; o povo não permaneceu fiel à aliança, afastou-se de Deus e perdeu a fé dos pais. Segundo uma lógica humana, é justo que Deus pense em rejeitar o povo infiel: não observou o pacto estipulado e, consequentemente, merece a devida pena, ou seja, o exílio. Assim o atestam as palavras do profeta: « Não voltará para o Egipto, mas a Assíria será o seu rei, porque recusaram converter-se » (Os 11, 5). E todavia, depois desta reacção que faz apelo à justiça, o profeta muda radicalmente a sua linguagem e revela o verdadeiro rosto de Deus: « O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas. Não desafogarei o furor da minha cólera, não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no meio de ti e não me deixo levar pela ira » (11, 8-9). Santo Agostinho, de certo modo comentando as palavras do profeta, diz: « É mais fácil que Deus contenha a ira do que a misericórdia ».[13] É mesmo assim! A ira de Deus dura um instante, ao passo que a sua misericórdia é eterna.

Se Deus Se detivesse na justiça, deixaria de ser Deus; seria como todos os homens que clamam pelo respeito da lei. A justiça por si só não é suficiente, e a experiência mostra que, limitando-se a apelar para ela, corre-se o risco de a destruir. Por isso Deus, com a misericórdia e o perdão, passa além da justiça. Isto não significa desvalorizar a justiça ou torná-la supérflua. Antes pelo contrário! Quem erra, deve descontar a pena; só que isto não é o fim, mas o início da conversão, porque se experimenta a ternura do perdão. Deus não rejeita a justiça. Ele engloba-a e supera-a num evento superior onde se experimenta o amor, que está na base duma verdadeira justiça. Devemos prestar muita atenção àquilo que escreve Paulo, para não cair no mesmo erro que o apóstolo censurava nos judeus seus contemporâneos: « Por não terem reconhecido a justiça que vem de Deus e terem procurado estabelecer a sua própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus. É que o fim da Lei é Cristo, para que, deste modo, a justiça seja concedida a todo o que tem fé » (Rm 10, 3-4). Esta justiça de Deus é a misericórdia concedida a todos como graça, em virtude da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto a Cruz de Cristo é o juízo de Deus sobre todos nós e sobre o mundo, porque nos oferece a certeza do amor e da vida nova.

22. O Jubileu inclui também o referimento à indulgência. Esta, no Ano Santo da Misericórdia, adquire uma relevância particular. O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece limites. Na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja. Por isso, Deus está sempre disponível para o perdão, não Se cansando de o oferecer de maneira sempre nova e inesperada. No entanto todos nós fazemos experiência do pecado. Sabemos que somos chamados à perfeição (cf. Mt 5, 48), mas sentimos fortemente o peso do pecado. Ao mesmo tempo que notamos o poder da graça que nos transforma, experimentamos também a força do pecado que nos condiciona. Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado.

A Igreja vive a comunhão dos Santos. Na Eucaristia, esta comunhão, que é dom de Deus, realiza-se como união espiritual que nos une, a nós crentes, com os Santos e Beatos cujo número é incalculável (Ap 7, 4). A sua santidade vem em ajuda da nossa fragilidade, e assim a Mãe-Igreja, com a sua oração e a sua vida, é capaz de acudir à fraqueza de uns com a santidade de outros. Portanto viver a indulgência no Ano Santo significa aproximar-se da misericórdia do Pai, com a certeza de que o seu perdão cobre toda a vida do crente. A indulgência é experimentar a santidade da Igreja que participa em todos os benefícios da redenção de Cristo, para que o perdão se estenda até às últimas consequências aonde chega o amor de Deus. Vivamos intensamente o Jubileu, pedindo ao Pai o perdão dos pecados e a indulgência misericordiosa em toda a sua extensão.

23. A misericórdia possui uma valência que ultrapassa as fronteiras da Igreja. Ela relaciona-nos com o judaísmo e o islamismo, que a consideram um dos atributos mais marcantes de Deus. Israel foi o primeiro que recebeu esta revelação, permanecendo esta na história como o início duma riqueza incomensurável para oferecer à humanidade inteira. Como vimos, as páginas do Antigo Testamento estão permeadas de misericórdia, porque narram as obras que o Senhor realizou em favor do seu povo, nos momentos mais difíceis da sua história. O islamismo, por sua vez, coloca entre os nomes dados ao Criador o de Misericordioso e Clemente. Esta invocação aparece com frequência nos lábios dos fiéis muçulmanos, que se sentem acompanhados e sustentados pela misericórdia na sua fraqueza diária. Também eles acreditam que ninguém pode pôr limites à misericórdia divina, porque as suas portas estão sempre abertas.

Possa este Ano Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com estas religiões e com as outras nobres tradições religiosas; que ele nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação.

24. O pensamento volta-se agora para a Mãe da Misericórdia. A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou intimamente no mistério do seu amor.

Escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende « de geração em geração » (Lc 1, 50). Também nós estávamos presentes naquelas palavras proféticas da Virgem Maria. Isto servir-nos-á de conforto e apoio no momento de atravessarmos a Porta Santa para experimentar os frutos da misericórdia divina.

Ao pé da cruz, Maria, juntamente com João, o discípulo do amor, é testemunha das palavras de perdão que saem dos lábios de Jesus. O perdão supremo oferecido a quem O crucificou, mostra-nos até onde pode chegar a misericórdia de Deus. Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém. Dirijamos-Lhe a oração, antiga e sempre nova, da Salve Rainha, pedindo-Lhe que nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus.

E a nossa oração estenda-se também a tantos Santos e Beatos que fizeram da misericórdia a sua missão vital. Em particular, o pensamento volta-se para a grande apóstola da Misericórdia, Santa Faustina Kowalska. Ela, que foi chamada a entrar nas profundezas da misericórdia divina, interceda por nós e nos obtenha a graça de viver e caminhar sempre no perdão de Deus e na confiança inabalável do seu amor.

25. Será, portanto, um Ano Santo extraordinário para viver, na existência de cada dia, a misericórdia que o Pai, desde sempre, estende sobre nós. Neste Jubileu, deixemo-nos surpreender por Deus. Ele nunca Se cansa de escancarar a porta do seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar connosco a sua vida. A Igreja sente, fortemente, a urgência de anunciar a misericórdia de Deus. A sua vida é autêntica e credível, quando faz da misericórdia seu convicto anúncio. Sabe que a sua missão primeira, sobretudo numa época como a nossa cheia de grandes esperanças e fortes contradições, é a de introduzir a todos no grande mistério da misericórdia de Deus, contemplando o rosto de Cristo. A Igreja é chamada, em primeiro lugar, a ser verdadeira testemunha da misericórdia, professando-a e vivendo-a como o centro da Revelação de Jesus Cristo. Do coração da Trindade, do íntimo mais profundo do mistério de Deus, brota e flui incessantemente a grande torrente da misericórdia. Esta fonte nunca poderá esgotar-se, por maior que seja o número daqueles que dela se abeirem. Sempre que alguém tiver necessidade poderá aceder a ela, porque a misericórdia de Deus não tem fim. Quanto insondável é a profundidade do mistério que encerra, tanto é inesgotável a riqueza que dela provém.

Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e perdoar. Que a Igreja se faça voz de cada homem e mulher e repita com confiança e sem cessar: « Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e do teu amor, pois eles existem desde sempre » (Sl 25/24, 6).

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Abril – véspera do II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia – do Ano do Senhor de 2015, o terceiro de pontificado.

Francisco

[1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 4.

[2] Discurso de abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, Gaudet Mater Ecclesia (11 de Outubro de 1962), 2-3.

[3] Alocução na última sessão pública(7 de Dezembro de 1965).

[4] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 16; Const. past.Gaudium et spes, 15.

[5]Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, q. 30, a. 4.

[6] Domingo XXVI do Tempo Comum. Esta colecta já aparece, no séc. VIII, entre os textos eucológios do Sacramentário Gelasiano (1198).

[7] Cf. Homilia 21: CCL 122, 149-151.

[8] Exort. ap. Evangelii gaudium, 24.

[9] João Paulo II, Carta enc. Dives in misericordia, 2.

[10] Ibid., 15.

[11] Ibid., 13.

[12] Ditos de luz e amor, 57.

[13] Enarratio in Psalmos, 76, 11.

Jornalismo a serviço da vida e da esperança

Jornalismo a serviço da vida e da esperança TERÇA-FEIRA, 7 DE ABRIL DE 2015, 

“É importante a atenção e a presença da Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a caminho com todos. Neste contexto, a revolução nos meios de comunicação e de informação são um grande e apaixonante desafio que requer energias frescas e uma imaginação nova para transmitir aos outros a beleza de Deus” (Trecho da mensagem do Papa Francisco no 48º Dia Mundial das Comunicações).

Comunicar e informar é o objetivo principal da equipe de WebJornalismo do Portal Canção Nova.  Dialogar com o homem moderno e informá-lo sobre fatos importantes referentes ao mundo e à Igreja, com um olhar de fé e esperança, é o objetivo do noticias.cancaonova.com, cujo início se deu em 25 de novembro de 2000. Coordenado por Kelen Galvan, o canal tem a colaboração de Luciane Marins, Jéssica Marçal, André Cunha e Monique Coutinho, unidos pelo compromisso de revelar a verdade dos fatos sem sensacionalismo, assumem o desafio de trazer diariamente notícias sobre a Igreja e o mundo.

Há três anos atuando como jornalista do site do noticias.cancaonova.com, Jéssica Marçal partilha com você, internauta, como é levar informação pela rede mundial de computadores.Confira:

Clube: Existe alguma diferença entre o jornalismo televisivo e o jornalismo para a web?
Jéssica: Sim. O jornalismo para a web é marcado pelo imediatismo, muito mais que a televisão. Normalmente, um assunto factual que as pessoas veem nos telejornais à noite ou até mesmo à tarde já foi noticiado logo cedo na internet, em sites ou redes sociais. Isso porque o jornalismo digital procura alcançar quase que uma cobertura “em tempo real”, fato a fato, divulgando as informações assim que os fatos acontecem. Contudo, um fator que anda ao lado da velocidade é a credibilidade. De nada adianta dar uma informação rapidamente se ela for imprecisa ou até mesmo falsa. Às vezes, a busca excessiva pela velocidade pode levar a erros que prejudicam a credibilidade do veículo, até mesmo de forma irreparável.

Além disso, outro diferencial [entre os dois tipos de veículos de comunicação] é o espaço praticamente ilimitado da internet para trabalhar com a informação. Ao passo que na televisão há um tempo cronometrado para uma reportagem dentro de um telejornal – coisa de 1 minuto e meio, dois minutos – na web essa limitação tão demarcada não existe, o que dá mais liberdade ao profissional para explorar o assunto. Claro, há recomendações para um texto curto, claro e objetivo na internet, mas o universo hipermidiático, que engloba hiperlinks, imagens, áudios, vídeos, texto, estabelecendo uma harmonia entre todos esses elementos, faz toda a diferença para uma notícia/reportagem. Isso pode, inclusive, trazer detalhes que, por questão de tempo/espaço, a televisão não conseguiria dar.

Um ponto que se assemelha entre o jornalismo televisivo e o digital é a linguagem: ambas marcadas por um tom mais informal, com vocabulário simples e construção de frases mais curtas para facilitar a compreensão. Além disso, como já foi dito, a credibilidade é um ponto comum: é preciso primar pela veracidade e qualidade da informação, seja na TV seja na internet.

Clube: Como é comunicar a notícia em um veículo de comunicação católico?
Jéssica: É um desafio e, ao mesmo tempo, um diferencial. Nem sempre um veículo de comunicação católico vai se debruçar sobre determinados assuntos de interesse da mídia secular, mesmo porque o veículo católico tem o compromisso com a evangelização, isso constitui seu ponto forte. Em se tratando de jornalismo, é preciso, sim, informar as pessoas sobre o que acontece no Brasil e no mundo, em sua realidade cotidiana, assuntos de economia e política, saúde, cidadania, comportamento, mas com uma abordagem diferenciada, sob uma perspectiva que leve, muito mais que informação, a mensagem do Evangelho. Por isso é um desafio e, ao mesmo tempo, um diferencial em relação a outros veículos.

Clube: Algum fato marcante que gostaria de compartilhar com os sócios evangelizadores?
Jéssica: Um trabalho marcante que tivemos no WebJornalismo Canção Nova foi a cobertura da renúncia de Papa Emérito Bento XVI e, consequentemente, do conclave que elegeu o Papa Francisco (fevereiro-março de 2013). Soubemos da notícia logo cedo, em plena segunda-feira de carnaval, a equipe nem estava completa, já que tínhamos um feriado prolongado. Logo começou a correria, quem estava de folga veio para a redação. Eu estava trabalhando nesse dia, sairia na hora do almoço, mas dobrei o horário para suprir a necessidade de trabalho. Fomos tomados pela surpresa, mas não tivemos muito tempo para pensar nisso, já que sabíamos que o público teria vários questionamentos e tínhamos que dar informações precisas e de forma rápida.

Então foi um trabalho de equipe, trabalho duro de apuração, muita pesquisa, entrevistas com várias fontes para poder reunir o máximo de informação possível para o público. Foi um momento em que lidamos com muitas especulações, muitas informações chegando o tempo todo e de todos os lugares, então houve uma grande necessidade de discernimento também, para trabalhar sempre com a informação correta. Tivemos que enviar uma equipe para Roma e mantínhamos contato direto com os que para lá foram.

Depois da eleição, houve mais trabalho ainda para acompanhar o ritmo do Papa Francisco, uma grande riqueza para a Igreja, sempre tão ativo que surpreendeu a imprensa e os fiéis, em vários momentos (e faz isso até hoje!). Então foi um trabalho árduo, mas muito positivo. Foram vários detalhes e situações vividas, mas, de forma geral, foi muito gratificante ter participado desse momento podendo ajudar o público a se manter informado acerca desse acontecimento que marcou não só a história da Igreja, mas do mundo.

Clube da Evangelização
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