Representados por integrantes de movimentos e pastorais sociais, como a
Pastoral da Terra, a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), a
Pastoral dos Surdos, a Pastoral Carcerária, a Pastoral do Menor, a Legião de
Assistência Recuperadora (O Nosso LAR), a Cáritas Arquidiocesana de Montes
Claros, o Setor Juventude, a Pastoral da Criança, o Conselho Arquidiocesano de
Leigos (Coarle), o Setor Social da Arquidiocese de Montes Claros se reuniu na
segunda-feira (16/10) para encaminhar compromissos a respeito do 1º Dia
Mundial dos Pobres, proclamado pela primeira vez no Vaticano através de
carta do papa Francisco. Os movimentos e pastorais sociais leram coletivamente
a Mensagem do papa Francisco para o 1º Dia Mundial dos Pobres.
O dia a ser celebrado é 19 de novembro e haverá mobilização social
durante toda a semana de 12 a 19 do penúltimo mês de 2017. No dia 13/11, está programada,
das 13 às 18h, na Praça Doutor Carlos, organização de exposição de informações,
imagens e formações impactantes sobre a realidade social de Montes Claros, no
Norte de Minas Gerais. Leia abaixo a carta do papa Francisco sobre o assunto.
Mensagem do
papa Francisco para o 1º Dia Mundial dos Pobres
23º Domingo do
Tempo Comum (19/11/2017)
“Não amemos
com palavras, mas com obras”
1. “Meus filhinhos, não amemos
com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade” (1 Jo 3, 18). Estas palavras do
apóstolo João exprimem um imperativo de que nenhum cristão pode prescindir. A
importância do mandamento de Jesus, transmitido pelo “discípulo amado” até aos
nossos dias, aparece ainda mais acentuada ao contrapor as palavras vazias, que frequentemente se encontram
na nossa boca, às obras concretas,
as únicas capazes de medir verdadeiramente o que valemos. O amor não admite
álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo,
sobretudo quando somos chamados a amar os pobres. Aliás, é bem conhecida a
forma de amar do Filho de Deus, e João recorda-a com clareza. Assenta sobre
duas colunas mestras: o primeiro a amar foi Deus (cf. 1 Jo 4, 10.19); e amou dando-Se
totalmente, incluindo a própria vida (cf. 1 Jo 3, 16).Um amor assim não pode ficar sem resposta. Apesar de
ser dado de maneira unilateral, isto é, sem pedir nada em troca, ele abrasa de
tal forma o coração, que toda e qualquer pessoa se sente levada a retribuí-lo
não obstante as suas limitações e pecados. Isto é possível, se a graça de Deus,
a sua caridade misericordiosa, for acolhida no nosso coração a pontos de mover
a nossa vontade e os nossos afetos para o amor ao próprio Deus e ao próximo.
Deste modo a misericórdia, que brota por assim dizer do coração da Trindade,
pode chegar a pôr em movimento a nossa vida e gerar compaixão e obras de
misericórdia em prol dos irmãos e irmãs que se encontram em necessidade.
2. “Quando um pobre invoca o Senhor, Ele atende-o” (Sl 34/33, 7). A Igreja compreendeu,
desde sempre, a importância de tal invocação. Possuímos um grande testemunho já
nas primeiras páginas dos Atos dos Apóstolos, quando Pedro pede para se
escolher sete homens “cheios do Espírito e de sabedoria” (6, 3), que assumam o
serviço de assistência aos pobres. Este é, sem dúvida, um dos primeiros sinais
com que a comunidade cristã se apresentou no palco do mundo: o serviço aos mais
pobres. Tudo isto foi possível, por ela ter compreendido que a vida dos
discípulos de Jesus se devia exprimir numa fraternidade e numa solidariedade
tais, que correspondesse ao ensinamento principal do Mestre que tinha
proclamado os pobres bem-aventurados e herdeiros do Reino dos céus
(cf. Mt 5, 3).
“Vendiam terras e outros bens e
distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um” (At 2, 45). Esta frase mostra,
com clareza, como estava viva nos primeiros cristãos tal preocupação. O
evangelista Lucas - o autor sagrado que deu mais espaço à misericórdia do que
qualquer outro - não está a fazer retórica, quando descreve a prática da
partilha na primeira comunidade. Antes pelo contrário, com a sua narração,
pretende falar aos fiéis de todas as gerações (e, por conseguinte, também à
nossa), procurando sustentá-los no seu testemunho e incentivá-los à ação
concreta a favor dos mais necessitados. E o mesmo ensinamento é dado, com igual
convicção, pelo apóstolo Tiago, usando expressões fortes e incisivas na sua
Carta: “Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres
segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos
que O amam? Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos
oprimem e vos arrastam aos tribunais? (…) De que aproveita, irmãos, que alguém
diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um
irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de
vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e matar a fome”, mas não
lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a
fé: se ela não tiver obras, está completamente morta” (2, 5-6.14-17).
3. Contudo, houve momentos em que os cristãos não escutaram
profundamente este apelo, deixando-se contagiar pela mentalidade mundana. Mas o
Espírito Santo não deixou de os chamar a manterem o olhar fixo no essencial.
Com efeito, fez surgir homens e mulheres que, de vários modos, ofereceram a sua
vida ao serviço dos pobres. Nestes dois mil anos, quantas páginas de história
foram escritas por cristãos que, com toda a simplicidade e humildade, serviram
os seus irmãos mais pobres, animados por uma generosa fantasia da caridade!
Dentre todos, destaca-se o exemplo de Francisco de Assis,
que foi seguido por tantos outros homens e mulheres santos, ao longo dos
séculos. Não se contentou com abraçar e
dar esmola aos
leprosos, mas decidiu ir a Gúbio para estar junto com eles. Ele mesmo identificou neste encontro
a viragem da sua conversão: “Quando estava nos meus pecados, parecia-me deveras
insuportável ver os leprosos. E o próprio Senhor levou-me para o meio deles e
usei de misericórdia para com eles. E, ao afastar-me deles, aquilo que antes me
parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo” (Test 1-3: FF 110). Este testemunho mostra
a força transformadora da caridade e o estilo de vida dos cristãos.
Não pensemos nos pobres apenas como destinatários duma
boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda,
de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz. Estas
experiências, embora válidas e úteis a fim de sensibilizar para as necessidades
de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a sua causa,
deveriam abrir a um verdadeiro encontro com
os pobres e dar lugar a uma partilha que
se torne estilo de vida. Na verdade, a oração, o caminho do discipulado e a
conversão encontram, na caridade que se torna partilha, a prova da sua
autenticidade evangélica. E deste modo de viver derivam alegria e serenidade de
espírito, porque se toca com as mãos a carne de Cristo. Se realmente queremos encontrar Cristo, é
preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à
comunhão sacramental recebida na Eucaristia. O Corpo de Cristo, partido na
sagrada liturgia, deixa-se encontrar pela caridade partilhada no rosto e na
pessoa dos irmãos e irmãs mais frágeis. Continuam a ressoar de grande
atualidade estas palavras do santo bispo Crisóstomo: “Queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos
seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no
tempo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez” (Hom. in Matthaeum, 50, 3: PG 58).
Portanto somos chamados a estender a mão aos pobres, a
encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do
amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um
convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor
que a pobreza encerra em si mesma.
4. Não esqueçamos que, para os discípulos de Cristo, a
pobreza é, antes de mais, uma vocação
a seguir Jesus pobre. É um caminho atrás d’Ele e com Ele: um caminho que
conduz à bem-aventurança do Reino dos céus (cf. Mt 5, 3; Lc 6,
20). Pobreza significa um coração humilde, que sabe acolher a sua condição de
criatura limitada e pecadora, vencendo a tentação de onipotência que cria em
nós a ilusão de ser imortal. A pobreza é uma atitude do coração que impede de
conceber como objetivo de vida e condição para a felicidade o dinheiro, a
carreira e o luxo. Mais, é a pobreza que cria as condições para assumir
livremente as responsabilidades pessoais e sociais, não obstante as próprias
limitações, confiando na proximidade de Deus e vivendo apoiados pela sua graça.
Assim entendida, a pobreza é o metro que permite avaliar o uso correto dos bens
materiais e também viver de modo não egoísta nem possessivo os laços e os
afetos (cf. Catecismo da Igreja Católica,
n. 25-45).
Assumamos, pois, o exemplo de São Francisco, testemunha
da pobreza genuína. Ele, precisamente por ter os olhos fixos em Cristo, soube
reconhecê-Lo e servi-Lo nos pobres. Por conseguinte, se desejamos dar o nosso
contributo eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro
desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a
erguê-los do seu estado de marginalização. Ao mesmo tempo recordo, aos pobres
que vivem nas nossas cidades e nas nossas comunidades, para não perderem o
sentido da pobreza evangélica que trazem impresso na sua vida.
5. Conhecemos a grande dificuldade que há, no mundo
contemporâneo, de poder identificar claramente a pobreza. E, todavia, esta
interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos marcados pelo
sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pelas torturas
e a prisão, pela guerra, pela privação da liberdade e da dignidade, pela
ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência sanitária e pela falta de
trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo exílio e a miséria,
pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças
explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e
do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a
elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da
avidez de poucos e da indiferença generalizada!
Infelizmente, nos nossos dias,
enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de
poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a
exploração ofensiva da dignidade humana, causa escândalo a extensão da pobreza
a grandes sectores da sociedade no mundo inteiro. Perante este cenário, não se pode permanecer inerte e, menos ainda,
resignado. À pobreza que inibe o espírito de iniciativa de tantos jovens,
impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza que anestesia o sentido de
responsabilidade, induzindo a preferir a abdicação e a busca de favoritismos, à
pobreza que envenena os poços da participação e restringe os espaços do
profissionalismo, humilhando assim o mérito de quem trabalha e produz: a tudo
isso é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade.
Todos estes pobres - como gostava de dizer o Beato Paulo VI - pertencem
à Igreja por “direito evangélico” (Discurso de
abertura na II Sessão do
Concílio Ecumênico Vaticano II, 29/IX/1963) e obrigam à opção
fundamental por eles. Por isso, benditas as mãos que se abrem para acolher os
pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos que
superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo
de consolação nas chagas da humanidade. Benditas as mãos que se abrem sem pedir
nada em troca, sem “se” nem “mas”, nem “talvez”: são mãos que fazem descer
sobre os irmãos a bênção de Deus.
6. No termo do Jubileu da Misericórdia, quis oferecer à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, para que as
comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal
concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carenciados. Quero que,
aos outros Dias Mundiais instituídos pelos meus Predecessores e sendo já
tradição na vida das nossas comunidades, se acrescente este, que completa o
conjunto de tais Dias com um elemento requintadamente evangélico, isto é, a
predileção de Jesus pelos pobres.
Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o
olhar, neste dia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e
pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo
único Pai celeste. Este Dia pretende estimular, em
primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do
desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é
dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se
abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal
concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos; foram os
homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom
originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão.
7. Desejo que, na semana anterior
ao Dia Mundial dos Pobres -
que este ano será no dia 19 de novembro, XXXIII domingo do Tempo Comum -, as
comunidades cristãs se empenhem na criação de muitos momentos de encontro e
amizade, de solidariedade e ajuda concreta. Poderão ainda
convidar os pobres e os voluntários para participarem, juntos, na Eucaristia
deste domingo, de modo que, no domingo seguinte, a celebração da Solenidade de
Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo resulte ainda mais autêntica. Na
verdade, a realeza de Cristo aparece em todo o seu significado precisamente no
Gólgota, quando o Inocente, pregado na cruz, pobre, nu e privado de tudo,
encarna e revela a plenitude do amor de Deus. O seu completo abandono ao Pai,
ao mesmo tempo que exprime a sua pobreza total, torna evidente a força deste
Amor, que O ressuscita para uma vida nova no dia de Páscoa.
Neste domingo, se viverem no nosso
bairro pobres que buscam proteção e ajuda, aproximemo-nos deles: será um
momento propício para encontrar o Deus que buscamos. Como ensina a Sagrada
Escritura (cf. Gn 18,
3-5; Heb 13, 2),
acolhamo-los como hóspedes privilegiados à nossa mesa; poderão ser mestres, que
nos ajudam a viver de maneira mais coerente a fé. Com a sua confiança e a disponibilidade para aceitar ajuda,
mostram-nos, de forma sóbria e muitas vezes feliz, como é decisivo vivermos do
essencial e abandonarmo-nos à providência do Pai.
8. Na base das múltiplas iniciativas concretas que se poderão realizar
neste Dia, esteja sempre
a oração. Não esqueçamos que o Pai Nosso é a oração dos pobres.
De fato, o pedido do pão exprime o abandono a Deus nas necessidades primárias
da nossa vida. Tudo o que Jesus nos ensinou com esta oração exprime e recolhe o
grito de quem sofre pela precariedade da existência e a falta do necessário.
Aos discípulos que Lhe pediam para os ensinar a rezar, Jesus respondeu com as
palavras dos pobres que se dirigem ao único Pai, em quem todos se reconhecem
como irmãos. O Pai Nosso é
uma oração que se exprime no plural: o pão que se pede é “nosso”, e isto
implica partilha, co-participação e responsabilidade comum. Nesta oração, todos
reconhecemos a exigência de superar qualquer forma de egoísmo, para termos
acesso à alegria do acolhimento recíproco.
9. Aos irmãos bispos, aos sacerdotes,
aos diáconos - que, por vocação, têm a missão de apoiar os pobres -, às pessoas
consagradas, às associações, aos movimentos e ao vasto mundo do voluntariado,
peço que se comprometam para que, com este Dia Mundial dos Pobres, se
instaure uma tradição que seja contribuição concreta para a evangelização no
mundo contemporâneo.
Que este novo Dia
Mundial se torne, pois, um forte apelo à nossa consciência crente,
para ficarmos cada vez mais convictos de que partilhar com os pobres
permite-nos compreender o Evangelho na sua verdade mais profunda. Os pobres não
são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a
essência do Evangelho.
Vaticano, Memória de Santo Antônio de Lisboa
13 de junho de 2017
Papa Francisco
Fonte: Vaticano
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