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domingo, 6 de janeiro de 2019

“Idílio de Pórcia e Leolino"

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

Depois de consultar 76 livros, o historiador e escritor Dário Teixeira Cotrim, baiano de Guanambi e radicado em Montes Claros desde 1968, escreveu “Idílio de Pórcia e Leolino” em 2005. A história se passa em 1844 na região de Brumado, na época Bom Jesus dos Meiras, na Bahia. Trata-se do romance proibido entre a bela menina Pórcia Carolina da Silva Castro, que tinha ficado órfã recentemente e o também jovem, casado e violento Leolino Pinheiro Canguçu. Segundo relatos da época, chega a raptar a moça, após esta ser hóspede na fazenda do seu pai.


A versão dada por Dário Cotrim, que é parente distante da protagonista, é um trabalho que reúne a paciência de uma freira carmelita, porém com a curiosidade voraz que o consome. Juntou sobre a mesa retalhos de várias fontes, analisou cada informação, contrapôs as partes duvidosas com documentos, e também recorreu à memória oral das famílias envolvidas. O romance dos dois agravou as familiares “contendas encarniçadas” dos Silva Castros e Mouras versus os Canguçus. Vinganças antigas e novas são apresentadas lado a lado com a espetacular ação. O longo tempo transcorrido entre os fatos e a narrativa obrigou esse estudo detalhado, em busca de verossimilhança. A minúcia do trabalho desperta admiração e confiança do leitor, que vai, pouco a pouco, acreditando na versão apresentada, que não se pretende definitiva, mas que servirá de ponto de partida para outras pesquisas e interpretações.

Para contar essa história foram citados e contestados inúmeras vezes Jorge Amado e seu “ABC de Castro Alves” e Afrânio Peixoto e sua “Sinhazinha”, contrapondo-se com documentos publicados nas Revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e diversas outras fontes.

Pórcia era tia do poeta Antônio Frederico Castro Alves, cujos poemas foram salpicados em toda a obra “Idílio de Pórcia e Leolino” de 182 páginas. Esse detalhe enriquece o livro e contextualiza os acontecimentos no tempo e no espaço. As fazendas onde se passam os fatos são bem mostradas geograficamente, até mesmo com desenhos da época.

Em toda a obra o autor mostra erudição, usando palavras raras e citações em Latim. Portanto arme-se com um dicionário. Outra curiosidade é os nomes das pessoas, com sua genealogia e denominações esdrúxulas. Além dos personagens principais, quem queira escolher um nome diferente tem ali um verdadeiro arsenal de excentricidades: Anfrísia, Licurgo, Altanásio, Arquimino, Bibiana, Prudência, Exupério, Umbelina, Merência, Eufrásia, Teodora, Iria, Leodegário, Eliziário, Belarmina... O Word sublinha de vermelho quase todos eles. Será preciso reler o livro para colocá-los em seus merecidos lugares.

O Major José Antônio da Silva Castro se casa com a viúva Dona Joana de São João Castro, de amplas posses. De relacionamentos anteriores o Major traz duas filhas legitimadas Pórcia Carolina da Silva Castro e Clélia Brasília da Silva Castro. A bonita menina Pórcia chamava a atenção de todos, mas isso não explica tudo. Já havia as disputas e vinganças familiares entre os citados sobrenomes. O grande mistério é se Pórcia ficou na fazenda onde estava hospedada e conheceu Leolino, ou se seguiu viagem com as irmãs sob o comando do seu tio João Evangelista dos Santos e se no caminho teria sido raptada por Leolino Canguçu.

“Aconteceu no Sobrado do Brejo e durou apenas três semanas o romance entre eles, que teve as suas consequências por quase cinco anos, de lutas renhidas e bárbaros assassinatos”. Era um tempo em que a integridade de uma moça donzela era paga com a vida. “A honra era sagrada, e nada podia macular a alma das pessoas, principalmente das meninas-moça virginais”. Do ponto de vista ficcional, passou de boca em boca e foi escrito que Pórcia teve um filho que lhe foi arrancado, esquartejado e dado aos cães para destruir o fruto da desonra. Na verdade, segundo Dário Cotrim, o filho nunca existiu.

A pesquisa histórica e trabalho literário se completam, são agradáveis, têm grande valor, além de serem atraentes, pois amor e vingança permanecem temas universais.

Domingo, 06 de janeiro de 2018

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou lendo o ABC de Castro Alves, de Jorge Amado e também achei um pouco inverossímil a história da criança. Mas como o próprio autor diz que o livro não é histórico, deixo-me levar pela prosa. Obrigado por essa valiosa informação.