Entre janeiro e novembro deste ano foram mais de 66 mil diagnósticos; no mesmo período de 2021, o número era de 15 mil; período crítico da doença ainda está por vir
POR Vitor Fórneas e Juliana Siqueira
Minas Gerais está em alerta diante do aumento de casos de dengue e, consequentemente, das mortes provocadas pela doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Somente de janeiro a novembro deste ano foram mais de 66 mil diagnósticos, sendo que, no mesmo período de 2021, o número era de 15 mil - aumento de 340%. Os óbitos também tiveram elevação: de seis para 63 - 950%.
A preocupação em relação à enfermidade se dá pelo fato de ainda não termos iniciado o período do verão, época do ano com patamares mais elevados. “O aumento no número de mortes é proporcional ao número de casos. O ano de 2022, apesar de não ser ano epidêmico, tem sido muito característico, pois estamos tendo epidemias localizadas. Muitos casos em municípios pequenos”, diz a coordenadora estadual de Vigilância das Arboviroses, Danielle Capistrano.
O crescimento significativo do número de casos da doença, de acordo com a epidemiologista Luana Araújo, guarda relação, principalmente, com a falta de ações mais enfáticas de controle da proliferação do Aedes aegypti. O foco maior no combate à Covid-19 acabou gerando um comportamento de ‘cobrir um santo e descobrir outro’, segundo ela.
“Quando a gente perde de vista esses programas que são básicos para o controle do vetor, uma vez que não conseguimos erradicar a doença, esse tipo de crescimento dos números acontece. Houve muita atenção e recursos desviados para a Covid-19”, afirma ela.
A especialista salienta que, ao longo dos anos, sempre houve uma resposta oscilante em relação à dengue no país; ou seja, em algumas épocas há mais casos, em outras, menos. No entanto, nunca se esteve perto de transformar a enfermidade em uma doença pouco importante. Por isso, é tão relevante redobrar os cuidados e não se esquecer de nenhuma ação de combate, mesmo em meio a outras preocupações, como com o coronavírus.
“Uma vez que a gente ainda não consegue controlar a presença do vírus propriamente dito, é importante controlar o mosquito. Quanto menos mosquitos a gente tiver, menos infectados teremos”, destaca.
O infectologista Leandro Curi também salienta que, atualmente, tem sido visto um número menor de campanhas em relação aos riscos e cuidados com a dengue, o que reflete diretamente nos números da doença. “Talvez, tenha havido um descuido enquanto sociedade. Atualmente, não vemos tantas pessoas falando sobre a necessidade de limpar calhas, pneus, paredes de piscina. Há um certo descuido em relação ao controle. Eventualmente, as pessoas se esquecem das ações, o que abre possibilidades para o vetor”, diz ele.
Período chuvoso
O período chuvoso requer mais atenção de todos, conforme explica a coordenadora estadual de Vigilância das Arboviroses, Danielle Capistrano. “Estamos entrando agora no período sazonal da chuva. Temos o acúmulo de água, aumento da temperatura, e, por sua vez, o Aedes e as transmissões da doença”. É importante lembrar que, além da dengue, o mosquito transmite a chikungunya e o zika vírus.
“O período mais crítico está iniciando ainda e chama a nossa atenção. O ponto elevado de casos tende a ser nos meses de fevereiro, março e abril quando já estaremos no verão. Minas está em alerta [para casos de dengue] principalmente se pegarmos a série histórica e vermos que o número de casos está acima do que em outros anos”, ressalta a coordenadora.
Epidemias localizadas estão sendo observadas no Estado. As regiões com mais diagnósticos são, segundo Danielle, Triângulo e Sudeste de Minas Gerais. “Os municípios destas localidades já têm tendência para mais casos, o que não significa que será só por lá. Temos locais silenciosos que passam a ter aumento muito rápido quando chega o verão, já que o clima é quente e úmido”.
Cuidados redobrados
Para o Aedes realizar todo o ciclo e conseguir transmitir as doenças ele precisa de água parada e, muitas das vezes, o perigo está dentro das casas. “Os patamares mais altos para a dengue cria o alerta citado para que a população não deixe água parada. Várias pesquisas mostram que o vetor está em mais de 80% dentro dos domicílios”, afirma Danielle.
Medidas simples são essenciais no combate ao Aedes. “Visando combater o mosquito temos os agentes de controle de endemias que visitam as casas e fiscalizam os locais de água parada. Fazem tanto a remoção quanto a orientação da população. A chuva nos preocupa, pois as calhas ficam entupidas, garrafas viradas para cima, caixa d’água destampada e piscinas abandonadas”.
A parceria da população é importante, já que não basta somente as visitas dos agentes. A coordenadora cita as medidas adotadas pela administração. “O Estado tem feito diversas políticas para combater as arboviroses e estamos passando incentivo financeiro para os municípios. Tudo está no nosso portal na aba de ‘orientações’. O município precisa comprar equipamentos de proteção, veículos e investir na vigilância para fazer o controle do vetor e impedir o aumento de casos. Cada um tem que fazer a sua parte”. Ações de mobilização também acontecem nas escolas. “Somamos forças para que tenhamos um verão sem tantos casos de dengue”, finaliza.
Arboviroses em Minas
Arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos. As mais comuns em ambientes urbanos são dengue, zika e chikungunya. Os vírus causadores dessas doenças são transmitidos pelo Aedes aegypti. Veja os dados de Minas entre janeiro a novembro de 2021 e 2022:
Dengue
2021: Casos confirmados 15.255 / Mortes 6
2022: Casos confirmados 66.601 / Mortes 63
Chikungunya
2021: Casos confirmados 5.344 / Mortes 1
2022: Casos confirmados 5.405 / Mortes 0
Zika vírus
2021: Casos confirmados 25 / Mortes 0
2022: Casos confirmados 12 / Mortes 0
Prevenção
Confira os cuidados que podem e devem ser adotados pela população em suas residências e locais de trabalho para evitar a proliferação do Aedes aegypti.
Retire os pratinhos de vasos de plantas;
Coloque latinhas, embalagens plásticas e de vidro e material descartável em geral em sacos plásticos, feche bem;
Mantenha a lixeira tampada. Sempre ponha o lixo para recolhimento do serviço de limpeza urbana;
Mantenha caixa d’água, cisterna, barril/tambor e poço sempre bem fechados e sem deixar frestas;
Confira sempre se a calha está entupida, remova folhas e tudo que possa impedir o escoamento da água;
Entregue os pneus ao serviço de limpeza urbana. Caso precise deles, mantenha-os secos e guardados em local coberto;
Trate a água da piscina com cloro e limpe uma vez por semana;
Deixe a tampa do vaso sanitário sempre fechada. Em banheiro sem uso, dê descarga uma vez por semana;
Mantenha o quintal sempre limpo e livre-se de qualquer material que possa se tornar um foco da dengue (sacos plásticos, tampas de garrafas, cascas de ovos e embalagens em geral);
Retire sempre a água da bandeja externa da geladeira e do ar-condicionado. Lave-a com água e sabão;
Se não for usar garrafas PET e de vidro, coloque-as em um saco plástico para recolhimento da limpeza urbana. Se for utilizá-las, mantenhas-as em local coberto, secas e sempre de boca para baixo;
Seque todo material em uso que possa acumular água e guarde em local coberto.
Fonte: Jornal "O Tempo"