POR Monsenhor
Antônio Gonçalves da Rocha
No início de
1958, comecei a celebrar a Eucaristia na igreja do Senhor Bom Jesus (conhecida
como Santuário Bom Jesus), Bairro Roxo Verde, diariamente, às 7 horas da manhã.
Aos domingos, prolongava meu itinerário até a igreja Nossa Senhora da
Consolação, Bairro do Cintra, para outra missa, às 9 horas da manhã. Esta não
era ainda uma igreja paroquial (nem estrutura tinha de Paróquia), e ambas as
igrejas referidas pertenciam à Paróquia da Catedral.
O Cintra era
um bairro meio distante do centro da cidade e semi-povoado. Sua minúscula
capela cobria uma área de mais ou menos 24 metros quadrados, digamos 6 por
quatro metros lineares.
Pedalava eu
uma bicicleta para percorrer estes dois estágios; algumas vezes, por defeito “mecânico”
no veículo, enfrentava, a pé, a distância que, então, era de chão, poeirento e
lamacento, conforme a época do ano. Posteriormente, adquiri uma “vespa” que me
facilitou o trajeto e que me valeu a alcunha de “padre da moto”.
Gostava muito
(e ainda gosto) da comunidade do Cintra, a tal ponto que, quando lia no jornal
alguma ocorrência desabonadora praticada por pessoa da comunidade, doía-me o
coração como se o faltoso fosse alguém consanguíneo meu.
As missas
dominicais no Cintra eram bem frequentadas e participadas, apesar dos precários
recursos materiais e humanos, comuns na época, sobretudo numa comunidade
iniciante e periférica. Algum tempo depois, passei a celebrar também nas
primeiras sextas-feiras, à noite.
Dos coroinhas,
lembro-me de Remo Galeota, apenas no período de férias, porque era seminarista,
filho do casal italiano Sr. Ernesto e Da. Filicina, que fixaram residência no
Cintra.
Lembro-me
também, e muito do coroinha Zé Maria, bem como de suas irmãs Niedja (dúvidas a
respeito da grafia correta do nome) e Vicentina, um amor de crianças. Após a
missa, íamos à casa de sua mãe, a comadre Ritinha, onde um café modesto, mas
generoso, aplacava meu jejum absoluto. Às vezes, após o café, com estas
crianças, saíamos para um pequeno passeio nos arredores mais próximos, não digo
pelas ruas, porque as casas eram poucas e esparsas, mas por entre os lotes
vagos, ainda cobertos de verdejante mato, sobretudo em época chuvosa.
Comadre
Ritinha... Quanta admiração!... Quanta recordação!... Nem sei se a chamo de
comadre Ritinha ou de comadre “Santinha”. Sou padrinho de um de seus filhos, o
Francisco. Sua residência (creio que ainda subsiste), bem humilde como sua
pessoa, localiza-se na esquina, à esquerda do final da Rua Nossa Senhora de
Fátima, no fundo da atual sede, de que então ainda não existia, do 10º Batalhão
de Infantaria.
Deus chamou
muito cedo para junto de si a comadre Ritinha... A partir de então, meu
dominical café da manhã mudou de endereço: a residência do Sr. Oscar e da Da.
Ormésia (ou Ormesina?). Acolhiam-me sempre com muita generosidade e alegria.
Sentia-me em casa. Residiam ao lado da igreja, onde ainda reside sua filha
adotiva Lourdes. O fato de serem muito religiosos e de residirem bem próximos à
igreja concorreu e favoreceu para que assumissem o ofício de chaveiros e
zeladores da igreja. Com que dedicação, com que cuidado e com que assiduidade
exerceram sua missão, quase diria vocação! Além do mais, o Sr. Oscar,
funcionário da então EFCB (Estação Ferroviária Central do Brasil), entendia
também, embora não fosse um profissional, de eletrônica, e dispunha destes seus
conhecimentos para o funcionamento e a manutenção dos ainda primitivos
aparelhos de comunicação da igreja.
Não quero e
não devo omitir o trabalho do senhor Antônio Costa, tradicional morador do
Cintra. Habilidoso pedreiro e competente Mestre de Obras, ele disponibilizou
sua habilidade e sua competência, sobretudo na construção da nova e atual
igreja, já que a antiga, muito exígua, não satisfazia à exuberância e à
manifestação da fé do povo do Cintra.
Começou, não
me lembro em que data, a construção da nova igreja. Lembro-me, porém, que, por
motivo de economia (devido aos minguados recursos financeiros), reduziram as
dimensões da planta original. Lembro-me também de que, na oportunidade, não
exatamente com estas palavras, mas com termos semelhantes, eu ponderei: “Vocês
não deveriam ter feito isso; Montes Claros cresce vertiginosamente, e o Bairro
do Cintra, como outros, acompanha este crescimento. Mais tarde ou mais cedo,
talvez mais cedo que mais tarde, aqui será sede da Paróquia, e então, mais do
que agora, necessitar-se-à de uma igreja bem ampla”. Não deu outra: antes de
terminar a nova igreja, já cuidava de anexo para aumentar o seu espaço.
Outra pessoa
que muito prestigiou a comunidade foi o Sr. José Ozório, também tradicional e
benemérito morador do Cintra. Seu trabalho vem tendo continuidade através da fé
ardorosa e praticante de seus descendentes. E outras tantas pessoas que a
memória pode até relembrar, mas que o espaço limitado destas linhas não permite
registrar.
Oficialmente,
a Paróquia Nossa Senhora da Consolação, com sede no Cintra, foi criada em 07 de
setembro de 1966. Eu já não residia mais em Montes Claros, porque, em fevereiro
deste mesmo ano, fui provisionado e empossado como pároco de São João da Ponte.
E a história
continua... Mais viçosa, mais pujante, mais brilhante continuam a história e a
caminhada de fé da Paróquia Nossa Senhora da Consolação que celebra, jubilosa e
vitoriosa, estes 50 anos de intensa e profícua atividade. Parabéns!!!
Monsenhor Antônio Gonçalves da Rocha é vigário
geral da Arquidiocese de Montes Claros e escreveu este artigo por ocasião da
celebração dos 50 anos da Paróquia Nossa Senhora da Consolação, em 2016.
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