ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Mensagem dos bispos católicos da Bacia do Rio São Francisco em solidariedade aos irmãos e irmãs de Brumadinho


25 de fevereiro de 2019

Nós, bispos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, por ocasião da passagem do 1º mês da tragédia-crime de Brumadinho, queremos manifestar nossa solidariedade às famílias enlutadas pelo desaparecimento de centenas de irmãos e irmãs, vítimas dos que sobrepõe a avidez pelo lucro desenfreado e sem limites, ao respeito à vida, à dignidade das pessoas e do cuidado com a Natureza. A vida é o maior dos dons de Deus. Cuidar da vida é missão de todos nós que fazemos da Natureza nossa Casa Comum.

Brumadinho foi palco dos horrores da insanidade de poderosos grupos econômicos que, num total descaso para com os seres humanos e o meio-ambiente, levou de roldão numa avalanche de lama tóxica, centenas de homens, mulheres, jovens, crianças, animais e a natureza circunstante. Adeus meu pai, adeus minha mãe, adeus meu filho. Este foi o clamor de muitos irmãos e irmãs nossos, num desespero único onde as lágrimas se misturaram aos gritos lancinantes de quem tudo perdeu, principalmente os amores de suas vidas.

O mundo inteiro se debruçou sobre Brumadinho, onde os sentimentos de dor, compaixão se juntaram aos urros de revolta diante de um quadro de desumanidade sem tamanho. No Evangelho ouvimos o povo pedir sinais a Jesus para que pudessem acreditar. E Jesus responde que outro sinal não seria dado a não ser o do Profeta Jonas engolido pela baleia. Foi o que todos nós presenciamos. Que nós saibamos ler os sinais de Deus nos acontecimentos da história. O homem Jonas representa o povo de Deus que sempre está a mercê dos grandes interesses deste mundo, as baleias insaciáveis do poder e do lucro que engole sem piedade os pequenos e indefesos.

Nosso querido Papa Francisco está continuamente nos advertindo sobre o grande valor do homem, da mulher, da natureza, enfim da vida, diante dos quais todos os demais valores devem estar a serviço. Jamais podemos admitir que os interesses de uma empresa, de um grupo econômico possam sobrepujar a dignidade do ser humano, o grande valor da flora e da fauna que constituem a biodiversidade que garantem a vida.

Nosso Velho Chico pode estar com seus dias contados. Se isso vier a acontecer, nós povo do Rio São Francisco pereceremos com ele. Mais uma vez, nós pastores do Povo de Deus como sanfranciscanos que somos, clamamos e exigimos: 1. Que todas as famílias atingidas por este desastre sem tamanho recebam justas indenizações que jamais substituirão os entes queridos que morreram. 2. Que os responsáveis por esta tragédia respondam por seus crimes e sejam punidos na forma da lei. 3. Que a partir deste tão grave crime, as instancias responsáveis tomem medidas preventivas em relação a outras situações semelhantes em Minas Gerais e em outras regiões do Brasil que passam pelos mesmos perigos. 4. Que este tão triste acontecimento tenha a força de despertar o espírito de solidariedade em todos nós brasileiros e demais homens e mulheres de todo o mundo. 5. Diante do grande perigo por que passa nosso Rio São Francisco ocasionado pelo desastre de Brumadinho, que o mesmo tenha a força de motivar as autoridades competentes a investir na sua revitalização, pois milhões de seres humanos dependem de sua vida.

Que as lágrimas da saudade, o sussurro do pranto silencioso e os gestos solidários de milhares de pessoas sejam o brado que clama por justiça diante da vida agredida. Que São Sebastião, flechado no coração como o povo de quem ele é o padroeiro, rogue a Deus por todas as vítimas desses acontecimentos que jamais queremos ver acontecer outra vez. Receba povo de Brumadinho toda a solidariedade e as orações dos seus irmãos bispos das Dioceses que compõe a Bacia do Rio São Francisco e os bispos do Regional Nordeste 3 que compreende os estados da Bahia e Sergipe. Com profunda estima e compaixão, como um dos bispos católicos da Bacia do Rio São Francisco, o arcebispo de Montes Claros, dom João Justino de Medeiros Silva, é solidário aos irmãos e irmãs de Brumadinho.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Coração Materno

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

Composta em 1937, Coração Materno é um tango-canção do tempo dos discos de 78 rotações por minuto, grandes e pesados feitos de goma-laca (tecnologia de 1895) com uma música de cada lado. O prato girava rapidamente, deixando tonto quem o olhava tocar e após uns poucos minutos já se encerrava. Na casa da minha avó Maria do Rosário de Souza Narciso, a Dona Du, tinha o disco com essa música composta e cantada por Vicente Celestino, com toda a sua tétrica dramaticidade. Milena, a minha mãe, falava em tom de crítica que não conseguia entender o motivo de a mãe dela gostar de trama tão exagerada. Caso tenha ouvido tal música por lá, eu não tinha consciência da terrível história. Minha mãe a cantava quando estava na máquina de costura, e eu decorei parte da letra, que, de vez em quando volta à minha mente.

O mau gosto é tão explosivo, que se fez duradouro, e até as novas gerações sabem da existência de “Coração Materno”. Em 1968 no disco “Tropicália”, Caetano põe a alma a serviço do estilo brega, com um arranjo daquele tempo pretérito, numa espécie de homenagem. Junto com Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Mutantes fez um trabalho algo anarquista, parecendo gravar sem saber exatamente o que faria, na base de um improviso calculado, e nele incluíram a tal música. Caetano faz uma versão alegórica, com sons de suspense semelhantes às músicas em situações de crescente tensão, típicas do fundo musical de novela do rádio. Segundo especialistas, em Tropicália há um culto ao cafona, e na gravação original há uma versão patética.

O enredo, acontece num crescendo, ampliando a emoção do expectador, enquanto conta que um camponês apaixonado, para demonstrar afeto desmesurado ao objeto da sua paixão, pede à namorada para fazer um pedido, qualquer pedido, que ele estaria disposto a obedecê-la, nem que fosse preciso matar ou morrer. Pouco importava. Quando ela pede o coração da mãe dele, não hesita, e, desafiado, para provar que não blefava, corre até a casa a fim de cumprir a promessa. Lá chegando, arranca o coração da mãe, que estava rezando. Na volta, apressado e com o coração sangrante na mão, cai e quebra a perna. O coração rola na terra da estrada, ainda assim, condoída, a mãe, que nunca deixa de amar seu filho, aparece em voz, e o perdoa.

Vejam com seus olhos, sentimentos e emoções os versos dessa obra prima, pois se não a fosse, não estaria rendendo curiosidade 81 anos depois: Coração Materno - Vicente Celestino (composição e interpretação): Disse um campônio à sua amada:/ "Minha idolatrada, diga-me o que quer/ Por ti vou matar e vou roubar/ Embora tristezas me causes mulher/ Provar quero eu que te quero/ Venero teus olhos, teu porte, teu ser/ Mas diga, tua ordem espero/ Por ti não importa matar ou morrer"/ E ela disse ao campônio, a brincar/ "Se é verdade tua louca paixão/ Parte já e pra mim vá buscar/ De tua mãe, inteiro o coração”/ E a correr o campônio partiu/ Como um raio na estrada sumiu/ E tua amada qual louca ficou/ A chorar na estrada tombou/ Chega à choupana o campônio/ Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar/ Rasga-lhe o peito o demônio/ Tombando a velhinha aos pés do altar/ Tira do peito sangrando/ Da velha mãezinha o pobre coração/ E volta a correr proclamando/ "Vitória, vitória, tens minha paixão"/ Mas em meio da estrada caiu/ E na queda uma perna partiu/ E à distância saltou-lhe da mão/ Sobre a terra o pobre coração/ Nesse instante uma voz ecoou:/ "Magoou-se, pobre filho meu?/ Vem buscar-me filho, aqui estou,/ Vem buscar-me que ainda sou teu!"//

Domingo, 24 de fevereiro de 2019

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Tópicos questionáveis sobre alimentação

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

“Água atrapalha a absorção dos nutrientes”. Deve-se evitar ingerir líquidos durante as refeições, pois, distende o estômago e, em geral leva a um maior consumo de alimentos. O site do Ministério da Saúde diz que ingerir líquidos ao comer não é prejudicial, mas pode causar má digestão por diluir o suco gástrico. Tomá-los fora das refeições.

“Baixa de magnésio causa bruxismo”. Bruxismo, o ranger de dentes, pode fraturá-los, além de causar ferimentos na boca, dor nos dentes e maxilares e dor de cabeça. É causado por dentes tortos, insônia, ansiedade, estresse e deficiência de magnésio. O mineral contribui para o bom funcionamento do sistema nervoso e do sono. Também favorece a calcificação de ossos e dentes. Para o bom aproveitamento de magnésio e cálcio é indispensável a vitamina D. Os alimentos ricos em magnésio são folhas, cacau, camarão e frutos secos.

“Magnésio normal no sangue não significa que esteja suficiente no corpo”. O exame de sangue para magnésio não é suficiente para definir a quantidade de magnésio no corpo, devendo ser feita a dosagem também na urina.

“Ao acordar, olhar o céu por dez minutos para obter um bom Ritmo Circadiano”. O Ritmo Circadiano é organizado pela noite e luz solar. Trata-se de um relógio biológico interno que regula as funções do organismo como sono, estado de alerta, sensibilidade a dor e outros parâmetros fisiológicos nas 24 horas. A luz solar afeta a hipófise, alterando sua produção hormonal que dirige as funções corporais. O NSQ - Núcleo Supraquiasmático, que fica no cérebro, é uma espécie de marca-passo do ritmo circadiano.

“Aveia não contém glúten”Sim, é isenta de glúten em sua composição, mas como é processada nos mesmos locais onde se produz trigo, cevada e centeio, poderá ocorrer contaminação cruzada. É preciso especificar “aveia sem glúten”.

“O azeite de oliva não perde suas propriedades depois de aquecido”. Apenas aquecimentos prolongados e repetidos acima de 180º C alteram as propriedades do azeite de oliva, sendo saudável e mais resistente que outros óleos vegetais. Recomenda-se usá-lo no preparo dos alimentos.

“Evitar café e se for inevitável usá-lo descafeinado”. A descafeinização é feita com o solvente natural acetato de etilo, que retira quase toda a cafeína, e o líquido resultante é recolocado nos grãos para readquirir o sabor. O dióxido de carbono, também usado no processo, não causa câncer, mas o solvente cloreto de metileno é cancerígeno. Mesmo com pouca cafeína, a bebida pode causar hipertensão, ataques cardíacos, ativação de úlcera e artrite reumatóide. Persistem dúvidas sobre benefícios e malefícios de um e outro café. 

“Arroz integral: Comer duas colheres de sopa no almoço e nenhuma no jantar”Muitas pessoas acham que essa comida não faça bem à saúde, mas em dias saltados e em pequena quantidade pode trazer benefícios. O arroz branco, por ser polido e sem casca, tem menos nutrientes, sendo o tipo menos saudável. O parboilizado é fervido e descascado, por isso tem mais sabor. Em relação à saúde, é intermediário. O integral não é polido e nem fervido, apenas a casca é retirada, sendo rico em fibras e vitaminas B1, B5 e B6, sendo o mais saudável. Substituir o arroz por verduras e legumes em alguns dias da semana.

“O uso de estatinas prejudica a formação de hormônios, por isso devem ser evitadas”. O colesterol entra na constituição das membranas das células, na síntese de ácidos biliares e na composição de hormônios esteróides. Para quem tem colesterol elevado, com alto risco de doenças cardiovasculares, infarto e AVC - Acidente Vascular Cerebral, já está em dieta rica em fibras e pobre em gordura animal saturada, faz exercícios e o colesterol não normaliza (LDL acima de 100), a Endocrinologia e a Cardiologia receitam estatinas. São medicamentos anticolesterol, comprovadamente anti-inflamatórios  do endotélio, a membrana da artéria, e reduzem em 70% o risco de morte por doença cardiovascular, não afetam a cognição e a memória, mas aumentam a glicose. Devem-se evitar carnes gordas, frango com a pele, frios e embutidos, e aumentar o consumo de gorduras monoinsaturadas como azeite de oliva, abacate e oleaginosas. Há três anos está no site da Sociedade Brasileira de Endocrinologia: “óleo de côco mata”.

“O Pilates não pode ser considerado um exercício físico”O Pilates é uma excelente ginástica não aeróbica, podendo ser um treinamento de força suave, um programa moderado ou um exercício para atletas de alto desempenho. Os exercícios devem ser supervisionados por fisioterapeuta preparado, para evitar lesões e obter o melhor benefício. Deverá ser complementado com exercícios aeróbicos como caminhada, corrida, ciclismo, natação, jogos e dança.

Após o início dos embates entre a Medicina alopática e ortomolecular, o senso comum não existe.

Domingo, 17 de fevereiro de 2019

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Fogo, terra, água e ar

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

Quando há fúria da natureza fala-se em revolta dos elementos. Os filósofos da Grécia antiga acreditavam que a matéria provinha dos quatro elementos fogo, terra, água e ar, que neste ano encontram-se revoltados com os maus tratos impetrados ao planeta. A destruição está cobrando um preço mais alto do que podemos pagar. A Terra, nosso Domo Azul, o único lugar onde podemos viver vem sendo destruída desde a revolução industrial.  A água é o bem em maior risco, pois dos 7,6 bilhões de pessoas (população mundial em outubro de 2017), uma em cada três não tem água potável, no entanto continuamos contaminando nossos mananciais.

Em cinco de novembro de 2015 a Barragem de Fundão de rejeitos de mineração da empresa Samarco em Mariana, na microrregião de Ouro Preto, se rompeu e tirou do mapa o Distrito de Bento Rodrigues. Matou 19 pessoas, vegetação, animais, solo, Rio Doce e mar do Espírito Santo. Em Minas, a catástrofe macabra ambiental, fluvial, marítima, animal e humana recebeu músicas de protesto, com deslocamento de legiões de ambientalistas, hoje chamados de xiitas, radicais e contrários ao “progresso”, coisa que desconheço o que seja. A ganância falou altíssimo. O minério se foi, os rejeitos ficaram. O campo de guerra está lá. Não aconteceu a justa reparação.

Os desastres anunciados causam indignação, reportagens, músicas, poemas e crônicas. São 717 represas de rejeitos tóxicos no Brasil, com conhecido potencial exterminador, especialmente no verão. Em Brumadinho, Minas Gerais, a revolta da terra, não, da lama, se repetiu. As perícias revelaram, em princípio, indícios de descaso. Engenheiros da Vale confessaram pressões psicológicas para dar pareceres técnicos favoráveis, afirmando ser o rompimento daquela barragem de amplo poder de destruição, mas com baixo risco de ruptura. Rompeu no dia 25 de janeiro de 2019, matando 322 pessoas. Foram encontrados 157 corpos, e mais 165 estão soterrados, a maioria homens jovens, fato chorado amplamente. Parte da Mata Atlântica foi destruída. O Rio Paraopeba está morrendo. A lama contaminada por metais pesados caminha em direção a Represa de Três Marias. Especula-se se terá capacidade de reter o material tóxico e fatal para todos os tipos de vida e evitar que chegue ao Rio São Francisco. E que a palavra tragédia não perca seu sentido fantasmagórico e literal pelo excesso de repetição.

Na noite de seis de fevereiro de 2019 aconteceu uma chuva torrencial no Rio de Janeiro, com ventos de 110 km por hora. Matou sete pessoas e derrubou mais de 200 árvores. Meteorologistas afirmaram ter sido uma tempestade de verão. A pista da ciclovia Tim Maia, inaugurada em janeiro de 2016, e que já desabou em três locais, tem sua demolição cogitada. Na primeira vez uma super-onda, não prevista pelo projeto, derrubou o tabuleiro, que caiu no mar, matando duas pessoas. O deslizamento de terra da encosta fez tombar árvores sobre dois ônibus, vitimando duas pessoas. A Avenida Niemeyer, paralela a Ciclovia Tim Maia, entre a montanha e o mar ficou interditada. Ruas viraram rios, sendo que a região da Barra da Tijuca e das comunidades Rocinha e Vidigal foram as mais atingidas. Mesmo com sirenes disparadas nas áreas de risco, a força e a velocidade dos excessos da Natureza levaram casas, carros e pessoas.

Na noite seguinte, houve um curto circuito em cadeia nos ares-condicionados do Alojamento do Centro de Treinamento do Time Sub-15 do Flamenco, localizado dentro de um contêiner, gerando incêndio que se alastrou rapidamente, sem possibilidade de fuga das vítimas. Tinha apenas uma porta de saída. Dez dos 13 jogadores de 14 e 15 anos, que moravam lá, morreram carbonizados. Na manhã seguinte, outras treze pessoas morreram num tiroteio com a polícia.

Numa noite, morte por água e terra, na outra morte por fogo no ar-condicionado. Viver não é perigoso. É perigosíssimo. Desculpem-me Guimarães Rosa e seu personagem filósofo inesquecível, Riobaldo, mas a amarga história contada pelo drama coletivo está nos deixando sem chão, levado pelo descaso, e sem palavras, levadas pelo embotamento psíquico. Precisamos lavar a nossa alma.

Domingo, 10 de fevereiro de 2019

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Deus nos chama para o serviço do seu Reino


Deus nos chama para o serviço do seu Reino



Queridos irmãos e irmãs, estamos celebrando o 5° Domingo do Tempo Comum, ao longo da história da nossa salvação, Deus chamou pessoas e as capacitou com conhecimento, graça e força para que a missão seja feita conforme a sua vontade. Deus tem um plano e ele foi executado pelos que foram chamados e ainda hoje nos chama para que trabalhemos para um mundo mais justo e fraterno. Não se pode ter alguns com muito enquanto muitos não tem nada e carecem de coisas que são necessários para terem vida em abundancia.

A liturgia bíblica desse domingo nos ajuda a identificar três chamados que Deus faz as pessoas e nós devemos estar atentos ao chamado de Deus que tem a cada um de nós.

No livro de Isaias, vemos a vocação dele, Deus o chama no momento que ele estava no templo em oração. Mas ele se acha indigno e impuro e prefere estar no seu cantinho sem se compromete com nada. Entretanto, um anjo toca os seus lábios e os purifica para missão que ele era destinado. Deus não impõe, mas faz pergunta: "Quem vou enviar?" e então Isaias se dispõe dizendo: "Eis-me aqui, envia-me". O chamado sempre é de Deus e a resposta é  sempre da pessoa.
Quando abrimos para ouvir Deus e é Ele que vem nos purifica e dá graças e dons para que a missão que Ele nos confia possa ser bem executada e tenha êxito. (cf. Is 6,1-8)

          Na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, vemos São Paulo que foi chamado de modo extraordinário na estrada rumo a Damasco e ali ele responde ao chamado desse encontro com Jesus: "Senhor, que queres que eu faça?". Assim acontece conosco através de acontecimentos, fatos e sinais, Deus nos chama pra uma missão na Igreja e nos abastece com graças e dons para podermos desempenhar bem a missão evangelizadora. Devemos ser a Igreja de saída, que nos impele a todas as gentes que estão famintas e sedentas de Deus, pois é Ele que traz um Reino de justiça, de fraternidade e de amor a onde todos se sintam irmãos uns dos outros. (cf. 1 Cor 15,1-11)

           O Evangelista São Lucas narra o chamado dos Apóstolos, Jesus ensina na Barca de Pedro e depois o faz a ir pescar. A pesca foi grandiosa e os pescadores ficaram maravilhados, mas Jesus os chama para serem pescadores de homens para o Reino de Deus seja construído no mundo até a  sua realização plena no céu. A reação de Pedro é de hesitação, mas larga tudo para seguir Jesus. Se Deus faz prodígios diante de uma ação humana, imagina diante das pessoas para elas  transformem a suas vidas e os seus corações para o bem.

             Podemos dizer que o chamado de Jesus segue um ritmo de uma catequese com a pergunta O que é ser Cristão? Primeiro estar com Jesus no mesmo barco, ser atento o que Jesus diz e ter a disponibilidade de escutar e aceitar o chamado que Jesus faz. Estar com Jesus é reconhecer que Jesus é o Senhor que tem um projeto de felicidade plena e que possamos ouvi-lo e segui-lo. Não se perder com outras vozes do mundo que nos leva ao egoísmo, ao desinteresse, ao coração fechado diante de tantos irmãos que gritam de fome, de doença, de ajuda e de solidariedade. . (cf. Lc 5,1-11)

Que esta liturgia nos ajude a estar atento ao chamado de Jesus que faz a nós para transformar esse mundo em algo justo, fraterno, e em comunidade a onde todos tem vez e voz para que haja vida em abundancia a todos. Amém

Tudo por Jesus nada sem Maria

Teólogo Jose Benedito Schumann Cunha

domingo, 3 de fevereiro de 2019

O fracasso não deverá ser motivo para nós desistirmos da missão

Queridos irmãos e irmãs, 

Estamos celebrando o 4º Domingo do Tempo Comum. No domingo passado, ficamos sabendo da importância da Palavra de Deus na vida e no meio do Povo de Deus. Sabemos que Deus precisa de pessoas disponíveis para Proclamar a sua Santa Palavra. Aqui entram os profetas daquele tempo e nós hoje. As leituras bíblicas desta liturgia nos fala de profetas: Jeremias e Jesus. No livro de Jeremias, encontramos o chamado de Jeremias, considerado o profetas das Nações. Ele quase recusou o chamado, dizendo: "Eu não sei falar... sou apenas uma criança...". 

Mas Deus não desiste e diz: "Antes de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações. Não tenhas medo, não conseguirão te vencer, estarei contigo para te livrar". Aqui podemos ver que é Deus que dá força aos seus escolhidos para enfrentar as adversidades da missão que Ele nos confia no seu projeto de salvação. Jeremias é para nós um exemplo de pessoa que está a serviço da Palavra de Deus. Ele foi fiel e sofreu por causa disso. 

Isso é uma aparência de fracasso na missão. É o que se revela nas suas lamentações. Deus nunca o abandonou (cf. Jr 1, 4-5.17-19). Assim Deus faz conosco, Ele nos enche de graças e forças para continuarmos na missão de evangelizado que Jesus confiou a cada um de nós. Na Primeira Carta de São Paulo ao Coríntios, Ele nos fala do amor que é uma grande virtude teologal, pois é o amor que dá sentido à nossa vida de poder continuar semeando a boa nova a todas as gentes, mesmo diante do desprezo e sofrimento diário. O amor é desprendido e não pensa em proveito próprio, mas é algo que vai além para podermos partilhar, amar e servir quem mais precisa. 

Devemos ser profetas do amor que se mostram diante de um mundo cruel e egoísta (cf. 1 Cor 12, 31-13, 13) O evangelista São Lucas apresenta para nós hoje Jesus, um grande profeta de Deus que foi rejeitado em sua terra natal e pelos parentes dele como está escrito: "Nenhum profeta é bem recebido na sua terra" (cf. Lc 4, 21-30). Ele foi rejeitado porque conheciam a sua característica humana e não a divina. Isso não os fez a aderir ao projeto que Jesus tinha para eles. Jesus só pode fazer milagre se tivermos fé nele. Em Cafarnaum, Ele fez, mas lá não, porque Jesus não faz espetáculos. Jesus é o Senhor libertador. 

 Precisamos aprender a procurar Jesus como nosso salvador. Jesus os critica, falando a eles sobre a acolhida do sírio Naamã e da viúva de Sarepta, que viu nos profetas o homem de Deus enviado a nós. Como eles eram incrédulos, queriam matar Jesus, querendo jogá-Lo de um monte para baixo, mas Jesus sai sem temer diante deles e continua a sua missão. Não se acovardou diante das recusas do seu povo e foi para a missão. 

Que Deus Pai O confiou. 

Que esta liturgia nos ajude a continuar sem desanimar a missão que Jesus confia a nós. 

Não estamos trabalhando para o reino de Deus para obter prestígios e aplausos, mas para servir-nos mais pequeninos e pobres que necessitam da nossa ajuda. 

Tudo por Jesus. Nada sem Maria.

Bacharel em Teologia José Benedito Schumann Cunha

Minhas férias

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

No Ginásio, essa temática era obrigatória na volta às aulas. Em janeiro último foram doze dias de descanso. Partimos em dois carros de Montes Claros para a Bahia, Ilhéus, a 750 km. As praias não urbanas têm pouca infraestrutura, mas ao mesmo tempo oferecem mar limpo e tranquilidade. Esta foi a terceira vez em Una, Ilha do Desejo. Segundo Ana Valda Vasconcelos, nossa companheira de viagem, o nome se refere ao desejo de liberdade, de ser feliz, e não algo relativo a filme pornográfico, como sugeriu meu filho Fernando.

Depois da capital baiana do chocolate, dirigimo-nos ao sul. Abaixo de Olivença e depois do Rio Acuípe entramos à esquerda. Há uma pequena torre com um vigia, que controla entradas e saídas, além de observar os carros estacionados, que ficam no continente. Então, adentramos num mangue, passando sobre uma ponte de madeira. Chegamos ao cais de onde tomamos uma pequena balsa movida a braços que puxam uma corda presa a uma roldana. Seriam uns 100 a 200 metros, conforme a maré. Leva dez pessoas e éramos nove, com muita bagagem, apesar da arrumação resumida em bolsas e mochilas. O transporte fluvial tem bancos, toldo e coletes salva vidas. O Rio Acuípe abastece as casas da ilha com água salobra, in natura.

Tínhamos alugado uma casa avarandada de dois andares com um observatório no topo onde era quase possível pegar internet e ver o mundo ilhéu. A liberdade de uma ilha quase deserta na qual moram cinco pessoas, deveria ser sinônimo da liberdade, mas o telefone celular escraviza, especialmente quando temos apenas um tênue sinal.

Na primeira manhã nosso carro não deu a partida. Como é automático e já temos experiência, sabemos que se trata da bateria da chave sem carga. Basta abrir o corpo dela e trocar a bateria semelhante à de um relógio. Em casa temos sobressalentes. Quando foi possível, liguei para a seguradora, que deu a seguinte solução: enviaremos um guincho para rebocar o carro até a residência e outro para levá-los de volta para casa. Era nosso 2° dia de férias. Devido ao isolamento, sugeri que nos mandassem um técnico com a bateria e a possibilidade de verificar outras hipóteses. Desisti da seguradora. No dia seguinte, nos deslocamos num carro emprestado e compramos uma bateria de chave presencial por R$ 10, que resolveu o nosso problema.

Contratamos uma diarista que trouxe a irmã. Tinham feito curso no Hotel Transamérica, na Ilha de Comandatuba. Naidinha e Leidinha nos ensinaram como fazer um amplificador de sinal de telefonia e internet. Consiste numa garrafa pet na qual se abre uma janela do tamanho do celular. No fundo, colocam-se uns cinco cm de areia marinha e uma camada de pedras por cima. Procura-se o sinal e ao encontrá-lo põe-se o celular dentro da garrafa. Após uma pequena espera, o sinal fraco melhora e as mensagens entram. As que ficam girando sem sair também saem. Escrever fora da garrafa e colocar o celular dentro dela para enviar e receber. Para a telefonia, na viva voz é possível falar. Ainda há uma boa caixa de ressonância. Testamos e funciona.

Exceto perto da pousada, observei um maior descuido com o lixo plástico, que começa a comprometer a paisagem. O mar oferece um belo show e, junto com o céu e o sol, faz um terceto, explodindo em alvoradas e crepúsculos extasiantes. Do nosso ponto de observação no segundo andar, o espetáculo era ainda mais completo. O mar de águas quentes, para além de mornas, obriga até o mais resistente a dar um mergulho. As presenças de umas poucas águas vivas davam seu alerta, mas ninguém se feriu.

O convívio agradável regado à água de côco e cerveja estimulou as centenas de cliques. Lá estávamos Beatriz Santana, Belmiro Santana - Bil, Ana Valda Vasconcelos, Vera Flávio, Carolina Pimenta, Karla Celene Campos, Marco Emanuel Silveira, Fernando Narciso e eu, para dividirmos espaço, impressões e experiências.

Quando íamos até a civilização, em Ilhéus (35 km ao norte) ou Canavieiras (70 km ao sul) nos primeiros minutos ficávamos atados ao celular, para depois partirmos para a contemplação e sessão de fotos.

Frida, a nossa cachorrinha, ficou em casa com a cozinheira Geny Fernandes. Quando chegamos, foi uma festa imediata que não mais terminou. A viagem acaba, mas continua em nós, pois retornamos transformados.

Domingo, 03 de fevereiro de 2019