POR Mara Narciso
médica endocrinologista e jornalista
Num
sábado à tarde, entrei na sapataria
em frente ao Chopp Time, no Ibituruna Center Shopping. Passei com os
olhos e ouvidos esticados para um moço que tocava e cantava sobre um
pequeno tablado. Foi a primeira vez que o vi cantar, e de cara percebi
ser impossível ficar indiferente à presença e voz
de Beu Viana. A sua maneira de se expressar é peculiar e única, e essa
característica é clara desde a primeira audição. Fiquei atenta àquele
fundo musical de repertório catado no melhor baú. Ao sair da loja, dei
um tchau acompanhado de um sorrisão satisfeito.
Era meu sinal de rasgada aprovação.
Outra vez foi no casamento de Rodrigo
Marques e Lívia Sales, quando eu me desmanchei ouvindo sua banda cantar rock. O Tatarana Trio tem também Rafael Carneiro Lobão na bateria e vocais e Júlio
Gonçalves no baixo e apresenta shows com repertório dos Beatles e Roberto Carlos, mais puxado para o rock. Segundo Alana Freitas do jornal "Gazeta Norte-Mineira", em
25 de agosto de 2017, “a banda é considerada uma
das mais técnicas no cenário atual de rock em Montes Claros e região”.
Registrado
como Frederico Viana Pinheiro,
Beu Viana, aos 40 anos, toca um violão e guitarra maravilhosos,
aprendido em sua cidade natal, Porteirinha. Lá fez sua primeira
apresentação musical, ainda menino, e foi se aperfeiçoando como músico.
Fez Direito na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), torce pelo Cruzeiro, tem dois cachorros,
mora no Bairro Morada do Parque e faz apresentações na Feirinha NaMorada. O “Samba Decantando” é uma música de sua autoria.
Na
carreira solo, apresenta-se nos
bares da cidade, seguindo uma agenda preestabelecida. No Twitter, se diz
músico e poeta e convida para seus shows. Os locais mais recentes foram
Degrau's, Bar dos Amigos - no sábado com Clássicos do Samba, Ana Terra
Gastrobar e Agave.
Quando
se vê a estrutura física do
cantor, pode-se pensar que faça esforço para cantar e tocar, o que não
ocorre. É exímio no dedilhar das cordas e cantar lhe é tão fácil, que
desempenho e imagem se casam harmoniosamente. Seu natural é ser natural,
e quando canta, incorpora os cantores de cada
música que interpreta, de uma forma indescritível. Ao mesmo tempo em que
veste parte da voz do cantor original, buscando a entonação de quem a
gravou, simultaneamente canta de um jeito novo e cativante. Nem imagino
como faz isso, o que se traduz em festa para
quem o assiste.
Aparentemente
contido, sua melhor
comunicação é o canto, mas já elogiei poema dele. Numa entrevista dada a
Ricardo Guimarães no Programa Viola, em 2015, Beu fala das inúmeras
influências que sofre, ainda que tenha suas preferidas. Em seus shows,
passeia por todos os bons ritmos, como MPB, Roberto
Carlos, Raul Seixas, Clube da Esquina, Tropicália, Beatles, Rolling
Stones, Pink Floyd, Rock e Pop Internacional.
Atende
pedidos, inventa um roteiro,
enquanto, da sua boa memória, brotam letras exatas e ótima pronúncia,
quando canta em Inglês. De um jeito simples, apresentando músicas
autorais e antigas - reclamam disso, mas “cantar música de velho, eu
imputei como elogio”, diz Beu, acostumado ao assédio
da plateia, que não lhe deixa sossegar, aplaudindo e indo ao palco
elogiá-lo.
E
quem o vê assim, concentrado, rosto
virado para um lado e olhos semicerrados, cantando música nordestina,
como a maravilhosa “Lamento Sertanejo” de Gilberto Gil e Dominguinhos,
não imagina que ele já se fez acompanhar pela Orquestra Sinfônica de
Montes Claros. Foi na Festa de Natal de 2013, quando
também cantou “Sal da Terra”, de Beto Guedes e Fernando Brant.
No
sábado, dia 13 de outubro, estivemos
no Ana Terra Gastrobar, na Vila Regina. Naquela noite difícil, na qual a
notícia da perda de Georgino Júnior nos sufocava, juntamente com o
calor de 33 graus em plena 21 horas, vimos acontecer o impossível: a
noite ser embalada pelo magnífico show de Beu Viana.
Ao ar livre, debaixo de árvores, com boa comida e repertório para
agradar o mais exigente dos ouvintes, nos deleitamos até o final.
Declarei: Beu, você nos salvou! O músico se transporta e nos leva
junto. Show é Beu Viana. Ou melhor, Beu Viana é show! Quanto
ao estilo, o cantor é inclassificável, porém como artista, é fácil
classificá-lo. É muito bom, porém, resulta num problema que tem remédio:
exige bis.
Domingo, 28 de outubro de 2018