É
obrigatório ter opinião e externá-la. Tantas são as provocações que
muitos não resistem a uma má briga. Porque não existe uma boa batalha.
Mesmo quando inicialmente há uma mesma ideia, é proibido o consenso.
Alguns geniosos, mas não geniais, deixam um ambiente de guerra ou até de
terra arrasada nas redes sociais. O ridículo pode surgir em cada
página. Fala-se de amor e a resposta é de ódio, porque é preciso odiar
as pessoas hoje e odiá-las ainda mais amanhã.
Sigo
em frente é o oposto de volto para trás, o que também é reles
redundância. Podem-se ganhar espaços impensados e argumentos
irrespondíveis no mundo virtual. Diz-se e desdiz-se, aprofundando-se o
não dito para polemizar. O importante é a não frutificação da discussão.
Os conselhos virtuais fazem rir. Algumas convicções são piadas, e
custa-se a acreditar que alguém possa crer naquilo.
O
sapo grila, o grilo coacha, porém tudo parece normal, porque ninguém vê
de onde vem o som da noite. O apagão é um conselheiro ainda melhor do
que o black-out, porque fala Português e desliga o computador e a TV.
Rimando e ensinando, a escuridão é a cara da solidão, cuja companheira é
a introspecção. Mas poucos se atrevem a pensar. Alguém disse que pensar
não dói. Melhor não arriscar. Analgésico anda caro.
O
tempo adoece, dilui, traz esquecimento. “Quem parte leva saudades de
alguém que fica chorando de dor” (cancioneiro popular). Quem não tem
memória não chora de saudades, então, que morra a memória! A
contraposição mistura tudo, pode causar uma luta inútil ou um novo
caminho. Ando depressa porque andava devagar, e na mansidão a comida
está cozida. Não fazer sentido faz sentido, porque vazia é a existência.
Para
que voltar, se é preciso ir? Tomar banho hoje quando já tomei banho
ontem, ou precisar comer de novo, quando comi há poucas horas. Então
surgem poemas originais, alguns miraculosos, que emocionam, e outros que
não têm significado, nem mesmo para quem os criou. Possuem apenas
palavras (e o que mais poderiam ter?), soltas, agrupadas, bonitas,
feias, ritmadas, rimadas ou cada uma por si sem nada dizer uma para a
outra.
“Na
televisão nada se cria, tudo se copia” (Chacrinha) e ninguém liga se a
cópia foi mal feita. Mas deveria. Os dizeres vazios não perderam o
sentimento, apenas o sentido. Morreu alguém amado? O tempo cura todas as
feridas. Seu amor te abandonou? Ele não sabe o que perdeu. A falta de
dinheiro é um problema? Deus proverá. Está doente? Logo estará bem. Faz
anos? Feliz aniversário! Quem se atreveria a dizer outra coisa?
Quanta inutilidade! Melhor amarrar o cadarço e partir. Assim não caminha a humanidade. E não diga que não foi avisado. Amém!
POR Mara Narciso
05 de março de 2017
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