Para
celebrar os seus 10 anos de atuação social, a Pastoral Operária (PO) de
Vitória, do Estado do Espírito Santo, Sudeste do Brasil, produziu a cartilha “O QUE É O POVO? E O QUE É A MASSA?”.
Na verdade, são anotações realizadas por um operário do Setor de Itacibá, a partir
da palestra feita no IPAV [alguém sabe o que significa a sigla em 1985? Seria
Instituto de Pastoral Vocacional?], por Pedro Ribeiro de Oliveira, sociólogo e
que esteve presente no 6º Encontro de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs),
acontecido no ano de 2010, em Montes Claros, Norte de Minas Gerais. Com 12
páginas, a publicação é de 1º de setembro de 1985, na capital capixaba. Na
época da produção da cartilha, a Comissão Pastoral Operária da Arquidiocese de
Vitória tinha sede à Caixa Postal 107, CEP 29.000, Vitória (ES).
“O QUE É O
POVO E O QUE É A MASSA”, em letras maiúsculas mesmo. Agora vamos ao texto
propriamente dito. “Imagine um bloco de terra que represente parte da crosta
terrestre. Assim: [é mostrado um desenho]. Agora suponha que este bloco
representa A ELITE DE NOSSA SOCIEDADE [brasileira]. Neste bloco, estão os donos
de grandes porções de terra. Os donos de fábricas. Os banqueiros. Os
empresários [grandes e multinacionais]. O Governo sustentado pelas Forças
Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e ainda as PMs [Polícias Militares, Polícias Civis, Polícias Legislativas, Guardas Municipais].
Logo
se vê que este bloco de terra é muito forte. É por demais resistente. Agora
imagine que, por debaixo do bloco, corre um rio. Assim: [mostra-se outro
desenho]. E que o bloco faz cada vez mais pressão sobre este rio. Assim: [outra
ilustração]. Agora suponha que este RIO que corre por debaixo do bloco é o
POVO, e que a PRESSÃO DO BLOCO exercida sobre o rio é O ARROCHO SALARIAL, O
DESEMPREGO, O ANALFABETISMO, A FALTA DE TRANSPORTE, AS PÉSSIMAS CONDIÇÕES DE
SAÚDE, A DESNUTRIÇÃO, A FALTA DE MORADIAS, ETC... causados, acima de tudo, pela
política externa, pelo imperialismo norte-americano, pelo FMI [Fundo Monetário
Internacional].
Só
podemos chegar a uma conclusão: o rio ficará de tal forma exposto à PRESSÃO DO
BLOCO que procurará, de uma forma ou de outra, rompê-lo. Surgirão, rompendo o
bloco, algumas NASCENTES. Assim: [outra ilustração é mostrada]. Já que o BLOCO
é a ELITE, que o RIO é o POVO, vamos supor que as NASCENTES sejam as
ORGANIZAÇÕES DO POVO.
Temos
assim como NASCENTES, digamos: OS MOVIMENTOS POPULARES: (ver desenho na página
07) [quando são listados os organismos Comissão Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Pastoral Operária, a Comissão Pastoral da Terra, as Comunidades Eclesiais de Base, o Comitê de Senhoras, a Associação de Moradores, os Amigos de Bairro, o Partido Trabalhista
Brasileiro, o Partido Comunista Brasileiro, o Partido dos Trabalhadores, o
Partido do Movimento Democrático Brasileiro e outros, a Central Única dos
Trabalhadores, Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, Comissões de Fábrica, Federações e Sindicatos,
Meio Ambiente, Mulheres, Índios e Negros].
O
rio, porém, não é forte o suficiente para, por si mesmo, ter furado o bloco.
Vimos que foi preciso que houvesse uma pressão. Além do mais, após as nascentes
entrarem no exercício de suas atividades, convém lembrar que, hora por outra,
caem CASCALHOS, que desprendem-se do
bloco, prejudicando o fluxo normal das nascentes.
E
que CASCALHOS são estes? Podemos
citar alguns: as perseguições [cooptações
e assédios morais] às lideranças dos movimentos; intervenções em sindicatos [hoje através dos partidos políticos
dominantes e do marketing]; jogo psicológico para colocar o povo contra suas reais lideranças nos diversos movimentos populares [os meios de comunicação de massa, sobretudo a
televisão, o rádio e a internet, a mídia grande de um modo geral, fazem o papel
de transmissores da ideologia dominante quando lhe é conveniente]; prisões e torturas [principalmente
sobre as classes mais marginalizadas economicamente]; demissões de líderes sindicais; repressão a manifestantes, etc... e etc...
A
tentativa do presidente Sarney [até hoje é mandatário político] em dar poderes
constitucionais ao Congresso para feitura da NOVA CONSTITUIÇÃO, não permitindo
desta forma a participação popular no processo constituinte, pode ser encarado como
um destes CASCALHOS.
Devemos,
no entanto, ter em mente que, como a água do rio é, de certa forma, escassa, é
óbvio que, ora teremos uma FONTE mais FORTE, ora outra FONTE com menor FLUXO. Isto
porque a água que ora alimenta uma fonte passa a alimentar outra.
É
justamente, por esse motivo, que ora vemos o Sindicato mais forte e a
Associação de Moradores mais fraca. Noutra oportunidade, vice-versa, ou ainda
os dois fracos, e forte então o Partido Político.
Agora,
uma coisa fundamental precisamos saber. O rio não é fraco porque falta-lhe
água. Muito pelo contrário; há uma quantidade enorme de água num lago, também
debaixo do bloco de terra, que não entra no rio. [outra ilustração é mostrada].
Se o BLOCO de TERRA é a ELITE, se o RIO é o POVO e as NASCENTES as ENTIDADES DE
ORGANIZAÇÃO DO POVO (MOVIMENTOS POPULARES), então o que é O LAGO?
Importante
isso: Nem tudo que é MASSA é POVO! [Lembre-se da canção criada por Almir Sater
& Renato Teixeira: “Tocando em frente”, pois, é preciso “Conhecer as manhas e as manhãs/O sabor das MASSAS e das maçãs”].
O
POVO está constituído daquela parcela minoritária [não seria majoritária? Ou então
o autor quis dizer a classe proletária, como garis, serventes, pedreiros,
pipoqueiros, aqueles que só são realmente felizes em seus tempos de folga, como
todo ser humano] de GENTE SOFRIDA de
nossa sociedade [brasileira] que se manifesta através dos MOVIMENTOS POPULARES [ocupações urbanas e rurais de terras].
A
MASSA ainda é aquela parcela majoritária
que, apesar de MUITO SOFRIDA, por um
ou outro motivo, talvez até de certa forma justo, ainda não passou a
manifestar-se através dos MOVIMENTOS POPULARES existentes. [Massa hoje seria a grande classe média em suas perversas subdivisões mercadológicas].
No
entanto, vez por outra, esta MASSA ameaça
virar POVO. Por exemplo: durante a
campanha das [IN]DIRETAS JÁ, a maior parte daqueles que foram às ruas não eram
pessoas engajadas em nenhuma espécie de MOVIMENTO POPULAR. Isto por que? Porque a pressão que estava sendo exercida pela
ELITE sobre o POVO era tão grande, que chegou a agitar as MASSAS. Então a nossa realidade é esta: [mais uma imagem com a
ELITE ao centro e a pressão dos movimentos populares, massa e povo sobre a
ideologia dominante; a massa pode ser influenciada e manipulada em situações
como o Golpe Civil-Militar de 1º de abril de 1964, em campanhas como Brasil:
Ame-o ou Deixe-o, da compra de votos por R$ 200 mil cada da emenda da reeleição
em 1998, do impeachment da presidente Dilma Roussef que pedalou para salvar
tanto o agronegócio, como o programa bolsa-família].
Vemos
então que alguém passa a atuar nos MOVIMENTOS POPULARES, este alguém está
deixando de ser MASSA para ser POVO. A MASSA pode ser uma coisa ESTÁTICA,
PARADA. Pode ser considerada como simples MATÉRIA.
Quando
esta MATÉRIA começa a mexer-se, a preocupar-se com os problemas SÓCIO-ECONÔMICOS
do MEIO em que habita, ela então deixa automaticamente de ser simplesmente
MASSA. Começa a possuir VIDA. A locomover-se. [Seria como o fermento que faz
crescer o bolo. O POVO é o fermento que faz a MASSA se conscientizar enquanto
propulsora de transformações realmente sociais ou como o SAL que dá gosto à
comida].
Quando
bem preparada, bem alimentada, passa a ter FÉ em sua locomoção, em sua
capacidade de LIBERTAÇÃO [Foi o que ocorreu com a Revolução Bolchevique Russa de Outubro de 1917 brilhantemente liderada por Vladimir Lênin; com a Revolução
Cubana de 1959; com o período mais democrático brasileiro entre 1945 a 1964; o
POVO congrega soldados, artesãos, camponeses, trabalhadores urbanos e
intelectuais, une o trabalho intelectual ao trabalho manual, alimenta a MASSA,
e faz a revolução proletária].
Porém,
é importante lembrar o seguinte: Se a massa entra na correnteza do rio sem
procurar preparar-se [teoria e prática sintonizadas], pode prejudicar o fluxo
das nascentes.
Basta
para isto olharmos para dentro de nossos movimentos e descobrimos,
principalmente nos sindicatos e partidos políticos, como muitos têm atrapalhado
o bom andamento das coisas [na década de 1990, com o aparecimento do
neoliberalismo, tivemos a companhia das organizações não-governamentais, das
organizações da sociedade civil de interesse público, dos institutos e das
fundações que, com o suposto intuito de se solidarizarem com causas sociais e
ambientais, acabam por fazer pornografia nos movimentos sociais. O exemplo mais
recente é a Tragédia de Janaúba do dia 05 de outubro de 2017 ou a maior
tragédia ambiental brasileira: o Rompimento da Barragem do Fundão em 05 de
novembro de 2015. Os pobres sofrem com escolas em condições sempre precárias, a
barbárie dinamita gentes e as fundações e suas transgenias se aproveitam para
solicitar encarecidamente verbas governamentais. Caso não haja severa
fiscalização na aplicação das verbas, outras tragédias voltarão a ocorrer e o
povo pobre a sofrer as consequências eternas]".
Com digitação e acréscimos entre
colchetes da Pastoral Noturna Revolucionária
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