(...) Vive! Que eu viverei servindo/ Teu culto, e, obscuro,/Tuas
custódias esculpindo/No ouro mais puro. (...) [Trecho do Poema “Profissão de Fé”, de Olavo Bilac (1865-1918)]
Romeira morre atingida por galho de árvore durante peregrinação à Aparecida/SP: Uma romeira de 47
anos morreu durante peregrinação até o Santuário Nacional de Aparecida, na
terça-feira (10/10), à noite, em Pindamonhangaba, São Paulo. Um galho de árvore
caiu durante uma chuva e acabou atingido Poliana Abraão de Paiva, 47 anos.
Segundo o G1, ela fazia o trajeto da Rota Luz, roteiro usado pelos
peregrinos para chegar até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Por volta
das 17h, caía uma forte chuva e um galho caiu de uma árvore atingindo Poliana e
um carro. Ela fazia parte de um grupo de pessoas que seguia para celebrar o 12
de outubro, Dia de Nossa Senhora. Poliana foi socorrida pelo Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas chegou ao pronto-socorro já sem vida.
O irmão, Etienne Abraão, lamentou a perda. “Foi muito triste essa notícia.
Minha irmã ela trabalhadora, honesta, sempre cumpria obrigações. Estava no
trajeto para cumprir uma promessa”, afirmou.
A romeira era de Bilac, em São Paulo,
onde foi sepultada na quinta-feira (12). Segundo familiares, ela havia se
recuperado de uma forte crise de asma e iria para o Santuário em agradecimento.
“Ela recebeu essa graça e estudou muito o roteiro, como por exemplo quantos
quilômetros iria andar por dia. No trajeto ela foi adotada por um grupo, porque
ela estava sozinha”, explicou uma prima.
CRÔNICA
DA NOTÍCIA
Cuidado
com as palavras ao fazer uma oração
Poliana Abraão era solteira, asmática,
moradora do interior, devota de Nossa Senhora Aparecida e acostumada à vida
simples das cidades pequenas. Ao final da tarde, colocava sempre cadeiras na
porta da rua de casa à espera que alguém sentasse a seu lado e conversasse com
ela. Psicólogos e psiquiatras são bem caros para devotos de Nossa Senhora
Aparecida e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) vivem à míngua por causa
de políticas públicas de saúde municipais, estaduais e federais bastante
precárias. Há estacionamentos para guardar carros, a paixão nacional brasileira,
e casas e lojas vazias para o próximo interessado em pagar aluguel.
Os fundos municipais estão cheios de
dinheiro, mas, apesar da legislação exigir conselhos tripartites e deliberativos,
é o executivo quem manda na farsante democracia brasileira. Os pagadores de
promessas e os anormais devem se aventurar a fazer poesia, produzir arte do
lixo como Arthur Bispo do Rosário, virar um excelente pintor como Raymundo Colares ou encenar a vida atrás das cortinas do teatro como Igor Xavier.
Poliana adorava crianças e sonhava que
batizaria sua primeira filha com o nome de Ana. Foi curada da asma que a oprimia
e, para agradecer pelo milagre, jurou percorrer os quilômetros de Bilac a
Aparecida a pé. Poliana Abraão tinha a linguagem popular e afirmou. “Se Nossa Senhora
Aparecida me quebrar esse galho, firmo uma peregrinação até a cidade santa
brasileira nos 300 anos da imagem mameluca e barroca”.
Surpreendeu-se com tantos caminhões e carros
nas rodovias. Um desses caminhões, carregados de carvão originário do eucalipto
que seca a terra e a vida, encostou, em uma das árvores seculares às margens da
rodovia, no instante em que ultrapassava o carro de passeio que acolhia Poliana
Abraão. O galho caiu sobre o automóvel e matou a bilaquense.
Na porta do céu, Poliana se encontrou com
um certo Damião, que tinha os mesmos costumes da moça. Era vigia em uma escola
à noite, devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida, fazia picolés, produzia
escultura de animaizinhos no gesso, cuidava de uma horta em casa e, todo final
de tarde, saía à rua para conversar com seu pai. Damião só não gostava de uma
tal pós-modernidade que insistia em reformar sua cultura de raiz. Poliana e
Damião se casaram e herdaram as crianças Yasmim, Cecília, Renan, Juan Pablo,
Sidney Júnio, Ana Clara, Luiz Davi, Juan Miguel e muitas outras vítimas
capitais de uma sociedade produtora de tragédias em série. A professora de
Ciências da Religião, Heley, foi a sacerdotisa do casal e das crianças.
Amém!
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