ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

sábado, 30 de janeiro de 2016

Papa visitará a Suécia por ocasião dos 500 anos da Reforma


Papa visitará a Suécia por ocasião dos 500 anos da Reforma

Dia 31 de outubro, Francisco presidirá em Lund a celebração ecumênica católico-luterana



O Papa Francisco pretende participar da cerimônia conjunta entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial, para a celebração do 500º aniversário da Reforma, que será realizada em Lund, Suécia, na segunda-feira, 31 de outubro de 2016. A informação foi confirmada por uma declaração conjunta da Sala de Imprensa da Santa Sé, da Federação Luterana Mundial e da diocese de Estocolmo.

Para a ocasião, haverá uma cerimônia ecumênica, presidida pelo Papa juntamente com o bispo Munib A. Younan, presidente da Federação Luterana Mundial e por Martin Junge, secretário-geral da Federação, em colaboração com a Igreja da Suécia e a Diocese Católica de Estocolmo.

“A celebração vai dar destaque aos sólidos progressos ecumênicos entre católicos e luteranos e às conquistas recíprocas frutos do diálogo e será norteada pelo guia litúrgico católico-luterano ‘Oração Comum’, recentemente publicado”, escreve ainda a Federação Luterana.

“A Federação Luterana Mundial está se preparando para comemorar o aniversário da Reforma num espírito de responsabilidade ecumênica”, declarou o secretário-geral nota da LwF, Martin Junge, que disse estar “profundamente convencido de que, trabalhando para a reconciliação entre luteranos e católicos, trabalhamos pela justiça, pela paz e a reconciliação em um mundo dilacerado por conflitos e violência”.

Por sua parte, o cardeal Kurt Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, disse: “Ao concentrar-se juntamente na centralidade da questão de Deus, com uma abordagem cristocêntrica, luteranos e católicos serão capazes de celebrar uma comemoração ecumênica da reforma, não simplesmente de forma pragmática, mas com um sentido profundo da fé em Cristo crucificado e ressuscitado”.

O encontro ecumênico foi acolhido “com alegria e esperança” pelo arcebispo Antje Jackelen da Igreja da Suécia, que anunciou: “Vamos rezar juntos com toda a família ecumênica da Suécia para que a Comemoração contribua para a unidade dos cristãos em nosso país e em todo o mundo”.

Francisco será o segundo sucessor de Pedro a visitar o país nórdico. O primeiro foi São João Paulo II, que de 8 a 10 junho de 1989, visitou Estocolmo, Uppsala, Vadstena e Linköping.

A MISSÃO DO CRISTÃO TEM DESAFIOS

A MISSÃO DO CRISTÃO TEM DESAFIOS


Queridos irmãos e irmãs em Cristo, no domingo passado vimos a importância da Palavra de Deus para o Povo de Deus e a proclamação do livro de Isaias por Jesus, mostrando a missão Dele como libertador e salvador na força do Espirito Santo. Deus precisa de missionário da sua Palavra para que ela seja proclamada para toas as pessoas. Os profetas são portadores da Palavra de Deus para que o mundo acerte os passos em sintonia com a vontade de Deus.

Estamos hoje celebrando o 4º Domingo do tempo comum e a liturgia nos fala de dois profetas que sentiram a rejeição e o desprezo por estar fieis a missão que lhes é confiada. 
No livro do profeta Jeremias nos fala dele que é considerado o profeta das nações. No inicio ele recusa a missão que Deus lhe queria dar. Então Jeremias assim fala: "Eu não sei falar... sou apenas uma criança...", mas Deus não desiste e insiste para que ele aceite a missão que Ele quer lhe dar. Deus assim fala: "Antes de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações. Não tenhas medo, não conseguirão te vencer, estarei contigo para te livrar".

Assim, Jeremias aceita e foi um grande exemplo de disponibilidade e serviço da Palavra de Deus. O aparente fracasso faz com que ele lamente, mas Deus nunca o abandonou na misso que ele esta a cumprir. Nós não devemos desanimar nunca na missão que Deus nos der. (cf. Jr 1,4-5.17-19)
São Paulo na sua carta aos Coríntios nos exorta para vivermos a caridade que é a permanente porque se situa em Deus plenamente porque Deus é amor. Ele nos mostra o hino de amor e que nos alerta que sem amor nada tem sentido. A missão não pode ter interesse pessoas, mas fazer a vontade de Deus na experiência do amor incondicional que Deus tem para com todos. (cf. 1Cor 12,31-13,13)

O evangelista nos mostra Jesus, o grande profeta de Deus, sendo rejeitado pelos seus em Nazaré. Ate o profeta não é bem recebido em sua terra natal. Ele o rejeitaram porque o conheciam a sua família e Ele, mas esse conhecimento não os levou para acreditar na missão de Jesus no mundo, que é de levar a Boa nova do Reino de Deus. Jesus não faz milagre lá porque é preciso adesão a Ele e ainda comprometer com a vontade de Deus numa vida plena de amor e justiça de Deus. (cf. Lc 4,21-30)

Nós devemos procurar Jesus porque Ele é Deus e também querer fazer a sua vontade em nossa vida e de todos os nossos irmãos cumprindo a missão evangelizadora que devemos fazer para melhorar o mundo. Que esta liturgia nos ajude a sermos missionários da Palavra de Deus sem temer as oposições e reações negativas daqueles que não querem ouvir para que a nossa missão tenha bom êxito. O mundo precisa de bons missionários, pois Deus nunca nos abandonará.

Tudo por Jesus nada sem Maria.
Louvado Seja Jesus Cristo. 

Bacharel em Teologia Jose Benedito Schumann Cunha

domingo, 24 de janeiro de 2016

“Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa”

Papa no Angelus: “Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa”
Texto completo. Francisco recorda que “evangelizar os pobres: esta é a missão de Jesus; esta é também a missão da Igreja, e de todo batizado na Igreja”

Pope Francis Angelus

Queridos irmãos e irmãs, a Palavra de Deus é o guia mais seguro para a nossa jornada rumo ao Céu. Ele traz para nós libertação e salvação. O reino de Deus traz paz, justiça, amor, perdão e misericordia. Para tomar posse desse reno é preciso que cada cristão seja verdadeiro seguidores de Cristo, dando testmunho Dele e sendo missionario do evangelho.  Hoje percebemos claramente o poquê da vinda de Jesus ao mundo. 

Ele quer salvar a todos, libertando de tudo que não nos deixa ver o verdaeiro reino de Deus. Se amamos a Deus devemos ver Jesus nos necessitados, nos prisineiros, nos doentes, nos cegos e nos pobres desse mundo. O trabalho do cristão é estar em sintonia com Cristo que é o u
único caminho que chega ao Pai. O batismo nos habilita para estar com Ele e a graça que Ele nos dá através dos dons do Espirito Santo que temos para a gloria de Deus na Igreja que quer ser sinal do amor Dele no mundo. O amor liberta e nos leva a sermos verdadeiras imagem do Senhor. (Bacharel em Teologia Jose Benedito Schumann Cunha)


Às 12 horas de hoje, domingo, 24 de janeiro, o Santo Padre Francisco se aproximou da janela de seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano para rezar o Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro. Eis as palavras pronunciadas pelo Papa antes da oração mariana:



Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho de hoje, o evangelista Lucas antes de apresentar o discurso programático de Jesus em Nazaré, resume sua atividade evangelizadora. É uma atividade que Ele cumpre com a força do Espírito Santo: a sua palavra é original, porque revela o sentido das Escrituras; é uma palavra que tem autoridade, porque manda até mesmo nos espíritos impuros e eles obedecem (cf. Mc 1,27). Jesus é diferente dos mestres de seu tempo. Não abriu uma escola para o estudo da Lei, mas pregava e ensinava em todo lugar: nas sinagogas, pelas ruas e nas casas. Jesus é diferente também de João Batista que proclama o juízo iminente de Deus, enquanto Jesus anuncia o seu perdão de Pai.

E agora imaginemo-nos entrando na sinagoga de Nazaré, cidade onde Jesus cresceu até os trinta anos. O que acontece é um fato importante que delineia a missão de Jesus. Ele se levanta para ler a Sagrada Escritura. Abre o livro do profeta Isaías e encontra a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim; porque ele me consagrou com unção e me enviou para anunciar a Boa Nova aos pobres “(Lc 4,18). Depois de um momento de silêncio cheio de expectativa por parte de todos, diz, diante da perplexidade geral: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabaram de ouvir” (v. 21).

Evangelizar os pobres: esta é a missão de Jesus; esta é também a missão da Igreja, e de todo batizado na Igreja. Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa. Anunciar o Evangelho com a palavra e, primeiramente, com a vida, é a finalidade principal da comunidade cristã e de todo seu membro. Observa-se que Jesus dirige a Boa Nova a todos, sem excluir ninguém, aliás, privilegia os que estão distantes, os sofredores, os doentes, os descartados pela sociedade.

Perguntemo-nos: o que significa para evangelizar os pobres? Significa se aproximar deles, ter alegria em servi-los, libertá-los de sua opressão e tudo isso no nome e com o Espírito de Cristo, porque é Ele o Evangelho de Deus, é Ele a Misericórdia de Deus, é Ele a libertação de Deus, é Ele que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. O texto de Isaías, reforçado por pequenas adaptações introduzidas por Jesus, indica que o anúncio messiânico do Reino de Deus que veio ao nosso meio, se dirige de forma preferencial aos marginalizados, prisioneiros e oprimidos.

Provavelmente no tempo de Jesus estas pessoas não estavam no centro da comunidade de fé. E nos perguntamos: hoje, em nossas comunidades paroquiais, nas associações e nos movimentos, somos fieis ao programa de Jesus? A evangelização dos pobres, levar-lhes a Boa Nova, é a prioridade? Atenção: não se trata de prestar assistência social e muito menos de atividade política. Trata-se de oferecer a força do Evangelho de Deus que converte os corações, cura novamente as feridas, transforma as relações humanas e sociais segundo a lógica do amor. Os pobres, de fato, estão no centro do Evangelho.

A Virgem Maria, Mãe dos evangelizadores, nos ajude a sentir com vigor a fome e a sede do Evangelho que existem no mundo, especialmente no coração e na carne dos pobres. Que ela ajude cada um de nós e toda comunidade cristã a testemunhar concretamente a misericórdia, a grande misericórdia, que Cristo nos doou.

Depois do Angelus

Queridos irmãos e irmãs,

Saúdo com afeto a todos que vieram de diferentes paróquias da Itália e de outros países, bem como as associações e as famílias.

Em particular, saúdo os estudantes de Zafra e os fiéis do Cervellò (eu sou espanhol); os participantes da conferência patrocinada pela “Comunidade mundial para a meditação cristã”;  grupos de fiéis da Arquidiocese de Bari-Bitonto, de Tarcento, Marostica, Prato, Abbiategrasso e Pero-Cerchiate.

Desejo a todos um bom domingo e por favor não se esqueçam de rezar por mim! Bom almoço e até breve!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Mensagem do Papa Francisco para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais

Mensagem do Papa Francisco para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais


Holy See press office


Queridos irmãos e irmãs, pelo batismo somos chamados por Deus constantemente para ser porta voz do seu evangelho e ainda vivenciar a misericordia de Deus com todos os nossos irmãos e irmãs. O nosso coração deve estar aberto a todos, principalmente para aqueles que estão errantes nesse mundo. O erro traz cegueira espiritual e pode nos levar a um abismo. 

Mas se quisermos estar de volta com Deus da misericordia então vamos acertar o caminho vivendo a vida da graça de Cristo que vem ao nosso encontro pela palavra da Igreja, pelos sacramentos e pela sua Palavra que nos salva. O ser humano nasceu para se comunicar com Deus e com todos. Não se pode ficar parado nas diferenças e nem nas ideologias de cada um, mas deve sim estar sintonizados a Deus que é a fonte de toda comunicação. O primeiro a comunicar a nós é Jesus que veio estar conosco se encarnando na nosso historia. Ele nos mostra o valor da comunicação em familia e nos chama a oração que nos leva a união com Ele para que a graça seja abundante em nós. Ela vai nos conduzir ao Pai. (Bacharel em Teologia Jose Benedito Shumann Cunha)


Texto na íntegra 22 JANEIRO 2016

Publicamos abaixo o texto completo da mensagem do Papa Francisco para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais:



«Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo»

Queridos irmãos e irmãs!

O Ano Santo da Misericórdia convida-nos a reflectir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. Com efeito a Igreja unida a Cristo, encarnação viva de Deus Misericordioso, é chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.

Como filhos de Deus, somos chamados a comunicar com todos, sem exclusão. Particularmente próprio da linguagem e das acções da Igreja é transmitir misericórdia, para tocar o coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude daquela vida que Jesus Cristo, enviado pelo Pai, veio trazer a todos. Trata-se de acolher em nós mesmos e irradiar ao nosso redor o calor materno da Igreja, para que Jesus seja conhecido e amado; aquele calor que dá substância às palavras da fé e acende, na pregação e no testemunho, a «centelha» que os vivifica.

A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade. Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia. As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no digital. Assim, palavras e acções hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio. Ao contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação.

Por isso, queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e reconciliar-se. E isto aplica-se também às relações entre os povos. Em todos estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar, como se exprimiu muito eloquentemente Shakespeare: «A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza, Acto IV, Cena I).

É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar as pessoas em direcção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (…) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 7.9).

Como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis! A misericórdia pode ajudar a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu. O Evangelho de João lembra-nos que «a verdade [nos] tornará livres» (Jo 8, 32). Em última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja misericórdia repassada de mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar a verdade e condenar a injustiça. É nosso dever principal afirmar a verdade com amor (cf. Ef 4, 15). Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa.

Alguns pensam que uma visão da sociedade enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou excessivamente indulgente. Mas tentemos voltar com o pensamento às nossas primeiras experiências de relação no seio da família. Os pais amavam-nos e apreciavam-nos mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos. Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos, mas o seu amor nunca esteve condicionado à obtenção dos objectivos. A casa paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32). Gostaria de encorajar a todos a pensar a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros.

Para isso é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum.

Escutar nunca é fácil. Às vezes é mais cómodo fingir-se de surdo. Escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Na escuta, consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5). Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo.

Também e-mails, sms, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral. Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia, «nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação» (Misericordiae Vultus, 23). Em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha.

A comunicação, os seus lugares e os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir este poder da comunicação como «proximidade». O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade.

Vaticano, 24 de Janeiro de 2016.

Franciscus

Pietro Maso: “Eu era o mal e o Papa Francisco teve compaixão por mim…

Pietro Maso: “Eu era o mal e o Papa Francisco teve compaixão por mim…”

Homem que matou os pais fala exclusivamente à revista italiana “Chi” sobre este ato brutal e o telefonema que recebeu do Papa

Photo Courtesy Of "Chi" Redaction (Mondadori)


“Não há santo sem passado, nem pecador sem futuro”, disse o Papa Francisco na homilia da missa em Santa Marta nesta terça-feira (19). Palavras de esperança para quem cometeu algum erro, quem pecou ou até mesmo matou, movido por paixões impuras. Tal como o bíblico rei Davi ou como Pietro Maso.

Pietro Maso chocou a Itália em 17 de abril de 1991, ao assassinar seus pais Antonio e Rosa em Montecchia, na província de Verona. Um dos crimes mais hediondos da história do país, cujo julgamento se tornou um caso nacional. Fazendo eco das palavras do Santo Padre pronunciadas no dia 19 de janeiro, numa providencial coincidência, a revista “chi” antecipou alguns trechos da longa entrevista exclusiva, publicada na edição de hoje 20 de janeiro.

Pietro, agora com 45 anos de idade, traça a sua vida, 22 anos de prisão e a redescoberta da fé, e lança luz sobre o motivo do assassinato brutal, realizado com um cano de ferro e a ajuda de três cúmplices. “Não foi por dinheiro, como foi dito”, explica, revelando ao público outra notícia: o telefonema do Papa Francisco recebido em 2013, depois de uma carta enviada ao Pontífice na qual expressou todo o seu arrependimento.

“Eu era o mal e o Papa Francisco teve compaixão por mim”, escreveu Pietro numa carta que foi entregue pelo seu diretor espiritual, Dom Guido Todeschini. “Depois de alguns dias, o Papa me telefonou. Ele e Dom Guido são pessoas santas”. Assim começa a entrevista, a primeira desde que foi libertado da prisão – primeiro em Verona, depois, em Milão – onde permaneceu por mais de duas décadas. Ele foi condenado a trinta anos.

No relatório psiquiátrico realizado pelo especialista Vittorino Andreoli, lê-se sobre uma “hipertrofia narcisista” com o pai e mãe, percebida como um ‘cofrinho’ do qual se retira alguma coisa apenas quando necessário ou quando quebrado. Com a redução da pena por bom comportamento, o italiano ficou preso por 22 anos.

“Era 10 horas da manhã – conta o ex presidiário – quando o telefone tocou. Eu estava com Stephanie, minha namorada, eu respondo e escuto: ‘Aqui é o Francisco, o Papa Francisco’. Tomado pela emoção, disse em voz alta: ‘Santidade’. Era 2013”. Antes do telefonema, eu lhe enviei uma carta: “Peço perdão pelo que fiz; peço orações pelos meus colegas de trabalho que me aceitaram, apesar do que eu fiz e peço oração por aqueles que trabalham pela paz”, escreveu Pietro ainda atrás das grades.

Don Guido Todeschini fez questão de entregá-la ao Papa, que não hesitou em telefonar alguns dias depois. Pietro foi capaz de dizer ao Santo Padre a frase que tinha formulado durante os anos sombrios da prisão, que decretara a mudança total de sua vida, graças a um processo de reaproximação da fé.

Pietro se arrependeu e depois de cumprir sua sentença, ele decidiu comentar a verdadeira razão deste trágico assassinato. Não foi para tomar posse da herança dos pais, como falaram no momento do julgamento: “Eu não matei meus pais por dinheiro, porque o dinheiro eu teria tido de qualquer maneira”, diz ele na entrevista. “Eu disse que o motivo era dinheiro porque quando cometemos o assassinato, um amigo meu fez um empréstimo e vivíamos com aquele dinheiro. Eu tentei matar meus pais outras vezes, tentativas fracassadas, acompanhado de gente louca, mas nunca pensei em matar por dinheiro”.

“Eu – continua ele – sempre fui doente e desde criança meus pais diziam: ‘Não vai trabalhar porque você está doente’, ‘não vai sair porque você está doente’; ‘ nós pensamos em tudo’”. É como ser gay e seus pais não sabem. Olham para você de forma diferente quando você tem 13, 14 anos e você está doente e não entende o porquê. Você não pode falar livremente porque seus pais não querem. Então, você fica em casa sofrendo porque não encontra compreensão. Na verdade, você deveria sair de casa. Talvez isso pudesse ser a resposta para o que eu fiz”.

Mas o passado é passado e, como diz o Papa Francisco, “não há pecador sem futuro”. Pietro Maso olha para a frente. Desde que seu casamento com Stefania acabou, ele se mudou para Valência, na Espanha. Lá, ele decidiu abrir um centro de reabilitação, uma casa que acolhe aqueles que fizeram algo de errado e estão na rua. Porque, disse ele na entrevista: “Eu quero dar um significado diferente para a minha vida. Somente quem é estrangeiro pode entender outro estrangeiro, somente quem foi presidiário pode entender outro presidiário, somente quem fez algo errado pode entender quem cometeu erros. Eu não valho nada, mas essa ideia merece mais do que eu”.

Santa Inês ou Agne


Santa Inês ou Agnes – 21 de Janeiro

Conhecida e citada pelos santos padres, esta santa é modelo de uma pureza à prova de fogo


Catacumba de Santa Inês


Agnes significa em grego casta, e em latim ovelha. Por isso na arte litúrgica da Igreja ela é representada sempre segurando uma ovelha.

Na sua festa, uma ou duas ovelhas são abençoadas na sua igreja em Roma Basilica de Santa Inês, e da lã destas ovelhas são feitos os Pálios (do latim pallium: capa ou manto que cobre os ombros, é uma espécie de colarinho de lãbranca, com cerca de 5 cm de largura e dois apêndices – um na frente e outro nas costas, com 6 cruzesbordadas ao seu longo e que expressa a unidade com o sucessor de Pedro , o qual o Papa confere aos Arcebispos como símbolo de sua jurisdição.Santa Ines é mencionada na Primeira Prece Eucarística.

Virgem e mártir, deixou-se transformar pelo amor de Deus que é santo. Pertenceu a uma família romana. Santa Inês tinha cerca de 12 anos quando um pretendente se aproximou dela; segundo a tradição, era filho do prefeito de Roma e estava encantado pela beleza física de Inês. Mas sua beleza principal é aquela que não passa: a comunhão com Deus. De maneira secreta, ela tinha feito uma descoberta vocacional, era chamada a ser uma das virgens consagradas do Senhor; e fez este compromisso. O jovem não sabia e, diante de tantas propostas, ela sempre dizia ‘não’. Até que ele denunciou Inês para as autoridades, porque sob o império de Diocleciano, era correr risco de vida.

Quem renunciasse Jesus ficava com a própria vida; caso contrário, se tornava mártir. Foi o que aconteceu com esta jovem de cerca de 12 ou 13 anos. Tão conhecida e citada pelos santos padres, Santa Inês é modelo de uma pureza à prova de fogo, pois diante das autoridades e do imperador, ela se disse cristã. Eles começaram pelo diálogo, depois as diversas ameaças com fogo e tortura, mas em nada ela renunciava o seu Divino Esposo. Até que pegaram-na e a levaram para um lugar em Roma próprio da prostituição, mas ela deixou claro que Jesus Cristo, seu Divino Esposo, não abandona os seus. De fato, ela não foi manchada pelo pecado. Auxiliada pelo Espírito Santo, com muita sabedoria, ela permaneceu fiel ao seu voto e ao seu compromisso; até que as autoridades, vendo que não podiam vencê-la pela ignorância, mandaram, então, degolar a jovem cristã. Ela perdeu a cabeça, mas não o coração, que ficou para sempre em Cristo.

Seus pais sepultaram seu corpo num terreno próximo da Via Nomentana, onde a princesa Constantina, filha do imperador Constantino mandou erguer a majestosa basílica de Santa Inês Fora dos Muros, palco de grandes milagres por intermédio da santa virgem. A história conta que oito dias depois da morte, apareceu em grande glória aos pais que rezavam em seu túmulo, segurando um cordeirinho branco e cercada de muitas virgens e anjos e anunciou-lhes sua grande felicidade no céu. Assim diz a Antífona da entrada da missa de hoje: Esta é uma virgem sábia, do número das prudentes, que foi ao encontro de Cristo com sua lâmpada acesa.

"Ciúme e inveja levam à morte"

homilia do Papa: Ciúme e inveja levam à morte


Papa Francisco em Santa Marta

Queridos irmãos e irmãs, o amor deve ser a medida da ação de cada cristão nesse mundo. A fraqueza e o pecado que se cometem não podem ser ferramentas de exclusão, mas de misericórdia para que se arrependam e voltam a procurar o Senhor. Nós não somos donos da verdade, mas sedento da graça de Deus que nos leva a vida eterna.

A gloria de nossas ações deve estar sintonizada na humidade e submissão a Deus. Ele é a fonte de tudo de bom que nos acontece. Na comunidade cristã somos chamados a sermos operários que trabalham para a grandeza do Reino de Deus aqui na perspectiva da eternidade. Não podemos propagar o ódio e nem a violência, pois isso traz a morte. A nossa língua deve ser para o louvor a oração para que todos encontrem o verdadeiro caminho que é Jesus Cristo. ( Bacharel em Teologia Jose Benedito Schumann Cunha)

Francisco adverte que por ciúme se mata com a língua. Estes pecados existem inclusive na comunidade cristã  


Em sua homilia na Missa celebrada hoje de manhã na capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco refletiu sobre o ciúme e a inveja. Ele pediu ao Senhor que nos preserve desses pecados que existem inclusive nas nossas comunidades cristãs e usam a língua para matar os outros.

A Primeira Leitura do dia fala sobre o ciúme de Saul, rei de Israel, em relação a David. Como recordado pelo Santo Padre, após a vitória contra os filisteus, as mulheres cantam com alegria, dizendo: “Saul matou milhares, mas David dez mil”. A partir daquele dia, “Saul olha desconfiado para David, pensando que ele pudesse trai-lo e decide matá-lo. Depois, segue o conselho do filho e revê a decisão. Mas retoma seus maus pensamentos”, explicou o Papa. Portanto, observou o Papa, o ciúme é uma “doença” que volta e leva a inveja.

O Pontífice disse que a inveja é uma coisa feia, é um pecado feio, “e no coração, o ciúme ou a inveja crescem como ervas daninhas: cresce, mas não deixa a erva boa crescer. Tudo o que parece ofusca-lo, lhe faz mal”, explicou. Disse também que “o coração invejoso leva a matar, à morte. E a Escritura diz claramente: por inveja do demônio, a morte entrou no mundo”.

Continuando na mesma linha, o Papa sublinhou que a inveja “mata” e “não tolera que o outro tenha algo que eu não possuo. E sofre, porque o coração do invejoso ou do ciumento sofre. É um coração sofredor”. É um sofrimento que deseja a “morte dos outros”.

Ele alertou para o fato de que muitas vezes nas nossas comunidades – não devemos ir muito longe para ver isso – por ciúme se mata com a língua. “Alguém tem inveja daquele, daquele outro e começam os fuxicos: e os fuxicos matam!”.

Em seguida, o Bispo de Roma, disse: “Eu, pensando e refletindo sobre estre trecho da Escritura, convido a mim e a todos a entender se em meu coração existe algo de ciumento, de invejoso, que sempre leva à morte e não me faz feliz; porque esta doença leva sempre a ver o que o outro tem de bom como se fosse contra você. Isto é um pecado muito feio! É o início de muitas criminalidades”.

Por isso, ele convidou a pedir ao Senhor “que nos dê a graça de não abrir o coração aos ciúmes, de não abrir nosso coração às invejas, porque estas coisas levam à morte”.

O Santo Padre sublinhou ainda que Pilatos era inteligente e no Evangelho de Marcos, diz que Pilatos percebeu que os chefes dos escribas haviam lhe entregado Jesus por inveja.

A este respeito, concluindo a homilia, o Papa Francisco afirmou que a inveja – como interpretado Pilatos, que era muito inteligente, mas covarde – é que levou Jesus à morte.

Por fim, o Pontífice pediu também a graça de “não entregarmos nunca, por inveja, à morte, um irmão, uma irmã da comunidade paroquial, nem um vizinho do bairro. Cada um tem seus pecados, cada um tem suas virtudes… são próprias de cada um. Olhar o bem e não matar, com fofocas, por inveja ou ciúmes”, concluiu.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Papa: “um oceano de misericórdia que inunda o nosso mundo”

Papa: “um oceano de misericórdia que inunda o nosso mundo”


Vista da Basílica Vaticana de um telhado perto da Praça de São Pedro Fonte: WIKIMEDIA


Vista da Basílica Vaticana de um telhado perto da Praça de São Pedro

Homilia na Missa da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus e XLIX Dia Mundial da Paz, 1° de janeiro de 2016

Apresentamos a homilia do Papa Francisco na Missa da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus e XLIX Dia Mundial da Paz, celebrada na Basílica Vaticana sexta-feira, 1° de Janeiro de 2016.

 Ouvimos as palavras do apóstolo Paulo: «Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gl 4, 4).

Que significa Jesus nasceu na «plenitude do tempo»? Se o nosso olhar se fixa no momento histórico, podemos imediatamente ficar decepcionados. Sobre grande parte do mundo conhecido de então, dominava Roma com o seu poderio militar. O imperador Augusto chegara ao poder depois de ter combatido cinco guerras civis. Também Israel fora conquistado pelo Império Romano e o povo eleito estava privado da liberdade. Por conseguinte, aquele não era certamente o tempo melhor para os contemporâneos de Jesus. Portanto, se queremos definir o clímax do tempo, não é para a esfera geopolítica que devemos olhar.

É necessária uma interpretação diferente, que entenda a plenitude a partir de Deus. No momento em que Deus estabelece ter chegado a hora de cumprir a promessa feita, realiza-se então, para a humanidade, a plenitude do tempo. Por isso, não é a história que decide acerca do nascimento de Cristo; mas, ao invés, é a sua vinda ao mundo que permite à história chegar à sua plenitude. É por isso que se começa, do nascimento do Filho de Deus, o cálculo duma nova era, ou seja, a que vê o cumprimento da antiga promessa. Como escreve o autor da Carta aos Hebreus, «muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. Este Filho é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e tudo sustenta com a sua palavra poderosa» (1, 1-3). Assim, a plenitude do tempo é a presença de Deus em pessoa na nossa história. Agora, podemos ver a sua glória que refulge na pobreza dum estábulo, e ser encorajados e sustentados pelo seu Verbo que Se fez «pequeno» numa criança. Graças a Ele, o nosso tempo pode encontrar a sua plenitude. Também o nosso tempo pessoal encontrará a sua plenitude no encontro com Jesus Cristo, Deus feito homem.

Este mistério, porém, sempre contrasta com a dramática experiência histórica. Cada dia, quereríamos ser sustentados pelos sinais da presença de Deus, mas o que constatamos são sinais opostos, negativos, que fazem antes senti-Lo como ausente. A plenitude do tempo parece esboroar-se perante as inúmeras formas de injustiça e violência que ferem diariamente a humanidade. Às vezes perguntamo-nos: Como é possível que perdure a prepotência do homem sobre o homem? Que a arrogância do mais forte continue a humilhar o mais fraco, relegando-o para as margens mais esquálidas do nosso mundo? Até quando a maldade humana semeará na terra violência e ódio, causando vítimas inocentes? Como pode ser o tempo da plenitude este que coloca diante dos nossos olhos multidões de homens, mulheres e crianças que fogem da guerra, da fome, da perseguição, dispostos a arriscar a vida para verem respeitados os seus direitos fundamentais? Um rio de miséria, alimentado pelo pecado, parece contradizer a plenitude do tempo realizada por Cristo. Lembrai-vos, queridos pueri cantores, que esta era precisamente a terceira pergunta que me fizestes ontem? Como se explica? Até as crianças se dão conta disto!

Contudo este rio alagador nada pode contra o oceano de misericórdia que inunda o nosso mundo. Todos nós somos chamados a mergulhar neste oceano, a deixarmo-nos regenerar, para vencer a indiferença que impede a solidariedade e sair da falsa neutralidade que dificulta a partilha. A graça de Cristo, que realiza a expectativa da salvação, impele a tornar-nos seus cooperadores na construção dum mundo mais justo e fraterno, onde cada pessoa e cada criatura possam viver em paz, na harmonia da criação primordial de Deus.

No início dum novo ano, a Igreja faz-nos contemplar, como ícone de paz, a maternidade divina de Maria. A antiga promessa realiza-se na sua pessoa, que acreditou nas palavras do Anjo, concebeu o Filho, tornou-Se Mãe do Senhor. Através d’Ela, por meio do seu «sim», chegou a plenitude do tempo. O Evangelho, que escutámos, diz que a Virgem «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Aparece-nos como vaso sempre cheio da memória de Jesus, Sede da Sabedoria, onde recorrer para termos a interpretação coerente do seu ensinamento. Hoje dá-nos a possibilidade de individuar o sentido dos acontecimentos que nos tocam pessoalmente a nós, às nossas famílias, aos nossos países e ao mundo inteiro. Aonde não pode chegar a razão dos filósofos, nem as negociações da política, consegue fazê-lo a força da fé que a graça do Evangelho de Cristo nos traz e que pode abrir sempre novos caminhos à razão e às negociações.

Feliz sois Vós, ó Maria, por terdes dado ao mundo o Filho de Deus; mas mais feliz ainda sois porque acreditastes n’Ele. Cheia de fé, concebestes Jesus, primeiro no coração e depois no seio, para Vos tornardes Mãe de todos os crentes (cf. Santo Agostinho, Sermo 215, 4). Mãe, lançai sobre nós a vossa bênção neste dia que Vos é consagrado; mostrai-nos o rosto do vosso Filho Jesus, que dá ao mundo inteiro misericórdia e paz. Amen.

Papa no Dia Mundial da Paz: “Vence a indiferença e conquista a paz”

Papa no Dia Mundial da Paz: “Vence a indiferença e conquista a paz”

Pomba representando o Espírito Santo


Texto completo da mensagem do Santo Padre Francisco para a celebração do XLIX Dia Mundial da Paz


''Vence a indiferença e conquista a paz'' é o título da Mensagem do Santo Padre para a celebração do Dia Mundial da Paz XLIX comemorado em 1 de janeiro de 2016.

O Dia Mundial da Paz foi instituído pelo Papa Paulo VI em 1 de janeiro de 1968.

A mensagem divulgada pelo Vaticano no último 08 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição e dia da abertura do Jubileu extraordinário da Misericórdia é dividida em oito capítulos. Segue o texto completo da mensagem:

Vence a indiferença e conquista a paz

1. Deus não é indiferente; importa-Lhe a humanidade! Deus não a abandona! Com esta minha profunda convicção, quero, no início do novo ano, formular votos de paz e bênçãos abundantes, sob o signo da esperança, para o futuro de cada homem e mulher, de cada família, povo e nação do mundo, e também dos chefes de Estado e de governo e dos responsáveis das religiões. Com efeito, não perdemos a esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos firme e confiadamente empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos homens; a paz é dom de Deus, mas confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo.

Conservar as razões da esperança

2. Embora o ano passado tenha sido caracterizado, do princípio ao fim, por guerras e actos terroristas, com as suas trágicas consequências de sequestros de pessoas, perseguições por motivos étnicos ou religiosos, prevaricações, multiplicando-se cruelmente em muitas regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar uma «terceira guerra mundial por pedaços», todavia alguns acontecimentos dos últimos anos e também do ano passado incitam-me, com o novo ano em vista, a renovar a exortação a não perder a esperança na capacidade que o homem tem, com a graça de Deus, de superar o mal, não se rendendo à resignação nem à indiferença. Tais acontecimentos representam a capacidade de a humanidade agir solidariamente, perante as situações críticas, superando os interesses individualistas, a apatia e a indiferença.

Dentre tais acontecimentos, quero recordar o esforço feito para favorecer o encontro dos líderes mundiais, no âmbito da Cop21, a fim de se procurar novos caminhos para enfrentar as alterações climáticas e salvaguardar o bem-estar da terra, a nossa casa comum. E isto remete para mais dois acontecimentos anteriores de nível mundial: a Cimeira de Adis-Abeba para arrecadação de fundos destinados ao desenvolvimento sustentável do mundo; e a adopção, por parte das Nações Unidas, da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que visa assegurar, até ao referido ano, uma existência mais digna para todos, sobretudo para as populações pobres da terra.

O ano de 2015 foi um ano especial para a Igreja, nomeadamente porque registou o cinquentenário da publicação de dois documentos do Concílio Vaticano II que exprimem, de forma muito eloquente, o sentido de solidariedade da Igreja com o mundo. O Papa João XXIII, no início do Concílio, quis escancarar as janelas da Igreja, para que houvesse, entre ela e o mundo, uma comunicação mais aberta. Os dois documentos – Nostra aetate e Gaudium et spes – são expressões emblemáticas da nova relação de diálogo, solidariedade e convivência que a Igreja pretendia introduzir no interior da humanidade. Na Declaração Nostra aetate, a Igreja foi chamada a abrir-se ao diálogo com as expressões religiosas não-cristãs. Na Constituição pastoral Gaudium et spes – dado que «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo»[1] –, a Igreja desejava estabelecer um diálogo com a família humana sobre os problemas do mundo, como sinal de solidariedade, respeito e amor.[2]

Nesta mesma perspectiva, com o Jubileu da Misericórdia, quero convidar a Igreja a rezar e trabalhar para que cada cristão possa maturar um coração humilde e compassivo, capaz de anunciar e testemunhar a misericórdia, de «perdoar e dar», de abrir-se «àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática», sem cair «na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói».[3]

Variadas são as razões para crer na capacidade que a humanidade tem de agir, conjunta e solidariamente, reconhecendo a própria interligação e interdependência e tendo a peito os membros mais frágeis e a salvaguarda do bem comum. Esta atitude de solidária corresponsabilidade está na raiz da vocação fundamental à fraternidade e à vida comum. A dignidade e as relações interpessoais constituem-nos como seres humanos, queridos por Deus à sua imagem e semelhança. Como criaturas dotadas de inalienável dignidade, existimos relacionando-nos com os nossos irmãos e irmãs, pelos quais somos responsáveis e com os quais agimos solidariamente. Fora desta relação, passaríamos a ser menos humanos. É por isso mesmo que a indiferença constitui uma ameaça para a família humana. No limiar dum novo ano, quero convidar a todos para que reconheçam este facto a fim de se vencer a indiferença e conquistar a paz.

Algumas formas de indiferença

3. Não há dúvida de que o comportamento do indivíduo indiferente, de quem fecha o coração desinteressando-se dos outros, de quem fecha os olhos para não ver o que sucede ao seu redor ou se esquiva para não ser abalroado pelos problemas alheios, caracteriza uma tipologia humana bastante difundida e presente em cada época da história; mas, hoje em dia, superou decididamente o âmbito individual para assumir uma dimensão global, gerando o fenómeno da «globalização da indiferença».

A primeira forma de indiferença na sociedade humana é a indiferença para com Deus, da qual deriva também a indiferença para com o próximo e a criação. Trata-se de um dos graves efeitos dum falso humanismo e do materialismo prático, combinados com um pensamento relativista e niilista. O homem pensa que é o autor de si mesmo, da sua vida e da sociedade; sente-se auto-suficiente e visa não só ocupar o lugar de Deus, mas prescindir completamente d’Ele; consequentemente, pensa que não deve nada a ninguém, excepto a si mesmo, e pretende ter apenas direitos.[4] Contra esta errónea compreensão que a pessoa tem de si mesma, Bento XVI recordava que nem o homem nem o seu desenvolvimento são capazes, por si mesmos, de se atribuir o próprio significado último;[5] e, antes dele, Paulo VI afirmara que «não há verdadeiro humanismo senão o aberto ao Absoluto, reconhecendo uma vocação que exprime a ideia exacta do que é a vida humana».[6]

A indiferença para com o próximo assume diferentes fisionomias. Há quem esteja bem informado, ouça o rádio, leia os jornais ou veja programas de televisão, mas fá-lo de maneira entorpecida, quase numa condição de rendição: estas pessoas conhecem vagamente os dramas que afligem a humanidade, mas não se sentem envolvidas, não vivem a compaixão. Este é o comportamento de quem sabe, mas mantém o olhar, o pensamento e a acção voltados para si mesmo. Infelizmente, temos de constatar que o aumento das informações, próprio do nosso tempo, não significa, de por si, aumento de atenção aos problemas, se não for acompanhado por uma abertura das consciências em sentido solidário.[7] Antes, pode gerar uma certa saturação que anestesia e, em certa medida, relativiza a gravidade dos problemas. «Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa “educação” que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos vêem crescer este câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos governantes».[8]

Noutros casos, a indiferença manifesta-se como falta de atenção à realidade circundante, especialmente a mais distante. Algumas pessoas preferem não indagar, não se informar e vivem o seu bem-estar e o seu conforto, surdas ao grito de angústia da humanidade sofredora. Quase sem nos dar conta, tornámo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete.[9] «Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem».[10]

Vivendo nós numa casa comum, não podemos deixar de nos interrogar sobre o seu estado de saúde, como procurei fazer na Carta encíclica Laudato si’. A poluição das águas e do ar, a exploração indiscriminada das florestas, a destruição do meio ambiente são, muitas vezes, resultado da indiferença do homem pelos outros, porque tudo está relacionado. E de igual modo o comportamento do homem com os animais influi sobre as suas relações com os outros,[11] para não falar de quem se permite fazer noutros lugares aquilo que não ousa fazer em sua casa.[12]

Nestes e noutros casos, a indiferença provoca sobretudo fechamento e desinteresse, acabando assim por contribuir para a falta de paz com Deus, com o próximo e com a criação.

A paz ameaçada pela indiferença globalizada

4. A indiferença para com Deus supera a esfera íntima e espiritual da pessoa individual e investe a esfera pública e social. Como afirmava Bento XVI, «há uma ligação íntima entre a glorificação de Deus e a paz dos homens na terra».[13] Com efeito, «sem uma abertura ao transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente, torna-se-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz».[14] O esquecimento e a negação de Deus, que induzem o homem a não reconhecer qualquer norma acima de si próprio e a tomar como norma apenas a si mesmo, produziram crueldade e violência sem medida.[15]

A nível individual e comunitário, a indiferença para com o próximo – filha da indiferença para com Deus – assume as feições da inércia e da apatia, que alimentam a persistência de situações de injustiça e grave desequilíbrio social, as quais podem, por sua vez, levar a conflitos ou de qualquer modo gerar um clima de descontentamento que ameaça desembocar, mais cedo ou mais tarde, em violências e insegurança.

Neste sentido, a indiferença e consequente desinteresse constituem uma grave falta ao dever que cada pessoa tem de contribuir – na medida das suas capacidades e da função que desempenha na sociedade – para o bem comum, especialmente para a paz, que é um dos bens mais preciosos da humanidade.[16]

Depois, quando investe o nível institucional, a indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica acções e políticas que acabam por constituir ameaças à paz. Este comportamento de indiferença pode chegar inclusivamente a justificar algumas políticas económicas deploráveis, precursoras de injustiças, divisões e violências, que visam a consecução do bem-estar próprio ou o da nação. Com efeito, não é raro que os projectos económicos e políticos dos homens tenham por finalidade a conquista ou a manutenção do poder e das riquezas, mesmo à custa de espezinhar os direitos e as exigências fundamentais dos outros. Quando as populações vêem negados os seus direitos elementares, como o alimento, a água, os cuidados de saúde ou o trabalho, sentem-se tentadas a obtê-los pela força.[17]

Por fim, a indiferença pelo ambiente natural, favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas, novas situações de injustiça com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e paz social. Quantas guerras foram movidas e quantas ainda serão travadas por causa da falta de recursos ou para responder à demanda insaciável de recursos naturais?[18]

Da indiferença à misericórdia: a conversão do coração

5. Quando, há um ano – na Mensagem para o Dia Mundial da Paz intitulada «já não escravos, mas irmãos» –, evoquei o primeiro ícone bíblico da fraternidade humana, o ícone de Caim e Abel (cf. Gn 4, 1-16), fi-lo para evidenciar o modo como foi traída esta primeira fraternidade. Caim e Abel são irmãos. Provêm ambos do mesmo ventre, são iguais em dignidade e criados à imagem e semelhança de Deus; mas a sua fraternidade de criaturas quebra-se. «Caim não só não suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja».[19] E assim o fratricídio torna-se a forma de traição, sendo a rejeição, por parte de Caim, da fraternidade de Abel a primeira ruptura nas relações familiares de fraternidade, solidariedade e respeito mútuo.

Então Deus intervém para chamar o homem à responsabilidade para com o seu semelhante, precisamente como fizera quando Adão e Eva, os primeiros pais, quebraram a comunhão com o Criador. «O Senhor disse a Caim: “Onde está o teu irmão Abel?” Caim respondeu: “Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?” O Senhor replicou: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim”» (Gn 4, 9-10).

Caim diz que não sabe o que aconteceu ao seu irmão, diz que não é o seu guardião. Não se sente responsável pela sua vida, pelo seu destino. Não se sente envolvido. É-lhe indiferente o seu irmão, apesar de ambos estarem ligados pela origem comum. Que tristeza! Que drama fraterno, familiar, humano! Esta é a primeira manifestação da indiferença entre irmãos. Deus, ao contrário, não é indiferente: o sangue de Abel tem grande valor aos seus olhos e pede contas dele a Caim. Assim, Deus revela-Se, desde o início da humanidade, como Aquele que se interessa pelo destino do homem. Quando, mais tarde, os filhos de Israel se encontram na escravidão do Egipto, Deus intervém de novo. Diz a Moisés: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel» (Ex 3, 7-8). É importante notar os verbos que descrevem a intervenção de Deus: Ele observa, ouve, conhece, desce, liberta. Deus não é indiferente. Está atento e age.

De igual modo, no seu Filho Jesus, Deus desceu ao meio dos homens, encarnou e mostrou-Se solidário com a humanidade em tudo, excepto no pecado. Jesus identificava-Se com a humanidade: «o primogénito de muitos irmãos» (Rm 8, 29). Não se contentava em ensinar às multidões, mas preocupava-Se com elas, especialmente quando as via famintas (cf. Mc 6, 34-44) ou sem trabalho (cf. Mt 20, 3). O seu olhar não Se fixava apenas nos seres humanos, mas também nos peixes do mar, nas aves do céu, na erva e nas árvores, pequenas e grandes; abraçava a criação inteira. Ele vê sem dúvida, mas não Se limita a isso, pois toca as pessoas, fala com elas, age em seu favor e faz bem a quem precisa. Mais ainda, deixa-Se comover e chora (cf. Jo 11, 33-44). E age para acabar com o sofrimento, a tristeza, a miséria e a morte.

Jesus ensina-nos a ser misericordiosos como o Pai (cf. Lc 6, 36). Na parábola do bom samaritano (cf. Lc 10, 29-37), denuncia a omissão de ajuda numa necessidade urgente dos seus semelhantes: «ao vê-lo, passou adiante» (Lc 10, 32). Ao mesmo tempo, com este exemplo, convida os seus ouvintes, e particularmente os seus discípulos, a aprenderem a parar junto dos sofrimentos deste mundo para os aliviar, junto das feridas dos outros para as tratar com os recursos de que disponham, a começar pelo próprio tempo apesar das muitas ocupações. Na realidade, muitas vezes a indiferença procura pretextos: na observância dos preceitos rituais, na quantidade de coisas que é preciso fazer, nos antagonismos que nos mantêm longe uns dos outros, nos preconceitos de todo o género que impedem de nos fazermos próximo.

A misericórdia é o coração de Deus. Por isso deve ser também o coração de todos aqueles que se reconhecem membros da única grande família dos seus filhos; um coração que bate forte onde quer que esteja em jogo a dignidade humana, reflexo do rosto de Deus nas suas criaturas. Jesus adverte-nos: o amor aos outros – estrangeiros, doentes, encarcerados, pessoas sem-abrigo, até inimigos – é a unidade de medida de Deus para julgar as nossas acções. Disso depende o nosso destino eterno. Não é de admirar que o apóstolo Paulo convide os cristãos de Roma a alegrar-se com os que se alegram e a chorar com os que choram (cf. Rm 12, 15), ou recomende aos de Corinto que organizem colectas em sinal de solidariedade com os membros sofredores da Igreja (cf. 1 Cor 16, 2-3). E São João escreve: «Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele?» (1 Jo 3, 17; cf. Tg 2, 15-16).

É por isso que «é determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia».[20]

Deste modo, também nós somos chamados a fazer do amor, da compaixão, da misericórdia e da solidariedade um verdadeiro programa de vida, um estilo de comportamento nas relações de uns com os outros.[21] Isto requer a conversão do coração, isto é, que a graça de Deus transforme o nosso coração de pedra num coração de carne (cf. Ez 36, 26), capaz de se abrir aos outros com autêntica solidariedade. Com efeito, esta é muito mais do que um «sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes».[22] A solidariedade «é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos»,[23] porque a compaixão brota da fraternidade.

Assim entendida, a solidariedade constitui a atitude moral e social que melhor dá resposta à tomada de consciência das chagas do nosso tempo e da inegável interdependência que se verifica cada vez mais, especialmente num mundo globalizado, entre a vida do indivíduo e da sua comunidade num determinado lugar e a de outros homens e mulheres no resto do mundo.[24]

Fomentar uma cultura de solidariedade e misericórdia para se vencer a indiferença

6. A solidariedade como virtude moral e comportamento social, fruto da conversão pessoal, requer empenho por parte duma multiplicidade de sujeitos que detêm responsabilidades de carácter educativo e formativo.

Penso em primeiro lugar nas famílias, chamadas a uma missão educativa primária e imprescindível. Constituem o primeiro lugar onde se vivem e transmitem os valores do amor e da fraternidade, da convivência e da partilha, da atenção e do cuidado pelo outro. São também o espaço privilegiado para a transmissão da fé, a começar por aqueles primeiros gestos simples de devoção que as mães ensinam aos filhos.[25]

Quanto aos educadores e formadores que têm a difícil tarefa de educar as crianças e os jovens, na escola ou nos vários centros de agregação infantil e juvenil, devem estar cientes de que a sua responsabilidade envolve as dimensões moral, espiritual e social da pessoa. Os valores da liberdade, respeito mútuo e solidariedade podem ser transmitidos desde a mais tenra idade. Dirigindo-se aos responsáveis das instituições que têm funções educativas, Bento XVI afirmava: «Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e de participar activamente na construção duma sociedade mais humana e fraterna».[26]

Também os agentes culturais e dos meios de comunicação social têm responsabilidades no campo da educação e da formação, especialmente na sociedade actual onde se vai difundindo cada vez mais o acesso a instrumentos de informação e comunicação. Antes de mais nada, é dever deles colocar-se ao serviço da verdade e não de interesses particulares. Com efeito, os meios de comunicação «não só informam, mas também formam o espírito dos seus destinatários e, consequentemente, podem concorrer notavelmente para a educação dos jovens. É importante ter presente a ligação estreitíssima que existe entre educação e comunicação: de facto, a educação realiza-se por meio da comunicação, que influi positiva ou negativamente na formação da pessoa».[27] Os agentes culturais e dos meios de comunicação social deveriam também vigiar por que seja sempre lícito, jurídica e moralmente, o modo como se obtêm e divulgam as informações.

A paz, fruto duma cultura de solidariedade, misericórdia e compaixão

7. Conscientes da ameaça duma globalização da indiferença, não podemos deixar de reconhecer que, no cenário acima descrito, inserem-se também numerosas iniciativas e acções positivas que testemunham a compaixão, a misericórdia e a solidariedade de que o homem é capaz.

Quero recordar alguns exemplos de louvável empenho, que demonstram como cada um pode vencer a indiferença, quando opta por não afastar o olhar do seu próximo, e constituem passos salutares no caminho rumo a uma sociedade mais humana.

Há muitas organizações não-governamentais e grupos sócio-caritativos, dentro da Igreja e fora dela, cujos membros, por ocasião de epidemias, calamidades ou conflitos armados, enfrentam fadigas e perigos para cuidar dos feridos e doentes e para sepultar os mortos. Ao lado deles, quero mencionar as pessoas e as associações que socorrem os emigrantes que atravessam desertos e sulcam mares à procura de melhores condições de vida. Estas acções são obras de misericórdia corporal e espiritual, sobre as quais seremos julgados no fim da nossa vida.

Penso também nos jornalistas e fotógrafos, que informam a opinião pública sobre as situações difíceis que interpelam as consciências, e naqueles que se comprometem na defesa dos direitos humanos, em particular os direitos das minorias étnicas e religiosas, dos povos indígenas, das mulheres e das crianças, e de quantos vivem em condições de maior vulnerabilidade. Entre eles, contam-se também muitos sacerdotes e missionários que, como bons pastores, permanecem junto dos seus fiéis e apoiam-nos sem olhar a perigos e adversidades, em particular durante os conflitos armados.

Além disso, quantas famílias, no meio de inúmeras dificuldades laborais e sociais, se esforçam concretamente, à custa de muitos sacrifícios, por educar os seus filhos «contracorrente» nos valores da solidariedade, da compaixão e da fraternidade! Quantas famílias abrem os seus corações e as suas casas a quem está necessitado, como os refugiados e os emigrantes! Quero agradecer de modo particular a todas as pessoas, famílias, paróquias, comunidades religiosas, mosteiros e santuários que responderam prontamente ao meu apelo a acolher uma família de refugiados.[28]

Quero, enfim, mencionar os jovens que se unem para realizar projectos de solidariedade, e todos aqueles que abrem as suas mãos para ajudar o próximo necessitado nas suas cidades, no seu país ou noutras regiões do mundo. Quero agradecer e encorajar todos aqueles que estão empenhados em acções deste género, mesmo sem gozar de publicidade: a sua fome e sede de justiça serão saciadas, a sua misericórdia far-lhes-á encontrar misericórdia e, como obreiros da paz, serão chamados filhos de Deus (cf. Mt 5, 6-9).

A paz, sob o signo do Jubileu da Misericórdia

8. No espírito do Jubileu da Misericórdia, cada um é chamado a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a adoptar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho.

Também os Estados são chamados a cumprir gestos concretos, actos corajosos a bem das pessoas mais frágeis da sociedade, como os reclusos, os migrantes, os desempregados e os doentes.

Relativamente aos reclusos, urge em muitos casos adoptar medidas concretas para melhorar as suas condições de vida nos estabelecimentos prisionais, prestando especial atenção àqueles que estão privados da liberdade à espera de julgamento,[29] tendo em mente a finalidade reabilitativa da sanção penal e avaliando a possibilidade de inserir nas legislações nacionais penas alternativas à detenção carcerária. Neste contexto, desejo renovar às autoridades estatais o apelo a abolir a pena de morte, onde ainda estiver em vigor, e a considerar a possibilidade duma amnistia.

Quanto aos migrantes, quero dirigir um convite a repensar as legislações sobre as migrações, de modo que sejam animadas pela vontade de dar hospitalidade, no respeito pelos recíprocos deveres e responsabilidades, e possam facilitar a integração dos migrantes. Nesta perspectiva, dever-se-ia prestar especial atenção às condições para conceder a residência aos migrantes, lembrando-se de que a clandestinidade traz consigo o risco de os arrastar para a criminalidade.

Desejo ainda, neste Ano Jubilar, formular um premente apelo aos líderes dos Estados para que realizem gestos concretos a favor dos nossos irmãos e irmãs que sofrem pela falta de trabalho, terra e tecto. Penso na criação de empregos dignos para contrastar a chaga social do desemprego, que lesa um grande número de famílias e de jovens e tem consequências gravíssimas no bom andamento da sociedade inteira. A falta de trabalho afecta, fortemente, o sentido de dignidade e de esperança, e só parcialmente é que pode ser compensada pelos subsídios, embora necessários, para os desempregados e suas famílias. Especial atenção deveria ser dedicada às mulheres – ainda discriminadas, infelizmente, no campo laboral – e a algumas categorias de trabalhadores, cujas condições são precárias ou perigosas e cujos salários não são adequados à importância da sua missão social.

Finalmente, quero convidar à realização de acções eficazes para melhorar as condições de vida dos doentes, garantindo a todos o acesso aos cuidados sanitários e aos medicamentos indispensáveis para a vida, incluindo a possibilidade de tratamentos domiciliários.

E, estendendo o olhar para além das próprias fronteiras, os líderes dos Estados são chamados também a renovar as suas relações com os outros povos, permitindo a todos uma efectiva participação e inclusão na vida da comunidade internacional, para que se realize a fraternidade também dentro da família das nações.

Nesta perspectiva, desejo dirigir um tríplice apelo: apelo a abster-se de arrastar os outros povos para conflitos ou guerras que destroem não só as suas riquezas materiais, culturais e sociais, mas também – e por longo tempo – a sua integridade moral e espiritual; apelo ao cancelamento ou gestão sustentável da dívida internacional dos Estados mais pobres; apelo à adopção de políticas de cooperação que, em vez de submeter à ditadura dalgumas ideologias, sejam respeitadoras dos valores das populações locais e, de maneira nenhuma, lesem o direito fundamental e inalienável dos nascituros à vida.

Confio estas reflexões, juntamente com os melhores votos para o novo ano, à intercessão de Maria Santíssima, Mãe solícita pelas necessidades da humanidade, para que nos obtenha de seu Filho Jesus, Príncipe da Paz, a satisfação das nossas súplicas e a bênção do nosso compromisso diário por um mundo fraterno e solidário.

Vaticano, no dia da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria e da Abertura do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, 8 de Dezembro de 2015.

FRANCISCUS

[1] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 1.

[2] Cf. ibid., 3.

[3] Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia Misericordiae Vultus, 14-15.

[4] Cf. Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 43.

[5] Cf. ibid., 16.

[6] Carta enc. Populorum progressio, 42.

[7] «A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos. A razão, por si só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência cívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade» (Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 19).

[8] Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 60.

[9]Cf. ibid., 54.

[10] Mensagem para a Quaresma de 2015.

[11] Cf. Carta enc. Laudato si’, 92.

[12] Cf. ibid., 51.

[13] Discurso por ocasião dos votos de Bom Ano Novo ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 7 de Janeiro de 2013.

[14] Ibidem.

[15] Cf. Bento XVI, Discurso durante o Dia de reflexão, diálogo e oração pela paz e a justiça no mundo, Assis, 27 de Outubro de 2011.

[16] Cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 217-237.

[17] «Enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 59).

[18] Cf. Carta enc. Laudato si’, 31; 48.

[19] Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2015, 2.

[20] Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia Misericordiae Vultus, 12.

[21] Cf. ibid., 13.

[22] João Paulo II, Carta enc. Sollecitudo rei socialis, 38.

[23] Ibidem.

[24] Cf. Ibidem.

[25] Cf. Catequese, na Audiência Geral de 7 de Janeiro de 2015.

[26] Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2012, 2.

[27] Ibidem.

[28] Cf. Angelus de 6 de Setembro de 2015.

[29] Cf. Discurso à delegação da Associação Internacional de Direito Penal, 23 de Outubro de 2014.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Vivendo o Ano Santo da Misericórdia

Vivendo o Ano Santo da Misericórdia


As obras de misericórdia são 14. Sendo que, 7 são corporais e 7 espirituais


Estamos vivendo o Ano Santo, o Jubileu extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco instituiu este tema para nos aproximar mais de Cristo, o rosto da misericórdia do Pai. A Quaresma, é   um tempo propício por excelência, para intensificarmos a vivencia desse amor misericordioso.

Muitos ainda têm dúvidas sobre o que significa indulgencia.  É a remissão da pena devida, dos pecados que já fomos perdoados. Sobre isso, escreveu o Papa Francisco: “No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanecem. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela se torna indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado” (Misericordiae Vultus, 22).

Em cada Diocese há nas catedrais e santuários a Porta Santa, pela qual os peregrinos podem passar para obter as indulgencias, desde que confessem, comunguem, façam uma reflexão sobre a misericórdia, acompanhem celebrações com a profissão de fé, façam oração pelo papa e para o bem da Igreja.

Este ano santo não é restritivo, mas  abre para todos os caminhos. 
O Papa estabeleceu que se um prisioneiro estiver na cela e passar pela sua cela num ato de reconciliação tem as indulgências. Se uma pessoa doente acompanhando pela TV daí meu empenho com os meios de comunicação "que não pode ir à igreja por doença ou por idade avançada e participar fielmente da celebração recebe indulgência." 

Também é desejo do Papa que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia, diz ele que todas as vezes que um fiel viver uma ou mais destas obras pessoalmente obterá sem dúvida a indulgência jubilar.

As obras de misericórdia são 14. Sendo que, 7 são corporais e 7 espirituais. Por mais que já tratamos sobre elas em uma antiga edição, bem como no Livro “20 Passos para a Pz Interior”, vale a pena relembrá-las:

Obras de misericórdia corporais

1) Dar de comer a quem tem fome

Várias vezes, Nosso Senhor Jesus Cristo preocupou-se com a fome dos que O seguiam (Mc 6,30-44). É urgente e necessário que avancemos em políticas sociais que atinjam a causa da fome, mas enquanto não chegamos ao ideal, exercitemos a partilha para aplacar o sofrimento real. O que Nosso Senhor falou aos apóstolos, no passado “Dai-lhes vós mesmos de comer”(v.38) ecoa até hoje, e nos convida a refletir o que temos oferecido, para que, de maneira concreta minimizemos a fome daqueles que nada tem.

2) Dar de beber ao sedento

”Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa” (Mt 10,42).

O ato de dar um copo de água a um sedento pode parecer insignificante, mas é um gesto que em Jesus pode adquirir dimensões eternas. 

Sabemos que água é vida, e, a médio e longo prazo, tende a ser um “tesouro” cada vez mais raro e precioso. Precisamos adotar o uso responsável da água, dessa forma, poderá chegar até quem necessita.

3) Vestir os nus

Jesus nos exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a). A nudez além de expor a pessoa às condições climáticas a despoja a da própria dignidade. Vestir o nu é um gesto que minimiza a humilhação. Precisamos praticar a partilha dos bens com atitude, intenção e real motivação.

4) Dar abrigo aos peregrinos

Tendo em vista que a realidade dos tempos de Jesus era muito diferente da realidade dos tempos atuais, torna-se complicado, perigoso e é até ingenuidade de nossa parte querer acolher em nossas casas, pedintes ou moradores de rua. Porém, Deus suscita obras de acolhimento na Igreja, através dos padres, religiosos (as), e leigos (as), que nos permite praticar esta obra de misericórdia, com nossa ajuda concreta. 

5) Assistir os enfermos

 Os Evangelhos relatam abundantemente, momentos em que Jesus acolhe, atende, socorre e cura os doentes. As  vezes eram levados a Ele no entardecer  (Mc 1,32-34); em outras pediam que Ele fosse até a casa do enfermo, como fez o oficial que pediu a cura do filho que estava morrendo (Jo, 4, 46-53). Vale lembrar a ação de Jesus, quando na casa de Pedro, cura sua sogra (Mt 8, 14-15). Jesus se desdobrou em misericórdia para com os doentes.

A obra de misericórdia na qual se assiste os doentes começa na família, quando se lida com doenças prolongadas e, as vezes irreversíveis. Trata-se também de trabalho voluntário em hospitais, casas terapêuticas e pastorais urbanas que assistem aos que vivem a dor da enfermidade na solidão e no esquecimento.

6) Socorrer os presidiários

“Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque... estava na prisão e viestes a mim” (Mt 25, 34.36b)

Hoje, o acesso aos presídios não é livre, havendo certo rigor na triagem de visitas aos presidiários. A Igreja se faz presente através da pela pastoral carcerária.  Esta obra de misericórdia também se estende aos seus familiares, por meio de auxílio financeiro e apoio emocional para superarem os preconceitos.

7) Enterrar os mortos

”Filho, derrama lágrimas sobre o morto, e chora como um homem que sofreu um rude golpe. Sepulta o seu corpo segundo o costume, e não desprezes a sua sepultura”. (Eclo 38,16)

Cada pessoa é templo do Espírito Santo e, mesmo depois de morta, seu corpo merece respeito. A Igreja permite a cremação do corpo, desde que não seja um ato que se faça numa manifestação de contrariedade à fé na ressurreição dos mortos (cf. CIC § 2301). Bem como a doação gratuita de órgãos quando desejado pela própria pessoa.

Obras de misericórdia espirituais

1) Aconselhar (Dar bons conselhos aos que necessitam)

Dar bons conselhos significa orientar e ajudar a quem precisa. Para isso, é preciso mergulhar na graça do Espírito Santo, a fim de perceber os sinais de Deus que nos auxiliam na compreensão e no discernimento dos fatos.

2) Instruir (Ensinar os que não sabem)

Instruir não é simplesmente transmitir conhecimentos, mas também corrigir os que erram, ensinando-lhes os valores do Evangelho e formando-os na doutrina e nos bons costumes éticos e morais.

3) Corrigir os que erram

Esta obra de misericórdia nos lembra que, antes de qualquer julgamento e condenação, nossa atitude deve ser de corrigir na fraternidade aqueles que estão no erro.

O Apóstolo Paulo cita a correção como um gesto de maturidade na fé «Vós sois capazes de vos corrigirdes uns aos outros» (Rm 15,14).  Deus, como um Pai amoroso nos corrige, para nosso próprio bem. Quando recebemos a correção nos entristecemos, porem depois ela produz frutos de paz e justiça ((cf. Hb 12,10-11).

4) Consolar (aliviar o sofrimento dos aflitos)

Consolar consiste numa presença afetuosa, nas palavras de encorajamento e de proximidade. Consolar com o consolo que vem de Deus, Ele é o nosso consolador, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação (cf. 2Cor 1,3-4). 

Na prática, essa obra concretiza-se por meio das seguintes atitudes: exercitar os olhos para as tragédias alheias; aguçar os ouvidos para escutar os soluços dos que sofrem; oferecer o ombro para deixar reclinar-se sobre ele quem chora; estender a mão para levantar quem tropeça e cai, significa estar incondicionalmente ao lado de quem necessita.

5) Perdoar (Superar as ofensas de boa vontade)

“Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não lhe digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.

Ao dizer isto Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina que devemos perdoar sempre e sem limites. Para não cometermos um ato de injustiça com Deus, conosco e com nossos irmãos, devemos sempre, à luz do Espírito Santo, exercitar e aprimorar o perdão.

O perdão não elimina o mal sofrido, mas renova a relação entre ofensor e ofendido. Perdoar não quer dizer esquecer, o ato sofrido, mas lembra-lo sem sofrer, sem raiva ou ressentimento.

6) Suportar com Paciência (Lidar com as fraquezas do próximo)

“Sejam humildes, amáveis, pacientes e suportem-se uns aos outros no amor” (Ef 4,2)

Esta obra espiritual recomenda que suportemos com paciência os que estão próximos a nós, com todas as suas limitações, fraquezas, falhas, adversidades e misérias. Sejamos pois, acolhedores e pacientes com todos.

7) Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos

Devemos rezar pelas pessoas que amamos, pelas que se recomendaram a nossa oração e por aquelas que temos obrigação de rezar.

Também exercitar esta obra de misericórdia rezando pelos mortos.

As almas merecem a lembrança e as orações dos seus, e que as ajudem a alcançar o repouso eterno, o refrigério e a luz que não se apaga. Ao socorrer com oração as almas do purgatório, praticamos a caridade em toda a sua extensão.

Filhos e filhas é uma benção podermos viver este Ano Santo da Misericórdia, quando  temos a  oportunidade de expiar a pena pelos nossos pecados.  Acredito que este Ano Santo  é para aqueles que já estão na igreja., mas principalmente para os que estão fora dela.  É para manter os que estão e buscar os que ainda não receberam a mensagem e não conhecem o rosto do Pai, revelado em Jesus.

Padre Reginaldo Manzotti é fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso – Obra considerada benfeitora nacional que objetiva a evangelização pelos meios de comunicação – e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR). Apresenta diariamente programas de rádio e TV que são retransmitidos e exibidos em parceria com milhares de emissoras no país e algumas no exterior. Site: www.padrereginaldomanzotti.org.br. Facebook: www.facebook.com/padrereginaldomanzotti. Twitter: @padremanzotti | Instagram: @padremanzotti