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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

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domingo, 24 de fevereiro de 2019

Coração Materno

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

Composta em 1937, Coração Materno é um tango-canção do tempo dos discos de 78 rotações por minuto, grandes e pesados feitos de goma-laca (tecnologia de 1895) com uma música de cada lado. O prato girava rapidamente, deixando tonto quem o olhava tocar e após uns poucos minutos já se encerrava. Na casa da minha avó Maria do Rosário de Souza Narciso, a Dona Du, tinha o disco com essa música composta e cantada por Vicente Celestino, com toda a sua tétrica dramaticidade. Milena, a minha mãe, falava em tom de crítica que não conseguia entender o motivo de a mãe dela gostar de trama tão exagerada. Caso tenha ouvido tal música por lá, eu não tinha consciência da terrível história. Minha mãe a cantava quando estava na máquina de costura, e eu decorei parte da letra, que, de vez em quando volta à minha mente.

O mau gosto é tão explosivo, que se fez duradouro, e até as novas gerações sabem da existência de “Coração Materno”. Em 1968 no disco “Tropicália”, Caetano põe a alma a serviço do estilo brega, com um arranjo daquele tempo pretérito, numa espécie de homenagem. Junto com Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Mutantes fez um trabalho algo anarquista, parecendo gravar sem saber exatamente o que faria, na base de um improviso calculado, e nele incluíram a tal música. Caetano faz uma versão alegórica, com sons de suspense semelhantes às músicas em situações de crescente tensão, típicas do fundo musical de novela do rádio. Segundo especialistas, em Tropicália há um culto ao cafona, e na gravação original há uma versão patética.

O enredo, acontece num crescendo, ampliando a emoção do expectador, enquanto conta que um camponês apaixonado, para demonstrar afeto desmesurado ao objeto da sua paixão, pede à namorada para fazer um pedido, qualquer pedido, que ele estaria disposto a obedecê-la, nem que fosse preciso matar ou morrer. Pouco importava. Quando ela pede o coração da mãe dele, não hesita, e, desafiado, para provar que não blefava, corre até a casa a fim de cumprir a promessa. Lá chegando, arranca o coração da mãe, que estava rezando. Na volta, apressado e com o coração sangrante na mão, cai e quebra a perna. O coração rola na terra da estrada, ainda assim, condoída, a mãe, que nunca deixa de amar seu filho, aparece em voz, e o perdoa.

Vejam com seus olhos, sentimentos e emoções os versos dessa obra prima, pois se não a fosse, não estaria rendendo curiosidade 81 anos depois: Coração Materno - Vicente Celestino (composição e interpretação): Disse um campônio à sua amada:/ "Minha idolatrada, diga-me o que quer/ Por ti vou matar e vou roubar/ Embora tristezas me causes mulher/ Provar quero eu que te quero/ Venero teus olhos, teu porte, teu ser/ Mas diga, tua ordem espero/ Por ti não importa matar ou morrer"/ E ela disse ao campônio, a brincar/ "Se é verdade tua louca paixão/ Parte já e pra mim vá buscar/ De tua mãe, inteiro o coração”/ E a correr o campônio partiu/ Como um raio na estrada sumiu/ E tua amada qual louca ficou/ A chorar na estrada tombou/ Chega à choupana o campônio/ Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar/ Rasga-lhe o peito o demônio/ Tombando a velhinha aos pés do altar/ Tira do peito sangrando/ Da velha mãezinha o pobre coração/ E volta a correr proclamando/ "Vitória, vitória, tens minha paixão"/ Mas em meio da estrada caiu/ E na queda uma perna partiu/ E à distância saltou-lhe da mão/ Sobre a terra o pobre coração/ Nesse instante uma voz ecoou:/ "Magoou-se, pobre filho meu?/ Vem buscar-me filho, aqui estou,/ Vem buscar-me que ainda sou teu!"//

Domingo, 24 de fevereiro de 2019

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