ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Nosso Português Brasileiro

POR Mara Narciso

Assim como não bate o carro quem não dirige, não erra o Português quem não escreve. Poucos redigem uma página inteira sem erros, sejam gramaticais, sejam ortográficos. Outros se confundem na lógica, nos conceitos, ou no uso de palavras, algumas vezes inexatas, que faladas soam mal, e por escrito deixam patente o engano.

Todos os aspectos da linguagem escrita são desafiadores. Passar a vida lendo, observando, detalhando, consultando o dicionário, reduz os erros, mas não os abolem. E quanto mais a pessoa escreve, mais exigente se torna, mais enganos vê que cometeu, especialmente depois do texto publicado, e, principalmente anos depois. São indispensáveis os corretores, revisores, editores. Para meu colega de jornalismo Girleno Alencar, “não existe texto perfeito”. João Guimarães Rosa, numa entrevista, relatou ler um texto cem vezes antes de considerá-lo pronto. Então, o que dizer dos simples escritores?

A prática ajuda, enquanto a pressa destrói. Quem se arvora em sua sapiência, também apresentará erros. Recuar e aceitar críticas, não faz errar menos. O erro público machuca e abala o amor-próprio. E a pergunta: como não vi isso, lendo tantas vezes? Conferir a informação é indispensável. Rever a coerência do texto, e anotar se não há discordância de ideias, ainda que sutil. Observar se o pensamento saiu completo ou se ficou faltando alguma coisa na frase. Mudanças de última hora, sem os devidos critérios e revisões são caminhos curtos para o erro, especialmente de concordância.

Cometer um equívoco na redação não é banal. Dói fundo a visão de um erro grosseiro, que poderia ter sido evitado, caso a atenção fosse maior. O desconhecimento é a principal causa da escrita errada, dos significados equivocados, das palavras mal colocadas, da pontuação inadequada. Um texto passável pode receber nota ruim dada por um revisor exigente, que chega rabiscando tudo, com grifo amarelo, trocando palavras, questionando conceitos, especialmente se as regras da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas não forem seguidas num trabalho acadêmico. Liberalidades podem ser tomadas como estilo, mas os excessos são desacertos puros e simples.

Na dúvida da conjugação de um verbo, troque de verbo, se não sabe como escrever a palavra, abandone-a. Sem contar os inúmeros acordos ortográficos. O mais recente entrou em vigor em 1º de janeiro de 2009, necessário para formalizar e unificar a Língua Portuguesa falada em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste, Portugal e São Tomé e Príncipe. Há lógica, porém, certos detalhes sugerem que nem mesmo quem participou das decisões sabe por que assim o fez. As exceções são mais amplas que as regras, e há casos em que nem mesmo há regra. Em relação às normas para o uso e desuso do hífen, só mesmo decorando.

Quem escreve com o coração e quer acertar, relê muitas vezes e troca vocábulos a cada leitura. Escrever bem é cortar palavras, e manuais de redação, ainda que direcionem o estilo e até os termos, fazem o veículo de comunicação linear, como se tivesse sido escrito por uma só pessoa, e sua leitura fica fluida. Houve um tempo em que havia uma revista, de publicação semanal, que era informativa e agradável. No entanto, tornou-se um panfleto, e, quando engessou o pensamento dos jornalistas, deixou de ser interessante para mentes indomadas.

Revisar de maneira minuciosa, deixar o texto dormir e relê-lo no dia seguinte tornam as coisas mais claras. Uma leitura sem compromisso, feita por alguém com bons conhecimentos gerais, pode ser crucial para encontrar falhas.

Português é uma língua difícil, complicada, quase impossível, haja vista a dificuldade de se falar corretamente em público de maneira improvisada. Algumas matérias jornalísticas mostram pessoas com o vocabulário restrito. Capas de jornais dão vexame em certas chamadas. Olavo Bilac imortalizou seu verso dizendo sobre a “Língua Portuguesa”: “Última flor do Lácio, inculta e bela”, se referindo ao Português do Lácio, região central da Itália, onde soldados falavam algo derivado do Latim vulgar. Uma língua viva, como as demais, que deixa os brasileiros perdidos na norma culta, quando a intenção é redigir certo.

Domingo, 26 de agosto de 2018

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Arcebispo metropolitano e vice-reitor da Unimontes recordam fundador da Pastoral da Terra no Norte de Minas

Fica mais em casa! Fica mais com a família!!!, era o pedido da companheira Lúcia a Alvimar Ribeiro dos Santos (1954-2016). E ele a respondia: Você vai ver como a nossa luta vai dar frutos. A história foi contada por Lúcia, esposa de Alvimar, no final da missa dos dois anos da ressurreição do fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Norte de Minas Gerais.

A celebração eucarística aconteceu no final da tarde desta segunda-feira (20/08), na Casa de Pastoral Comunitária, e foi presidida pelo arcebispo metropolitano de Montes Claros, dom José Alberto Moura, e concelebrada pelo vice-reitor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), padre Antônio Alvimar de Souza, pelos jesuítas padre Luiz Arnaldo Sefrin e padre José Flávio Monnerat Tardin, e pelo diácono permanente Geraldo Magelo Martins de Abreu, além de outros formandos da Escola Diaconal Monsenhor Raymundo Tadeu de Carvalho, que o militante da CPT falecido em 19 de agosto de 2016 não integrou por problemas de saúde que o levaram para junto de Deus.

Participaram ainda da cerimônia religiosa missionários e missionárias da CPT, da Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros, do Colégio Marista São José, do Projeto de Desenvolvimento Rural e Urbano (Proderur), da Pastoral Carcerária, da Pastoral da Criança, da Pastoral do Menor, da Pastoral da Juventude, da Pastoral da Saúde, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) do Norte de Minas, do Regional Norte da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Caminho de Damasco (Cursilhos de Cristandade), do Regional Norte do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), da Coordenadoria Municipal de Igualdade Racial, do Círculo de Trabalhadores Cristãos, dentre outras religiosas e lideranças de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O padre Aylton Lopes dos Santos também participou da cerimônia religiosa.


O arcebispo dom Alberto pregou na sua homilia que as pessoas devem se desapegar de bens materiais e criticou o capitalismo selvagem que destrói o meio ambiente. Ao final da celebração, reforçou a bondade semeada em vida pelo militante da CPT e espalhada na terra através das suas ações fraternas.

Texto: João Renato Diniz Pinto
Imagem: Felipe Gomes da Silva

domingo, 19 de agosto de 2018

Catopelando

POR Mara Narciso

Nos anos 1960, a nostalgia fala: não havia decoração pública nas Festas de Agosto de Montes Claros. Nem esse nome havia. Quando meiava o mês ventoso - “agosto chega como a ventania, cálice bento e abençoado, a dor do povo de São Benedito, no mastro existe para ser louvado” (Tino Gomes e Georgino Júnior) -, os dançantes saiam para a rua. O Congado, nossa mais ardorosa tradição, tem na devoção a São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e ao Divino Espírito Santo o motivo da festa. As violas dos marujos de vermelho e azul (uma dissidência é branca) e dos caboclinhos com arcos, flechas e tangas de penas de galinha circulavam pelo centro da cidade. 

Ano após ano, podia-se ouvir a batida dos pandeiros, caixas e tambores dos catopês, com sua dança cadenciada, indo e voltando em fila indiana, com os estandartes e uma fé candente. Eram grandes em sua coragem e veneração aos santos, mas minguados em número. Na verdade, o Segundo Terno de Catopês de Nossa Senhora do Rosário tinha à frente o grande Mestre João Faria, desde os 17 anos, e uma dúzia de homens e meninos, quase todos descalços, nem mesmo sandálias de borracha possuíam, trajavam roupas brancas surradas e empoeiradas, com minguadas fitas coloridas nos capacetes, traços que marcam o grupo, e uma dolorida cara de sofrimento. Não dá para tirar isso nem da História e nem da letra da música “Montesclareou”, cujo verso diz “meus olhos cegos de poeira e dor”.


A antiga igreja do Rosário, no meio da praça, foi derrubada pelo progresso e outra moderna com formato de barco passou a abrigar os dançantes em seus rituais, debaixo da quentura abafada do lugar. Lá se vão décadas e a festa mudou, recebeu o apoio de políticos, da população e especialmente da classe média, que aderiu e apoiou financeiramente, com jantares coletivos e doações, mesmo sem verbas oficiais. Sem contar os príncipes e princesas e quase toda a corte, que são provenientes da classe abastada, onde estão os festeiros que organizam o almoço dos participantes. Sem isso, a Festa dos Catopês, Marujos e Caboclinhos, negros, brancos e índios, respectivamente, este ano em sua 179º edição, 18 anos anterior à emancipação de Montes Claros, poderia ter desaparecido. Quem vê sua grandiosidade hoje, coligada ao Festival Folclórico - 40ª edição, apoiada e admirada pela plasticidade da sua dança, beleza e longevidade, nem sonha como já foi.

A classe média entrou nos ternos seguindo um ritual complexo, a começar pela exigência de fé, respeito às tradições e comparecimento aos ensaios. Chegou com trabalho e participação no cortejo. Não pode descaracterizar os rituais nem os figurinos. Os capacetes dos catopês mudaram, adquirindo pedrarias, penachos de pavão, e fitas coloridas até o chão. As faixas transpassadas no peito mostram a graduação dentro do reinado. Os chegantes estão, obviamente, sob o comando dos mestres e muitos se apresentam há décadas. São importantes na manutenção da festa, mas há discordantes veementes, que querem apenas os dançantes de raiz no desfile. Dentro dos limites estipulados, a manutenção dessa infiltração respeitosa é bem-vinda. A discussão e palpites são antigos, e alguns olhares externos querem expurgar o Festival Folclórico e dizer como os dançantes devem se comportar.

As Festas de Agosto, quer gostem ou não, valorizem ou pensem que sejam artificiais e aculturadas, mobilizam a cidade durante quatro dias e quatro noites, tumultuando o centro e trazendo vida e alegria ao sofrido povo da cidade.

Muitos querem ver, fotografar e filmar o desfile que começa na Praça Dr. João Alves e desce até a Praça Portugal na direção da igreja do Rosário. A cacicona Maria do Socorro Pereira Domingues, no comando dos caboclinhos, é a única mulher a ocupar esse cargo. O Mestre Zanza - João Pimenta dos Santos -, catopê da velha guarda, tem 85 anos, desfila desde o nascimento, e esse apelido foi-lhe dado pela mãe, porque ficava “zanzando” pela casa. Firme no cortejo até hoje, tem recebido homenagens e honrarias. O Mestre João Faria, um carroceiro na vida real e um rei na vida de sonho e sua inconfundível marcação de ritmo, partiu aos 74 anos, em 10 de janeiro de 2018. Nesta festa, a passagem do seu Terno, comandado pelo neto Yuri Farias Cardoso, de 19 anos, arrancou lágrimas dos mais sensíveis, inconformados com as perdas definitivas.

Domingo, 19 de agosto de 2018

terça-feira, 14 de agosto de 2018

CF de 1993 e Grito completam 25 anos




A Campanha da Fraternidade (CF) que originou o Grito dos Excluídos celebra, em 2018, Bodas de Prata. A cartilha da CF produzida pelo Regional Nordeste IV e Piauí da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) trouxe o tema “Onde moras?” com enfoque para a questão da moradia no país.

Na época, o arcebispo de Teresina/PI e presidente do Regional Nordeste IV, dom Miguel Fenelon Câmara Filho (1925-2018) escreveu, em 10 de janeiro de 1993, que “o problema é muito candente e atual. Ninguém o nega. Entre as carências mais sentidas na nossa classe pobre - e esta é a imensa maioria do Brasil e mais ainda de nosso sofrido Nordeste, situa-se a de moradia. Falta casa para muitos milhões de brasileiros, irmãos nossos. Há pessoas que moram em barracos, em cabanas, em casas de palha ou de estopa e papelão. No leito de ruas. Dentro de áreas alagadas e insalubres. Nos aclives de morros. Debaixo de pontes e viadutos. Ou simplesmente, em casa nenhuma. Dormem ao relento. Sob marquises. Expostas aos assaltos. À chuva. Às piores surpresas. Assim passam frequentíssimas vezes, os meninos e meninas de rua”.

“Os meninos e meninas de rua” cresceram, viraram adultos e ainda têm a lua como o seu teto. Em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, a Pastoral de Povo de Rua contabiliza mais de 800 pessoas em situação de vulnerabilidade social e que residem pelas ruas da maior cidade da região. Mais adiante em seu texto, dom Miguel Fenelon Câmara Filho (1925-2018) mostra o significado da casa para o ser humano.

“A casa é a extensão da própria pessoa. Nela nós nascemos e nos criamos. Ela se identifica com nossa existência, com nossos momentos tristes ou alegres, com nossas experiências de convivência humana. Quem deseja constituir família, necessita de casa. É a afirmação da segurança, da identidade, da privacidade, da esperança de um futuro feliz. A carência de habitações satisfatórias é um triste capítulo do pecado social que penaliza parte importante da sociedade, por força da ganância de uma minoria privilegiada, às voltas, com a hedionda especulação imobiliária, com a estocagem de terrenos, com a opressão dos mais fracos”.

A realidade habitacional brasileira não mudou muito nos últimos 25 anos. Em 1993, foram os moradores do Bairro Major Prates que cobraram por moradias decentes. Hoje, moradores da Vila Castelo Branco pressionam o poder público municipal por casas melhores. A Irmã Marilda de Souza Lopes descreve como foi o protesto que fez brotar a semente de esperança em dias melhores, que é o Grito dos Excluídos.

“Estávamos no ano em que a Campanha da Fraternidade teve como slogan “Onde moras?”. Os grupos Profeta Isaías e o Jovens Unidos pelo Amor a Cristo (Juac) fizeram visitas em várias favelas, dentre elas os moradores do lixão. Eram 26 barracos de plástico preto. Nas 26 famílias, havia muitas crianças e jovens. As crianças disputavam pedaços de carne que vinham no lixo dos restaurantes com os urubus que avançavam em suas mãos para tomá-los. Depois da visita, fizemos uma reflexão com os jovens que foram [nas favelas]. Era véspera de 07 de setembro. Pensei nas fanfarras que desfilam no dia 07 de setembro e expus meu pensamento de fazer uma clamor naquele dia, na parada cívica. Fazermos um pelotão com o slogan da Campanha da Fraternidade. A ideia foi bem aceita. Geraldo, do Profeta Isaías, fez as casinhas de plástico preto. Kelly, Kênia, Noé e outros jovens organizaram o pelotão. Ficamos com medo de enfrentar a polícia. Conversamos com o padre Antônio Carlos da Silva que deu todo o apoio aos jovens e a nós. Quando a Escola Estadual Dulce Sarmento entrou na avenida, o nosso pelotão, com os seus cartazes de manifestação contrária, aproveitou e entrou também na avenida até chegar em frente ao palanque onde se concentram as autoridades. Combinamos de não dizer nada. Somente mostrar os cartazes. As autoridades, que até então estavam recebendo aplausos, depararam-se com frases verdadeiras e francas: “O que vocês esbanjam falta para nós!!!”; “Políticos, seu salário é uma afronta ao povo!!!”; e outras. A primeira dama se sentiu mal e foi para a Santa Casa. No dia seguinte, 08 de setembro de 1993, a primeira página do jornal narrou o fato. Padre Antônio recebeu uma carta desaforada do prefeito. Em 1993, foi apenas “Clamor dos sem-teto”. No dia 07 de setembro de 1993 nasceu o Grito dos Excluídos na porta da igreja da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Bairro Major Prates”, conta a Irmã Marilda de Souza Lopes.

Vinte e cinco anos se passaram e o Grito dos Excluídos se manifesta agora por “Vida em Primeiro Lugar!” e alerta para que “Desigualdade gera violência: Basta de privilégios!”. E você? Vai ficar aí “parado dando milho aos pombos”?




DIREITOS HUMANOS - “Déficit habitacional é um desafio em todo Brasil e em Montes Claros não é diferente. Momento de escuta dos problemas da comunidade Castelo Branco”, postou em sua rede social facebook a assistente social da Arquidiocese de Montes Claros, Sônia Gomes de Oliveira, texto e imagens da visita de missionários do Projeto de Desenvolvimento Rural e Urbano (Proderur) à Vila Castelo Branco, em MOC-MG, nesta segunda-feira (13/06).  

Crédito das Fotos
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domingo, 12 de agosto de 2018

Fogo-apagou na minha infância

Agosto era tempo de festa, e ele incentivava os dançantes. Era padrinho do Mestre João Faria, que foi criado em sua fazendinha Aliança.

POR Mara Narciso

Experiências infantis, ainda que banais, na teia da vida, do tempo e da memória me parecem doces. Lembro-me com ternura, e se não me esqueço, merecem ser contadas. O mundo pastoril, tão novo para mim e para meus agudos sentidos marcou a folha em branco como ferro em brasa, formando uma forte cicatriz. Então, a saudade vem forte, pisa fundo no peito, num misto de contentamento e melancolia.

O canto da rolinha fogo-apagou (Columbina squammata) atira-me na Fazenda Aliança de Tio Indalício Narciso, nascido em 24 de março de 1897. O irmão do meu avô Petronilho, tão amigo, com pele alva e olhos da cor de uma pedra de anil, tinha uma doçura e suavidade inacreditáveis. Soube que a metade das suas aventuras daria um livro. Não teve filhos e cuidava dos sobrinhos como se fossem seus. Quanta mansidão! O que lhe sobrava em serenidade faltava em dinheiro. Era de uma humildade gritante. Os outros lhe davam roupas que eram usadas até a situação de ser remendadas. Era muito magro, quase que apenas ossos, com rosto chupado, cabeça pequena e redonda, algo calva, olho direito de vidro, falava pouco e baixo, e ficava, depois da velhice plena, sentado na varanda da sua casa, olhando a Rua Carlos Pereira, na altura do número 45. Na cidade ou na roça suas residências eram uma casa para todos, pois acolhia, sem distinção, quem lá chegasse.

Tio Indalício gostava de ler jornais, ouvir rádio, roer pelo menos uma dúzia de pequi em cada almoço, e não gostava do frio, devido às suas poucas carnes. No inverno, subia no fogão de lenha e ficava de cócoras para “quentar fogo”. Costumava reunir a família em volta de uma imensa gamela de feijão na vagem para descascar e conversar. Até a maturidade ia à Aliança a cavalo. Abusava do diminutivo para amenizar a vida. Quando a chuva durava um mês sem estio, e alagava tudo, ele dizia que tinha caído “uma chuvinha” e quando o mangueiral produzia manga que “fazia lama”, informava que tinha “umas manguinhas”. Compartilhava a mesma devoção dos catopês e reverenciava Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e o Divino Espírito Santo. Agosto era tempo de festa, e ele incentivava os dançantes. Era padrinho do Mestre João Faria, que foi criado em sua fazendinha Aliança. Aos prantos, os catopês dançaram em volta do seu caixão no dia 15 de agosto de 1980.

Ele mesmo me contou como pagou pela propriedade, que nós falávamos ‘Liança’. Foi comprada do seu Tio Américo Pio Dias, que era casado com sua tia Didinha Carocha. Tio Indalício não tinha dinheiro e pagou a propriedade com sua rarefeita produção de arroz, milho, farinha de mandioca e feijão quilo a quilo, moeda a moeda na comercialização feita por ele mesmo na feira de Montes Claros. Era tão pobre quanto seus agregados.

A Aliança fica situada próxima à saída de Juramento, a seis Km do centro. A cabeceira do Aeroporto Mário Ribeiro da Silveira dá em cima da fazendinha. Na frente dela tem um morro meio pelado, de cascalho e cristais, com árvores do cerrado tipicamente baixas e tortas. A casa tinha uma frente plana com janelas e uma porta, com um alpendre lateral de piso vermelhão, e no restante, piso de tijolos. Não havia sanitário, água encanada nem luz elétrica. Usavam-se cisterna, pote, banho de bacia, urinol, candeia e lampião. Com poucos móveis, alguns bancos, estrados e mesas rústicas, a casa era varrida com vassoura de ramo. Em frente ao alpendre havia um terreiro onde se secava grãos. No canto da cerca tinha um viveiro com sofrês e outro com sonhins bravos e um deles mordeu o rosto de Benedita, criada por Picucha, a mulher do meu tio. A casa tinha um longo corredor com uns cinco ou seis aposentos. O quarto de Tio Indalício era escuro, misterioso, com guloseimas, remédios, jornais, revistas e um cheiro próprio de coisa guardada, que me encantava.

Ao fundo ficava a cisterna e um amplo pomar com magníficos pés de manga espada, rosita, carlota, comum, “coquim”, além de umbus, laranjas azedas, limões galegos, goiabas, jenipapos, pés de café. Adiante ficava a lagoa, um rego com piabinhas e sanguessugas, e um rio temporário. Havia ao lado da casa um curral e a expectativa de ver tirar leite nas vacas, não me deixava dormir. Era capaz de beber um litro de “leite do curral”. Para além havia o galinheiro, alguns porcos e cocás, todos criados soltos.

Quando chovia, a força daquele verde e a algazarra dos passarinhos entupiam meu espírito de felicidade. E hoje, quando a rolinha fogo-apagou cantou em meu bairro, trouxe os cheiros penetrantes e os sons da minha infância, para me desequilibrarem a saudade.

Domingo, 12 de agosto de 2018

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Igreja motiva Grito dos Excluídos em todas as cidades do Norte de Minas Gerais


Aconteceu na quarta-feira (08/08), na Casa de Pastoral Comunitária, a terceira reunião preparatória só neste início de mês para o 24º Grito dos Excluídos em nível nacional, 25ª edição em Montes Claros, primeira cidade a realizar o movimento, quando moradores do Bairro Major Prates se uniram, incentivados pelas lideranças padre Antônio Carlos da Silva e irmã Marilda Lopes, para pressionar o poder público municipal por moradias dignas e não casebres de lona preta. A 24ª edição do Grito dos Excluídos acontecerá tradicionalmente no dia 07 de setembro. O tema deste ano é “Vida em primeiro lugar” e o lema destaca “Desigualdade gera violência: Basta de privilégios!”.

Participaram da última reunião preparatória do Grito na região missionários do Projeto de Desenvolvimento Rural e Urbano (Proderur) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ambos organismos ligados à Arquidiocese de Montes Claros, além de militantes do Regional Norte do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), do movimento estudantil “Correnteza” da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), do Regional Norte do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), de moradores da Vila Castelo Branco, de moradores de rua, da Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros, do Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD), da Coordenadoria de Igualdade Racial, dentre outros representantes de entidades sociais.

A novidade deste ano do Grito é a descentralização das atividades com promoção ao mesmo tempo de protestos localizados em vários municípios do Norte de Minas Gerais. O Grito é um movimento nacional ecumênico e inter-religioso que defende também bandeiras regionais, como o Rio São Francisco e o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP). Os movimentos sociais do Norte de Minas Gerais se mobilizarão para estar concentrados em Januária na sexta-feira (07/09) para reivindicar a revitalização do Velho Chico, que sofre as consequências da monocultura do eucalipto, da ação predatória da mineração e de outras devastações.

“Hoje fizemos reunião em preparação ao Grito dos/as Excluídos/as na cidade de Januária. É a vida do povo em Primeiro Lugar!”, postou às 15h e 52min a assistente social da Arquidiocese de Montes Claros, Sônia Gomes de Oliveira, ao mostrar imagens da reunião do Grito realizada em Januária na segunda-feira (06/08).

Reunião prepara Grito dos Excluídos em 2018


Movimentos sociais se unem em solidariedade a pescadores artesanais, principais prejudicados com a seca que castiga o Rio São Francisco, e organizam Grito dos Excluídos Regional no dia 07 de setembro deste ano


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Divulgação

terça-feira, 7 de agosto de 2018

A Paróquia do Cintra - Reminiscências

POR Monsenhor Antônio Gonçalves da Rocha

No início de 1958, comecei a celebrar a Eucaristia na igreja do Senhor Bom Jesus (conhecida como Santuário Bom Jesus), Bairro Roxo Verde, diariamente, às 7 horas da manhã. Aos domingos, prolongava meu itinerário até a igreja Nossa Senhora da Consolação, Bairro do Cintra, para outra missa, às 9 horas da manhã. Esta não era ainda uma igreja paroquial (nem estrutura tinha de Paróquia), e ambas as igrejas referidas pertenciam à Paróquia da Catedral.
O Cintra era um bairro meio distante do centro da cidade e semi-povoado. Sua minúscula capela cobria uma área de mais ou menos 24 metros quadrados, digamos 6 por quatro metros lineares.
Pedalava eu uma bicicleta para percorrer estes dois estágios; algumas vezes, por defeito “mecânico” no veículo, enfrentava, a pé, a distância que, então, era de chão, poeirento e lamacento, conforme a época do ano. Posteriormente, adquiri uma “vespa” que me facilitou o trajeto e que me valeu a alcunha de “padre da moto”.
Gostava muito (e ainda gosto) da comunidade do Cintra, a tal ponto que, quando lia no jornal alguma ocorrência desabonadora praticada por pessoa da comunidade, doía-me o coração como se o faltoso fosse alguém consanguíneo meu.
As missas dominicais no Cintra eram bem frequentadas e participadas, apesar dos precários recursos materiais e humanos, comuns na época, sobretudo numa comunidade iniciante e periférica. Algum tempo depois, passei a celebrar também nas primeiras sextas-feiras, à noite.
Dos coroinhas, lembro-me de Remo Galeota, apenas no período de férias, porque era seminarista, filho do casal italiano Sr. Ernesto e Da. Filicina, que fixaram residência no Cintra.
Lembro-me também, e muito do coroinha Zé Maria, bem como de suas irmãs Niedja (dúvidas a respeito da grafia correta do nome) e Vicentina, um amor de crianças. Após a missa, íamos à casa de sua mãe, a comadre Ritinha, onde um café modesto, mas generoso, aplacava meu jejum absoluto. Às vezes, após o café, com estas crianças, saíamos para um pequeno passeio nos arredores mais próximos, não digo pelas ruas, porque as casas eram poucas e esparsas, mas por entre os lotes vagos, ainda cobertos de verdejante mato, sobretudo em época chuvosa.
Comadre Ritinha... Quanta admiração!... Quanta recordação!... Nem sei se a chamo de comadre Ritinha ou de comadre “Santinha”. Sou padrinho de um de seus filhos, o Francisco. Sua residência (creio que ainda subsiste), bem humilde como sua pessoa, localiza-se na esquina, à esquerda do final da Rua Nossa Senhora de Fátima, no fundo da atual sede, de que então ainda não existia, do 10º Batalhão de Infantaria.
Deus chamou muito cedo para junto de si a comadre Ritinha... A partir de então, meu dominical café da manhã mudou de endereço: a residência do Sr. Oscar e da Da. Ormésia (ou Ormesina?). Acolhiam-me sempre com muita generosidade e alegria. Sentia-me em casa. Residiam ao lado da igreja, onde ainda reside sua filha adotiva Lourdes. O fato de serem muito religiosos e de residirem bem próximos à igreja concorreu e favoreceu para que assumissem o ofício de chaveiros e zeladores da igreja. Com que dedicação, com que cuidado e com que assiduidade exerceram sua missão, quase diria vocação! Além do mais, o Sr. Oscar, funcionário da então EFCB (Estação Ferroviária Central do Brasil), entendia também, embora não fosse um profissional, de eletrônica, e dispunha destes seus conhecimentos para o funcionamento e a manutenção dos ainda primitivos aparelhos de comunicação da igreja.
Não quero e não devo omitir o trabalho do senhor Antônio Costa, tradicional morador do Cintra. Habilidoso pedreiro e competente Mestre de Obras, ele disponibilizou sua habilidade e sua competência, sobretudo na construção da nova e atual igreja, já que a antiga, muito exígua, não satisfazia à exuberância e à manifestação da fé do povo do Cintra.
Começou, não me lembro em que data, a construção da nova igreja. Lembro-me, porém, que, por motivo de economia (devido aos minguados recursos financeiros), reduziram as dimensões da planta original. Lembro-me também de que, na oportunidade, não exatamente com estas palavras, mas com termos semelhantes, eu ponderei: “Vocês não deveriam ter feito isso; Montes Claros cresce vertiginosamente, e o Bairro do Cintra, como outros, acompanha este crescimento. Mais tarde ou mais cedo, talvez mais cedo que mais tarde, aqui será sede da Paróquia, e então, mais do que agora, necessitar-se-à de uma igreja bem ampla”. Não deu outra: antes de terminar a nova igreja, já cuidava de anexo para aumentar o seu espaço.
Outra pessoa que muito prestigiou a comunidade foi o Sr. José Ozório, também tradicional e benemérito morador do Cintra. Seu trabalho vem tendo continuidade através da fé ardorosa e praticante de seus descendentes. E outras tantas pessoas que a memória pode até relembrar, mas que o espaço limitado destas linhas não permite registrar.
Oficialmente, a Paróquia Nossa Senhora da Consolação, com sede no Cintra, foi criada em 07 de setembro de 1966. Eu já não residia mais em Montes Claros, porque, em fevereiro deste mesmo ano, fui provisionado e empossado como pároco de São João da Ponte.
E a história continua... Mais viçosa, mais pujante, mais brilhante continuam a história e a caminhada de fé da Paróquia Nossa Senhora da Consolação que celebra, jubilosa e vitoriosa, estes 50 anos de intensa e profícua atividade. Parabéns!!!

Monsenhor Antônio Gonçalves da Rocha é vigário geral da Arquidiocese de Montes Claros e escreveu este artigo por ocasião da celebração dos 50 anos da Paróquia Nossa Senhora da Consolação, em 2016.

Paróquia festeja Nossa Senhora da Consolação


De 26 de agosto a 04 de setembro acontece a novena e a festa em honra à padroeira da Paróquia Nossa Senhora da Consolação e Correia. O tema da festividade religiosa deste ano é “Maria, Mãe de Jesus, sinal de esperança e consolação para o povo peregrino e de Deus” (cf. LG 68). A Paróquia também está afinada com o Ano Nacional do Laicato e traz o lema “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mt 5, 13-14). Todos os dias, a partir das 18h e 30min, haverá terço e ladainha. Às 19h e 30min, santa missa e novena. As barraquinhas e os shows serão desenvolvidos nos dias 30 e 31 de agosto e de 1º a 04 de setembro.

O Bairro Cintra é a sede da matriz paroquial e onde se concentram a festividade religiosa desde quando Montes Claros ainda era dividida em fazendas. Em 1941, quando Montes Claros ainda era uma pequena cidade repartida por grandes fazendas, os moradores do atual Bairro Cintra já se reuniam em uma pequenina capela que contava raras vezes com a presença de sacerdotes para presidirem celebrações. Mas, os moradores do Bairro, muito fervorosos na fé, já possuíam alguma organização entre si e decidiram se mobilizar com o objetivo de realizar uma grande campanha que pudesse favorecer a reforma da capelinha.

Com muito trabalho, orações e leilões, conseguiram arrecadar fundos para a reforma que foi conduzida pelos próprios fieis, alguns deles ainda participantes da comunidade. A reforma atraiu novos participantes e os coordenadores de então manifestaram, junto ao bispo da época, dom José Alves Trindade (1956-1988), a necessidade e o grande desejo dos fieis de que a comunidade se tornasse uma paróquia.


Dia de Santo Agostinho

Em 28 de agosto de 1966, este pedido foi atendido e a pequena comunidade tornou-se paróquia. A partir de então vários padres vieram aqui celebrar. Ressaltamos a ajuda do padre Henrique Munáiz Puig. O monsenhor Antônio Alencar Monteiro foi o nosso primeiro pároco e permaneceu conosco de agosto de 1966 a abril de 1975. Padre Antônio Carvalho Magalhães foi o nosso segundo pastor e ficou aqui de maio de 1975 a outubro de 1976. Logo após veio o padre João Machado Gomes, que foi nosso pároco de outubro de 1976 a novembro de 1979. Padre Antônio Carlos da Silva foi o nosso quarto pároco. Ele nos pastoreou de dezembro de 1979 a fevereiro de 1990, quando chegou o padre Dorival Souza Barreto Júnior, permanecendo aqui até janeiro de 1992. Dessa data até outubro de 1995, padre Róbson Soares dos Reis foi o nosso pároco.

Então chegou o padre Antônio Alvimar Souza, que administrou a Paróquia Nossa Senhora da Consolação até março de 1997. Em julho desse ano, padre Kennedy dos Santos Silva assumiu a nossa Paróquia, permanecendo até dezembro de 1999, quando o monsenhor Geraldo Marcos Tolentino foi empossado como nosso nono pároco. Em 2010, o padre Adílson Ramos de Melo assumiu definitivamente a Paróquia. Atualmente, o padre Joaquim Ferreira de Almeida é o nosso pároco.


Escolha da Padroeira

Os fieis da Paróquia escolheram como padroeira Maria, Mãe da Igreja e de Jesus, com o título de “Senhora da Consolação e Correia”. Maria foi escolhida por possuir aquele povo grande devoção à Mãe de Deus, e Senhora da Consolação, por ter ele experimentado por diversas vezes o consolo e a ajuda de Maria na caminhada. A devoção à Virgem Maria sob a invocação de Nossa Senhora da Consolação e Correia é divulgada pelos religiosos da Ordem Agostiniana.

Os fieis das comunidades, paróquias, obras, projetos e serviços, coordenados pelos padres agostinianos, cultivam intensamente esta devoção em todos os quatro cantos do mundo. A invocação a Nossa Senhora da Consolação foi aprovada pelo papa Gregório XIII, em 1577. E sua festa é celebrada no primeiro domingo após o dia de Santo Agostinho (28 de agosto).

Dessa forma, a festa é móvel. A Paróquia Nossa Senhora da Consolação tem representação importante em nossa Arquidiocese. Graças ao trabalho realizado pelos padres que por aqui passaram, a área de abrangência geográfica da Paróquia já passou por três divisões que deram origem a três novas paróquias: Paróquia Santa Rita de Cássia instituída em 04 de setembro de 1993; Paróquia São José Carpinteiro e Maria de Nazaré (Bairro Independência), criada em 21 de outubro de 2005; e Paróquia Nossa Senhora do Carmo, oficializada em 21 de outubro de 2007.


Projetos

A Paróquia Nossa Senhora da Consolação, mesmo com dificuldades financeiras nos últimos 10 anos, procura realizar alguns projetos sociais, principalmente em parceria com outras entidades locais. Procurou também se fazer presente diante dos problemas que afligiam a população residente na Paróquia. Em parceria com a Casa da Juventude e com a Fundação Fé e Alegria, construiu uma escola maternal para crianças pobres sem condições de se matricularem em escolas particulares.

Participou da conclusão do Colégio São Luiz Gonzaga. Construiu e montou um pavilhão para a realização dos trabalhos sociais da Paróquia com ajuda da entidade espanhola “Manas Unidas”, especialmente através da Pastoral da Criança. Apoiou, de modo expressivo, as conferências vicentinas no atendimento aos pobres. Iniciou a construção do Centro de Evangelização e Promoção Humana Paulo VI. Colaborou com a Associação dos Moradores do Cintra para a instalação de um centro de inclusão digital.

Organizou, incentivou e participou de várias campanhas, tais como a criação do Programa Saúde da Família (PSF) no Bairro Cintra; humanização da Avenida Deputado Plínio Ribeiro, chamada até então de “Avenida da Morte” com colocação de semáforos e ilhas de pedestres. Nossa Paróquia realizou também diversos eventos visando a despoluição do Córrego do Cintra, hoje um esgoto a céu aberto que passa por toda a Paróquia, e a consequente urbanização da avenida que o margeia.


Organização

A Paróquia Nossa Senhora da Consolação é organizada de acordo com as orientações do nosso pároco, do Conselho Paroquial de Pastoral (CPP), Equipe de Pastoral, Equipes Auxiliares [Círculos Bíblicos, Ministérios, Conselho Econômico Paroquial, Liturgia, Projetos, Pró-Jovem, CFA, Equipe Missionária Paroquial (Emip) e Equipe Missionária para a Construção do Centro Paroquial].

Reforçam o trabalho na região as nossas pastorais, movimentos e associações. Aqui atuam a Pastoral do Batismo, Catequética, Familiar, do Dízimo, Pastoral da Criança, do Menor, Litúrgica, do Quarteirão, Pastoral do Domingo, Pastoral com Jovens e Pastoral da Pessoa Idosa. Denominamos nossos movimentos a Renovação Carismática Católica, o Encontro de Casais com Cristo, o Encontro com Cristo, o Encontro de Adolescentes com Cristo, o Movimento de Amizade Cristã e os Grupos de Jovens. Incluímos como nossas associações a Legião de Maria, o Apostolado da Oração, os Vicentinos e as Confrarias. Temos ainda os nossos Ministérios: Acolhida, Comunhão Eucarística, Enfermos, Esperança, Palavra, Celebrações Especiais e Música.

Nossa Paróquia é “uma Rede de Comunidades de Discípulos Missionários de Jesus Cristo”. Abrange seis bairros que são divididos em dois setores para facilitar o trabalho missionário. O primeiro setor engloba o Cintra (sede), Nossa Senhora de Fátima e Jardim Alvorada (Santa Terezinha do Menino Jesus). O segundo setor reúne os bairros Nossa Senhora de Lourdes, Ipiranga (Santa Luzia) e Monte Alegre (Nossa Senhora do Perpétuo Socorro).  

SEDE PAROQUIAL
Rua Alagoas, 335, Cintra
Montes Claros (MG)
39.400-387
(38) 3213-2112

CRÉDITO DOS TEXTOS E DAS IMAGENS
Divulgação da Paróquia

domingo, 5 de agosto de 2018

Duas faces do amor e outras faces mais

As brigas acontecem, e algumas vezes pensam em se separar. Mas as divergências são esquecidas.

POR Mara Narciso
médica-endocrinologia e jornalista

Fazer amor todos os dias, aliás, acordar o dia com amor é o comportamento rotineiro daquele casal. Maria Bethânia tem 45 anos e seu marido João tem 37. Ela é uma mulher culta, que dá aulas em três faculdades. São duas graduações, uma em História e outra em Direito, com várias especializações em ambas as áreas, mestrado e doutorado, habilidade para ensinar, e principalmente, carisma a elevam à condição de celebridade entre os estudantes. É a professora lembrada para a aula da saudade, para patrona da turma, para as homenagens, uma ave rara da unanimidade. Ganha bem, mas não tanto quanto desejaria. Tem um filho de dezoito anos do seu curto casamento com Pedro. Beleza comum, vaidosa, atlética e bem cuidada, possui boa figura social. Faz parte dos desejos da sua família buscar a ascensão cultural. Todos conseguiram. Depois do amor, seu dia começa com uma corrida pelo parque ou pedaladas com o marido, um jeito de equilibrar seu corpo e sua alma, suas necessidades físicas e psicológicas. Depois, concentra-se no trabalho. Esse casamento levado ao papel tem quatro anos.

João é um homem utilitário, bonito, de corpo bem definido, fã da musculação e do muai thai. Faz o estilo magro e, esportivamente bem vestido. Tem dons de jardineiro e trabalha num escritório como assistente administrativo. Não é muito interessado em leituras e estudos. Não fez graduação superior e este é seu terceiro casamento. Tem uma filha de dez anos. Gosta de beber com amigos um pouco mais jovens do que ele. As mulheres não tiram os olhos desse homem agradável e opinativo, mas, de pouco conteúdo, pois pode mudar de ideia diante de alguma argumentação.

O casal se dá bem, e em muitos aspectos vive por música, bem ritmado, com desejos iguais e vários planos. Tem muitos amigos em comum, mesmo gosto pelos esportes e pela cerveja, com bom entrosamento. Ninguém iria se queixar de uma vida assim, equilibrada, mas também emocionante. Por ganhar mais, Maria Bethânia está no comando, define as prioridades, compras, viagens. João aceita sem a consciência de que é ela quem dá as cartas e escolhe os caminhos dos dois.

Numa reversão de situações, subitamente surge uma oportunidade para João melhorar profissionalmente numa outra área, o paisagismo. Após alguns cursos, que já vinha fazendo, junto com um amigo monta uma empresa, passa a divulgar seu trabalho na internet, e depois de produzir alguns belos jardins, vira o objeto dos desejos da classe média, fazendo projetos nas áreas nobres. Passa a ganhar bem. Em contrapartida, para Maria Bethânia os pagamentos da universidade minguaram. Devido à crise financeira, redução dos financiamentos e de alunos, o dinheiro da professora se reduziu. Em algum tempo quem passa a controlar os gastos é João. Só que ele fica deslumbrado, adquire um ar arrogante, algo ofensivo, não tem equilíbrio para ser o chefe da família. As brigas acontecem, e algumas vezes pensam em se separar. Mas as divergências são esquecidas.

A ilustrada Maria Bethânia gosta do marido, mas, o acha medíocre, raso, alguém que pensa pouco, e quando solicitado dá uma opinião boba. Sente falta de pensamentos mais elaborados, deseja vivenciar momentos profundos, quer voltar a conviver com alguém de inteligência superior, poética, filosófica, criativa, inesperada. Ela mesma tem fama de ser inteligente. Em seu íntimo passa a sentir saudades de um relacionamento anterior, uma pessoa genial, culta e inteligentíssima, que, por sua vez é cheia de ideias brilhantes, diferentes, polêmicas, com um quê de anarquista. Suas frases eram para confundir de tão surpreendentes, estimulantes, intrigantes, de efeito imprevisível: uma ordem para pensar. Foi um convívio intenso, que durou quatro anos, os divertia e despertava invejas. O moço intelectual, vinte anos mais velho do que ela, é avesso à ginástica, está envelhecido e nunca foi bonito. Afirma ela que este foi o homem da sua vida. Gostaria de voltar àquele tempo. De fato, o amor não é para ser compreendido.

Domingo, 05 de agosto de 2018