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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

domingo, 5 de maio de 2019

Estudar, aprender, saber

POR Mara Narciso. médica-endocrinologista e jornalista

“O estudo é a luz da vida”, dizia um escrito para lá de verdadeiro num singelo quadro negro, que eu ganhei no Natal aos sete anos. Na escola desde os quatro, frequentei escola formal durante 27 anos, incluindo os três anos de Residência Médica e mais ainda gostaria de frequentar. Não tenho medo dos bancos escolares e nem das ideias veiculadas nas escolas. Médica aos 24 e jornalista aos 54 anos, não entendo o mundo sem letras. E, se estudar não é a coisa mais gostosa de fazer, saber é a parte boa da história, item importante na separação das classes sociais, melhor do que qualquer outro critério de classificação. Pessoas que leem têm um aguçado senso crítico, que reduz a possibilidade de engano. Governos manipulam a informação e assim controlam populações, por isso os africanos escravizados não podiam estudar, e os que sabiam ler escondiam sua condição.

Tive a sorte de ter pai contador e mãe grande leitora, que depois se tornou médica, assim, Alcides Alves da Cruz e Maria Milena Narciso Cruz criaram em casa um ambiente de jornais, revistas e livros. Antes da nossa alfabetização, minha mãe nos lia revistinhas em quadrinhos. Pobres, tínhamos de buscar variedade na casa do meu avô Petronilho Narciso e na casa de amigas. Ainda assim meu pai nos colocou em escola particular, e, algumas vezes meu avô teve de pagar as mensalidades.

O livro clareia o mundo, sendo dois faróis iluminando o caminho. Quando a Veja não era um panfleto, e sim uma revista informativa, foi lida por mim semanalmente da capa a contracapa durante 30 anos. Opinativa, tive 22 cartas lá publicadas. O espírito crítico do qual falo se dava durante as minhas leituras desde aquela época, pois as questões opostas ao meu modo de pensar, não influenciavam minhas convicções, daí eu acreditar que adultos são pouco influenciáveis. Crianças, à medida que acontecem suas experiências, vão formando o seu modo de entender o mundo.

Há três anos vemos o desmonte do sistema educacional brasileiro, iniciado por Michel Temer e sua a PEC da Morte - Proposta de Emenda Constitucional 241, que congelou os gastos com educação e saúde durante 20 anos, a despeito do aumento populacional. Agora vemos Jair Bolsonaro entrar com voracidade na seara educacional, para castrar opiniões e formar pessoas de pensamento único. As universidades federais, seguidas pelos institutos federais entrarão em colapso com o corte de 30% em sua verba. Disseram que tal montante será investido no ensino básico, mas quem poderá garantir? Enquanto a UFMG está sem dinheiro para pagar as contas de água e luz, os cursos de Filosofia e Sociologia foram descartados. Sem cursos profissionalizantes, sem qualificação, mais sofridos ainda ficarão os pobres, com seu intelecto desprezado e eternizado como trabalhador braçal.

A sanha governista de caça ideológica, na verdade ideologiza à direita e oprime toda uma geração. A população de renda alta já está adestrada e a de renda baixa volta para a senzala. Penalizados com a realidade, muitos receiam pelos movimentos para trás das peças do tabuleiro Brasil, num retrocesso sem precedentes. O que nos acalenta é a música, que tem produzido canções de protesto. Além dela, nada mais nos salvará. Então, ainda que nunca tenha estudado em escola gratuita, defendo o ensino para todos. Quem sabe a Defensoria Pública possa fazer algo a favor do bem público?

Domingo, 05 de maio de 2019

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