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"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

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terça-feira, 7 de agosto de 2018

A Paróquia do Cintra - Reminiscências

POR Monsenhor Antônio Gonçalves da Rocha

No início de 1958, comecei a celebrar a Eucaristia na igreja do Senhor Bom Jesus (conhecida como Santuário Bom Jesus), Bairro Roxo Verde, diariamente, às 7 horas da manhã. Aos domingos, prolongava meu itinerário até a igreja Nossa Senhora da Consolação, Bairro do Cintra, para outra missa, às 9 horas da manhã. Esta não era ainda uma igreja paroquial (nem estrutura tinha de Paróquia), e ambas as igrejas referidas pertenciam à Paróquia da Catedral.
O Cintra era um bairro meio distante do centro da cidade e semi-povoado. Sua minúscula capela cobria uma área de mais ou menos 24 metros quadrados, digamos 6 por quatro metros lineares.
Pedalava eu uma bicicleta para percorrer estes dois estágios; algumas vezes, por defeito “mecânico” no veículo, enfrentava, a pé, a distância que, então, era de chão, poeirento e lamacento, conforme a época do ano. Posteriormente, adquiri uma “vespa” que me facilitou o trajeto e que me valeu a alcunha de “padre da moto”.
Gostava muito (e ainda gosto) da comunidade do Cintra, a tal ponto que, quando lia no jornal alguma ocorrência desabonadora praticada por pessoa da comunidade, doía-me o coração como se o faltoso fosse alguém consanguíneo meu.
As missas dominicais no Cintra eram bem frequentadas e participadas, apesar dos precários recursos materiais e humanos, comuns na época, sobretudo numa comunidade iniciante e periférica. Algum tempo depois, passei a celebrar também nas primeiras sextas-feiras, à noite.
Dos coroinhas, lembro-me de Remo Galeota, apenas no período de férias, porque era seminarista, filho do casal italiano Sr. Ernesto e Da. Filicina, que fixaram residência no Cintra.
Lembro-me também, e muito do coroinha Zé Maria, bem como de suas irmãs Niedja (dúvidas a respeito da grafia correta do nome) e Vicentina, um amor de crianças. Após a missa, íamos à casa de sua mãe, a comadre Ritinha, onde um café modesto, mas generoso, aplacava meu jejum absoluto. Às vezes, após o café, com estas crianças, saíamos para um pequeno passeio nos arredores mais próximos, não digo pelas ruas, porque as casas eram poucas e esparsas, mas por entre os lotes vagos, ainda cobertos de verdejante mato, sobretudo em época chuvosa.
Comadre Ritinha... Quanta admiração!... Quanta recordação!... Nem sei se a chamo de comadre Ritinha ou de comadre “Santinha”. Sou padrinho de um de seus filhos, o Francisco. Sua residência (creio que ainda subsiste), bem humilde como sua pessoa, localiza-se na esquina, à esquerda do final da Rua Nossa Senhora de Fátima, no fundo da atual sede, de que então ainda não existia, do 10º Batalhão de Infantaria.
Deus chamou muito cedo para junto de si a comadre Ritinha... A partir de então, meu dominical café da manhã mudou de endereço: a residência do Sr. Oscar e da Da. Ormésia (ou Ormesina?). Acolhiam-me sempre com muita generosidade e alegria. Sentia-me em casa. Residiam ao lado da igreja, onde ainda reside sua filha adotiva Lourdes. O fato de serem muito religiosos e de residirem bem próximos à igreja concorreu e favoreceu para que assumissem o ofício de chaveiros e zeladores da igreja. Com que dedicação, com que cuidado e com que assiduidade exerceram sua missão, quase diria vocação! Além do mais, o Sr. Oscar, funcionário da então EFCB (Estação Ferroviária Central do Brasil), entendia também, embora não fosse um profissional, de eletrônica, e dispunha destes seus conhecimentos para o funcionamento e a manutenção dos ainda primitivos aparelhos de comunicação da igreja.
Não quero e não devo omitir o trabalho do senhor Antônio Costa, tradicional morador do Cintra. Habilidoso pedreiro e competente Mestre de Obras, ele disponibilizou sua habilidade e sua competência, sobretudo na construção da nova e atual igreja, já que a antiga, muito exígua, não satisfazia à exuberância e à manifestação da fé do povo do Cintra.
Começou, não me lembro em que data, a construção da nova igreja. Lembro-me, porém, que, por motivo de economia (devido aos minguados recursos financeiros), reduziram as dimensões da planta original. Lembro-me também de que, na oportunidade, não exatamente com estas palavras, mas com termos semelhantes, eu ponderei: “Vocês não deveriam ter feito isso; Montes Claros cresce vertiginosamente, e o Bairro do Cintra, como outros, acompanha este crescimento. Mais tarde ou mais cedo, talvez mais cedo que mais tarde, aqui será sede da Paróquia, e então, mais do que agora, necessitar-se-à de uma igreja bem ampla”. Não deu outra: antes de terminar a nova igreja, já cuidava de anexo para aumentar o seu espaço.
Outra pessoa que muito prestigiou a comunidade foi o Sr. José Ozório, também tradicional e benemérito morador do Cintra. Seu trabalho vem tendo continuidade através da fé ardorosa e praticante de seus descendentes. E outras tantas pessoas que a memória pode até relembrar, mas que o espaço limitado destas linhas não permite registrar.
Oficialmente, a Paróquia Nossa Senhora da Consolação, com sede no Cintra, foi criada em 07 de setembro de 1966. Eu já não residia mais em Montes Claros, porque, em fevereiro deste mesmo ano, fui provisionado e empossado como pároco de São João da Ponte.
E a história continua... Mais viçosa, mais pujante, mais brilhante continuam a história e a caminhada de fé da Paróquia Nossa Senhora da Consolação que celebra, jubilosa e vitoriosa, estes 50 anos de intensa e profícua atividade. Parabéns!!!

Monsenhor Antônio Gonçalves da Rocha é vigário geral da Arquidiocese de Montes Claros e escreveu este artigo por ocasião da celebração dos 50 anos da Paróquia Nossa Senhora da Consolação, em 2016.

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