ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

domingo, 30 de dezembro de 2018

Mulheres pioneiras

POR Mara Narciso, médica-endrocrinologista e jornalista

“Sai debaixo do tacão do pai e vai pra debaixo do tacão do marido” - Milena Narciso

Em 1844, era assim no sertão da Bahia: “para ele a mulher casada era uma espécie de propriedade inalienável do marido, a quem competia zelá-la, guardá-la e mantê-la como é cuidado um animal ou um escravo de estimação. Obediente, não devia a metade frágil do casal fazer objeção alguma às determinações da outra a quem se entregou, incondicionalmente” (Analfabetos, João Gumes, 1928), citado por Dário Teixeira Cotrim em “Idílio de Pórcia e Leolino”, de 2005. Dário também mostra Gilberto Freire: “as meninas criadas em ambiente rigorosamente patriarcal viveram sob a mais dura tirania dos pais - depois substituída pela tirania dos maridos” (Casa Grande e Senzala). Segundo as pesquisas de Dário, “à mulher caberia o bem estar dos filhos, zelar pela honra das suas casas e de suas famílias, e diante de maridos devassos, mostrar resignação, suportando sem protestar nem constranger o marido infiel, atendendo-lhe com um sorriso, e aceitando-lhe as insuficiências sexuais”. Quando chegavam visitas, as mulheres sumiam.

Em 1931, quando os meus avós Petronilho Narciso e Maria do Rosário de Souza Narciso se casaram, no Norte de Minas pouco havia mudado em relação a esses costumes. Eram raras as mulheres que trabalhavam como professoras, e o roteiro era ter um filho a cada ano. Quando um filho nascia, desocupava o lugar para outro, era o que se dizia sobre o papel feminino na sociedade. As mulheres da classe abastada frequentavam escola, namoravam de longe, e, diante de qualquer objeção dos pais em relação a um pretendente, o casamento era vetado. Apenas em caso de morte do pai, a ordem seria desobedecida. Isso se os irmãos concordassem.

Os estudos das moças não eram prioridade, ainda que as normalistas fossem relativamente valorizadas pela sociedade como úteis para alfabetizar crianças. Um casamento poderia impedir a formatura no curso Normal, mesmo que fosse eclodir em dois meses (caso da minha avó) para a moça se casar. Naquela mesma época, estava explícito no contrato de professora, que a moça não podia namorar, nem sair sem acompanhante, a vestimenta sóbria era especificada e qualquer desobediência a faria perder o emprego. Mulheres transgressoras, hoje vistas como desbravadoras, romperam barreiras, fizeram de conta que podiam, e começaram a trabalhar fora.  Ismar Ferreira, mãe da minha amiga de infância Dulcemar Soares, em 1933, aos 13 anos, trabalhava no centro de Montes Claros numa loja, depois cursou contabilidade, e fez carreira nessa profissão.


Apenas sete anos antes, em oito de maio de 1926, fora aberto no centro de São Paulo o Restaurante da Liga das Senhoras Católicas, o 1º permitido para mulheres desacompanhadas. No Vale do Anhangabaú, atendia trabalhadoras, e apenas em 1946 passou a atender rapazes também. Essa iniciativa primitivamente segregadora, com o tempo modificou costumes sociais, construiu um mundo novo, favorecendo o trabalho das mulheres, que, pouco a pouco se tornaram independentes.

Milena Narciso, a minha mãe, também foi avançada para o tempo dela. Ainda que tenha me criado no estilo antigo, de certa forma, era revolucionária. Teve um pai castrador que a proibiu de estudar Medicina em Belo Horizonte, em 1952. Porém, em 1968, aos 34 anos, casada e com três filhos de 5, 13 e 14 anos, fez o vestibular de Medicina na primeira turma da Famed - Faculdade de Medicina do Norte de Minas, formando-se em 1974. O seu marido baixava as mais absurdas portarias, e era obedecido. Milena tinha um discurso libertário e fez a sua revolução pessoal, ainda que tardia, dando seu grito de independência financeira aos 40 anos e total aos 50 anos.

A minha mãe, pouco a pouco, foi rompendo e nos fazendo romper as amarras sedimentadas pelo pai, pelo marido, e por ela própria, já que as mulheres, como gênero, ainda hoje colocam algemas em seus pulsos. Algumas lamuriam, quando veem seus relacionamentos se romperem pelo lado masculino.

Mulheres criadas para estudar, trabalhar, ser o que quiser ser, ter o que quiser ter, ser dona da sua vida, deveriam reverenciar aquelas que deram os primeiros passos, enaltecendo-as e repudiando todo e qualquer retrocesso. Aplausos às pioneiras. Prisioneiras, nunca mais!

Domingo, 30 de dezembro de 2018

A família é o sinal do amor de Deus em comunidade


A família é o sinal do amor de Deus em comunidade


 

Queridos irmãos e irmãs, estamos no clima de Natal que foi celebrado em família. A liturgia desse domingo nos dá a oportunidade de entender a Família de Jesus, que é a Família de Nazaré. Ela é o modelo para as famílias, principalmente para as famílias cristãs de hoje.

A liturgia bíblica nos apresenta as famílias: patriarcal, a de Nazaré e a cristã. Devemos fazer uma reflexão disso. Quais os valores dessas famílias são importantes e ainda servem para os dias de  hoje. Jesus veio ao mundo e se estabeleceu numa família.

No livro do Eclesiástico nos dá a dica para que família esteja em paz e com harmonia, mas para isso é preciso ser fiel a vontade Deus e se dispor a seguir os ensinamento Dele. Assim a família caminha bem nesse mundo. Os mandamentos são pistas verdadeiras que nos fazem viver em paz. Honrar os pais em palavras, gestos e atitudes boas para com eles. Se fizermos o bem a eles temos de Deus uma promessa que os pecados são perdoados e ainda poderemos ter uma vida longa. Isto não é bom? Então vale a pena sem bom na família. (cf. Eclo 3,3-7.14-17)

Na carta de São Paulo as Colossenses  nos mostra como deve ser a vida cristã na família que é querida por Deus. Quer construir a família, então deve nutrir de virtudes cristãs que são destacados por São Paulo, quando ele nos diz:   "Revesti-vos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência..."   "Suportai-vos e perdoai-vos uns aos outros... sobretudo amai-vos..."   "A Palavra de Deus habite em vós... Cantai a Deus hinos espirituais..."  São conselhos excelentes para os dias de hoje a onde a família é bombardeada pelas mídias para que ela seja livre e independente e assim a família torna-se cada vez mais egoísta e violenta. Quer uma família em paz e próspera, então deve trilhar no caminho de Deus que nos ajuda a termos uma família unida, vivendo a partilha com todos, o amor que se doa mutuamente entre os membros, o perdão nas falas e usar de misericórdia para com todos.  (cf. Cl 3,12-21)

O evangelista São Lucas nos fala da Família de Nazaré e ela é  modelo para todas as famílias cristãs. Ela é fiel a Deus na pratica da oração e do cumprimento das Leis de Deus. Eles Levam Jesus ao templo, quando Ele completa 12 anos. Ele se perde da comitiva e se encontra depois no Templo, a onde é casa do SENHOR, lá Ele conversa com os doutores da Lei, é um epifania de um Deus que se mostra presente no mundo e ainda mostra para nós o sentido das Escrituras, ensinando-as como que devemos interpretá-las. Maria e Jose ficaram preocupados, procuraram-no, e eles o encontraram no Templo.

Lá eles chamam atenção de Jesus, e Ele os repreende dizendo: "Por que me procuravam?  Não sabiam que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?" Essa resposta de Jesus fez com que eles pensassem e refletissem sobre a missão de Jesus. Jesus obediente volta com os seus pais e lá em Nazaré, ele cresceu em tamanho, em sabedoria e graça diante de todos e de Deus. Então, a família deve se espelhar nesse exemplo de família, porque sem Deus não somos nada e ainda devemos ser obedientes a vontade de Deus na família  e na Igreja, que é uma grande família de Deus. . (cf. Lc 2,41-52)

Que esta liturgia nos ajude a viver bem em família, procurado ser fiel a Deus na sua Palavra, na eucaristia e na obediência aos mandamentos.

Tudo por Jesus nada sem Maria!

Bacharel em Teologia José Benedito Schumann Cunha

domingo, 23 de dezembro de 2018

Impregnados de Natal

POR Mara Narciso

Casas, ruas, lojas, shoppings, bares, restaurantes, zona urbana, zona rural, redes sociais estão cheinhos de Natal. São mensagens, desejos e votos bons que vêm e vão. Exceto pelo noticiário, eternamente dramático, podem-se imaginar que o escasso amor tenha voltado transbordante. São figurinhas, luzes, flores, bichinhos, crianças, meiguices e bondades mundo afora. Todos sabem o que é o Natal, a festa cristã, o nascimento de Jesus Cristo.

É tempo de paz, tolerância, acolhimento, aceitação, respeito, compaixão, misericórdia, pacificação, agregação, confraternização. Hora de repartir o pão. Deveríamos colocar em prática seu significado, para além do discurso. Porém, muitos que encenam essa temática são desagregadores e causaram rupturas durante o ano todo. Deveriam, pois, se redimir.

Os humanos são miseravelmente centralizadores, egoístas, falsos, daninhos, cruéis, vingativos, intolerantes, perseguidores, vingativos, ferozes e fazem suas maldades sorrindo. Negativismo? Possivelmente um realismo nada fantástico.

Deveríamos ser doces como as milhões de mensagens que se repetem, mas não, a difusão serve só para formalizar uma imagem externa. A verdade de intenções é outra. No entanto, ainda existem pessoas solidárias, que têm pouco, mas conseguem doar a metade daquilo que possuem para quem não tem nada. Em geral, o que se vê é o consumo selvagem de inutilidades, desperdícios, produção de toneladas de lixo, uma exorbitância para o nosso sofrido planeta.

Poucos somos exceções a essa regra, sendo comodistas na maior parte do tempo. Ficamos sensibilizados, choramos, mas nada fazemos. Ao nosso redor, procuramos perdoar, ser perdoados, mas de forma concreta, a pacificação fica na intenção. Queremos, no discurso, recolher as pedras, mas acabamos por jogá-las. Deveríamos descartar as mágoas, e não pensar mais nelas. Diz a tradição, que Jesus Cristo mandou dar a outra face, perdoou e acolheu os mais fracos e vulneráveis. Sensatez seria seguir seu exemplo, pelo menos no Natal. E daí plantar a semente para novas tolerâncias e acolhimentos. A trégua não deverá ser vista como fingimento, mas gesto de boa vontade.

O sol brilha e os passarinhos cantam, mas, como sempre, há notícias de desastres, tsunamis e outras hecatombes, além das intermináveis mazelas e conflitos. Vamos nos manter conscientes dos graves problemas, mas renovando as esperanças, nos melhorando e listando novos sonhos. Mesmice? Evidente. Natal é isso. Não dá para reinventar a roda ou a pólvora, assim como não se reinventa o Natal. Ele é o que é e sempre foi. No entanto, os sonhadores e suas ilusões debatem-se querendo uma mudança de rumos, para além dos desejos, fazendo jus à tradição milenar. Que sejamos pelo menos humanos.

O comparativo entre a intenção e a realidade traz desencanto e melancolia, e uma parcela da população não gosta dos festejos do fim de ano, nem das falsas confraternizações. Muitos consideram esta época a mais hipócrita do ano, e, alegando saudades, sejam da infância, da qual quase todos trazem excelentes memórias (ou fingem trazê-las), até a falta de queridos que já se foram, somem para dentro das suas cavernas, e se possível fosse, dormiriam no dia 23 de dezembro e só voltariam à tona, no dia 02 de janeiro.

“E então é Natal/ e o que você fez?” É tempo de pedir perdão pelos prejuízos que causou; as injustiças que cometeu; as injúrias que proferiu; os fingimentos que protagonizou; as humilhações que fez passar, as brigas e as semeaduras do mal. Caso a sua prepotência e arrogância o impeçam de fazer isso, então o Natal não chegou para você. Implore pela sua volta.

Domingo, 23 de dezembro de 2018


domingo, 16 de dezembro de 2018

Para não perder mais tempo

Desde nove de outubro, não conto com a presença do escritor e amigo virtual Pedro João Bondaczuk. Ele premiava a mim e aos seus leitores com sua produção compulsiva de vários textos por dia, e eu podia saborear os seus sensatos ensinamentos, com os quais me convidava a refletir com ele. Aprendi com seu saber equilibrado, humano e culto, uma biblioteca ambulante. Além das biografias de escritores e avaliação de livros, falava de meditação, do universo e considerava uma burrice não acreditar em Deus. Quem criou tudo que aí está? Desafiava. Eu não tenho as respostas, mas confortavelmente não faço nenhuma pergunta.

A minha mãe, Maria Milena Narciso Cruz, por seu lado, achava a vida inútil, sem sentido, ainda que acreditasse em céu e vida após a morte. Não queria viver muito, e morreu aos 68 anos. Dizia que os que estavam no cemitério seriam esquecidos, quando os filhos morressem. Sem deixar rastros, como se nunca tivessem existido.

Pedro Bondaczuk falava algo parecido e faleceu, não sei de quê, aos 75 anos. Fazia considerações sobre o tempo que lhe restava, e produzia tanto, que preocupava seus leitores. Alguns chegavam a sugeri-lo parar, passear, descansar. Mas, produzir textos, o mais que conseguisse era uma das realizações do meu amigo. Falava de uma idealizada eternidade advinda de alguma obra que viesse a produzir, ou que talvez já estivesse pronta.

O tempo é o meu bem mais precioso. Como não sei quanto tempo tenho o que significa aproveitar bem o tempo? O que é viver de maneira útil? Trabalhar, acumulando coisas? Pedro desprezava isso. Omitir-se, nada fazer, e viver à custa de quem faz? Outro estilo criticado por ele. Ler, aprimorar-se, acumular informações, é viver intensamente? O simples ajuntar informações, para Bondaczuk, não era ser inteligente. Seria preciso utilizar o conhecimento. Ter uma lista de conquistas amorosas é ser feliz? Viajar, conhecer o mundo, é aproveitar a vida? Doar-se, fazer caridade, proteger os fracos é viver bem? Ter fama e poder, jogando holofotes sobre si mesmo é ser feliz? Quando o ódio está no centro do palco ser bom importa?

Pensar na própria infância gera risos, e mesmo que não tenha sido boa, parece que prestou. Somos condescendentes com nossas lembranças, e achamos que tivemos uma meninice feliz. Talvez não tivéssemos o senso crítico necessário nem referências para avaliar melhor. Quase todos também falam que a mocidade foi boa. Chorosos pela perda, não sabem dizer coisas de fato relevantes daquela época. Mesmo assim foi ótima na memória enganadora.

Essas fases doces, algumas vezes resultado de falsas avaliações são o que são devido à curteza que duram. Numa vida que hoje chega a nove décadas, tenho visto anciãos lamentar-se do fim da maturidade e até ter saudades da velhice inicial. Os que têm vida muita longa, chegam a chorar o fim da idade madura. Aos 60 anos, pode-se querer estar com 50, ou aos 80 se desejar voltar aos 70.

O tempo bom está, no nosso imaginário, no passado ou no futuro? A felicidade pode existir em todas as fases. A maturidade também é boa, desde que a tornemos assim. O que faz a vida feliz é o que está dentro da gente e não o que está fora. Sou o que a minha própria companhia me faz. A presença do outro é um complemento. Eu promovo meu bem estar, livrando-me da culpa do passado e da preocupação do futuro, dupla de sentimentos inúteis. O que sinto vem do que penso, em qualquer momento da vida, sendo o resultado do que está em minha mente. O domínio de mim está no controle do meu pensamento, por isso desenvolvo técnicas de bem pensar, excluindo o lixo mental. A psicanálise ajuda, assim como a fé. Alerta sim, preocupada não. Isso passa longe de a gente querer se enganar.

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista
Domingo, 16 de dezembro de 2018

sábado, 8 de dezembro de 2018

Devemos ouvir a voz de Deus no mundo atual


Devemos ouvir a voz de Deus no mundo atual


Queridos irmãos e irmãs, estamos celebrando nesse domingo , o 2º Domingo do Advento, é um  tempo de espera pela vinda do Senhor. Encontramos nessa liturgia a figura de João Batista, que é uma voz que clama no deserto, nos pedindo a conversão e mudança de vida. Para isto ele prepara o caminho do Senhor. Naquele tempo ele fez e hoje a sua voz ecoa forte para que possamos preparar o caminho de Jesus que vem a nossa casa, quando celebramos o Natal em família.

No livro de Baruc  temos o anúncio de um caminho, um novo Êxodo do Povo de Deus. O contexto dessa época se mostra com um povo sofrido no exilio, longe de Deus e do Templo. Esse acontecimento dá ao Povo a ânsia pela libertação e a saudade da terra. Agora há uma profecia que vai alegrar a todos, pois é o próprio Deus que cuidará de tudo para o seu Povo escolhido. O regresso é preparado pelo nosso Deus como podemos constatar: "Abaixará os montes, encherá os vales, aplainará o chão, a fim de que Israel caminhe com segurança."

Esse tempo de Advento é favorável a nós para que libertemos de todas as armadilhas que nos prendem de irmos ao encontro de nosso Deus. É um novo Êxodo para a terra prometida que é o céu que começa já aqui. (cf. Br 5,1-9)

O salmista é uma pessoa de confiança  que se tem de Deus numa oração ao Pai  que quer que Ele nos conduza em caminho instruído e seguro a Ele. Isso vai se adquirindo através do amor a Deus e aos irmãos, a fidelidade a esse Deus libertador e justiça a todos numa intimidade a Deus que quer ficar conosco ate a eternidade que devemos abraçar um dia. (cf. Sl 25)

Na carta ao Filipense  nos faz um convite insistente para que progredíssemos na vivencia cristã através do amor praticado com todos. Isso é fruto de compromisso com uma realidade melhor para todos. Esse é o modo mais firme que cada um de nós vamos ficar vigilantes  na espera do Senhor e da festividade que vamos celebrar no Natal de Jesus. (cf. Fl 1,4-6.8-11)

O evangelista nos fala de João Batista, que é a voz do profeta no Deserto que anuncia o Senhor, é uma voz que clama no deserto para que os corações humanos sejam preparados para a vinda do Messias. O profeta anuncia após 300 anos de um silencio de Deus, porque ficaram sem profetas. Agora surge um que novamente fala de Deus que vem para salvar, mas que é preciso de conversão e mudança de vida. Na historia da Salvação começa no deserto, lá se faz aliança, promessa e se tem uma lei.

Sabemos que João percorria toda a região do JORDÃO... Aqui "Jordão era o lugar limite... por onde o Povo de Deus entrara na Terra Prometida... Agora aqui vai iniciar a nova jornada da humanidade que precisa libertar do cativeiro do pecado. Como no mar vermelho em que povo entrou e caminhou no deserto para uma nova terra, aqui no Batismo de João é a porta de entrada através do Jordão, a terra que traz a liberdade e dignidade ao Povo de Deus. Precisamos converter, mudar e ter a coragem de fazer novo todas as coisas. Essa voz grita hoje para que o mundo volte a Deus e faz um caminho com Jesus a Deus(cf. Lc 3.1-6)

Que esta liturgia nos ajude a fazer o caminho, ouvindo a voz dos profetas de hoje que nos pede conversão e mudança de vida. Que as nossas mesas sejam todo convidados e que ninguém fique de fora do Banquete do Senhor.

Que todos preparem bem para que esse natal seja um novo marco para que o Reino de Deus seja vislumbrado entre nós.

Bacharel em Teologia Jose Benedito Schumann Cunha

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Ateliê e Galeria de Arte promove Exposição “Duas Artes Sem Fronteiras”


Acontece no período de 13 a 30 de dezembro de 2018 a Exposição “Duas Artes Sem Fronteiras” com pinturas de João Rafael Ferreira e Rogério Figueiredo no Ateliê e Galeria de Arte Felicidade Patrocínio. “Estão todos convidados para virem ver este espetáculo de grande beleza plástica”, convida Felicidade Maria de Patrocínio Oliveira, a anfitriã da casa. Na próxima quinta-feira (13/12), às 20h e 30min está marcado vernissage seguido de coquetel dos artistas. O Ateliê e Galeria de Arte Felicidade Patrocínio tem sede à Rua São José, 293-A, Bairro Santo Expedito, nos fundos da igreja Santo Expedito. Outras informações pelo telefone (38) 3221-5058.







































Em artigo publicado no “Jornal de Notícias” na terça-feira (27/11), a artista plástica, escritora e atual presidente da Academia Feminina de Letras de Montes Claros (AFL-MOC), Felicidade Patrocínio, esclarece melhor sobre a Exposição “Duas Artes Sem Fronteiras”. Ela introduz o texto ao valorizar as pinturas dos artistas João Rafael Ferreira e Rogério Figueiredo. “Como se não bastasse o que já temos, e que é muito nessa área, a cidade nos surpreende com novo grupo de fazedores da beleza através de cores, traços e formas, o que nos faz apostar num novo e rico tempo para a arte e a cultura regionais. Já começam a revolucionar o meio artístico imagens de qualidade e de beleza incomuns, de perfeição extremada em desenhos e esboços, com originalidade nos temas e até, em certo sentido, avant guard em muitas expressões”, explica Felicidade Patrocínio.




O advogado, professor de Português e agora pintor a óleo João Rafael Ferreira nasceu e reside em Montes Claros. É formado em Artes pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Frequentou ainda a Escola e Galeria de Artes Maison de Belo Horizonte. Há oito anos começou a ter curiosidade pela pintura a óleo figurativa. 





Professor de Pintura há cinco anos no Ateliê e Galeria de Arte Felicidade Patrocínio, Rogério Figueiredo é formado em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Por mais de uma década, exerceu o magistério na área artística em Belo Horizonte e em Lavras. É mais ligado à arte impressionista europeia.

Na área literária, a anfitriã Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira nasceu em Montes Claros em 12 de junho e adotou o nome artístico de Felicidade Patrocínio. Ela é graduada em Filosofia pela Unimontes. Tem Pós-Graduação em História da Arte também pela Unimontes e em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília-DF. Concluiu quatro disciplinas isoladas em Mestrado da Arte na Universidade de Brasília (UNB) e na UFMG. Lecionou Filosofia na Unimontes e no Seminário Maior Imaculado Coração de Maria, em Montes Claros-MG. Leciona Arte em seu Ateliê e Galeria. É escritora, artista plástica, escultora e ceramista. Trabalha o mármore, as resinas, a cerâmica e o ferro, etc como formas artísticas. É sócia-fundadora e foi duas vezes presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros. É a atual presidente da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Possui publicações em todas as edições da revista do Instituto.



Sua produção literária inclui dois livros publicados (“Ensaios” e “Raymundo Colares e o Fogo Alterante da Criação”), centenas de artigos publicados em jornais da cidade, texto no livro de arte “A História de Minas Através dos Murais de Yara Tupynambá”, dois artigos na revista mineira “Imobiliare”, um artigo para a revista mineira “Casa Viva”, 10 artigos para a revista “Tempo”, de Montes Claros, dois artigos publicados na revista da Academia Mineira de Letras, 21 artigos publicados na revista do Instituto Histórico e Geográfico de MOC, um artigo traduzido para o italiano publicado na revista italiana “Famiglia Nostra”, de Martinengo/Bérgamo, número 85, e quatro artigos publicados nos livros da Academia Feminina de Letras de MOC.

Suas premiações na literatura incluem participações vitoriosas em concursos de contos e crônicas da Unimontes e no Concurso Nacional de Literatura Santander. Ela foi escolhida e contratada pela Editora Comarte para pesquisar e escrever os 70 verbetes sobre todos os artistas do Norte de Minas Gerais no Programa “Minas Território das Artes”, que faz levantamento e registro escrito dos nomes e vidas de todos os artistas de Minas Gerais. Felicidade Patrocínio idealizou e coordena o Clube de Leitura em seu Ateliê e Galeria de Arte, além da idealização e coordenação do Escambo de Livros e do Programa “Livro Livre”.






































Pinturas dos artistas João Rafael Ferreira e Rogério Figueiredo estarão expostas no Ateliê e Galeria de Arte Felicidade Patrocínio a partir do dia 13 até o dia 30/12  (Reprodução)


domingo, 2 de dezembro de 2018

“Mira qué bonita eres”

POR Mara Narciso
médica-endocrinologista e jornalista

Em sua terceira edição, o Festival Flamenco de Montes Claros mostra um grupo de bailarinos coesos e a cada dia mais soltos no palco. Ensaiando caminhar para a independência, já se arriscam em comportadas ousadias. A dançarina, diretora e coreógrafa Elisa Pires ousa inovar corajosamente a cada espetáculo. Depois de conduzir sua Escola de Dança Pátio Flamenco em Belo Horizonte, onde morou durante 21 anos, trouxe seu trabalho para Montes Claros em janeiro de 2016. Cria em 2018 a Companhia Flamenca Del Pátio com as seguintes dançarinas: Ana Pires, Bella Antunes, Danúbia Silveira, Dany Vasconcelos, Isabella Neves, Juliana Pires, Marina Guitti, Marta Medeiros, Van Royo e Willyane Albuquerque. E assim o nível do espetáculo avança a cada dia.

Em Montes Claros, Elisa Pires trabalha com sua mãe a pianista Maria Luiza Pires, duas irmãs Ana Luisa Pires e Juliana Pires, e dois sobrinhos Elisa Melillo e João Pires. Este último, um protagonista, hoje com 10 anos, desde o começo mostra que os homens, três nesta apresentação, dançam bem o flamenco.

A dança tem seu lado feminino, com sorrisos, jogos delicados de braços, trejeitos, volteios com as mãos, requebros e sensualidade, e o pisar forte do sapateado. O lado masculino se dá pela firmeza dos gestos dos braços e cotovelos, a postura em cena, a seriedade máscula, e a força da pisada viril. O treinamento acontece no transcorrer das aulas, com repetições durante todo o percurso da criação da coreografia. Qualquer um pode dançar Flamenco, desde pessoas maduras, até crianças, várias delas em cena neste festival de 2018. Dançaram bem, leves e soltas, seguras como se estivessem em casa, conquistando admiração e palmas.

No Centro Cultural Hermes de Paula, a abertura com nove mulheres em figurino vermelho gera uma imagem e atuação impactantes e inesquecíveis, e nos 12 bailes do espetáculo “Mira qué bonita eres” os variados figurinos e coreografias com acessórios, tais como espelho, sombreiro, xale, castanhola, leque e véu, amplificam o gestual e tornam a dança mais atraente. Destaco os babados no punho de uma das roupas, cuja beleza cresceu os movimentos de mão, especialmente na atuação da menina de dez anos Yara Royo, que, com talento e habilidade, parece ter nascido no palco, de tão segura que se mostra. Em Martinete, entre 16 bailarinas, sem desmerecer as demais, salta entre suas colegas, pela leveza firme e porte de princesa. Em todos os números, certas bailarinas se destacam pela coragem, graça, beleza física e brilho natural, e por isso mesmo ocupam a frente e o centro do palco.

Os palmeiros são recursos importantes no andamento do baile. Temos no canto e guitarra flamencos Fernando de Marília, nos teclados Maria Luiza Pires, no cajon e percussão João Paulo Drumond e no sax e flauta Luciano Cândido. Há uma equilibrada ocupação do espaço, com entradas e saídas criativas, microfone no chão para valorizar o sapateado em duas horas de show, sem intervalo.

Elisa Pires dança, canta e traz sua costumeira energia, concretizando as imensidões que idealiza. Sua aptidão para representar e o uso de todo o palco reafirmam seu grande talento. Pequena em estatura, em cena se multiplica, sendo este seu jeito de seduzir o público. Na apresentação solo do ritmo “tientos” usa o recurso da mantilha, uma espécie de véu sobre o rosto, e, toda de preto, garante uma dramaticidade incomum. Homenageia a mulher, marcando seus sofrimentos, que pode ser viuvez, ou orfandade, pois a certa altura grita “papito”. O drama sugere todas as violências e a capacidade de superação.

No quesito ousadia, além dos sapateados complexos e ultrarrápidos, acontecem duas levantadas parciais da saia pelo meio, e, numa provocação, o uso inusitado do leque para as bailarinas refrescarem as partes baixas.

Todo o baile é dedicado à mulher, que costuma ser o contraste entre força e sensibilidade. Incentiva o amor próprio, mostrando-a que deve gostar de si mesma do jeito que é, valorizando-se e respeitando-se. Os espelhos mostram que todos podem ser bonitos e felizes praticando a dança de raízes cigana, mourisca e árabe, do sul da Andaluzia. São quatro noites e cinco apresentações, pois foi necessário criar uma edição extra para atender ao respeitável público. No mais, é esquentar os sapatos de bico e salto metálicos e praticar Flamenco. Olé!

Domingo, 02 de dezembro de 2018

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Sou uma escritora que não escreve

POR Mara Narciso
médica-endocrinologista e jornalista

Quem me disse que eu era escritora foi Waldir de Pinho Veloso, em 2005, sendo que, desde 2001, ensaiava passos na Literatura, enviando crônicas aos amigos virtuais. Tinha publicado meu livro-desabafo “Segurando a Hiperatividade”, no qual conto a história do meu filho Fernando Narciso Silveira, portador de TDAH [Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade] e Síndrome de Asperger. Yvonne Silveira, presidente da Academia Montes-Clarense de Letras, apresentou meu livro e destacou que a minha escrita não tinha literalidade. Senti-me uma não-escritora, mas voltei a crer nisso quando Waldir de Pinho Veloso, também membro da Academia Montes-Clarense de Letras, da qual passei a fazer parte, afirmou que eu tinha essa habilidade. 

Aos três anos ganhei lápis para mudar a preferência da mão esquerda para a direita. Continuei canhota. Aos quatro anos fui estudar no SESC [Serviço Social do Comércio]. Meu pai, Alcides Alves da Cruz sabia a importância da escola. Naquela época poucos frequentavam o Jardim da Infância. No pré-primário aprendi a ler e escrever. Na vida escolar, muito estudo, cadernos cheios, redações longas, e na vida, diários, poemas, contos, letras de músicas copiadas do rádio, fitas e discos. Frequentei o Colégio Imaculada Conceição dos cinco aos 15 anos e depois o Colégio Marista São José, dos 16 aos 18 anos. No terceiro ano colegial, preparando-me para o vestibular, copiava tudo que era falado. Cheguei a escrever atas no colégio, e anos depois, fui secretária da Associação de Moradores do Bairro Morada do Parque, em 1991/1992. Escrevia o documento final durante a reunião.

Na Faculdade de Medicina (1974/1979) copiava o que os professores diziam. No primeiro ano, com o braço no ar, pois não tinha carteira para sinistros, copiei o Gardner Gray O’rahilly, livro de Anatomia, de 830 páginas, ditado de cor pelo professor Edvaldo Fróes. Ensinava o corpo humano de forma estranhamente poética, seduzindo os alunos, mesmo quando segurava uma metade de cabeça, recém saída do formol. Copiar aulas durou seis anos, com muitas papeletas escritas nos estágios hospitalares. Depois vieram as Residências Médicas, mais três anos escrevendo longos relatos dos pacientes. Já trabalhando em consultório, ia toda semana a Belo Horizonte para reuniões clínicas e na volta, lembrando-me dos debates, anotava tudo no ônibus. No hospital enchia papeletas e no consultório escrevia fichas, mantendo detalhados relatórios, pareceres, encaminhamentos, tudo escrito à mão. Fora os inúmeros congressos copiados de ponta a ponta.

Em 2006 fui para a Faculdade de Jornalismo, sendo quatro anos copiando o que os professores ensinavam. Entrevistava e escrevia ao ritmo da fala, para reportagens e biografias. Como escrevia o dia todo nas consultas e continuava na escrita a caneta à noite, a dor de tanto escrever, que já sentia no braço, considerando que também digitava parte do tempo, agravou-se. Desde então, passei a ter sessões de Fisioterapia. Melhorava, mantinha os alongamentos, mas copiava sem parar. O problema chegou ao seu ápice em setembro de 2016, quando houve perda da força e da habilidade. Tive de interromper tudo. Enquanto esperava ser criado o sistema personalizado para informatizar o consultório, meu filho me ajudou, após autorização do CRM [Conselho Regional de Medicina]. Escrevia para mim e eu assinava as receitas, pedidos de exames, encaminhamentos e relatórios.

Depois de cem sessões sequenciais de fisioterapia e alongamentos diários, além da constante dança flamenca e Pilates, sinto-me melhor, mas não posso fazer quase nada. Não escrevo à caneta, e algumas vezes a assinatura não confere. O uso continuado do computador completa o estrago. A LER - Lesão por Esforço Repetitivo (ou outro nome que queiram dar à doença) é restritiva e permanente. Qualquer coisa que eu faça, sinto dores em ambos os braços, pela sobrecarga compensatória. O uso dos músculos faz a inflamação dos tendões e nervos se manifestar com dor e incapacidade. As pessoas não entendem o porquê de eu não conseguir escrever. Olham o meu braço, que não sangra e nem mostra nenhuma avaria e riem. Por favor, ajam para se preservar dessa grave doença. Durante a pior crise eu não segurava o garfo nem a escova de dente. Eu achei que poderia escrever uma quantidade imensa de letras, que, enfileiradas, seriam capazes de ir até a lua e voltar, mas não pude. Sou uma escritora que não escreve.

Domingo, 25 de novembro de 2018

domingo, 18 de novembro de 2018

Catrumano

POR Mara Narciso
médica endocrinologista e jornalista

Distraída, só conheci a palavra “catrumano” em 1993, através do Restaurante Catrumano, na Vila Regina. Depois a cidade teve o “Território Catrumano Bar Cultural”, no Bairro Major Prates, do antropólogo João Batista de Almeida Costa. Sua tese de doutorado foi destacar a importância da cidade de Matias Cardoso no norte de Minas como fonte de alimento na mineração da região central do Estado. Em 2005 foi criada a “catrumania” e o Movimento Catrumano. Desde então, entendo essa palavra como um modo de vida roceiro, um autêntico vivente do sertão seco e violento.


Ildeu Braúna (16/05/1953 - 30/05/2015), registrado Ildeu de Jesus Lopes, foi político, escritor e compositor. Em parceria com Pedro Boi, compôs mais de cem músicas. “A lenda do arco-íris” e “Zumbi” são duas joias que eternizaram seus criadores. Compôs “Tocador de Boi”, com Téo Azevedo, gravada por Sérgio Reis. Em 1977 criou o Grupo Agreste, que ficou conhecido nacionalmente ao fazer parte da trilha sonora da novela “Rosa Baiana”. Morto de pneumonia aos 62 anos, o ex-secretário de Cultura de Montes Claros foi regiamente pranteado, quando amigos cantaram suas músicas de temática rural, na Câmara de Vereadores de Montes Claros, onde foi exposto. 

Escrever no modo de “falar errado”, ser autêntico e convincente, garantindo uma realidade rústica, sem encenação nem exageros, só mesmo para quem é catrumano de nascença e de vivência. Em caso contrário, cai no ridículo ao expor um artificialismo tosco. Pois a imersão na obra “Catrumano”, escrita por Ildeu Braúna e publicada em 1994, possibilita penetrar nas roças ermas de décadas antes, como num filme. A maneira de ele narrar suas histórias, numa linguagem capioa, natural, sem fingimentos, ecoa numa veracidade que possibilita enxergar o matuto falando, contando sua vida, e até mesmo sentir o cheiro de fumo de rolo. Os casos podem ter algo de ficção, mas tomam um ar de legitimidade.

Seu estilo, logo se nota, é coisa para iniciado, talentoso e inconteste escritor de costumes. O linguajar é sertão puro e indiscutível. Quantas vezes ouvimos e ainda é possível ouvir gente daqui falando daquele jeito? O modo de conversar se enraíza de tal forma no âmago de quem nasceu na roça, que mesmo que passe 30 anos numa escola, frequente mais de uma faculdade, entre pós-graduações, mestrados e doutorados, aquilo ali aflora, inesperadamente, porque vem da alma ancestral, sendo de fato a essência daquela pessoa.

Excetuando-se o inigualável João Guimarães Rosa e o seu “Grande Sertão Veredas”, em geral não gosto de ler coisa escrita em linguagem primitiva, mas, para Ildeu Braúna, entrego os meus pontos, devido ao seu dom de recriar. Destaco o conto que dá nome ao livro, e como crítica, faltou uma personagem feminina forte, narrando sua vida.

Ao final, tem um dicionário “curraleiro”, e, entre palavras resgatadas de um passado tão longínquo quanto o sertão norte mineiro, descobre-se o que vem a ser “catrumano”, uma ideia, até então, inconsistente para alguns. De cunho pejorativo, lá estão por sinônimo “matuto”, “bugre”, “capiau”, mas falta “caipira”, como Peré - Luiz Carlos Novaes se referiu a Ildeu Braúna nas orelhas do livro. Entre as curiosidades dos contos em que cada qual expõe sua história, sem travessões nem aspas, vi retornar fantasmas como “acoitou” = se escondeu, “bengo” = capim, “bruacas” = mala de couro cru, “bitelo” = grande, “capado” = porco para engorda, “deu a testa” = discordou, “encafifado” = preocupado, “estropiado” = cansado, “famiage” = toda a família, “gungunou” = balbuciou, “lusco-fusco” = crepúsculo, “mandaíba” = muda de mandioca, “matula” = bagagem, “melar” = embebedar, “pé d’água” = tempestade, “precatas” = alpargatas, “serventia” = utilidade, “surrão” = saco de couro, “tabatinga” = argila mole, “tilanguenta” = esfarrapada.

Após atravessar rapidamente as 82 páginas, treze contos e um glossário, fecha-se o livro já se pensando em relê-lo para se re-extasiar num novo mergulho no sertão. Ildeu Braúna percorreu esse caminho, conheceu essa gente de vida dura, nos lugares ásperos que exigem essas forças e essas vinganças. Só assim para entender o pensar, o linguajar e o agir do sertanejo. Por esse feito, é preciso oferecer fartos aplausos para o mestre.

Domingo, 18 de novembro de 2018