“Aquele que mexe com a inteligência
humana tem, ele mesmo, uma inteligência própria” (Leonardo da Vinci)
Escutar Wesley
Safadão é o que? Resolver problemas? Gostar de sertanejo universitário é fazer
apologia à sofrência permanente? Cocaína e crack destroem mais que obras da
Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 ou dão coragem às pessoas para
prestigiarem os eventos multinacionais da Indústria Cultural?
É proibido
prostituir o espaço público com o privado? É conveniente a desigualdade social
no capitalismo? Por que o mercado paralelo do tráfico de drogas do Estado
Democrático de Direito movimenta tanto dinheiro?
Se nos oferecem
produtos políticos menos piores que os outros, por que esperar que os
adolescentes não recorram às drogas (cocaína para o rico e crack para o pobre)?
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A sociabilização
se dá na sociedade capitalista em espaços cada vez mais privados, sobretudo
aquela que desenvolva a verdadeira amizade, amor e humanidade. Veja nas escolas
e faculdades como os grupos se formam cada vez menores. O intimismo implícito
nas relações sociais capitalistas faz com que o ser humano se sinta
envergonhado.
A própria
estrutura arquitetônica das cidades urbanizadas impede maneiras de
sociabilização mais coletivas e com maior adesão de pessoas, caso não sejam
manipuladas massificamente pela mídia. A disciplina pelo trabalho faz com que o
ser humano se interiorize e não exteriorize suas opiniões, angústias e
desprazeres com a vida.
Daí a
dificuldade de se reunir e realizar protestos sociais realmente puros e imunes
à infiltração de partidos políticos, movimentos e demais organizações
lucrativas da sociedade dita civilizada.
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O sonho das
pessoas de realizar seus desejos mais íntimos as faz quebrar barreiras
inimagináveis no mundo contemporâneo. Como a sociedade capitalista é altamente
espetaculosa e fetichizada, a distância entre a realidade e a fantasia quase
não existe hoje em dia. O cotidiano se torna surreal por causa da luta de cada
um e de todos por melhores condições de sobrevivência material.
Quando o
estômago grita com fome, não há alguém que o socorra. Mas quando procuramos
suprir desejos fúteis, o mercado até limpa o nome do sujeito na praça para que
ele possa se endividar mais e solicitar infinitos empréstimos. Moradia, saúde,
alimentação são projetos secundários perto dos desejos fantasiosos gerados
pelas novas tecnologias das comunicações burguesas.
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Mulher do Ano
2000
A mulher do Ano
2000 completa 17 anos.
Em 2010, tivemos
a primeira mulher eleita para a Presidência do Brasil: Dilma Rousseff. Na
verdade, ela foi mais imposta pelo seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva,
do que aclamada pela população. Não possuía nenhuma das características da
tradicional mulher brasileira. Era de aparência séria e carrancuda.
Casou-se e
divorciou-se, apesar de o divórcio estar presente entre nós desde a década de
1970. Colaborou com a luta contra a Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1985).
Derrotou um mineiro nas eleições presidenciais, apesar de também ser mineira.
Foi dura a disputa, mas venceu. A vitória seria cobrada seis anos depois com a
punição por dar pedaladas fiscais para auxiliar antigos parceiros, como o
agronegócio e programas sociais de governo. Perdoar dívidas de latifundiários é
medida recorrente na história nacional.
Assumiu no lugar
dela, em 2016, após um impeachment que mais parecia um espetáculo circense,
Michel Temer, do eterno governista PMDB, casado com a loira Marcela e pai de
Michelzinho. Derruba todos os direitos conquistados pelos trabalhadores de 1930
a 1964.
Antes de
completar a maioridade penal, a mulher do ano 2000 observa o estupro coletivo
de direitos.
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A sociedade
capitalista, com sua ideologia implícita no ser humano, sabe moldar os
movimentos sociais a seu bel prazer. O Dia dos Namorados não é mais endossado
para o homem e a mulher que se amam, porém é propagandeado para aqueles que se
amam.
12/06/2017
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Os banheiros
públicos do século XXI deveriam mudar. Há espaço para o masculino, o feminino e
o deficiente físico. Ainda não construímos a coluna do meio, apesar de o meio
ser uma constante no mundo político, econômico e social. Nunca concordamos com
nada. Quente, frio ou morno? Se morno, vamos lhe vomitar.
Contudo, é sempre o morno
que rege a sociedade capitalista. Ela não consegue ser mais do que isso: nem
quente, nem fria, simplesmente morna, tanto faz. Homem, mulher, homossexual, bissexual,
transgêneros, negros, brancos: todos não são seres humanos?
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Produção de problemas e não de soluções
Ele contou para
o amigo que bateu o carro. O amigo nem lhe prestou alguma sensibilidade pelo
ocorrido. Apenas mencionou que também já havia sofrido um acidente de
automóvel. A vida é assim mesmo. Experiências repetidas e extasiantes que não
levam a nada, mas todos temos que vivenciá-las para saber como que é.
Já notou como
olham para aquele cara solteiro, de vida boa, sem família para criar, sem
cartão de crédito para pagar? Viver com problemas se tornou tão comum que
aqueles que gostam dos fatos bem resolvidos se tornam alvos fáceis da vingança
e da inveja alheia.
Estaria eu na
Terceira Idade? Desempregado? De novo? Dispor de tanto tempo livre quando o
tempo é trabalho e pouco dinheiro para o assalariado, quando o ócio é visto
como tédio nas relações da sociedade capitalista do século XXI?
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Há sim uma
ruptura entre o público e o privado. Costumo dizer que o privado engoliu o
público. Talvez a escandalosa e criminosa privatização da Estação Ferroviária
Central do Brasil (EFCB) em 1996 tenha sido a principal responsável por romper
e destruir o espaço público no Brasil.
Não é uma
inovação esse drástico rompimento. É uma castração do tecido social brasileiro.
Romper essa barreira é prática perniciosa. O público é protegido como se fosse
espaço privado com suas câmeras de vigilância, grades e guardas noturnos.
João Renato Diniz Pinto
Texto produzido em 2017 ao mesmo
tempo em que fazia a leitura do livro “Amor e Sexualidade: a resolução dos
preconceitos”, São Paulo: Editora Gente, 2ª Edição, uma coletânea de artigos de
autores como José Otávio Fagundes, Albertina Duarte Takiuti, Sylvia Cavasin e
Lídia Rosemberg Aratangi.