Comtur
projeta Carnaval de Rua nos bairros em MOC para 2018
Foi realizada nesta
quarta-feira (30/08), das 16h às 17h e 10min, na sede da Gerência de Turismo,
Feiras e Eventos, Sala 234 do Prédio da Prefeitura Municipal de Montes Claros, a
reunião mensal do Conselho Municipal de Turismo de Montes Claros (Comtur-MOC), o
qual possui cadeira desde 1999 o Regional Norte do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Minas Gerais (SJPMG). Participaram deste encontro, além do
Regional Norte do SJPMG, representantes da Associação Comercial e Industrial de
Montes Claros (ACI-MOC), do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes, da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, da Prefeitura de Montes Claros, da
Secretaria de Cultura, da Câmara Municipal, dentre outras entidades de classe.
As lideranças Marco
Túlio e Lucas Lafetá Vargas apresentaram o projeto de Carnaval de Rua para a
cidade. O planejamento inicial prevê que o evento seja promovido de 09 a 13 de
fevereiro de 2018 nos bairros do município que demonstrarem animação e
mobilização para o evento. A estimativa de público é de 50 mil participantes. O
objetivo do Carnaval de Rua é evitar a retração de capital do
município durante o período (considerado fraco para as atividades comerciais
locais), gerar trabalho e renda e assim aquecer a economia da cidade. Busca-se
um modelo de carnaval de rua cultural, democrático, acessível, colaborativo e
solidário. Será bem-vindo o apoio de patrocinadores convencionais municipais. O
Fundo Municipal de Turismo também é preparado para auxiliar no que for preciso.
Para a promoção do
Carnaval de Rua de MOC haverá a necessidade de gradil, sinalização de trânsito,
segurança, limpeza urbana, etc. A Gerência de Turismo, Feiras e Eventos
pretende cadastrar cada bloco carnavalesco participante ao exigir o nome do
bloco, nome do responsável, local do desfile e estimativa de público. Há blocos
de rua nos bairros Planalto, Morada do Parque, Melo e Morrinhos. O objetivo do
credenciamento é o planejamento e organização de todas as ações de estruturas e
apoio em blocos carnavalescos de rua. A Gerência de Turismo sublinha ainda a
necessidade do estudo do impacto ambiental da festa para a cidade. A proposta de
roteiro do Carnaval demonstra preocupação com o início e o fim das festividades
promovidas por cada bloco carnavalesco em seu bairro ou comunidade de origem.
Serão envolvidos no
esquema de organização da festa popular a Secretaria de Desenvolvimento
Econômico e Turismo, a Secretaria de Comunicação, a Secretaria de Cultura, a
Secretaria de Meio Ambiente, a Secretaria de Saúde, MCTrans e Empresa de
Serviço Urbanos (Esurb), dentre outras secretarias e demais órgãos envolvidos.
O marketing do evento será feito pelo site da Prefeitura de Montes Claros,
redes sociais virtuais, televisão e campanha de conscientização. O plano
financeiro antevê investimentos com banheiros químicos, segurança, ambulância,
grades, palcos, publicidade e taxa do Ecad.
Durante
esta reunião do Comtur-MOC foi mostrado “Projeto de Turismo Valorizando O
Artesanato Montes-Clarense”, que busca a parceria de todos os hotéis do
município para a exposição da arte regional (como a Casa do Artesão, no Bairro
Cintra) em seus espaços. Quem for proprietário de hotel, pensão ou similar e
quiser conversar com a Gerência de Turismo, Feira e Eventos para se aprofundar
na ideia, basta entrar em contato com o gerente de Turismo, Lucas Lafetá Vargas,
pelo telefone 38 9 9198 4141 ou pelo e-mail getur.sedetur@gmail.com.
Outros pontos
mencionados neste encontro de conselheiros municipais foi que: a Prefeitura de Montes Claros, através da Procuradoria Jurídica do Município, vetou os R$ 10 mil e 384 solicitados pela Associação Comercial e Industrial de Montes Claros para a Feira Nacional da Indústria, Comércio e Serviços (Fenics), programada anualmente para acontecer em setembro, a fim de auxiliar o turismo de negócios da feira através de seis circuitos turísticos. Na reunião de 26 de julho de 2017, a ACI havia pedido o montante de R$ 26 mil e 800. Todavia, o Comtur só pôde
aprovar, por unanimidade, a quantia de R$ 10 mil e 384. Este montante também não pôde ser repassado por causa de
algum entrave jurídico; Como o desenvolvimento de Montes Claros atinge e
influencia todo o Norte de Minas Gerais, indicou-se a importância de valorizar
o Roteiro Turístico de Grão Mogol, o Presépio idealizado pelo economista Lúcio
Benquerer e o Festival de Inverno de Grão Mogol, assim como outros roteiros
turísticos regionais; o representante da Câmara Municipal informou que haverá
audiência pública sobre o Mercado Sul (Morrinhos) nesta quinta-feira (31/08);
sublinhou-se a urgência da reativação do Conselho Municipal de Economia
Solidária; informou-se que será construído no Parque Municipal Milton Prates o teatro
da cidade. A próxima reunião do Comtur-MOC está marcada para o dia 27/09.
História
municipal do Carnaval
No
princípio era o entrudo, que perdurou até quase nossos dias. Nesse tempo muita
gente saia da cidade ou fechava suas portas nos dias de entrudo. Aquêles que se
dispunham a brincar de entrudo, vestiam-se com roupas próprias e se armavam de
seringas, copos, baldes regadores, enfim, de qualquer vaso que servisse para
apanhar água. E iam jogando-a em quem passava pela rua. Quantas vêzes um
cidadão descuidado ao passar debaixo de uma janela recebia um banho completo!
Alguns brincalhões se muniam de estacadas e iam “atacar” os amigos no sobrado.
Além de água, usavam também farinha de trigo e outros aniláceos aderentes. As
pessoas mais educadas usavam “água de cheiro”, a princípio em seringas,
surgindo depois os “limões” de cheiro. Os “limões” consistiam em pequenos
depósitos de cêra, semelhantes a casca de ovo, que se enchiam de “água de
cheiro” e eram atirados nos amigos. Êsse tipo de divertimento teve aceitação
geral e era tal a procura de “limões”, que algumas famílias, dias antes, se
preparavam com grandes estoques para a venda durante os três dias de carnaval.
Isto chegou a ser mesmo para certas pessoas uma pequena indústria doméstica.
O
entrudo com água, ou por outra, os excessos de entrudo causavam grande
dissabores, muitas brigas, doenças e até mortes. Por isto mesmo é que no ano de
1906 ficou gravado na história do nosso carnaval. Neste ano não houve entrudo. [O entrudo começou a terminar no
Brasil a partir de 1854 por causa da intensa repressão policial]
Naquele
tempo existia o Clube São Genesco – agremiação dramática dirigida pelo Padre
Carlos Vincart, onde os rapazes de Montes Claros se reuniam e se educavam. No
sábado, véspera de Carnaval, após representação de um drama, Dr. José Tomaz de
Oliveira, sempre alegre, lembrou de improvisar um “Zé Pereira”, semelhante aos
de Recife. Terminado o espetáculo, a rapaziada do São Genesco, munida de tudo
capaz de produzir som, saiu pelas ruas da cidade numa barulheira infernal. O
delegado levantando-se às pressas e com o seu pequeno destacamento, partiu em
busca dos turbulentos. Ao se aproximar a polícia do grupo de pândegos, o Dr.
José Tomaz explicou: “A idéia do Pe. Carlos... Êle não veio porque tem de
celebrar a missa muito cedo amanhã e como se achava muito cansado, foi se
deitar...”. Se a idéia era do Pe. Carlos, que poderia fazer o delegado? Muito simples:
concordar. Foi o que fêz o nosso excelente delegado. Consentiu e entrou com os
soldados na brincadeira, oficializando assim o “Zé Pereira”. Animado com essa
vitória e seus companheiros, Dr. José Tomaz trabalharam intensamente para, na têrça-feira
gorda, apresentar um carro intitulado “Estrada de Ferro Sistema Monail”, criticando
a estrada, cujo privilégio pertencia a Viana do Castelo. Tôda a cidade aplaudiu
a idéia e o entrudo foi por água abaixo.
Em
1907, fundaram o “Club dos Philomonos”, que apresentou vários carros (carros de
boi) alegóricos e de crítica: um carro com a música, um carro estandarte com mefistófeles;
a “Caixa de Conversa”, crítica sobre a caixa da conversação; o “Mata-Bicho”,
crítica aos paus d’água; e por último, o carro principal: “Uma Eleição em Minas
Coas”... onde se viam almas do outro mundo... votando... Uma sátira à eleição a
“Bico de Pena”.
“A
Opinião do Norte”, um dos jornais da época comentou da seguinte maneira o
Carnaval de 1907:
“...
Definitivamente , está implantando o Carnaval em Montes Claros, que além de
outros efeitos, trouxe a incontestável vantagem de terminar com o estúpido
brinquedo d’água, que foi esquecido e substituído por confetis, flores e
serpentinas.
Em
1907, o entusiasmo redobrou, saindo um préstito extraordinário. Na comissão da
frente vinham os clarins e a música; em seguida os carros alegóricos “A
Primavera”, “O Deus Ouro”. Atrás, os carros de críticas: “A Gaiola do Marechal”,
crítica ao Sorteio Militar; “Teimoso-Bicho”, crítica ao Serviço dos Correios; e
“Mulheres eleitoras”, crítica ao alistamento de três senhoras em Minas Novas.
Sucesso retumbante do Club dos Philomonos, organizador dos carros. Não havia
bailes carnavalescos naquele tempo, os quais tiveram início com o Club Sete de
Setembro, fundado em 1912.
Naquele
tempo o Carnaval não era considerado uma festa pagã, como hoje. Damos abaixo o
comentário de “A Verdade”, jornal católico, sob censura da autoridade
eclesiástica, inserido em sua edição de 29 de fevereiro de 1914: “Estréia hoje
o Club Carnavalesco Colibri. É um bando de meninos que se está preparando para
festejar pomposamente o Carnaval. Todos alegres, satisfeitos, hoje hão de sair
como louquinhos a pular, a rir, a falar das causas locais que não andam muito
direitas. É natural e não faz mal a diversão dos petizes, contanto que elles
não se esqueçam dos estudos, das obrigações para com seus pais que hoje lhes
proporcionam a diversão. Amanhã é o Club dos Philomonos, esse que no ano
passado fez um verdadeiro sucesso. Contaram-nos que este ano vai sair melhor
ainda o Carnaval. Também não faz mal, contanto que o Carnaval seja devidamente
compreendido, isto é, Carne-vale. Queremos dizer que os bons rapazes não devem
se esquecer das penitências da quaresma, a fim de agradar a Cristo, dando
realmente adeus à carne por alguns dias, alimentando-se por motificação (aliás
saudável) como vegetarianos. Desejamos ao pessoal alegre muitas diversões”.
Mas...
Dr. José Tomaz mudou de residência; e dos préstitos maravilhosos ficaram apenas
a lembrança e a saudade.
O
carnaval continuou sendo festejado anualmente sem chamar a atenção, sem atingir
o apogeu em 1908. Tanto assim que em 1915, “A Verdade” tece o seguinte
comentário:
“Confetis,
serpentina, lança-perfumes andaram em turbilhões pelos ares e atapetaram nossas
ruas com as suas multicores.
Grupos
espirituosos fantasiados percorreram nossas ruas e em diversas casas executaram
seus diversos bailados. No domingo um belo préstito com seus carros de críticas
que muito nos fêz rir, abrilhantando o mesmo com lindas peças a “Euterpe
Montesclarense”.
Fechou
os festejos o baile masquê que teve lugar na terça-feira gorda, em casa do
Coronel Camilo Carvalho, situada na Chácara do Melo”.
Em
1920, havia um belo coreto na praça Dr. Chaves em frente ao Palácio Episcopal.
Nesse ponto, justamente sob as vistas de Dom João Antônio Pimenta,
desenrolaram-se as batalhas de confetis.
Em
1921 novo bloco surgiu: “Mulher Engraçada e Adorada” de Ari de Oliveira, filho
do Dr. José Tomaz de Oliveira, com as canções “Alivias êsses olhos” e “Vou me
benzer”...
Em
1922 nova animação; as batalhas de confetis e serpentinas estavam em moda. Os
blocos “Maria vai com as outras”, compostos de moças, trajando prêto e branco e
cantando “Mulher Engraçada e Adorada” com orquestra e ainda “As caipirinhas”.
Nesse
ano iniciaram os bailes de sábado de aleluia – micarême. Em 23 apareceram os
blocos “Meninas de Sorte” e “Folia” com uma rivalidade que durou o ano inteiro,
preparando um melhor Carnaval para 24. Nesse ano o Ari preparou o “Mulher
Engraçada e Adorada”, composto de quatorze rapazes e quatorze moças de nossa
melhor sociedade e com uma orquestra chefiada por Tonico Teixeira, autor das
canções: “Até que enfim” e “Foliões”. Surgiu também neste ano os “Mimosos Colibris”,
com Iolanda, Maurício, Lili Oliveira e Biás Fróis na direção.
Eis
como a “Gazeta” noticiou a passeata do “Mulher Engraçada e Adorada”: “Às nove
horas da noite tocaram os clarins na Praça Dr. Chaves, atraindo a atenção do
povo. Logo após os clarins, a cavalo, a dez jardas a ingleza, vinha seis
rapazes do bloco formando a comissão de frente, montando lindos e fogosos
ginetes. Seguiram quatro autos lindamente ornamentados a serpentinas e
iluminados a lanternas e fogo de bengala, conduzindo senhoritas e damas e
rapazes do bloco. No primeiro carro vinha o cordão do “Mulher Engraçada e
Adorada”. O povo alvoroçado acompanhou de perto, em todo o trajeto, a passeata
atirando-lhe com suas palmas e ovações, serpentinas, confetis e flôres...”. O
seu repertório estava assim composto: “Foliões”, marcha oficial; “Nem sei dizer”;
“Pai Adão”; “Até que em fim”; “Se me dé de cumê”...; “Yayá e Yoyó”; “Quem
quiser ver” e “Tem que haver combinação”.
O
ponto culminante do Carnaval de 24 foram os bailes que se realizaram no
palacete do Sr. Jorge de Souza Santos, pertencente hoje a Gentil Gonzaga, na
rua Presidente Vargas. Uma novidade – Ari, o extraordinário Ari – revolucionou a
orquestra, fez um jazz-band que pela primeira vez foi ouvido em Montes Claros;
com o Tonico Teixeira na batuta. No baile de têrça-feira houve um concurso de
fantasias, masculino e feminino. Comissão julgadora: Coronel Artur Vale,
Antônio Augusto Teixeira e Major Honor Sarmento. 1º prêmio feminino: Iraci de
Oliveira com fantasia de bebê. 1º prêmio masculino coube a Rodrigão (Antônio
Rodrigues Ferreira, viajante português muito relacionado em nosso meio e
viajava de longe para assistir o nosso Carnaval). Rodrigão trajava um finíssimo
pierrô vindo especialmente do Rio. Benedito Gomes com uma fantasia de oriental
tirou o 2º lugar. Montes Claros em peso compareceu neste baile. O acordo na
política motivou a “inchente”. E um sereno especial permaneceu até a madrugada.
Em
1927, depois de dois anos de frieza, Ari resolveu fazer um Carnaval de deixar
saudade e João Novais Avelins entrou no cordão, com um rancho: “Eu vou se você for...”
cuja marcha oficial era de autoria de Jair de Oliveira (Música de Dulce).
Apareceu também o “Gurigui” e muitos mascarados avulsos. O clube do Ari, “Mulher
Engraçada e Adorada”, fêz sucesso apresentando um préstito com carros
alegóricos: “À frente vinham os clarins, a cavalo, seguidos pela comissão de
frente lindamente fantasiados de Luiz XV, montados em belos animais da qual
faziam parte as senhorinhas: Sinhazinha Alves, Vicentina Fernandes, Nair
Câmara, Conceição Leão, Nina Alves, Sinhá Fernandes e Sr. Deicola Neves. Em
seguida um belo carro alegórico – uma biga romana, puchada por duas fantásticas
borboletas conduzida pela senhorinha Dudu Viana. Empunhando o alvi-negro
pavilhão do Clube com um alinda e vistosa fantasia, ao cume do carro, estava a
senhorinha Conceição Fernandes, que recebia com gentil agradecimento as
aclamações ao querido Clube. Um guarda de honra romana seguia êste carro e após
alguns automóveis, em um dos quais ia a Diretoria do Clube conduzindo o glorioso
estandarte.
Em
um elegante pavilhão à chineza, via-se a banda de música fantasiada de chins,
executando durante o trajeto as melhores peças do seu repertório. Seguindo igualmente
uma guarda de honra chineza. Depois de alguns outros consócios e suas famílias,
vinha o segundo carro alegórico “Rosas e Crisantemos”, uma enorme cesta em cuja
alça ia magnificamente fantasiada a senhorinha Mundinha Araújo. Dentro da
enorme e florida cesta iam várias rosas e crisantemos representados por sócios
e sócias do Clube, tendo o carro uma guarda de fantasia de crisântemos” (Gazeta
do Norte).
Em
1929, não houve Carnaval. Por isso mesmo alguns comerciantes do Mercado,
chefiados por João Soares da Silva, resolveram na terça-feira gorda fazerem o entêrro
do Momo. É da “Gazeta” a descrição que reproduzimos: “O esquife de grandes
proporções saiu às 7 horas da noite da Praça Doutor Carlos com uma comissão de
frente e trajada a rigor (casaca e cartola) sendo acompanhados por grande massa
popular. Seguravam as alças do caixão seis rapazes trajados de fraque e cartola
com uma grande comissão atrás também trajada a rigor.
Vinham
à frente dois estandartes empunhados por rapazes solenemente trajados, com as
seguintes inscrições: “Última homenagem do “Mulher Encantada e Adorada” e “Saudades
Eternas do “Eu Vou Se Você Fôr”... Ao passar o cortejo junto à nossa redação
fez uma parada tendo usado da palavra em bela oração o Sr. João Soares da
Silva, que fez o necrológio do “extinto”. Seguiu o grande préstito que
percorreu ainda várias ruas, falando durante o trajeto vários oradores. Sobre o
caixão viam-se várias coroas, destacando as seguintes: “Saudades de Ari”, “Homenagem
do Rodrigão”, “Último Adeus de João Novais”. Durante o trajeto uma orquestra
executou marchas funebres”.
De
1929 em diante o Carnaval em Montes Claros se resumia, quando muito animado, em
um corso de automóveis; utilizavam automóveis com a capota descida, cabendo
assim mais gente. Os carros se enchiam de moças e rapazes, meninos fantasiados,
munidos de lança-perfumes, confetis e serpentinas; entoavam principalmente as
canções populares do ano. O trajeto era pequeno, compreendia a Rua 15 de
Novembro, partindo do atual Hotel São Luiz, subia a rua Dr. Veloso no Clube
Montes Claros, virava à esquerda pela Rua Padre Augusto, atingindo a Rua
Bocaiuva (hoje Dr. Santos), descia por esta até o ponto de partida. Êsse
volteio ia se repetindo das 19 até as 22, quando iam para os bailes. Com uma
hora de brinquedo já os carros estavam emendados com serpentinas, formando uma
enorme “cobra”. Com o desaparecimento dos carros de capota, esta prática foi
caindo em desuso e hoje nota-se apenas um outro carro isolado a percorrer as
ruas. Também o gasto de lança-perfume, serpentinas e confetis diminuiu
consideravelmente. Antes com duas ou três horas de baile era necessário uma
pausa para fazer uma limpeza no salão porque a quantidade de serpentinas e
confetis era tanta que não se podia dansar facilmente. Hoje o Carnaval de rua
se resume em um ou dois blocos de operários, tendo à frente madame Bichara,
Lionel Beirão, a “Escola de Samba” de Vavá e alguns “caretas” avulsos... E uma
multidão para ver...
Nos
Montes Claros e nos Bancários realizam-se bailes carnavalescos, sábado,
domingo, segunda e têrça-feira, havendo também matinées infantis às duas horas
da tarde, distribuindo-se prêmios às fantasias mais bonitas. Nos bailes
dansa-se pouco aos pares; organiza-se um cordão – todos de mãos dadas, pulando
no ritmo da música e cantando. A orquestra não para quase. Quando a alegria
chega ao auge aquêles mais identificados com os folguedos vão levando para o “cordão”
os mais retraídos e daí a pouco não há ninguém triste. Naturalmente não faltam
bebidas alcoólicas e refrigerantes. Nosso carnaval em todos os tempos foi
sempre uma festa de moral sã, sem predomínio da carne, como querem muitos.
Consiste em folguedos simples, onde paradoxalmente o indivíduo tira a máscara
das convenções e se mostra alegre, brincalhão, sem se preocupar com outras
coisas.
Fonte:
Páginas 590, 591, 592, 593, 594 e 595 do livro “Montes Claros: sua história,
sua gente, seus costumes”, organizado pelo médico, historiador e folclorista,
Hermes Augusto de Paula, edição de 1960
Depois aconteceram em
Montes Claros carnavais fora de época com trios elétricos ao gosto dos
partidários do prefeito do período. Jairo Athaíde Vieira criou o Carnamontes de
1998 a 2005 e Luiz Tadeu Leite (2009-2012), com seu populismo peculiar, tentou
resgatar muito precariamente um carnaval com blocos de rua. O Samba Enredo do
Bloco “Feijão Maravilha”, do Bairro Operário-Cultural Morrinhos, foi o que aproximou
um pouco das raízes populares do carnaval brasileiro. Com o título “SERÁ?”,
composto e musicado por Eduardo Bastos, a letra trouxe para a Avenida João Luiz
de Almeida nos dias 23, 24 e 25 de maio de 2008 elementos característicos do
samba-raiz. “Será mentira? Ou é verdade?/Que o carnaval voltou para esta
cidade./Será verdade ou é mentira?/Que o carnaval voltou pra avenida./Será que
a alegria voltou a reinar?/Com o carnaval se voltou para ficar./Será que a
alegria voltou a reinar?/Com o carnaval se voltou para ficar./O morro desce/O
morro desce para a avenida/Com o bloco Feijão Maravilha/Tem mulher bonita pois
é! Tem capoeira e muito samba no pé/Mas a alegria não vai faltar/Com o FEIJÃO
MARAVILHA vamos lá/Mas a alegria não vai faltar/Com o FEIJÃO MARAVILHA vamos lá”.
Um dos fundadores do
Grêmio Recreativo Estação Primeira de Mangueira, a segunda escola de samba do
Rio de Janeiro, Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980), nunca gostou da
expressão “samba-enredo”. Jamais se adaptou ao crescimento acelerado e
comercial do samba. Para ele, a letra de um samba deveria brotar
espontaneamente da mente de um verdadeiro compositor. Quando Cartola tinha uma
ideia para uma composição, ele parava imediatamente o que estava fazendo, dizia
para a família que teve “um boi com abóbora” e ia escrever a sua composição,
uma verdadeira obra de arte. No início do século XX, o samba nasce da expulsão da
população negra e pobre do Rio de Janeiro pelos especuladores imobiliários. Há
as célebres disputas musicais entre Noel Rosa, boêmio branco que defende os
pobres e os negros, e Wilson Batista, negro comportado que se alia à ideologia
dominante. A primeira favela (nome de uma planta rasteira) tem origem no final
do século XX, em 1897, quando os combatentes de Canudos/BA não recebem nada em
troca por terem lutado contra os cerca de 30 mil aliados a Antônio Conselheiro.
Foram necessárias quatro expedições do nascente Exército Republicano Brasileiro
para massacrar o segundo maior arraial baiano de então. Os combatentes do
Exército Brasileiro criam a Favela da Providência, que completa 120 anos de
existência em 2017.
Conforme Nelson
Sargento, o samba se transforma conforme a classe média vai se apropriando
dessa proposta musical nascida para ser revolucionária. Cartola e Dona Zica
criam o Zicartola, restaurante inaugurado em 05 de setembro de 1963 na Rua da
Carioca, centro do Rio, “um ponto de resistência cultural” segundo Rildo Hora, curiosamente
tendo seu fim com a ascensão da Ditadura Civil-Militar de 1º de Abril de 1964. Mas
o samba continuou dando o seu grito de desabafo, sobretudo na clandestinidade.
Atenciosamente,
João Renato Diniz
Pinto, diretor do Regional Norte do SJPMG 2017-2020