ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Bloco "Boi com Abóbora"

Comtur projeta Carnaval de Rua nos bairros em MOC para 2018

Foi realizada nesta quarta-feira (30/08), das 16h às 17h e 10min, na sede da Gerência de Turismo, Feiras e Eventos, Sala 234 do Prédio da Prefeitura Municipal de Montes Claros, a reunião mensal do Conselho Municipal de Turismo de Montes Claros (Comtur-MOC), o qual possui cadeira desde 1999 o Regional Norte do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG). Participaram deste encontro, além do Regional Norte do SJPMG, representantes da Associação Comercial e Industrial de Montes Claros (ACI-MOC), do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, da Prefeitura de Montes Claros, da Secretaria de Cultura, da Câmara Municipal, dentre outras entidades de classe.

As lideranças Marco Túlio e Lucas Lafetá Vargas apresentaram o projeto de Carnaval de Rua para a cidade. O planejamento inicial prevê que o evento seja promovido de 09 a 13 de fevereiro de 2018 nos bairros do município que demonstrarem animação e mobilização para o evento. A estimativa de público é de 50 mil participantes. O objetivo do Carnaval de Rua é evitar a retração de capital do município durante o período (considerado fraco para as atividades comerciais locais), gerar trabalho e renda e assim aquecer a economia da cidade. Busca-se um modelo de carnaval de rua cultural, democrático, acessível, colaborativo e solidário. Será bem-vindo o apoio de patrocinadores convencionais municipais. O Fundo Municipal de Turismo também é preparado para auxiliar no que for preciso.

Para a promoção do Carnaval de Rua de MOC haverá a necessidade de gradil, sinalização de trânsito, segurança, limpeza urbana, etc. A Gerência de Turismo, Feiras e Eventos pretende cadastrar cada bloco carnavalesco participante ao exigir o nome do bloco, nome do responsável, local do desfile e estimativa de público. Há blocos de rua nos bairros Planalto, Morada do Parque, Melo e Morrinhos. O objetivo do credenciamento é o planejamento e organização de todas as ações de estruturas e apoio em blocos carnavalescos de rua. A Gerência de Turismo sublinha ainda a necessidade do estudo do impacto ambiental da festa para a cidade. A proposta de roteiro do Carnaval demonstra preocupação com o início e o fim das festividades promovidas por cada bloco carnavalesco em seu bairro ou comunidade de origem.

Serão envolvidos no esquema de organização da festa popular a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, a Secretaria de Comunicação, a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Meio Ambiente, a Secretaria de Saúde, MCTrans e Empresa de Serviço Urbanos (Esurb), dentre outras secretarias e demais órgãos envolvidos. O marketing do evento será feito pelo site da Prefeitura de Montes Claros, redes sociais virtuais, televisão e campanha de conscientização. O plano financeiro antevê investimentos com banheiros químicos, segurança, ambulância, grades, palcos, publicidade e taxa do Ecad.

Durante esta reunião do Comtur-MOC foi mostrado “Projeto de Turismo Valorizando O Artesanato Montes-Clarense”, que busca a parceria de todos os hotéis do município para a exposição da arte regional (como a Casa do Artesão, no Bairro Cintra) em seus espaços. Quem for proprietário de hotel, pensão ou similar e quiser conversar com a Gerência de Turismo, Feira e Eventos para se aprofundar na ideia, basta entrar em contato com o gerente de Turismo, Lucas Lafetá Vargas, pelo telefone 38 9 9198 4141 ou pelo e-mail getur.sedetur@gmail.com.

Outros pontos mencionados neste encontro de conselheiros municipais foi que: a Prefeitura de Montes Claros, através da Procuradoria Jurídica do Município, vetou os R$ 10 mil e 384 solicitados pela Associação Comercial e Industrial de Montes Claros para a Feira Nacional da Indústria, Comércio e Serviços (Fenics), programada anualmente para acontecer em setembro, a fim de auxiliar o turismo de negócios da feira através de seis circuitos turísticos. Na reunião de 26 de julho de 2017, a ACI havia pedido o montante de R$ 26 mil e 800. Todavia, o Comtur só pôde aprovar, por unanimidade, a quantia de R$ 10 mil e 384. Este montante  também não pôde ser repassado por causa de algum entrave jurídico; Como o desenvolvimento de Montes Claros atinge e influencia todo o Norte de Minas Gerais, indicou-se a importância de valorizar o Roteiro Turístico de Grão Mogol, o Presépio idealizado pelo economista Lúcio Benquerer e o Festival de Inverno de Grão Mogol, assim como outros roteiros turísticos regionais; o representante da Câmara Municipal informou que haverá audiência pública sobre o Mercado Sul (Morrinhos) nesta quinta-feira (31/08); sublinhou-se a urgência da reativação do Conselho Municipal de Economia Solidária; informou-se que será construído no Parque Municipal Milton Prates o teatro da cidade. A próxima reunião do Comtur-MOC está marcada para o dia 27/09.

História municipal do Carnaval

No princípio era o entrudo, que perdurou até quase nossos dias. Nesse tempo muita gente saia da cidade ou fechava suas portas nos dias de entrudo. Aquêles que se dispunham a brincar de entrudo, vestiam-se com roupas próprias e se armavam de seringas, copos, baldes regadores, enfim, de qualquer vaso que servisse para apanhar água. E iam jogando-a em quem passava pela rua. Quantas vêzes um cidadão descuidado ao passar debaixo de uma janela recebia um banho completo! Alguns brincalhões se muniam de estacadas e iam “atacar” os amigos no sobrado. Além de água, usavam também farinha de trigo e outros aniláceos aderentes. As pessoas mais educadas usavam “água de cheiro”, a princípio em seringas, surgindo depois os “limões” de cheiro. Os “limões” consistiam em pequenos depósitos de cêra, semelhantes a casca de ovo, que se enchiam de “água de cheiro” e eram atirados nos amigos. Êsse tipo de divertimento teve aceitação geral e era tal a procura de “limões”, que algumas famílias, dias antes, se preparavam com grandes estoques para a venda durante os três dias de carnaval. Isto chegou a ser mesmo para certas pessoas uma pequena indústria doméstica.

O entrudo com água, ou por outra, os excessos de entrudo causavam grande dissabores, muitas brigas, doenças e até mortes. Por isto mesmo é que no ano de 1906 ficou gravado na história do nosso carnaval. Neste ano não houve entrudo. [O entrudo começou a terminar no Brasil a partir de 1854 por causa da intensa repressão policial]  

Naquele tempo existia o Clube São Genesco – agremiação dramática dirigida pelo Padre Carlos Vincart, onde os rapazes de Montes Claros se reuniam e se educavam. No sábado, véspera de Carnaval, após representação de um drama, Dr. José Tomaz de Oliveira, sempre alegre, lembrou de improvisar um “Zé Pereira”, semelhante aos de Recife. Terminado o espetáculo, a rapaziada do São Genesco, munida de tudo capaz de produzir som, saiu pelas ruas da cidade numa barulheira infernal. O delegado levantando-se às pressas e com o seu pequeno destacamento, partiu em busca dos turbulentos. Ao se aproximar a polícia do grupo de pândegos, o Dr. José Tomaz explicou: “A idéia do Pe. Carlos... Êle não veio porque tem de celebrar a missa muito cedo amanhã e como se achava muito cansado, foi se deitar...”. Se a idéia era do Pe. Carlos, que poderia fazer o delegado? Muito simples: concordar. Foi o que fêz o nosso excelente delegado. Consentiu e entrou com os soldados na brincadeira, oficializando assim o “Zé Pereira”. Animado com essa vitória e seus companheiros, Dr. José Tomaz trabalharam intensamente para, na têrça-feira gorda, apresentar um carro intitulado “Estrada de Ferro Sistema Monail”, criticando a estrada, cujo privilégio pertencia a Viana do Castelo. Tôda a cidade aplaudiu a idéia e o entrudo foi por água abaixo.

Em 1907, fundaram o “Club dos Philomonos”, que apresentou vários carros (carros de boi) alegóricos e de crítica: um carro com a música, um carro estandarte com mefistófeles; a “Caixa de Conversa”, crítica sobre a caixa da conversação; o “Mata-Bicho”, crítica aos paus d’água; e por último, o carro principal: “Uma Eleição em Minas Coas”... onde se viam almas do outro mundo... votando... Uma sátira à eleição a “Bico de Pena”.

“A Opinião do Norte”, um dos jornais da época comentou da seguinte maneira o Carnaval de 1907:
“... Definitivamente , está implantando o Carnaval em Montes Claros, que além de outros efeitos, trouxe a incontestável vantagem de terminar com o estúpido brinquedo d’água, que foi esquecido e substituído por confetis, flores e serpentinas.

Em 1907, o entusiasmo redobrou, saindo um préstito extraordinário. Na comissão da frente vinham os clarins e a música; em seguida os carros alegóricos “A Primavera”, “O Deus Ouro”. Atrás, os carros de críticas: “A Gaiola do Marechal”, crítica ao Sorteio Militar; “Teimoso-Bicho”, crítica ao Serviço dos Correios; e “Mulheres eleitoras”, crítica ao alistamento de três senhoras em Minas Novas. Sucesso retumbante do Club dos Philomonos, organizador dos carros. Não havia bailes carnavalescos naquele tempo, os quais tiveram início com o Club Sete de Setembro, fundado em 1912.

Naquele tempo o Carnaval não era considerado uma festa pagã, como hoje. Damos abaixo o comentário de “A Verdade”, jornal católico, sob censura da autoridade eclesiástica, inserido em sua edição de 29 de fevereiro de 1914: “Estréia hoje o Club Carnavalesco Colibri. É um bando de meninos que se está preparando para festejar pomposamente o Carnaval. Todos alegres, satisfeitos, hoje hão de sair como louquinhos a pular, a rir, a falar das causas locais que não andam muito direitas. É natural e não faz mal a diversão dos petizes, contanto que elles não se esqueçam dos estudos, das obrigações para com seus pais que hoje lhes proporcionam a diversão. Amanhã é o Club dos Philomonos, esse que no ano passado fez um verdadeiro sucesso. Contaram-nos que este ano vai sair melhor ainda o Carnaval. Também não faz mal, contanto que o Carnaval seja devidamente compreendido, isto é, Carne-vale. Queremos dizer que os bons rapazes não devem se esquecer das penitências da quaresma, a fim de agradar a Cristo, dando realmente adeus à carne por alguns dias, alimentando-se por motificação (aliás saudável) como vegetarianos. Desejamos ao pessoal alegre muitas diversões”.

Mas... Dr. José Tomaz mudou de residência; e dos préstitos maravilhosos ficaram apenas a lembrança e a saudade.

O carnaval continuou sendo festejado anualmente sem chamar a atenção, sem atingir o apogeu em 1908. Tanto assim que em 1915, “A Verdade” tece o seguinte comentário:

“Confetis, serpentina, lança-perfumes andaram em turbilhões pelos ares e atapetaram nossas ruas com as suas multicores.

Grupos espirituosos fantasiados percorreram nossas ruas e em diversas casas executaram seus diversos bailados. No domingo um belo préstito com seus carros de críticas que muito nos fêz rir, abrilhantando o mesmo com lindas peças a “Euterpe Montesclarense”.

Fechou os festejos o baile masquê que teve lugar na terça-feira gorda, em casa do Coronel Camilo Carvalho, situada na Chácara do Melo”.

Em 1920, havia um belo coreto na praça Dr. Chaves em frente ao Palácio Episcopal. Nesse ponto, justamente sob as vistas de Dom João Antônio Pimenta, desenrolaram-se as batalhas de confetis.
Em 1921 novo bloco surgiu: “Mulher Engraçada e Adorada” de Ari de Oliveira, filho do Dr. José Tomaz de Oliveira, com as canções “Alivias êsses olhos” e “Vou me benzer”...

Em 1922 nova animação; as batalhas de confetis e serpentinas estavam em moda. Os blocos “Maria vai com as outras”, compostos de moças, trajando prêto e branco e cantando “Mulher Engraçada e Adorada” com orquestra e ainda “As caipirinhas”.

Nesse ano iniciaram os bailes de sábado de aleluia – micarême. Em 23 apareceram os blocos “Meninas de Sorte” e “Folia” com uma rivalidade que durou o ano inteiro, preparando um melhor Carnaval para 24. Nesse ano o Ari preparou o “Mulher Engraçada e Adorada”, composto de quatorze rapazes e quatorze moças de nossa melhor sociedade e com uma orquestra chefiada por Tonico Teixeira, autor das canções: “Até que enfim” e “Foliões”. Surgiu também neste ano os “Mimosos Colibris”, com Iolanda, Maurício, Lili Oliveira e Biás Fróis na direção.

Eis como a “Gazeta” noticiou a passeata do “Mulher Engraçada e Adorada”: “Às nove horas da noite tocaram os clarins na Praça Dr. Chaves, atraindo a atenção do povo. Logo após os clarins, a cavalo, a dez jardas a ingleza, vinha seis rapazes do bloco formando a comissão de frente, montando lindos e fogosos ginetes. Seguiram quatro autos lindamente ornamentados a serpentinas e iluminados a lanternas e fogo de bengala, conduzindo senhoritas e damas e rapazes do bloco. No primeiro carro vinha o cordão do “Mulher Engraçada e Adorada”. O povo alvoroçado acompanhou de perto, em todo o trajeto, a passeata atirando-lhe com suas palmas e ovações, serpentinas, confetis e flôres...”. O seu repertório estava assim composto: “Foliões”, marcha oficial; “Nem sei dizer”; “Pai Adão”; “Até que em fim”; “Se me dé de cumê”...; “Yayá e Yoyó”; “Quem quiser ver” e “Tem que haver combinação”.

O ponto culminante do Carnaval de 24 foram os bailes que se realizaram no palacete do Sr. Jorge de Souza Santos, pertencente hoje a Gentil Gonzaga, na rua Presidente Vargas. Uma novidade – Ari, o extraordinário Ari – revolucionou a orquestra, fez um jazz-band que pela primeira vez foi ouvido em Montes Claros; com o Tonico Teixeira na batuta. No baile de têrça-feira houve um concurso de fantasias, masculino e feminino. Comissão julgadora: Coronel Artur Vale, Antônio Augusto Teixeira e Major Honor Sarmento. 1º prêmio feminino: Iraci de Oliveira com fantasia de bebê. 1º prêmio masculino coube a Rodrigão (Antônio Rodrigues Ferreira, viajante português muito relacionado em nosso meio e viajava de longe para assistir o nosso Carnaval). Rodrigão trajava um finíssimo pierrô vindo especialmente do Rio. Benedito Gomes com uma fantasia de oriental tirou o 2º lugar. Montes Claros em peso compareceu neste baile. O acordo na política motivou a “inchente”. E um sereno especial permaneceu até a madrugada.

Em 1927, depois de dois anos de frieza, Ari resolveu fazer um Carnaval de deixar saudade e João Novais Avelins entrou no cordão, com um rancho: “Eu vou se você for...” cuja marcha oficial era de autoria de Jair de Oliveira (Música de Dulce). Apareceu também o “Gurigui” e muitos mascarados avulsos. O clube do Ari, “Mulher Engraçada e Adorada”, fêz sucesso apresentando um préstito com carros alegóricos: “À frente vinham os clarins, a cavalo, seguidos pela comissão de frente lindamente fantasiados de Luiz XV, montados em belos animais da qual faziam parte as senhorinhas: Sinhazinha Alves, Vicentina Fernandes, Nair Câmara, Conceição Leão, Nina Alves, Sinhá Fernandes e Sr. Deicola Neves. Em seguida um belo carro alegórico – uma biga romana, puchada por duas fantásticas borboletas conduzida pela senhorinha Dudu Viana. Empunhando o alvi-negro pavilhão do Clube com um alinda e vistosa fantasia, ao cume do carro, estava a senhorinha Conceição Fernandes, que recebia com gentil agradecimento as aclamações ao querido Clube. Um guarda de honra romana seguia êste carro e após alguns automóveis, em um dos quais ia a Diretoria do Clube conduzindo o glorioso estandarte.

Em um elegante pavilhão à chineza, via-se a banda de música fantasiada de chins, executando durante o trajeto as melhores peças do seu repertório. Seguindo igualmente uma guarda de honra chineza. Depois de alguns outros consócios e suas famílias, vinha o segundo carro alegórico “Rosas e Crisantemos”, uma enorme cesta em cuja alça ia magnificamente fantasiada a senhorinha Mundinha Araújo. Dentro da enorme e florida cesta iam várias rosas e crisantemos representados por sócios e sócias do Clube, tendo o carro uma guarda de fantasia de crisântemos” (Gazeta do Norte).

Em 1929, não houve Carnaval. Por isso mesmo alguns comerciantes do Mercado, chefiados por João Soares da Silva, resolveram na terça-feira gorda fazerem o entêrro do Momo. É da “Gazeta” a descrição que reproduzimos: “O esquife de grandes proporções saiu às 7 horas da noite da Praça Doutor Carlos com uma comissão de frente e trajada a rigor (casaca e cartola) sendo acompanhados por grande massa popular. Seguravam as alças do caixão seis rapazes trajados de fraque e cartola com uma grande comissão atrás também trajada a rigor.

Vinham à frente dois estandartes empunhados por rapazes solenemente trajados, com as seguintes inscrições: “Última homenagem do “Mulher Encantada e Adorada” e “Saudades Eternas do “Eu Vou Se Você Fôr”... Ao passar o cortejo junto à nossa redação fez uma parada tendo usado da palavra em bela oração o Sr. João Soares da Silva, que fez o necrológio do “extinto”. Seguiu o grande préstito que percorreu ainda várias ruas, falando durante o trajeto vários oradores. Sobre o caixão viam-se várias coroas, destacando as seguintes: “Saudades de Ari”, “Homenagem do Rodrigão”, “Último Adeus de João Novais”. Durante o trajeto uma orquestra executou marchas funebres”.

De 1929 em diante o Carnaval em Montes Claros se resumia, quando muito animado, em um corso de automóveis; utilizavam automóveis com a capota descida, cabendo assim mais gente. Os carros se enchiam de moças e rapazes, meninos fantasiados, munidos de lança-perfumes, confetis e serpentinas; entoavam principalmente as canções populares do ano. O trajeto era pequeno, compreendia a Rua 15 de Novembro, partindo do atual Hotel São Luiz, subia a rua Dr. Veloso no Clube Montes Claros, virava à esquerda pela Rua Padre Augusto, atingindo a Rua Bocaiuva (hoje Dr. Santos), descia por esta até o ponto de partida. Êsse volteio ia se repetindo das 19 até as 22, quando iam para os bailes. Com uma hora de brinquedo já os carros estavam emendados com serpentinas, formando uma enorme “cobra”. Com o desaparecimento dos carros de capota, esta prática foi caindo em desuso e hoje nota-se apenas um outro carro isolado a percorrer as ruas. Também o gasto de lança-perfume, serpentinas e confetis diminuiu consideravelmente. Antes com duas ou três horas de baile era necessário uma pausa para fazer uma limpeza no salão porque a quantidade de serpentinas e confetis era tanta que não se podia dansar facilmente. Hoje o Carnaval de rua se resume em um ou dois blocos de operários, tendo à frente madame Bichara, Lionel Beirão, a “Escola de Samba” de Vavá e alguns “caretas” avulsos... E uma multidão para ver...

Nos Montes Claros e nos Bancários realizam-se bailes carnavalescos, sábado, domingo, segunda e têrça-feira, havendo também matinées infantis às duas horas da tarde, distribuindo-se prêmios às fantasias mais bonitas. Nos bailes dansa-se pouco aos pares; organiza-se um cordão – todos de mãos dadas, pulando no ritmo da música e cantando. A orquestra não para quase. Quando a alegria chega ao auge aquêles mais identificados com os folguedos vão levando para o “cordão” os mais retraídos e daí a pouco não há ninguém triste. Naturalmente não faltam bebidas alcoólicas e refrigerantes. Nosso carnaval em todos os tempos foi sempre uma festa de moral sã, sem predomínio da carne, como querem muitos. Consiste em folguedos simples, onde paradoxalmente o indivíduo tira a máscara das convenções e se mostra alegre, brincalhão, sem se preocupar com outras coisas.

Fonte: Páginas 590, 591, 592, 593, 594 e 595 do livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, organizado pelo médico, historiador e folclorista, Hermes Augusto de Paula, edição de 1960

Depois aconteceram em Montes Claros carnavais fora de época com trios elétricos ao gosto dos partidários do prefeito do período. Jairo Athaíde Vieira criou o Carnamontes de 1998 a 2005 e Luiz Tadeu Leite (2009-2012), com seu populismo peculiar, tentou resgatar muito precariamente um carnaval com blocos de rua. O Samba Enredo do Bloco “Feijão Maravilha”, do Bairro Operário-Cultural Morrinhos, foi o que aproximou um pouco das raízes populares do carnaval brasileiro. Com o título “SERÁ?”, composto e musicado por Eduardo Bastos, a letra trouxe para a Avenida João Luiz de Almeida nos dias 23, 24 e 25 de maio de 2008 elementos característicos do samba-raiz. “Será mentira? Ou é verdade?/Que o carnaval voltou para esta cidade./Será verdade ou é mentira?/Que o carnaval voltou pra avenida./Será que a alegria voltou a reinar?/Com o carnaval se voltou para ficar./Será que a alegria voltou a reinar?/Com o carnaval se voltou para ficar./O morro desce/O morro desce para a avenida/Com o bloco Feijão Maravilha/Tem mulher bonita pois é! Tem capoeira e muito samba no pé/Mas a alegria não vai faltar/Com o FEIJÃO MARAVILHA vamos lá/Mas a alegria não vai faltar/Com o FEIJÃO MARAVILHA vamos lá”.

Um dos fundadores do Grêmio Recreativo Estação Primeira de Mangueira, a segunda escola de samba do Rio de Janeiro, Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980), nunca gostou da expressão “samba-enredo”. Jamais se adaptou ao crescimento acelerado e comercial do samba. Para ele, a letra de um samba deveria brotar espontaneamente da mente de um verdadeiro compositor. Quando Cartola tinha uma ideia para uma composição, ele parava imediatamente o que estava fazendo, dizia para a família que teve “um boi com abóbora” e ia escrever a sua composição, uma verdadeira obra de arte. No início do século XX, o samba nasce da expulsão da população negra e pobre do Rio de Janeiro pelos especuladores imobiliários. Há as célebres disputas musicais entre Noel Rosa, boêmio branco que defende os pobres e os negros, e Wilson Batista, negro comportado que se alia à ideologia dominante. A primeira favela (nome de uma planta rasteira) tem origem no final do século XX, em 1897, quando os combatentes de Canudos/BA não recebem nada em troca por terem lutado contra os cerca de 30 mil aliados a Antônio Conselheiro. Foram necessárias quatro expedições do nascente Exército Republicano Brasileiro para massacrar o segundo maior arraial baiano de então. Os combatentes do Exército Brasileiro criam a Favela da Providência, que completa 120 anos de existência em 2017.  

Conforme Nelson Sargento, o samba se transforma conforme a classe média vai se apropriando dessa proposta musical nascida para ser revolucionária. Cartola e Dona Zica criam o Zicartola, restaurante inaugurado em 05 de setembro de 1963 na Rua da Carioca, centro do Rio, “um ponto de resistência cultural” segundo Rildo Hora, curiosamente tendo seu fim com a ascensão da Ditadura Civil-Militar de 1º de Abril de 1964. Mas o samba continuou dando o seu grito de desabafo, sobretudo na clandestinidade.

Atenciosamente,


João Renato Diniz Pinto, diretor do Regional Norte do SJPMG 2017-2020  

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O maior genocídio da história da humanidade

Os judeus se autoproclamam como as maiores vítimas sociais que a sociedade capitalista já criou. O nazismo exterminou seis milhões de judeus durante a 2ª Grande Guerra Mundial (1939-1945). Mas, durante a 1ª Grande Guerra Mundial (1914-1918), constatamos uma matança muito pior de soldados. A Rússia foi o país que mais saiu arrasado do conflito. Foram mais de oito milhões de soldados mortos. E, para completar, a escravidão negra entra aqui como a pior face que os colonizadores portugueses e ingleses produziram na América do Sul de 1500 a 1888.

O livro “1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”, de Laurentino Gomes, nos traz a informação de que “só impostos, o Estado recolhia cerca de 80.000 libras esterlinas por ano com o tráfico negreiro. Seria hoje o equivalente a 18 milhões de reais”. (...)


“De cada cem negros capturados na África, só 45 chegavam ao destino final. Significa que, de dez milhões de escravos vendidos nas Américas, quase outro tanto teria morrido no percurso, num dos maiores genocídios da histórica da humanidade”.   

Que integração?

POR Júlia Lima

Se a sociedade judaica não reconhece Jesus Cristo como salvador e redentor da humanidade, você creria que ela reconheceria em um cananeu homossexual medicante o Jesus ressuscitado no meio urbano cheio de dependentes químicos de crack e cocaína?

Jesus Cristo jamais condenou o homossexualismo. Nem se encontra menção de quaisquer julgamentos nos Evangelhos. Foi no século XIX, instante em que o processo de laicização passa o rodo nas sociedades capitalistas contemporâneas mais desenvolvidas, que a questão dos homossexuais volta ao debate.

Antes condenado como um pecado, a Medicina começa a tratar o homossexual como fruto de um distúrbio patológico. A partir de 1974, com a força comercial e social dos movimentos de gênero nos Estados Unidos, pressionada, a Associação Americana de Psiquiatria desclassifica o homossexual como um doente mental.


Se for para o bem da sociedade capitalista, integremos os homossexuais ao mercado de consumidores amplos. Enquanto movimento que não politize a população, os transgêneros de hoje têm plena liberdade à vida social. Será mesmo? 

Fé VERSUS Ciência

POR Lúcia Avelar Santiago

Se a Teologia tende ao cientificismo, ela nunca será uma Teologia sólida, com fé, baseada na prática da vida cotidiana. É a expressão mais absurda é esta: Ciências da Religião! A universidade burguesa procura a todo instante problematizar e operacionalizar a religiosidade popular.

A fé é livre de rótulos capitalistas. Por mais que desejem enquadrar a fé das pessoas em determinada metodologia científica ou valor aburguesado entre quatro paredes, a fé humana sempre encontrará maneiras de se desvencilhar da mercantilização da religião.


A fé é independente da doutrinação religiosa, dos conceitos preconcebidos ou dos costumes sociais. A verdadeira fé brota da espontaneidade humana que o capitalismo e a tecnologia cada dia massacram mais. A fé e a razão não são duas asas que nos levam para o céu. A fé nos leva para o céu e a razão para o inferno. Emocione-se mais!!! 

Complexo do capital

POR Célia Travassos

Eram os 40 anos de nascimento dele. Foram almoçar no restaurante que hoje nem existe mais. Ele era apaixonado por carros. Para provocá-lo, talvez querendo atenção e mais amor, ela se apoia no para-choque do automóvel. Ele, ao ver a cena, desespera-se com o risco de sua propriedade particular ter sido lesada.

O carro importa muito mais que a mulher. Afinal, em uma improvável separação, poderia ser utilizado para usufruto de ambos. Homem e mulher hoje em dia são seres humanos independentes. Nada de compartilhamento de afetos. Troca de carícias? Nem pensar!


Manter a formalidade e a boa aparência sempre foi o ideal. Amor materialista ao extremo. Se um dos cônjuges falecer, é socialmente natural que o outro se enrole logo, logo com outra criatura. A vida passa... Até a uva passa...  Tudo passará... É mais fácil quebrar o átomo do que entender as relações intimistas das sociedades complexas capitalistas.   

Tenho mais perguntas que respostas

POR Alfredo Damasceno

Como começar tudo de novo se a gente só tem uma vida? A realidade social nos coloca de frente com os problemas que a humanidade cria e é incapaz de solucioná-los, apesar de que o desenvolvimento dos meios de produção já alcançou tamanho progresso que seria capaz de propiciar à toda a humanidade sobrevivência mínima, mas digna. 

A sociedade capitalista obriga o ser humano a morar de aluguel e a ser assalariado. Como sustentar uma família de sete pessoas com um salário-mínimo? É possível? Ao custo de que?


Imaginar que a maioria dos chefes de família do século XXI são mulheres. Onde estão a maioria dos homens? Por que apenas uma pequena parcela masculina conserva o bom hábito de ser responsável? Uma hora, de tanto absorver problemas, o ser humano vai se explodir e incapacitar-se para a vida em sociedade.  

O disfarce de um riso incontido

A conceder às pessoas a bondade que nos é peculiar em um mundo capitalista sem coração e sem espírito, corremos sérios riscos de nos esvaziarmos de afetos. A operacionalização diária do trabalho nos carrega para a autonomia solitária pura e simplesmente.

Quem consegue ser capaz de sentir humanidade por outras pessoas na sociedade capitalista acaba se desgastando mais, desprendendo-se bastante, revolucionando-se a todo instante. Aquele que não traz em si os preconceitos burgueses se torna alvo fácil de brincadeiras típicas da cultura capitalista do desleixo e da pura gozação.


Os valores desta sociedade contemporânea, agora tecnológica, estão apodrecidos. A podridão social engendrada pelo capitalismo entra na pele do ser humano que está sempre anestesiado de algum sentimento fraterno. Quer ter o prazer de gozar da desgraça alheia. Triste.   

Padre Marcelo sai da cadeia e é nomeado bispo

Novembro de 1970 passou devagar, no ritmo imposto pela cadeia. Naquela altura eram apenas sete pessoas na cela de Tito. Uma delas era o padre Marcelo Carvalheira, de Recife, Pernambuco, o principal assessor de dom Helder Camara. O padre Marcelo foi solto em novembro e ele mesmo contou como foi sua soltura: ele foi levado pelo delegado Fleury para sua própria casa, onde a esposa do delegado o esperava, com um bebê no colo. Ela própria pôs a mesa para que o delegado e seu hóspede jantassem. O jantar foi servido por mulheres semi-nuas, bem ao estilo porno-cafona do delegado. Terminada a refeição, o padre Marcelo foi deixado por Fleury num lugar qualquer, fora de São Paulo, e lhe foi dito que procurasse, ele mesmo, o caminho de volta para sua casa. Tinha passado 51 dias preso no Deops [Departamento de Ordem Política e Social]. Pouco tempo depois, o padre Marcelo Carvalheira foi nomeado [pelo papa Paulo VI] bispo de Guarabira, na Paraíba.  


Fonte: Livro “Morrer para viver: a luta de Tito de Alencar Lima contra a Ditadura Brasileira”, de Ben Strik, Brasilhoeve, Holanda, 2009, página 359

23º Grito dos Excluídos realiza entrevista coletiva nesta quinta-feira (31/08)


A coordenação nacional do Grito dos/as Excluídos/as convida a todos os veículos de comunicação para participar da coletiva de imprensa que será realizada no próximo dia 31 de agosto, às 14h, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - Regional Sul 1). A coletiva tratará da vigésima terceira edição do Grito que, este ano, tem como lema “Por direitos e Democracia, a luta é todo dia” e tema “Vida em primeiro lugar”, pelos quais quer chamar a atenção da sociedade capitalista contemporânea para a urgência da organização e luta popular frente à conjuntura em que o país vive hoje.

Na coletiva estarão presentes: Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito da Diocese de Blumenau - SC, representante da CNBB; Armando Boito Jr, professor da Universidade de Campinas (Unicamp) - responsável pelo Departamento de Ciência Política; Vitor Fernandes, cacique Guarani; Karina da Silva Pereira, coordenação do Grito dos/as Excluídos/as; Mônica Fidelis, representante da Romaria dos Trabalhadores.

O Grito dos/as Excluídos/as, movimento que procura mobilizar as pessoas a participarem das lutas para a garantia dos direitos, tem seu ponto alto na semana da pátria e no dia 7 de Setembro. Neste ano, ele acontece em um momento político conturbado de nosso país. Segundo Dom Guilherme Antônio Werlang, bispo de Ipameri - GO e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da CNBB, “vivemos tempos difíceis. Os direitos e os avanços democráticos conquistados nas últimas décadas, frutos de mobilizações e lutas, estão ameaçados. O ajuste fiscal, as reformas trabalhista e da previdência estão retirando direitos dos trabalhadores para favorecer aos interesses do mercado. O próprio sistema democrático está em crise, distante da realidade vivida pela população”, observa o prelado.

SERVIÇO

Coletiva de Imprensa do 23º Grito dos/as Excluídos/as Nacional
Data: 31/08/2017
Horário: 14h
Local: CNBB - Regional Sul 1
Endereço: Rua Conselheiro Ramalho, 726, Bela Vista

Contatos com a imprensa
Secretaria: (11) 2272-0627
Imprensa Coordenação Nacional do Grito dos/ Excluídos/as:
Rogéria Araújo: (11) 95951-7068 | (85) 99619-2566 (WhatsApp)
Ana Valim: (11) 99600-9938 (WhatsApp)

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A diferença entre ética e moral


A diferença entre ética e moral

Embora estejam relacionados entre si, os termos 'ética' e 'moral' são dois conceitos distintos. Saiba mais sobre cada um destes conceitos filosóficos
Postado por Débora Silva

Os termos “ética” e “moral” são comumente utilizados como sinônimos, mas, embora estejam relacionados entre si, são dois conceitos distintos. No contexto filosófico, ética e moral são dois termos que se complementam, mas que possuem a origem etimológica e significados diferentes.
O que é ética?

A palavra “ética” é proveniente do grego “ethos”, que significa, literalmente, “morada”, “habitat”, “refúgio”, ou seja, o lugar onde as pessoas habitam. No entanto, para os filósofos, este termo se refere a “modo de ser”, “caráter”, “índole”, “natureza”.

O filósofo Aristóteles acreditava que a ética é caracterizada pela finalidade e pelo objetivo a ser atingido, que seria viver bem, ter uma boa vida, juntamente e para os outros.

Neste sentido, pode-se considerar a ética como um tipo de postura e que se refere a um modo de ser, à natureza da ação humana. Trata-se de uma maneira de lidar com as situações da vida e do modo como estabelecemos relações com outra pessoa. Quais são as nossas responsabilidades pessoais em uma relação com o outro? Como lidamos com as outras pessoas em sociedade? Uma conduta ética pode ser um tipo de comportamento mediado por princípios e valores morais.

A palavra “ética” também pode ser definida como um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano na tentativa de explicar as regras morais de forma racional e fundamentada. Neste sentido, trata-se de uma reflexão sobre a moral. Desta maneira, pode-se afirmar que a ética é a parte da filosofia que estuda a moral, pois reflete e questiona sobre as regras morais.
A diferença entre ética e moral

O que é moral?

A palavra “moral” é originária do termo latino “Morales”, que significa “relativo aos costumes”, isto é, aquilo que se consolidou como sendo verdadeiro do ponto de vista da ação.

A moral pode ser definida como o conjunto de regras aplicados no cotidiano e que são utilizadas constantemente por cada cidadão. Tais regras orientam cada indivíduo que vive na sociedade, norteando os seus julgamentos sobre o que é certo ou errado, moral ou imoral, e as suas ações.

Desta maneira, a moral é fruto do padrão cultural vigente e engloba as regras tidas como necessárias para o bom convívio entre os membros que fazem parte de determinada sociedade
.
A moral é formada pelos valores previamente estabelecidos pela própria sociedade e os comportamentos socialmente aceitos e passíveis de serem questionados pela ética. Pode-se afirmar que, ao falarmos de moral, os julgamentos de certo ou errado dependerão do lugar onde se está.

Por fim, pode-se considerar que a ética engloba determinados tipos de comportamentos, sejam eles considerados corretos ou incorretos; já a moral estabelece as regras que permitem determinar se o comportamento é correto ou não.
Se considerarmos o sentido prático, a finalidade da ética e da moral é bastante semelhante, pois ambas são responsáveis por construir as bases que guiarão a conduta do homem, determinando o seu caráter e a sua forma de se comportar em determinada sociedade.


1) Em relação a ética podemos dizer que há uma ética na nossa sociedade e como que ela se manifesta?
2) Sobre a moral como que você pode julgar uma moral de uma sociedade com a outra? Há uma moral para todos? Comente 
3) Cada época tem um modo de ver o mundo e as suas relações entre si e com os outros podem mudar com o tempo. Você concorda com isso ou não? Explique e argumente isso
4) A seu ver é importante ter regras de convívio social? Porque que é importante isso?
5) Faça um texto ou um desenho: a ética vivida pelos brasileiros na nossa sociedade atual
“O homem é o ser que transforma o seu redor como uma estica e uma moral que se traduz na tolerância e respeito das individualidades das pessoas”( Filósofo José Benedito Schumann Cunha)

Ideologia

Ideologia 

Ideologia são os ideais de um indivíduo para com a humanidade, sociedade em que vive, para si mesmo. Ter uma, é completamente necessário, é como andar, comer, ir ao banheiro.
Um dos principais pensadores desse conceito foi Karl Marx. Acreditava, juntamente com Friedrick Engels que devia se fazer uma análise profunda da sociedade, em todos os pontos principais. Para isso foram feitas diversas observações na época da Revolução Industrial.

As principais características dessa revolução devem ser destacadas como: Práxis, que exibe o conceito da teoria e prática andarem juntas, sem maior ou menor, ou seja, para toda prática há uma teoria por trás; do trabalho que se tornou algo remunerado, porém para os donos do capital, servimos apenas como mercadorias, ou seja, nossos pensamentos, sentimentos, opiniões e expectativa de vida não eram considerados, além da vida pessoal e do lazer não estarem presentes com vigor, pois existiam promoções feitas por esses empregadores que manipulavam o cotidiano de cada empregado, para incentivar a concorrência ao melhor cargo, melhor salário, deixando assim a vida pessoal de cada um de lado. Para Marx esse poder de dominação ficaram implícitos, mais sutis, porém ainda presente.
Também vale ressaltar que dentre as características da ideologia, temos a universalização, onde o empregado adota a “verdade” do empregador como absoluta.

Como citado no parágrafo anterior, que dentro desse pensamento os trabalhadores são vistos como “mercadoria” e como toda mercadoria possuem o valor da troca (trabalho-salário-consumismo).
Consumismo também pode ser exemplificado como ter o corpo perfeito, ou o status bem desenvolvido, isso é uma ideologia imposta pela sociedade, ou seja, quem está fora dos padrões não preenche os “requisitos” da sociedade “normal”.(cf. http://filosofeiem2013.blogspot.com.br/2013/08/ideologia-e-alienacao.html

1) Como você vê a ideologia na sociedade atual? E ela acontece como? Comente
2) Como que o consumismo é uma forma que a ideologia capitalista consegue que a pessoa adquira um produto supérfluo? Argumente
3) A propaganda é uma forma de dar “folego” à ideologia? Como que isso acontece a seu ver? Como você vê a propaganda na sociedade atual? E ela acontece como? Argumente
4) Será que sou livre quando compramos ou somos induzidos a comprar? Comente isso
5) Faça um texto com quinze linhas ou desenho sobre: Ideologia das tecnologias modernas no dia a dia do aluno e dos professores

“O que fazemos hoje vai ter reflexo no futuro e o mundo exige que a nossa competência seja produtiva numa sociedade competitiva” (Filósofo Jose Benedito Schumann Cunha)

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Desolação

"A versão oficial, mil vezes repetidas e reiteradas por todo o país e por tudo que era meio de divulgação que o governo encontrou ao seu alcance, acabou se impondo: não houve mortos, os trabalhadores tinham voltados satisfeitos para suas famílias, e a companhia bananeira suspendia suas atividades enquanto a chuva não passasse."

Cem Anos de Solidão
Gabriel Garcia Marquez


A principal praça de Macondo estava batizada de sangue. A revolta dos trabalhadores contra a multinacional por melhores condições de vida no serviço foi reprimida pelo exército colombiano. As rajadas de metralhadoras não perdoaram ninguém: homens, mulheres e crianças foram assassinados sem dó, nem piedade.

Quem sobreviveu preferiu pensar que aquilo tudo não passou de um pesadelo, um sonho ruim. Mais de três mil mortos. Ninguém comentou nada o fato histórico um dia após o ocorrido. A lembrança torturava. Todos os sobreviventes de Macondo ficaram desmemorializados e desmoralizados. Chovia na aldeia fundada por José Arcádio Buendia. O céu estava cinza como se demonstrasse a tristeza de Deus com tamanha injustiça. O luto predominava.


Os mortos de Macondo daquele dia foram considerados desaparecidos, fugidos ou perdidos pela vida afora. Era esse o argumento utilizado pelas famílias das vítimas para justificar a ausência de seus entes queridos na comunidade.

A chuva na aldeia durou anos. Alagamentos e enchentes foram registrados na memória e vividas por todos. Os moradores de Macondo tiveram que improvisar palafitas. Os alimentos escasseavam. Não havia possibilidade de reabastecer a comunidade. Animais eram vistos mortos pelas ruelas da aldeia.

Macondo padecia do sofrimento de ter permitido que a modernidade chegasse ao lugar. Tragédias se curavam com mais tragédias e assim seguia a vida chuvosa naquela aldeia colombiana idealizada por José Arcádio Buendia para ser progressista apenas socialmente.

No banco de reserva do mercado

Somos agora mais de 12 milhões de desempregados formais. Ultrapassamos em um milhão toda a população de Cuba. Já dá para organizar a revolução. Podemos atrair também para a nossa mobilização os trabalhadores informais do Brasil. Não queremos jamais pagar pelo legado de corrupção deixado como herança social pelos administradores da Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas 2016. O estado do Rio de Janeiro, cuja cidade maravilhosa foi nossa primeira capital, está em crise por causa das más administrações de governadores e prefeitos.


Era o que pensava o jovem Maicon, operário de 25 anos e que pela segunda vez passava pela aflição do desemprego desde que começou a trabalhar pela primeira vez aos 18 anos como menor aprendiz. Fez até Prouni. As faculdades despacham todo semestre no mercado cerca de 900 novos profissionais. A maioria vai inflar o número de desempregados do país.


Maicon era casado e tinha três filhas. Morava em uma casa pequena em um dos vários becos do Morrinhos, em Montes Claros, Norte de Minas Gerais.

Ao invés de realizar as suas ideias de protestos por melhores condições de vida para toda a população brasileira, Maicon cedeu a pressões do tráfico de drogas e iniciou o seu terceiro serviço. Ele trabalha neste instante para o crime organizado e com grandes chances de subir de função. É o informante local do tráfico de drogas. Relaciona-se até com políticos, empresários, policiais civis, militares e federais. O novo papel social de Maicon é bastante promissor.



Ao encontro do outro diferente de mim

(...) "Sonhou que entrava numa casa vazia, de paredes brancas, e que se inquietava com o desconsolo de ser o primeiro ser humano que entrava nela". (...)

Cem Anos de Solidão
Gabriel Garcia Marquez

O coronel Aureliano Buendia jamais compreendeu as razões que o fizeram lutar em 32 guerras. Não era nem liberal e muito menos conservador. Só não gostava de injustiças sociais. Por isso se aventurava sem eira nem beira por esses matos aí. Respeitava sobretudo a cultura dos adultos. Sabia que não podia mudá-los, mesmo sob a ameaça de um pelotão de fuzilamento.

Entendia que as pessoas deveriam ser punidas pelos seus crimes. Seus pais mesmo, José Arcádio Buendia e Úrsula, jamais cometeram crime algum, tentaram descobrir o mar, mas acabaram por fundar uma aldeia libertária: Macondo.

Isolada do mundo, a aldeia se desenvolvia e vivia sem convencionalismos. O irmão do coronel Aureliano Buendia, José Acardio se juntou a ciganos e saiu pelo país afora. Voltou todo tatuado, com as marcas da vida. Casou-se com Rebeca. A morada do casal era toda manhã aberta para acolher a luz do sol e a natureza. O amor dos dois transcendia Macondo.

Mas misteriosamente José Arcádio morre. As trevas passam a habitar a casa. Rebeca se tranca na solidão escura, bastante escura. Começa a conhecer a si mesma e tem saudade do companheiro. A família Buendia crescia. Cada integrante da família deixava pelo menos um descendente no mundo.

O coronel Aureliano Buendia teve 17 mulheres diferentes, com as quais teve 17 filhos. Todos morreram fuzilados. Quando entrou naquela casa de paredes brancas, cansou-se. O novo o constragia. Os peixinhos dourados em que trabalhava diariamente se tornaram obsoletos.

Morreu debaixo da árvore que o seu pai gostava de ficar. A angústia solitária do mundo o consumiu por completo. Porém, a vida continuava dando voltas, mesmo contra a nossa vontade.

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”

“A angústia de ter perdido não supera a alegria de ter um dia possuído” Santo Agostinho
“Sem correr sangue não há libertação” São Paulo
“Vimos no agitador sertanejo, do qual a revolta era um aspecto da própria rebeldia contra a ordem natural, adversário sério, estrênuo paladino do extinto regime, capaz de derruir as instituições nascentes” (trecho da página 237 do livro “Os Sertões (Campanha de Canudos)”, de Euclides da Cunha, Editora Martin Claret: São Paulo/SP, 2008)
“Para alguns não há outra opção: morrer ou vencer. A morte está mil vezes mais próxima que a vitória. A vitória torna-se uma lenda. Só um revolucionário tem a coragem de sonhar sobre ela.” Ernesto Che Guevara de la Serna, argentino, médico, socialista e revolucionário
Antônio Conselheiro era casado. Exercia as atividades de advogado e de comerciante. Após traição da esposa, resolve não se vingar. Abandona tudo. Transforma-se em uma espécie de pastor messiânico em um Nordeste faminto de esperança. Ajuda a fundar o Arraial de Canudos, Bahia, que chega a mobilizar cerca de 30 mil pessoas vivendo em comunidade. Após solicitar compra de madeira no Crato, Ceará, paga adiantado a ordem de serviço e vê seu pedido ser negado. A partir daí, desenvolve-se a mais assassina guerra da República dos Estados Unidos do Brasil contra um povoado humilde, em novembro de 1896 a outubro de 1897. Canudos resiste a quatro expedições do exército. Todos os baianos morreram pela causa social coletiva do Arraial. Os combatentes ditos vitoriosos do Exército Brasileiro em Canudos/BA não tiveram nem direito à moradia como prêmio pelo seu esforço. Fundaram a Favela da Providência no Rio de Janeiro/RJ.
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnando palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5 [de outubro de 1897], ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” (trecho da página 597 do livro “Os Sertões (Campanha de Canudos)”, de Euclides da Cunha, Editora Martin Claret: São Paulo/SP, 2008)
No livro “Morrer para viver: a luta de Tito de Alencar Lima contra a Ditadura Brasileira”, do padre salesiano holandês Ben Strik (Brasilhoeve, Holanda, 2009), há um trecho esclarecedor de como ocorreu a formação do Arraial de Canudos.
“Canudos encheu-se rapidamente de ex-escravos e mestiços libertos, vindos do sertão. Todos os seus habitantes tinham os mesmos direitos. Eram pobres, porém não existia miséria. Tudo era repartido entre todos. No início não precisavam de dinheiro. Tudo era negociado à base da troca. Cada um dispunha de meios suficientes para viver bem. Havia um bom sistema local de justiça para resolver eventuais conflitos. A religião era o fator de união e de estímulo para a prática da solidariedade entre os moradores de Canudos. A prostituição não era permitida na cidade. No centro da cidade, foi construída a igreja de Nossa Senhora, cercada de pequenas casas, construídas em círculos. Cada noite, após o trabalho, a comunidade reunia-se para rezar, por longo tempo, na praça em frente à igreja. Nestas ocasiões Antônio Conselheiro fazia sua pregação. Canudos ficou famosa. Exportava couro de cabra para a Europa e vendia sua produção em outras vilas dos arredores. Admitiu-se a introdução parcial do dinheiro para facilitar esses negócios. Canudos tornou-se, em poucos anos, a segunda cidade mais importante do estado da Bahia” (páginas 104 e 105). 

Inveja


Ele passou a jogar O Desafio da Baleia Azul ao saber que os 200 participantes daquele grupo nazi-fascista de whatsapp invejavam a sua vida. Com apenas 19 anos, o garoto já era bem casado. Sustentava a casa com a sua simbólica profissão de carpinteiro.

Ela, sua mulher, ajudava-o trabalhando fora de casa. Era doméstica. Há um mês, tiveram uma linda filha. A bebê só dormia quando o pai chegava. Enquanto não dormia, a mãe a colocava no colo, balançava-a, mas nada da neném dormir.

O jovem carpinteiro fez a besteira de compartilhar uma foto da sua família em uma rede social popular. Recebeu elogios. Aos poucos, soube que aqueles elogios vinham carregados de inveja. Cada um daqueles adolescentes aspiravam à vida adulta rápido demais.

Os insucessos eram frequentes. Em um país chamado Brazil SA Multinacional, a motivação dos jovens estava mais no trabalho do que nos estudos. Ler um livro hoje em dia é tarefa árdua. Somos leitores de títulos e consumidores de Big Brothers.

A inveja do grupo aquele jovem trabalhador gerou ira. O carpinteiro arranjava tempo para ler a Bíblia e o Alcorão com a intenção de unir mulçumanos e cristãos pelo mundo. Mal sabia ele que a frieza da tecnologia era pior do que o acolhimento das religiões a pessoas oprimidas.

Orgulho

Madrugada. Um doido grita no meio da rua em sua angústia. Centro da cidade... Downtown... "Nome, por favor", intima o vigia da vizinhança. "Sou mais um João Ninguém da sociedade capitalista", esbraveja o alienado. O louco da madrugada vestia uma blusa laranja. Estava de bermudas. Às vezes, parava e gritava o nome de Deus. Percorreu toda a rua até chegar à lanchonete 24h. Seu estômago roncava. Seu cérebro doía. Seus pés descalços rachados caminhavam... Procurava a tão aguardada comida que não via há três dias. Revirava todas as lixeiras. Mas não se atrevia a pedir comida a ninguém. Pelo menos, com orgulho, merecia morrer, mesmo com a barriga vazia. 

Cobiça

Intensa foi a sua vida de empresário antes da falência. Vivia como a um magnata. Mulheres da vida o rodeavam por causa da sua fortuna. Nunca tivera esposa, nem filhos, nem família. Apenas o mundo a seus pés. Todo o mundo. Neymar gostava de frequentar a sua casa com frequência. Messi não. Era muito retraído. Michel Temer o visitou para entregá-lo aquela carne deliciosa importada da Austrália. Haveria festa no outro dia. Dias, meses, muitos anos de glória. Ele só não contava com aquela crise econômica que durou 10 anos, de 2008 a 2018. O que o encucava foi que durante a crise o Brazil SA Multinacional recebeu a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas 2016. Já estava falido e na miséria quando sentiu aquele 7 a 1 na identidade do povo brasileiro. A miscigenação nacional não queria aquela derrota, mas ela caiu como uma porrada na cara do Estado Democrático de Direito. O futebol enfim compensava a desgraça da política marqueteira e inflada de caixa dois existir em plena mudernidade.

Luxúria


POR Miguel Ribeiro

"Quero fazer sexo com você", declarou a mocinha de 19 anos aquele rapazinho mequetrefe. O juvenil casal fazia sexo durante horas e horas. Como os dois iam combinar de gozar juntos se estavam separados por uma fibra ótica invisível? "O que é luxúria? É viver no luxo? Ou viver no lixo?", indagava a mocinha ao recém-namoradinho. Ela pensava como adolescente no início de sua puberdade. Primeiro ela escolheu a ostentação. O luxo. Ela era agradada com muitos colares de ouro. Aquelas cordas de metal dourado brilhante estavam nela para representar a sua submissão a seus machos. Cada um tinha seu nome gravado em cada coleira disfarçada de joia. Depois resolveu experimentar o lixo de ser luxo. Não sabia mais o que ela era. Sua identidade foi trocada por mimos masculinos. Dava de retorno aos seus homens sexo bastante selvagem. Não era mais uma mulher. Denominava-se cousa, cousamente muderna rotulada de adornos.

Setor Juventude informa:


O fogueteiro

Estavam no Cintra desde as dezessete horas. Acompanharam todo o desfile dos marujos, catopês e caboclinhos, a plebe do império, durante a noite de dezoito de agosto de dois mil e dezessete. Era a primeira vez que se animavam a seguir essa procissão. A cada esquina um rojão era solto para comemorar a fé no Divino Espírito Santo. Atravessaram o Córrego do Cintra, o Bairro Roxo Verde e o Centro. A bandeira do Divino era festejada com autêntica religiosidade popular. Perto da Catedral, explosões de mais rojões. Viva o Divino Espírito Santo! Os festeiros aplaudiam e seguiam caminhando cortejados pelos marujos, catopês e caboclinhos. Na chegada à igreja Nossa Senhora do Rosário, um rapaz e uma moça chegam perto do fogueteiro e apagam a vela que acendia os rojões. Sem reação. Um mototaxista empresta um isqueiro e a vela é novamente acesa. O fogueteiro procura um local mais adequado para soltar seus rojões e queima as duas últimas explosões ao Divino Espírito Santo. E a vela, outrora apagada, iluminou os céus da cidade.

domingo, 27 de agosto de 2017

Viagem de palavras

POR Mara Narciso

Maria Milena Narciso Cruz nasceu em 11 de maio de 1934 e morreu em 28 de janeiro de 2003. Ela não queria viver muito, e dizia que não faria diferença morrer com 68 ou 72 anos. E assim fez: aos 68 anos foi colhida por um glioblastoma multiforme – câncer no cérebro -, que ceifou sua vida em 32 dias. Partiu, mas nos deixou suas palavras, e nelas o gosto por viajar.

A minha mãe era filha de Petronilho Narciso e Maria do Rosário de Souza Narciso. Morreu há quase 15 anos e vive em mim, nos genes e na memória. Discreta, reservada, falava que suas tias ficaram velhas aos 40 anos, pois, viúvas, vestiam-se de preto, encurvavam-se e, abraçadas ao missal, iam apenas à igreja.

Tinha pavor dos micróbios e quando voltava do cemitério, chegava na ponta dos pés e jogava sapatos num canto e roupas no outro. Nos vírus e bactérias acreditava, mas não tinha crendices. Contava das benzedeiras com ramos que murchavam - de bater no benzido, não eram maus espíritos coisa nenhuma -, dos banhos de folhas, dos chás, mas gostava mesmo era da ciência, das vacinas, dos médicos e remédios tradicionais. Esterilizava com álcool e fogo a bacia para nos dar banho, e nos ensinou a lavar as mãos antes e depois de usar o banheiro, sempre que chegasse da rua, quando pegasse em dinheiro, sapato, pano de chão ou qualquer coisa suja.

Assistiu um amigo cair em sua frente. Era o 1º sinal de sequela da poliomielite. Traumatizada, desde então, vivia atrás de uma vacina para nos salvar. Um dia, chegou com duas ampolas e nos vacinou. Vacina Salk, ela nos disse.

Gostava muito de dormir e de comer e dizia: se fome e sono forem saúde, estou sadia. A outra coisa era viajar. Nunca recusou um convite e viajou tudo que pôde. Em poucos minutos estava pronta. Qualquer viagem em sua companhia ficava boa, pois Milena transformava um piquenique num grande passeio. Passear em qualquer roça já era bom para ela. Uma areiazinha para pousar os pés, água fresca para molhar as canelas, e frutinhas do mato para comer ficaram tatuadas nas minhas memórias afetiva, visual, olfativa e gustativa. E se adoro os frutos do cerrado, começando pelo murici, depois araçá (que plantei no meu jardim), mangaba, panã e outros, foi por obra dela. Que cheiro, que sabor! Vamos passear no mato para catar cagaita?

Espírito livre, ainda que encurralada num casamento infeliz, não se deixava amordaçar, e nas viagens se libertava, mesmo presa. Aos 50 anos, deu seu grito de guerra, “Libertas que sera tamen”, rompeu com algo que a torturava, e que antes não tivera forças para quebrar. Justo ela, que nos ensinava o Hino da Independência: “os grilhões que nos forjava, da perfídia, astuto ardil, já brilhou a Liberdade, no horizonte do Brasil”. Daí viajou com gosto e vontade, para depois nos contar com minúcias de cientista. Era quando viajava de novo, explicando o roteiro, a viagem em si, as demoras, os prazeres, as expectativas, as chegadas.

Com vocabulário de sonhadora racional de tendências esquerdistas e quase nada de preconceitos, fazia uma fotografia colorida do lugar, o qual se orgulharia da sua descrição. A cena ficava mais bonita quanto ela contava: a luz, o céu, as nuvens, o vento, o falar das pessoas, o odor. Tudo gostoso, mas as comidas, os ingredientes, a aparência, os sentidos despertos, a salivação, o sabor, a textura a passear pela boca, o mastigar, o engolir. Assim eram as explicações e as interações. Nenhum lugar ou alimento seria igual depois de passar pelo crivo de Milena, ficava muito melhor, pois ela escolhia as boas palavras. Tédio devido ao detalhamento? Nunca. O convívio nos enriquecia.

Milena não gostava de escrever relatório médico, sentia-se incomodada em ser analisada, tinha pavor de microfone e discurso, mas estando em seu elemento, nos levava até suas experiências de vida e viagens, de norte a sul do Brasil, América do Sul, América Central e Europa tradicional. Nada será como antes com Milena, mas tudo será bem menos brilhante sem ela.

26 de agosto de 2017