ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

segunda-feira, 30 de abril de 2018

A linguagem popular para doenças não existe mais

POR Mara Narciso
médica endocrinologista e jornalista

A minha mãe Milena Narciso nasceu em 1934 e se formou médica em 1974. Dedicou-se à Ginecologia e Obstetrícia, e, sendo uma mulher observadora e com excelente capacidade analítica, enfeitava a nossa vida com histórias pitorescas de uma linguagem típica. Dizia que seu avô Jason Gero de Souza Lima, comerciante de diamantes e fazendeiro, contava a vida e educava os muitos filhos com ditados populares, coisa que a mãe dela Maria do Rosário de Souza Lima também fazia. Uma “agregada” da casa tinha uma maneira diferente de se comunicar. Quando viu o primeiro caminhão, chamou a minha avó, apelidada Du: “Vem ver, Du, a ‘zelação’. Ela é movida a ‘magnífico’”. Noutra ocasião, a primeira vez em que ela sentiu os efeitos do álcool, falou: “Está me dando uma ‘celebreza’”.

Na meninice, Monteiro Lobato, Rubem Braga e Paulo Mendes Campos fizeram minha cabeça. Desde então ando de olho nas palavras. As pessoas que não leem falam da forma como entendem. O “eu não assino” é mais comum no meio rural e ainda hoje é alta a incidência de pessoas sem o direito a ler. Nesse mundo analfabeto, não existe cérebro e sim célebro, barrer, regra, “perca”, e outras expressões desconhecidas dos livros. O Word marca todas elas em vermelho.

Na década de 1970, a comunicação no norte de Minas era de boca em boca, por jornal, revista e rádio. A televisão restrita pegava mal. Havia poucas boas estradas e as noticias demoravam a chegar, assim o noticiário impresso do mês passado continuava interessante. O meu Tio Indalício, irmão do meu avô Petronilho Narciso, que morava na fazendinha Aliança, mandava buscar em Montes Claros jornais e revistas velhos. Tudo servia, pois a notícia valia por mais tempo. Meu tio era um homem humilde, de olhos azuis profundos, amoroso, encantador. Junto com ele, ao redor de uma imensa gamela de feijão-catador, nós seus sobrinhos-netos ficávamos abrindo as vagens e conversando nas noites frescas da roça. 

Ali ouvíamos palavras que mal sabíamos o que eram e que adoçavam a nossa vida junto às cantorias e o violão do vaqueiro Chico Faria, irmão do Mestre João Faria.

Por esta porta eu vislumbrava outra cultura.

Quando minha mãe se casou em 1953, foi visitar meu avô paterno Antônio Alves da Cruz em sua fazenda, um lugar ermo, na Serra das Araras, na região de Januária. A viagem foi a cavalo e, pelo caminho, aparecia onça pintada. O choque cultural e de linguagem foi gritante. Parecia outro país. Décadas depois, quando Milena atendia consultas de pessoas da zona rural, mencionava o palavreado da gente dos rincões isolados, um quase dialeto. Nem sempre era fácil decifrá-lo. Regra e perca acima citados são menstruação e aborto. Mãe do corpo é útero, fato é intestino, “botar os bofes para fora” é estar cansado, bolota do olho é globo ocular, “vilida” é mancha branca no olho, “dordói” é conjuntivite, coração “trupicar” é estrassístole, “panarício” é osteomielite, “espinhela caída” é problema no esterno, “dor na apá” é dor na escápula, “xistose” é esquistossomose, “barriga d’água” é cirrose hepática, “fraco do pulmão” é pessoa com tuberculose, provocar é vomitar, câimbra de sangue são fezes hemorrágicas, nascida é furúnculo, acesso é crise de convulsão, bilora é desmaio de fome, avexame é falta de ar, entalo é dificuldade para engolir, encalhado é com o intestino preso, “aquela doença” é câncer.

Atualmente, mesmo gente pouco escolarizada, pelo efeito da comunicação de massa, tem um linguajar apropriado para descrever seus sintomas e suspeitas. Muitos já pensam num diagnóstico, mesmo sem ir ao Google. Surtos de dengue, zika, chicungunha, febre amarela, gripe H1N1 são de conhecimento geral. Poucos desconhecem a importância de procurar o médico caso surja um nódulo no corpo. As mulheres, diante de um sinal ou sintoma querem investigar. Os homens criticam suas companheiras, mas alguns visitam o cardiologista, e, ainda timidamente o urologista. A medicina avança, as pessoas procuram diagnósticos precoces para ter suas doenças curadas ou domadas chamando-as pelo nome universal. Sem apelidos. A precariedade da medicina primitiva ficou para trás.

Sábado, 28 de abril de 2018

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Para que venham outros 40 anos de alegria

Aconteceu no final da tarde desta quarta-feira (25/04), no restaurado Casarão dos Versiani-Maurício, reunião preparatória para a celebração dos 39 anos do Centro Cultural Hermes de Paula. Participaram do encontro João Aroldo Pereira, Téo Azevedo, Lola Chaves, Maia & Boa Vista, Bob Marcílio, Marcelo Andrade, Júnia Rebelo, Fábio Marçal, Daniel Moraes e João Renato Diniz Pinto.
Ultimamente, a cada ano, o Centro Cultural homenageia uma personalidade da cultura norte-mineira. Em 2017, o homenageado foi Beto Guedes. Em 22 de maio de 2018, às 20h, no Auditório Cândido Simões Canela, com entrada gratuita, o homenageado será Téo Azevedo, que possui mais de duas mil e 500 músicas gravadas e mais de três mil produções, conforme informações do próprio artista repassadas durante a reunião. 

Crédito das Imagens para Fábio Marçal (25/04/2018)





Sempre na companhia de Téo Azevedo e de suas composições, o repertório musical contará com 15 apresentações e será aberto, com chave de ouro, pelo Grupo de Serestas “Amo-te muito” e Lola Chaves que interpretarão “Meu Rancho do Pé de Serra”. O dia 22 de maio também é o Dia Municipal da Seresta, honraria concedida pelo vereador José Nardel, além de ser o aniversário natalício de João Chaves. A segunda apresentação artística será protagonizada pelo historiador Carlos Azevedo, que declamará um poema em forma de literatura de cordel.
Em seguida, o repertório musical terá as composições de Cândido Canela “Rebenta Boi”, interpretadas por Téo Azevedo e Daniel Marcelo; e “Ternos Pingos da Saudade”, por Téo Azevedo e Leila Brito. Depois, a homenagem a Téo Azevedo lista “Viola e Paixão”, protagonizado por Téo Azevedo com a parceria de Ariedson e Renan; “Desencantarana das Gerais”, composição de Ildéu Braúna e do homenageado, que a cantará ao lado de Tone Agreste; “Buriti”, letra composta por João Guimarães Rosa e homenageado, que a cantará ao lado de Tino Gomes; e “Senzala” (Choro Barroco), por Téo Azevedo com o grupo “Choro do Cerrado”.
A homenagem ao idealizador e mobilizador da Festa da Folia de Reis de Alto Belo prosseguirá com “Coisas do Sertão”, composição de João Evangelista Rodrigues e do homenageado e interpretação do mesmo e de Ana Cláudia Azevedo; “Peleja do Gonzagão”, por Téo Azevedo e Sarney Jomesoly; “Vá pentear macaco”, por Téo Azevedo e Bob Marcílio; “O Pequi Esteio do Cerrado”, por Téo Azevedo e Maia & Boa Vista; “Cálix Bento”, adaptação de Téo Azevedo com Aroldo Pereira e Coletivo; “Andarilho do São Francisco”; e, no encerramento, Téo Azevedo com apresentação especial.
HISTÓRIA
O Centro Cultural Hermes de Paula foi inaugurado com o nome de Centro de Extensão Cultural em 22 de maio de 1979 na segunda administração (1977-1982) de Antônio Lafetá Rebelo, que optou por assinar “Divulgação da Municipalidade”, de acordo com a placa comemorativa na entrada do Centro Cultural. Acolhia na época Administração, Academia Montes-Clarense de Letras, Teatro e Auditório, Biblioteca, Salão Infantil, Galeria de Artes e Centro de Xadrez. Era o Ano da Anistia Ampla, Geral e Irrestrita no Brasil. Muita gente pressionava socialmente por abertura política e contra o arrocho salarial imposto aos trabalhadores pela Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985) para fazer o dito milagre econômico.
“O povo de Montes Claros perpetua sua memória neste centro de educação e cultura”, homenageava a primeira administração (1983-1988) de Luiz Tadeu Leite o médico, historiador, escritor, folclorista e homem público, dr. Hermes Augusto de Paula em 03 de julho de 1983, aniversário de 126 anos de emancipação da cidade, de acordo com placa comemorativa.

A Galeria de Arte Godofredo Guedes é de 07 de abril de 1995, também conforme placa comemorativa, segunda administração (1993-1996) de Luiz Tadeu Leite.
Vinte anos depois de fundado, o Centro de Educação e Cultura Dr. Hermes de Paula sofria sua primeira reforma. Em 03 de julho de 1999, aniversário de 142 anos da cidade, a primeira administração (1997-2000) de Jairo Ataíde Vieira, com secretária municipal de Cultura, Iara Guimarães Souto, projeto da Secretaria de Planejamento (Seplan) e execução da Construtora Ônix, após promoverem reforma geral do prédio e instalação do ar condicionado central, devolveram ao público o espaço reformado. 
O HOMENAGEADO DE 2018
Téofilo Azevedo Filho nasceu em 02 de julho de 1943 em São José de Alto Belo, Bocaiuva, Norte de Minas Gerais. Fará 75 anos. O Dicionário da Música Popular Brasileira (MPB) - http://dicionariompb.com.br/teo-azevedo - ainda esclarece que Téo Azevedo é “cantor, compositor, violeiro, repentista, declamador de poesia matuta, escritor, folclorista, radialista, produtor fonográfico”. Seu pai era Teófilo Izidoro de Azevedo (“Seu Tiófo”), “lavrador, aboiador, ferreiro, tropeiro, pequeno comerciante, folião de reis, seresteiro, cantador popular e repentista. Foi um violeiro legendário, mesmo com apenas um braço, pois o outro foi perdido acidentalmente com um tiro de espingarda durante uma caçada a veados. A lenda de ‘Seu Tiófo’ virou tema do poema ‘Viola de bolso’, de Carlos Drummond de Andrade”.  

terça-feira, 24 de abril de 2018

Crônica: Os sete pecados capitais



POR Quintino de Quadros Vieira

“Jogador quase é morto em campo (...) Uma partida de futebol quase terminou em morte em Lagoa dos Patos, a cerca de 106 quilômetros de Montes Claros, na tarde do último domingo (22)”. [Jornal de Notícias, Montes Claros, terça-feira, 24 de abril de 2018, Editoria de Polícia, Página 09]

O lugarejo era apelidado de Pita e Bebe. A liderança local orava e trabalhava bastante, porém gostava de uma festa para confraternizar e unir a população. Um padre franciscano chegou ao lugar e acabou com a bebedeira. Na igreja dele, não havia nada disso. Era a abstinência pura. Permitia apenas o futebol de várzea. O sacerdote amava arbitrar um jogo entre 22 valentões.
Naquele dia, logo após a missa dominical, o pároco só observou. Se entrasse na briga, sobraria para ele. Um homem de 46 anos foi esfaqueado sete vezes por um rapaz de 24 anos. Toda a inveja, a ira, a avareza, o orgulho, a luxúria, a gula e a preguiça sentidas naquele campo batido de terra se despejaram no jovem sobre o capitão do time adversário. Ele não as absorveu. E ataque pelas costas é sempre um ato de covardia.
Fugiu em uma motocicleta. A polícia foi chamada para fazer o boletim de ocorrência. O capitão do time em que jogava o suposto criminoso era policial militar reformado. Não compreendia os motivos daquele ódio repentino no moço de 24 anos. De uma hora para outra, fez-se Lúcifer. De um instante para o outro, transformou-se em demônio. O futebol tem emoções que a própria razão desconhece.     

Quintino de Quadros Vieira é tão só escritor. Mora em Botumirim-MG e escreve ocasionalmente a respeito do cotidiano publicado nos jornais impressos.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

A promessa de um grande amor

POR Mara Narciso

No dia quatro de março de 2018 nasceu Frida, filha de Ana Flor e de um pai mestiço, meio poodle. Desde que a mãe nasceu, há uns quatro anos, foi-me prometido um filhote. Mas tive de esperar, pois a cachorrinha poodle branca de Tia Áurea teve apenas um cachorrinho. Desta vez, deu certo. Foram quatro filhotes fêmeas, sendo duas brancas e duas pretas. Escolhi uma preta e dei o nome de Frida. Logo que soube do nascimento, começamos a romaria. Toda semana, uma visita, um carinho na mãe e nas filhas, para que nos fôssemos acostumando.

À medida que as cachorrinhas foram crescendo, o espaço exigido para o ninho foi aumentando. Ana Flor, uma grande mãe, aos poucos foi lhes dando autonomia. Vi a amamentação, acompanhei o desenvolvimento. Com duas semanas foi-lhes cortado parte do rabo. Eu não queria. Com 44 dias foi-lhes dado o 1º banho, com direito a foto e laço de fita. Com 45 dias, foi o dia da 1ª vacina. Frida se comportou bem, mas teve uma febrezinha. Tia Áurea tem habilidade e know-how, porque criou muitas ninhadas. Conhece os bichinhos e os ama como ninguém.

O dia 21 de abril foi completamente diferente. A casa perdeu sua rotina e foi criada outra. Eu nunca tive cachorro, pois morei 26 anos em apartamento pequeno, e fui casada com alguém que não gostava deles, então, com boa expectativa fomos, Fernando, meu filho e eu buscar a cachorrinha. Acordei três vezes à noite, preocupada com a ruptura afetiva de Frida. Largar a mãe, as irmãs, o ninho e Tia Áurea, a cuidadora. Estou cheia de receios. Além do filhote, ganhei caminha, cobertor, pratinho e ração, além de orientação sobre xixi e cocô, jornal, brinquedos, vacina, essas coisas.

Tudo estava preparado para recebê-la, como quando a gente traz para casa um neném recém-nascido. Segurança é primordial. Já tinha imaginado colocar o cantinho dela no quarto em frente ao meu. Como tenho asma, não vou deixá-la dormir comigo e nem subir na cama. Não sei se vou levar adiante esta decisão, pois ela é apenas um neném.

Passamos num armazém para pegar uma caixa para colocar a caminha dentro. Conselho de Tia Áurea, que não acha conveniente comprar uma casinha. Quando chegamos em casa, abri o portão, entramos, Fernando desceu com ela, ajoelhou-se e explicou que aquela era a sua nova casa, porém, quando a colocou no chão ela começou a chorar. Eram nove e meia da manhã, mesmo horário em que meu filho nasceu. Tinha logo um e depois três degraus impossíveis para ela. Foi colocada sobre o assoalho encerado e ela deslizou para trás. Estava insegura, trêmula, com medo. Logo começou a soluçar. Foi quando me decidi a deitar no chão ao lado dela e fiquei enroscada por um tempo, para acalmá-la e mostrá-la que não havia motivo para insegurança. Trouxe a cobertinha e em poucos minutos ela foi relaxando, mordeu a ponta do tecido e cochilou com seu rosto sobre ela.

Duas horas depois montei sua caminha dentro da caixa deitada de lado, coloquei água que ele tomou logo, e após muito carinho, acabou dormindo por meia hora. Mas começaram os problemas: formiga na ração, um xixi a cada hora. Depois cocô, em seguida uma raivinha, novo soluço e começou a roer a caminha, e depois o jornal e as franjas da colcha da cama. Ela estava insatisfeita e eu tentando entendê-la. Estou contando minhas emoções, que são também dela. O que a faz se sentir segura é o contato com o corpo, ficar no colo, aconchegar-se aos nossos pés. Assim, parece sentir menos a falta do contato físico com a mãe e as irmãs. Logo estava vencendo os degraus.

A 1ª noite foi como um plantão na maternidade. A toda hora um choro. Tive de me levantar cinco vezes para acalmá-la, agasalhá-la, aconchegá-la, niná-la. Esperta, aprende rápido e logo deduziu que eu estava sobre a cama. Dava latidos e saltos tão altos, que seriam dignos de uma competição de decibéis para quebrar cristal como também de salto em altura, tentando subir na cama. Mas não conseguiu. Agora, está na casa de Tia Áurea por algumas horas. Estava muito parada e tive receio de que algo errado tivesse acontecido, mas está tudo normal. Frida nos trouxe a energia que estávamos precisando. Estamos os três muito bem diante da promessa de um grande amor.

Domingo, 22 de abril de 2018

quarta-feira, 18 de abril de 2018

ser cristão é buscar as coisas do alto

ser cristão é buscar as coisas do alto


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Queridos irmãos e irmas, somos cristãos porque fomos batizados e desse modo assumimos compromissos de ser testemunha de Cristo no mundo em vista do céu. Jesus já disse que seu reino não é daqui e sim do alto onde está Deus Pai.

a vinda de Cristo no mundo nos permitiu ter contato com as coisas do alto. Nós podemos sentir, vivenciar e ter Jesus na sua Palavra e na Eucaristia que são dados a nós pela voz da Igreja.
Infelizmente há muitas ideologias no mundo que nos tiram o foco do céu. 

Sabemos que deve ser feita uma ponte entre o céu e aterra. Deus começa de lá e nós de cá, e quando esta concluída e forte, nós fazemos a travessia. não podemos parar e sim caminha para o Reino definitivo, para os materiais da ponte que ajudamos a construir com Deus são o amor, a partilha, o perdão, a fraternidade, a justiça, a irmandade na comunidade e na obediência dos preceitos de Deus.

Cabe a cada um de nós ser servos que executa bem as tarefas as quais a nós são confiadas, e assim o amor de Deus nos inunda de tal mudo que nós configuramos a nossa vida no Cristo, que é verdadeiro servo de Javé predito em Isaías.
Que a Igreja seja luz que ilumina o nosso caminho que fazemos a partir da coerência de vida na comunidade igreja, na escuta da palavra da eucaristia de modo pleno da obediência da voz do Magistério.

Tudo por Jesus nada sem Maria

Jose benedito Schumann Cunha Bacharel em Teologia.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Diretas Já e as notícias ocultas

POR Mara Narciso
médica-endocrinologista e jornalista

O conhecimento é uma forma de poder. Estudar pode ser cansativo, mas saber é arma para as batalhas da vida. Fatos se sucedem e as noticias desfilam nos jornais. O que temos para hoje? No cardápio sangue cru, que não é imaginado, e sim visto pelas câmeras de segurança. passando pelas fontes midiáticas, nos deparamos com os mesmos fatos. Na verdade, há um agendamento das notícias que a população tomará conhecimento, incluindo aí o que os espectadores falarão a respeito. Teoria da Conspiração? Não. A Agenda Setting é matéria da Faculdade de Jornalismo. Não fala em manipulação e sim em escolha dos assuntos, do enfoque e do viés político. A Imprensa Livre é uma necessidade, mas, para opinar, tem o Editorial.

Nosso país está dividido em dois lados. Não gostar disso ou daquilo é normal, mas ter ódio e querer matar eram paixões restritas e não disseminadas como agora. A Grande Mídia contribuiu para isso. A Imprensa, além de escolher um lado, define o que o povo pode ver e com qual interpretação, alterando almas e corações. Insufla, destaca, critica, despreza, esquece. A escolha das palavras e do entrevistado fortalece a ideologia da emissora, pois, sem uma voz contrária, a Opinião Pública segue a sugestão. Sem contar as ameaças, caso o que querem não se concretize. Quantos comerciais foram veiculados travestidos de matéria jornalística? Não importa o desejo do público. A partir do produto que se precisa vender é criada a necessidade do alvo.

Um mesmo fato leva a interpretações opostas, de acordo com o interesse. Opiniões viram notícias. Desta forma, algo real com acréscimos ou invenções inteiras se dissemina. As redes sociais multiplicam as fake news ou notícias falsas. Alardear sua existência e ensinar como checá-las também é uma forma de censura. Aumenta o poder dos meios tradicionais. Quanto mais improvável, mais depressa se alastra. Há sites especializados em inventá-las. Muitos não se importam, mas outros se sentem ridículos quando, sem saber, espalham boatos.

De junho de 1983 até abril de 1984, aconteceram 30 comícios pela volta das eleições para presidente. “Diretas Já!”, termo criado por Henfil, foi um movimento para alterar a Constituição (1967) da Ditadura Militar, que durou de 1964 a 1985.  O deputado federal Dante de Oliveira, que era mato-grossense, fez a proposta da emenda para voltarmos a escolher o ocupante do maior cargo da nação. Aconteceu um comício com 50 mil pessoas em Curitiba/PR. A Rede Globo não o noticiou em nível nacional. Depois, no dia 25 de janeiro de 1984, teve outro comício pelas "Diretas Já!" em São Paulo, dito como comemoração do aniversário da cidade. Então, veio a maior das manifestações no dia 10 de abril de 1984, na Candelária, no Rio de Janeiro, que reuniu um milhão de pessoas e foi comandada por Leonel Brizola. Perdendo espaço para o "Jornal da Manchete", empresa incipiente, a Vênus Platinada teve de informar. A monografia “A Cobertura da Rede Globo sobre o movimento Diretas Já: choque de versões”, na voz de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, conta que o Comando Militar fez pressão sobre Roberto Marinho, dono da Rede Globo, vetando a divulgação do fato, pois contrariava seu interesse. Acuado, Marinho divulgou para não perder público e credibilidade.

Como a Rede Globo costuma se posicionar contra as causas populares acaba entrando em colisão com os desejos do seu público consumidor, mas este não percebe a manobra. Para quem ainda acredita que, “se não deu no "Jornal Nacional", não aconteceu”, os comícios das "Diretas Já!" são a prova. Esconder notícia é comum, especialmente quando, ao repercutir, ferirá os interesses daquele veículo de comunicação. Então, se por um lado há as fakes news, por outro há as hidden news, as notícias escondidas. Para formar opinião, é preciso ir além da Grande Mídia, visitar fontes alternativas e a Blogosfera. Somos todos manipuláveis, até mesmo os formadores de opinião, pois, sem motivo aparente, mudam seu discurso. A dúvida é a única certeza da internet, assim como das veiculações da Grande Mídia. O que estaria por trás daquela abordagem?

segunda-feira, 16 de abril de 2018

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Os 7 Pecados Capitais: Vingança


Ele estava por volta dos 13 anos de idade. Pesava mais de 50 quilos. Era cliente assíduo do “Comilão Lanches” e apaixonado por um time de futebol de massa. O seu pedido era sempre um “Mata-Fome” ou um “X-Tudo”. Solicitava que o entregador subisse os mais de 50 degraus da sua residência para entregar o pedido e receber o dinheiro pelo serviço.

Possuía onze camisas do time de futebol a qual torcia apaixonada e orgulhosamente. Na década de 1990, o seu clube do coração perdeu de 6 a 1 para um time paulista do interior. O jogo começou às 16h. Foi dormir por volta das 18h. O seu dia de sábado e o seu domingo estava arrasado. As gozações seriam terríveis. Afinal, toda brincadeira tem um fundo de verdade.

Assim como o facebook e o whatsaap substituem a internet neste mundo pós-modernoso e cavernoso, o futebol, para ele, substituía todos os esportes que existiam. Depois que fez faculdade, tomou mais consciência social. A torcida operacionalizada e industrializada por futebol se esgotou. Doou suas 11 camisas de um time de futebol qualquer para o futebol varzeano do interior norte-mineiro, onde a verdadeira alegria do esporte bretão brota espontaneamente.

Jamais imaginaria que a vingança do torcedor doente de hoje se concentraria no esgoto. O esporte, o futebol em especial, retira todas as sociabilidades primárias do torcedor. O ser humano passa a ser uma coisa, um produto moldado pelo mercado. Nem lembra que aquela camisa de R$ 150 lhe custou alguns dias de serviço pesado. E para um assalariado, o custo é muito maior.          

terça-feira, 10 de abril de 2018

A reunião faz a força

Depois da morte do papa João Paulo II, a Igreja católica no Norte de Minas Gerais lançou um projeto para evangelizar de quarteirão em quarteirão. Seria como uma pastoral de conjunto para reunir pastorais, comunidades e demais organismos arquidiocesanos. A data de publicação do texto é de terça-feira, 31 de maio de 2005. Vale à pena a sua releitura para uma melhor contextualização no mundo capitalista contemporâneo.   

Do dia primeiro a três de abril desse ano, a Arquidiocese de Montes Claros (Arquimoc) realizou, na Casa de Pastoral, Bairro Santo Antônio, o 1º Encontro de Capacitação de Agentes para a Pastoral de Quarteirão, novo organismo arquidiocesano que visa anunciar o Evangelho de Jesus Cristo de quarteirão em quarteirão da cidade. Cerca de 150 pessoas das 48 paróquias e quase-paróquias da Arquimoc participaram da formação. O arcebispo metropolitano de MOC, dom Geraldo Majela de Castro, em abertura da cartilha “Uma ajuda para organizar a Pastoral de Quarteirão”, lembra dos ensinamentos do papa João Paulo II (1978-2005).


“Em 1992, o santo padre, o papa João Paulo II, falava-nos em promover uma evangelização renovada com novos métodos e novo ardor missionário. Um método novo e com conteúdos atuais a partir das necessidades das pessoas. É a evangelização saindo dos templos para atingir as residências por vizinhança, tornando-se aos poucos uma verdadeira Pastoral de Quarteirão e fazendo surgir comunidades em torno dos Círculos Bíblicos”, escreve o arcebispo dom Geraldo que, quando diz Círculos Bíblicos, refere-se aos encontros comunitários da Arquimoc para refletir os textos da Bíblia Sagrada. 


Complementando as palavras de dom Geraldo Majela, o padre José Flávio Monnerat Tardin, que ministrou a 1ª Formação Arquidiocesana da Pastoral de Quarteirão, diz que o novo organismo deseja difundir os valores evangélicos e consolidar a vida em comunidade, a exemplo das primeiras comunidades cristãs, descritas na Sagrada Escritura. “Jesus deu à Igreja o mandamento missionário de ir pelo mundo e pregar o Evangelho a toda criatura. A Igreja ainda não cumpriu plenamente esse mandamento. Muita gente não conhece o Evangelho”, explica o sacerdote jesuíta da Paróquia Santíssima Trindade do município de Santa Luzia, que pertence à Arquidiocese de Belo Horizonte.


Preocupação

Para padre Tardin, “a Igreja se preocupa com o fato de muitos batizados não viverem conforme o seu Batismo e não participarem da vida da comunidade cristã”. “Eles não vivem segundo o Evangelho”, acrescenta o sacerdote jesuíta que define a Pastoral de Quarteirão como uma pastoral de visitas às famílias. “A gente fala Pastoral de Quarteirão pelo fato de que se determina um quarteirão e procura-se visitar todas as pessoas daquela quadra”. “É uma visita para criar amizade, evangelizar as famílias e convidá-las para participar da comunidade, inicialmente através dos Círculos Bíblicos e depois de outras organizações comunitárias”, esclarece padre Tardin que, para trabalhar o assunto, dividiu os participantes do encontro em 20 grupos, que se reuniram depois em sete mini-plenários.

Em sua Paróquia, padre Tardin já sentiu como a Pastoral de Quarteirão pode se tornar realidade. “Tivemos um momento forte em janeiro com as missões populares e procuramos dar continuidade a isso. Teve bom resultado. Trouxe bastante entusiasmo para a Paróquia”, testemunha o sacerdote jesuíta, que conseguiu unir 200 cristãos de boa vontade que visitaram em uma semana praticamente todas as famílias da Paróquia Santíssima Trindade de Santa Luzia.

E Montes Claros também teve uma experiência nesse sentido. A Igreja-Mãe da Arquimoc, a Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Catedral), viveu na passagem de fevereiro para março a ‘Via Sacra nas Ruas’, a propósito da Semana Santa desse ano. “A Via Sacra nas Ruas da Paróquia, que praticamente envolveu toda a comunidade, foi uma grande oportunidade para motivar a Pastoral de Quarteirão Paroquial. Era anseio nosso que as pessoas se envolvessem e, dentro de um estudo à luz do Evangelho, refletissem a realidade social das ruas, das casas e das famílias da Paróquia”, conta Eduardo Souto Chaves, conselheiro paroquial há dois anos e fiel da Catedral há 12.

Segundo Eduardo Chaves, o objetivo da ‘Via Sacra nas Ruas’ foi cumprido. “A gente pôde perceber a alegria das pessoas com esse trabalho”, revela o conselheiro ao indicar aumento do interesse das pessoas em ajudar a Paróquia. Em um mês de trabalho, o projeto de evangelização da Catedral percorreu as 70 ruas da Paróquia.   

Avanços

De acordo com balanço das paróquias e quase-paróquias do Setor Centro da Arquidiocese de Montes Claros (Arquimoc), Nossa Senhora de Fátima, São José Carpinteiro e Maria de Nazaré, Sagrada Família, Nossa Senhora Aparecida (Catedral), São João Batista, Nossa Senhora de Montes Claros e Beato José de Anchieta e São Sebastião, a equipe paroquial de animação para a Pastoral de Quarteirão está organizada e já articula com as comunidades os agentes que participarão como missionários desse novo organismo arquidiocesano.

A Quase-Paróquia São José Carpinteiro e Maria de Nazaré vê nos Círculos Bíblicos oportunidade de estruturar sua Pastoral de Quarteirão. A Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Catedral) partiu de experiência familiar com a mobilização do projeto ‘Via-Sacra nas Ruas’. A Paróquia São Sebastião enviou os missionários dessa nova Pastoral em Cerimônia Religiosa do dia 15 de maio, após participação em retiro espiritual.

O repasse da cartilha “Uma ajuda para organizar a Pastoral de Quarteirão” na Igreja-Mãe da Arquimoc acontece sempre na reunião do Conselho Paroquial de Pastoral (CPP), que pretende realizar um trabalho com algumas pastorais e grupos específicos, como a Legião de Maria, o Encontro de Casais com Cristo (ECC) e o Grupo de Jovens. No Bairro Maracanã, na Paróquia Nossa Senhora de Montes Claros e Beato José de Anchieta, foi feito o primeiro repasse para a equipe central paroquial e depois para o Conselho Paroquial. Na Paróquia São João Batista, Bairro Alto São João, a cartilha foi apresentada aos conselheiros.

Na Sagrada Família, cada coordenador de comunidade recebeu a cartilha e enviou agentes para a capacitação na Paróquia com as pessoas que foram ao 1º Encontro Arquidiocesano de Formação da Pastoral de Quarteirão. Na São Sebastião de MOC, os missionários pastorais também estudaram a cartilha e já adiantaram o trabalho de implantação desse novo organismo comunitário.

Entidades de Vida

Já as entidades de vida e aliança da Arquidiocese de Montes Claros, como a Associação Cultural Nossa Senhora de Fátima e Arautos do Evangelho, vêem a nova Pastoral como solução para o momento atual de evangelização cristã. Para João Henrique Mota, seis anos de Arautos do Evangelho e que representou a entidade montes-clarense na 1ª Formação Arquidiocesana da Pastoral de Quarteirão, o organismo pode atrair as pessoas para os movimentos de Igreja. “A Pastoral é um convite para as pessoas que não estão muito engajadas nos nossos organismos”, considera o Arauto do Evangelho.

domingo, 8 de abril de 2018

Greve Geral

POR Mara Narciso

As conquistas trabalhistas dependem de negociação ou confronto entre a parte fraca e a que detém o poder. De um lado há quem executa o trabalho e do outro, quem paga por ele. O trabalhador entrega sua produção e quem a remunera quer ter dispêndio pequeno, exceto quando gastar mais significa um lucro muito maior. Em geral, investe e exige o melhor resultado. No balcão de negócios deve haver troca combinada, não favores. As forças desproporcionais dificultam o equilíbrio. Quando os mais fracos se unem, a chance de resultado justo é maior.

A greve, geralmente coletiva, acontece quando a possibilidade de acordo foi esgotada. Ninguém decide parar por gosto pela paralisação. A tensão de uma greve só pode ser avaliada por quem já passou por uma delas. O governo é um ser temporário, com grande força e poder, daí ser difícil negociar com ele. A queda de braço ocorre para o lado patronal. No caso de professores, é comum o sindicato pedir um aumento calculado sobre planilhas e aceitar algo bem menor. As perdas dessa categoria são gritantes e se ampliam no dia a dia. No começo de cada paralisação, o lado sem capacidade de barganha é dos estudantes. Toma partido dos professores, mas em pouco tempo os abandona.

Em setembro de 1981, depois de concluir um ano de Residência em Clínica Médica, eu fazia o 1º ano de Residência Médica em Endocrinologia e Metabologia na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Era um trabalho exaustivo, subindo os 13 andares do prédio pelas escadas, muitas vezes por dia. Olhávamos doentes internados em todas as alas da Santa Casa, do Sanatório e do Hospital São Lucas. No domingo, um único residente poderia atender, nos três hospitais, até 60 pessoas. Com excelentes professores, era desafiador avançar, pois, para ensinar e aprender, nem eles e nem nós recebíamos pelo trabalho. O SUS [ainda significa Sistema Único de Saúde?] pagava estadia e remédios dos pacientes.

Um dia, o MEC - Ministério da Educação e Cultura ordenou que os médicos residentes fossem pagos. Fomos convidados a participar de uma reunião com a AMIMER - Associação Mineira de Médicos Residentes no auditório da Santa Casa. Gostamos da retórica e argumentação dos colegas engajados, brilhantes esquerdistas, e, imaginando poder fazer cumprir a lei, entramos em greve. Não mais atendíamos aos doentes. Ficávamos na porta do hospital com faixas, gritando palavras de ordem. Foram suspensas as internações, e nossos professores atenderam os pacientes até a alta. O hospital se esvaziou, e os colchões de plástico azul sem lençóis brilharam no abandono.

Um dia saímos em caminhada de protesto até o centro da cidade. Foi no início da abertura política, quando o General João Figueiredo colocava em prática a Anistia Ampla, Geral e Irrestrita proposta pelo General Ernesto Geisel. Ainda assim, a nossa passeata, que apoiou com faixas a iminente fundação da CUT - Central Única dos Trabalhadores foi acompanhada por uma tropa de choque que fez um ameaçador cordão de isolamento ao lado dos manifestantes, portando imensos cassetetes e cães policiais. Andamos da Santa Casa até a igreja São José, na Avenida Afonso Pena, onde nos sentamos nas escadarias.

O grevista não está de folga, nem de férias, não relaxa, não descansa, apenas espera. Há alta tensão na luta devido às forças desproporcionais entre as classes. A greve amarra o fraco em correntes e busca uma solução viável para o trabalho continuar. Nossa paralisação durou 31 dias e a lei não foi cumprida. A Santa Casa transmutou a nossa Residência Médica conquistada através de árduo concurso em Estágio Médico (éramos profissionais formados, com registro no CRM - Conselho Regional de Medicina), ainda que tivesse força curricular de Residência. Na documentação ficamos com o 1º ano classificado como Residência e o 2º ano como Estágio. Ponto para o poder e a força. Não se iluda: o forte nada entrega ao fraco. Quando alguém perde, outro alguém ganhará e isso não é justo.

Domingo, 08 de abril de 2018

segunda-feira, 2 de abril de 2018

“Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá” (Gonçalves Dias)

POR Mara Narciso

O canto dos passarinhos me leva para longe, no tempo e no espaço. Volto ao quintal dos meus avós de ouro Petronilho Narciso e Dona Du, maravilhosos, que nunca olharam para mim com olhos de repreensão, só de amor. E eu nunca fui uma menina quietinha, incluindo aí uma subida ao telhado da minha casa aos três anos de idade. A morada dos meus avós, próxima da Catedral, era uma casa imponente, para abrigar os nove filhos do casal. Bem construída, altiva, subia-se alguns degraus para alcançá-la. Tinha um jardim cheio de rosas e dois coqueiros, um alpendre, seis quartos, duas salas grandes, um imenso corredor, uma sala de banho e uma cozinha com uma mesa para uma boa conversa.

O paraíso das crianças era o quintal acimentado, com árvores frutíferas, destacando-se o umbuzeiro e a goiabeira. Mas por lá, em cada época brilharam o abacateiro, o pé de pinha (na safra eu era recebida com uma pinha madurinha, que minha avó me segredava ser só para mim), jabuticabeira, ameixeira e mangueira. O umbuzeiro ficava no canto direito ao fundo. Tinha um tronco robusto, e havia se deitado no chão. Essa particularidade o fazia montaria atraente para as crianças. Quando era inverno, a árvore ficava despida dos galhos até as pontas. Na primavera brotava um verde claro intenso. Então, vinha a floração cheirosa e abelhas e passarinhos chegavam. Da polinização aconteciam os frutos, que amadureciam grandes, com pele lisa e polpa doce. Na alta safra, cobriam o chão, eram recolhidos e lavados, enchendo várias bacias. No fim do dia, a família se reunia em volta dos umbus, que nós chamávamos de imbus.

Aquelas árvores encantadas atraiam os passarinhos, que eram majoritariamente pardais. A caça com espingarda de chumbo era livre, e no mercado aves eram vendidas livremente. Parecia que a natureza era inesgotável. As chuvas eram volumosas, tinha muita água, e os frutos faziam lama. Ocupando grande parte do quintal havia o corador, para alvejar roupas. Era amplo e alto, feito um palco. Nele nos deitávamos para olhar o céu e reparar as nuvens. Nas tardes a família maior, com tios e primos, se sentava para conversar. Era quando as aves vinham descansar nas árvores. A algazarra nos dava tranquilidade. A vida fluía normal.

Décadas depois, quando fazia caminhadas numa área rural em Janaúba, experimentei sensação semelhante. De manhã, os passarinhos cantavam festejando o nascer do dia e no crepúsculo voltavam cantando para casa. Tal lembrança me traz uma nostalgia boa.

Há em Montes Claros concurso de canto de pássaros com premiações. Os animais são reproduzidos em cativeiro e legalizados pelo cadastro e normas do IBAMA. Cada expositor pode ter no máximo 30 aves. Os animais prisioneiros têm uma caneleira colocada em uma de suas pernas logo ao nascer. São numeradas e invioláveis. À medida que vão crescendo, os que mostram habilidade especial são treinados. Cantam apenas uma melodia, que precisa ter tamanho e variações específicos para merecer a premiação. As disputas são divulgadas entre os criadores de cada raça, e a contenda se dá ao ar livre. Os animais podem custar até dez mil reais, no caso do trinca-ferro. São tratados a pão-de-ló. Quando morre um campeão, o dono fina um pouco, junto com ele. De um modo geral, os proprietários, grandes apaixonados, sabem assobiar igual a sua ave, mas precisam fazer silêncio total, deixando-a fazer o que sabe. No momento da disputa, coloca-se um pássaro ao lado do outro, nas gaiolas, e se dá o desafio, jamais um dueto.

Desde que caçar animais silvestres se tornou crime inafiançável trouxe de volta muitas espécies até então desaparecidas, inclusive a rolinha do planalto em Botumirim, com seu canto peculiar, sumida por 75 anos. E assim, o canto das aves faz seu despertar festivo, remove tristezas, traz saudades e esperança, em palmeiras, infelizmente, a cada dia mais escassas.