ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

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domingo, 10 de agosto de 2014

Carta para Pedro

POR Mara Narciso
Montes Claros, 7 de agosto de 2014
 
Não tenha medo, meu querido amigo Pedro. Um menino de dez anos aprende logo a falar Inglês, maravilhosamente e sem sotaque. É natural que tenha receio do desconhecido. Antes de você nascer, o lugar para o qual você está indo vem sendo preparado para recebê-lo. Os que lhe esperam são o seu tio e a esposa dele. Seu pai disse que, ainda na barriga da sua mãe, já havia essa combinação. Na longa espera, a sua segunda mãe vinha se sentindo como se estivesse grávida. E só para os últimos preparativos, já se vai quase um ano. Agora é hora de nascer. E queremos que nasça como um príncipe, para um destino de luz e realizações.
Sei da sua capacidade de aprender, do seu espírito curioso e do monte de perguntas que gosta fazer. E não se esquece do que aprendeu. Não se deixe levar pela insegurança. Atrás da sua pessoa tem uma estrutura de carinho e amor. A sua nova mãe tem um coração grande. Ela escolheu cada detalhe do seu quarto e da casa, pensando na melhor forma de agradá-lo. É só usar tudo, sejam coisas, sejam sentimentos com bastante cuidado. Vai receber um amor tão gostoso que acabará se habituando ao país.
Não se aflija com as dificuldades. A sua vida até aqui, foi uma colcha de retalhos de caras e lugares. E em cada um deles as regras mudavam e quem mandava impunha pelo menos uma coisa aparentemente absurda. Sei que pede respostas convincentes. Então me lembro dos seus porquês. E dos resmungos incompletos aos seus questionamentos. “Porque sim”. E você se queixou: “mas isso não é uma resposta”. Há quem ache que manifeste irritação, mas sei que tenta negociar com seu irmão mais novo e nem sempre consegue. Então, revida. Peço que não invente justificativas e evite ser agressivo.
Não deixe as obrigações para depois. Seja manso, calmo e paciente. Converse sempre. Explique e peça explicações para os fatos. Dá melhor resultado. Será preciso negociar com adultos. Eu gosto de você, desde que o conheci, há 18 meses (no Carnaval do Bairro Morada do Parque. Lembra-se? Dia desses, me perguntou sobre isso). Eu gosto de você, por que sim. Sei que vai reclamar que isso não é uma resposta. Pode não ser, mas é amor.
Numa das nossas viagens, você ficava vendo filmes, ou jogando videogame, depois do almoço. Àqueles almoços que não tinham hora, pois na praia as regras são frouxas, se é que existem. Largou o filme e veio me perguntar por que eu não largava os livros. Eu disse que da mesma maneira que você se divertia vendo filmes, o mesmo se dava comigo com os livros. De lá para cá, noto que anda gostando mais deles, e espero que este gosto aumente mais.
A sua curiosidade exige uma resposta completa. E muitas perguntas eu lhe respondi. Penso que foram do seu agrado. A maneira que falo é a mesma que eu falava com meu filho: sem pressa, parando, dando atenção para ouvi-lo e entendê-lo. O que você me diz tem a maior importância. Eu valorizo a sua opinião. Eu aprendo com você. Na sua curta vida, já passou por tristezas e dores grandes. Lembra-se do formigueiro? Foi uma dor tão forte que aqueles bichinhos assassinos lhe causaram. Tive muita raiva daquelas formigas. Corremos com água, álcool e gelo, para salvá-lo. As lágrimas pingavam na sua barriga. Quando passou, logo dava risadas, contando piadas e nos fazendo rir.
A história do umbigo também rendeu uma conversa comprida. E você ficou pensando em como foi estar na barriga da sua mãe, aquela “gata”, de olhos cor de mel. Ela é alguém que vai ficar feliz por você estar melhor aí do que aqui, mas com aquela saudade dolorida que as mães sentem. São tantas coisas que você quer saber. Palavrinhas desconhecidas são perguntadas. Reparo sua habilidade com as máquinas e os números. Brincamos com eles e você me dava banhos, com a facilidade de fazer cálculos de cabeça. E o mar? Eu vi que está praticamente nadando e quase surfando. Algumas aulas e já vai fazer.
O seu pai lhe adora e elogia a sua inteligência. Mais do que nós, vai sofrer de saudades. Eu não falo por falar, não faço isso. Quando eu digo, pode acreditar. Sei que vai superar as dificuldades, desenvolver novos talentos, e crescer forte no país mais adiantado do mundo. Vamos ver você brilhar.
O mundo é grande, mas a internet tratou de fazê-lo encolher. E mesmo fora daquilo que seus olhos alcançam, estamos aqui. A qualquer hora podemos falar e escrever. Foi preciso cortar o cordão umbilical, e o resultado deste corte será conforme o que você fizer. Estamos torcendo pela harmonia em sua vida. Siga as novas regras, não deixe para depois, obedeça, seja um bom menino. Gostaria que não engordasse. E quando a saudade apertar, chore, mas não lamente. Esta é a sua oportunidade de crescer bem. Envio beijos com a certeza de que você será tudo aquilo que quiser.

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