A
Campanha da Fraternidade (CF) que originou o Grito dos Excluídos celebra, em
2018, Bodas de Prata. A cartilha da CF produzida pelo Regional Nordeste IV e
Piauí da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) trouxe o tema “Onde
moras?” com enfoque para a questão da moradia no país.
Na
época, o arcebispo de Teresina/PI e presidente do Regional Nordeste IV, dom
Miguel Fenelon Câmara Filho (1925-2018) escreveu, em 10 de janeiro de 1993, que
“o problema é muito candente e atual. Ninguém o nega. Entre as carências mais
sentidas na nossa classe pobre - e esta é a imensa maioria do Brasil e mais
ainda de nosso sofrido Nordeste, situa-se a de moradia. Falta casa para muitos
milhões de brasileiros, irmãos nossos. Há pessoas que moram em barracos, em
cabanas, em casas de palha ou de estopa e papelão. No leito de ruas. Dentro de
áreas alagadas e insalubres. Nos aclives de morros. Debaixo de pontes e
viadutos. Ou simplesmente, em casa nenhuma. Dormem ao relento. Sob marquises.
Expostas aos assaltos. À chuva. Às piores surpresas. Assim passam frequentíssimas
vezes, os meninos e meninas de rua”.
“Os
meninos e meninas de rua” cresceram, viraram adultos e ainda têm a lua como o
seu teto. Em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, a Pastoral de Povo de Rua
contabiliza mais de 800 pessoas em situação de vulnerabilidade social e que
residem pelas ruas da maior cidade da região. Mais adiante em seu texto, dom
Miguel Fenelon Câmara Filho (1925-2018) mostra o significado da casa para o ser
humano.
“A
casa é a extensão da própria pessoa. Nela nós nascemos e nos criamos. Ela se
identifica com nossa existência, com nossos momentos tristes ou alegres, com
nossas experiências de convivência humana. Quem deseja constituir família,
necessita de casa. É a afirmação da segurança, da identidade, da privacidade, da
esperança de um futuro feliz. A carência de habitações satisfatórias é um
triste capítulo do pecado social que penaliza parte importante da sociedade,
por força da ganância de uma minoria privilegiada, às voltas, com a hedionda
especulação imobiliária, com a estocagem de terrenos, com a opressão dos mais
fracos”.
A
realidade habitacional brasileira não mudou muito nos últimos 25 anos. Em 1993,
foram os moradores do Bairro Major Prates que cobraram por moradias decentes.
Hoje, moradores da Vila Castelo Branco pressionam o poder público municipal por
casas melhores. A Irmã Marilda de Souza Lopes descreve como foi o protesto que
fez brotar a semente de esperança em dias melhores, que é o Grito dos Excluídos.
“Estávamos
no ano em que a Campanha da Fraternidade teve como slogan “Onde moras?”. Os
grupos Profeta Isaías e o Jovens Unidos pelo Amor a Cristo (Juac) fizeram visitas
em várias favelas, dentre elas os moradores do lixão. Eram 26 barracos de
plástico preto. Nas 26 famílias, havia muitas crianças e jovens. As crianças
disputavam pedaços de carne que vinham no lixo dos restaurantes com os urubus que
avançavam em suas mãos para tomá-los. Depois da visita, fizemos uma reflexão
com os jovens que foram [nas favelas]. Era véspera de 07 de setembro. Pensei
nas fanfarras que desfilam no dia 07 de setembro e expus meu pensamento de
fazer uma clamor naquele dia, na parada cívica. Fazermos um pelotão com o
slogan da Campanha da Fraternidade. A ideia foi bem aceita. Geraldo, do Profeta
Isaías, fez as casinhas de plástico preto. Kelly, Kênia, Noé e outros jovens
organizaram o pelotão. Ficamos com medo de enfrentar a polícia. Conversamos com
o padre Antônio Carlos da Silva que deu todo o apoio aos jovens e a nós. Quando
a Escola Estadual Dulce Sarmento entrou na avenida, o nosso pelotão, com os seus
cartazes de manifestação contrária, aproveitou e entrou também na avenida até
chegar em frente ao palanque onde se concentram as autoridades. Combinamos de
não dizer nada. Somente mostrar os cartazes. As autoridades, que até então
estavam recebendo aplausos, depararam-se com frases verdadeiras e francas: “O
que vocês esbanjam falta para nós!!!”; “Políticos, seu salário é uma afronta ao
povo!!!”; e outras. A primeira dama se sentiu mal e foi para a Santa Casa. No
dia seguinte, 08 de setembro de 1993, a primeira página do jornal narrou o
fato. Padre Antônio recebeu uma carta desaforada do prefeito. Em 1993, foi
apenas “Clamor dos sem-teto”. No dia 07 de setembro de 1993 nasceu o Grito dos
Excluídos na porta da igreja da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Bairro
Major Prates”, conta a Irmã Marilda de Souza Lopes.
Vinte
e cinco anos se passaram e o Grito dos Excluídos se manifesta agora por “Vida
em Primeiro Lugar!” e alerta para que “Desigualdade gera violência: Basta de privilégios!”.
E você? Vai ficar aí “parado dando milho aos pombos”?
DIREITOS HUMANOS - “Déficit habitacional é um
desafio em todo Brasil e em Montes Claros não é diferente. Momento de escuta
dos problemas da comunidade Castelo Branco”, postou em sua rede social facebook
a assistente social da Arquidiocese de Montes Claros, Sônia Gomes de Oliveira, texto
e imagens da visita de missionários do Projeto de Desenvolvimento Rural e
Urbano (Proderur) à Vila Castelo Branco, em MOC-MG, nesta segunda-feira (13/06).
Crédito das
Fotos
Divulgação
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