Famoso por retornar a missa tridentina na igreja Santo Expedito, o padre Gledson Eduardo de Miranda Assis é sacerdote diocesano incardinado na
Arquidiocese de Montes Claros. Nasceu em 28 de dezembro de 1980, em
Cipotânea, Minas Gerais. Seu trabalho pastoral é conhecido pelas paróquias São
Sebastião de Taiobeiras, São Sebastião de Montes Claros, Nossa Senhora
da Consolação de Montes Claros e Pastoral da Juventude. Ao lado do
arcebispo metropolitano de Montes Claros, dom José Alberto Moura,
escrevia mensalmente no jornal impresso "Clarão do Norte", que circulou de dezembro de 2008 a julho de 2013, esta última edição com um editorial do arcebispo dom Alberto sobre a situação caótica da saúde da cidade-sede da Arquidiocese, sobretudo no que se refere à Santa Casa de MOC. Era o começo da administração municipal desastrosa de Ruy Adriano Borges Muniz e José Vicente de Medeiros. O prefeito desviava o dinheiro federal e estadual da saúde direcionado à Santa Casa para o Hospital das Clínicas Mário Ribeiro da Silveira, no Bairro Amazonas, de propriedade da Sociedade Educativa do Brasil (Soebras) e de empresas sociedades anônimas de Muniz, que seria preso pela Polícia Federal em 18 de abril de 2016, um dia após sua esposa, a deputada federal Raquel Muniz, votar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Leia artigo do padre Gledson do período.
Vida Nova no Verbo Encarnado
POR Gledson Eduardo de Miranda Assis
Deus criou-nos com um propósito maravilhoso: que possamos viver com Ele para sempre, em alegria, amor, perfeita santidade e justiça. O problema é que nós não sabemos viver em perfeito amor e justiça, e, mais grave ainda, nós nem sequer vivemos tão bem quanto deveríamos. Esse tempo de preparação para o Natal do Senhor e a proximidade do fim de mais um ano nos convidam a que possamos refletir e rever algumas coisas necessárias em nossas vidas.
"Renovar é viver" ensina um velho ditado. Renovamos a pintura de nossa casa, e parece que essa mudança nos ajuda a viver melhor. Estreamos um novo terno, um novo vestido, uma nova roupa, colocamos um novo calçado ou simplesmente renovamos a disposição dos móveis da casa, e tais alterações da rotina diária nos reanimam e criam uma melhor disposição. Porém, se estas pequenas mudanças externas podem, nos oferecer satisfação, devemos imaginar também quanto mais proveito poderia nos oferecer uma renovação interior?
Quando uma pessoa melhora por dentro, seus pensamentos, suas intenções e seus sentimentos, adquire-se então vida nova. Seu modo de ser se torna mais agradável e até seu semblante se ilumina. Mas, muitas vezes temos certas atitudes que na realidade, não gostaríamos de ter. E logo sobrevêm um sentimento de desgosto.
O apóstolo Paulo se expressou dizendo: “Eu sei que em mim, isto é, em minha carne, não mora bem algum, porque o querer o bem está em mim, porém não faço. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. E se faço o que não quero, já não faço eu, senão o pecado que mora em mim”. (Rm 7,18-20). Esta é a luta de todo o ser humano; querer fazer o bem, porém comprovar com tristeza que nossa inclinação natural nos induz a cometer o mal. O profeta Jeremias afirma em seu livro: “Enganoso é o coração, mais que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (17,9)
Mas, como nossa mente pode ser mudada? A simples compreensão de nossa necessidade não basta; nem tampouco são suficientes a lucidez mental e a força de vontade. Podemos lutar toda a vida para combater os nossos defeitos, e ainda assim, seguir dominados por eles. Só podemos mudar e sermos melhores em Deus. O mesmo Deus que criou o homem pode recriar o nosso coração, a nossa mente. A Palavra de Deus deixa claro que uma nova vida é possível e está ao nosso alcance. “Vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.” (Ef 4,22-24)
Temos exemplos na Bíblia de homens que tiveram a experiência de serem tocados pelo dedo de Deus. A voz de Cristo falou claramente ao seu coração. Saulo, por exemplo, era um ardoroso perseguidor de cristãos. Um dia indo, pela estrada de Damasco foi acolhido por uma grande luz. De sua conversão nos vieram vários ensinamentos: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento.” (Rom 12, 2). E ainda: “Se alguém está em Cristo nova criatura é, as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. (2Cor 5,17). Ninguém pode querer mudar por si mesmo. Todo intento humano pode tender ao fracasso. Mas onde fracassa o homem, triunfa Deus!
Pedro também nos adverte: “Pois fostes regenerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, mediante a Palavra de Deus, a qual vive e é permanente.” (1Pd 1,23). Que o Senhor cumpra em nós sua promessa: “Dar-vos ei um coração novo, e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne.” (Ezl 36,26).
Natal é Vida nova que se aproxima! Dela podemos desfrutar cada dia, com paz e alegria, se pedirmos a Deus, um novo coração, uma mudança de hábitos, porque nossa mente estará restaurada pelo poder do Espírito Santo.
Peçamos que o Senhor Jesus nos dê um novo coração, uma nova vida e que nós também vivamos a vida nova em Cristo, Verbo de Deus encarnado.
Quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Deus é responsável por crianças nascerem com deficiências e outros padecimentos da humanidade?
O primeiro parágrafo do Catecismo da Igreja afirma que “Deus é Perfeito e Bem-aventurado”, n’Ele não há sobra, erro nem maldade. “Deus é amor” (1Jo 4,8); “Eterna é a Sua misericórdia” (Sl 117,1).

A Bíblia é repleta de passagens que falam do amor de Deus por nós. “Deus amou o mundo a tal ponto que deu o Seu Filho único para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). São Paulo disse que “essa é prova do amor de Deus por nós, porque, ainda quando éramos pecadores, Cristo morreu por nós” (Rom 5,8). Será que pode haver maior prova de amor por nós? Diante de tudo isso, não há como alguém pensar que Deus possa ser responsável por uma criança nascer com deficiência. Então, de onde vem esse mal?
Deus é suficientemente bom para tirar do próprio mal o bem
A resposta católica para o problema do mal e do sofrimento foi dada de maneira clara por Santo Agostinho († 430) e por São Tomás de Aquino († 1274):
“A existência do mal não se deve à falta de poder ou de bondade em Deus; ao contrário, Ele só permite o mal, porque é suficientemente poderoso e bom para tirar do próprio mal o bem” (Enchiridion, c. 11; ver Suma Teológica l qu, 22, art. 2, ad 2). Como entender isso?
Deus, sendo Perfeitíssimo, não pode ser causa do mal, logo, esta é a própria criatura, que pode falhar, já que não é perfeita como seu Criador. Só Deus é infalível e isento de imperfeições. Na verdade, o mal, ensina a filosofia, é a carência do bem. Por exemplo, a doença é a carência do estado de saúde, a ignorância é a carência do saber, e assim por diante. Por outro lado, o mal pode ser também o uso errado, mau, de coisas boas. Uma faca é boa na mão da cozinheira, mas na mão do assassino… Até mesmo a droga é boa, na mão do anestesista.
Deus permite que as criaturas vivam conforme a natureza de cada uma; permite, pois, as falhas respectivas. Assim, o sofrimento é, de certa forma, inerente à criatura. Mas por que Deus permite o sofrimento? Ele é Amor e Onipotência, poderia evitá-lo!
Para que o homem fosse “grande”, digno e nobre, Deus o fez livre, inteligente, dotado de mãos maravilhosas, sensibilidade, vontade, memória etc., que nem as pedras, árvores e animais receberam. A liberdade é o toque maior de nossa semelhança com Deus. Ele teve de correr o risco de nos fazer livres, para que fôssemos dignos, mesmo sabendo que a criatura poderia lhe voltar as costas. Deus não poderia impedir o homem de lhe dizer “não”, senão, tiraria dele a liberdade, e ele seria apenas um robô. Deus não quis isso, mas Ele nos deu também a inteligência, como uma luz para guiar nossos passos; e nos deu a vontade para permanecer no bem e evitar o mal.
Ele quis fazer a criatura humana livre como Ele, criou-o da melhor maneira possível, à Sua imagem. É a liberdade que nos diferencia dos animais, dos robôs e teleguiados. Podemos escolher espontaneamente o rumo de nossa vida e o teor de nossas ações. E nisso podemos errar, cometendo graves danos, especialmente quando usamos mal da nossa liberdade e inteligência, desobedecendo a Deus.
É Deus quem nos sustenta e nos mantém vivos, mas Ele não tira a nossa liberdade. Do contrário, não haveria merecimento nem culpa de nossa parte. Não haveria dignidade no homem. Então, por isso, Ele não quer, mas permite a morte e o sofrimento no mundo. Aqui está o nó da questão: Deus respeitou e respeita a liberdade da criatura que lhe diz ‘não’, embora pudesse e possa obrigá-la ao ‘sim’ – o que evitaria sofrimentos –, mas isso destruiria a grandeza do homem, que consiste em sua liberdade de opção.
Deus não é paternalista, é Pai
Depois de dar ao homem todas essas faculdades maravilhosas, Deus lhe deu o mundo em suas mãos, para cuidar dele como um jardineiro. “O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo” (Gen 2, 15). Se o homem não cuida bem desse mundo, se não ama os irmãos, se não obedece às leis divinas, então dá origem à dor, e isso não é culpa de Deus. Daí, surge o pecado e o mal moral, que gera também o mal físico. “O salário do pecado é a morte” (Rom 6,23). Por isso, Jesus foi até a cruz, para “tirar o pecado do mundo” (Jo 1,29), a causa de todo sofrimento e morte.
Deus não é paternalista, é Pai, ou seja, Ele não fica “passando a mão por cima” dos erros dos homens e consertando os seus estragos como fazem muitos pais. O Senhor deixa que o homem sofra as consequências de seus erros. Essa é a lei da justiça, e quem erra deve arcar com as consequências dos seus erros.
Os nossos erros geram sofrimentos para os nossos descendentes também. Os filhos não herdam os pecados dos pais, mas podem sofrer por causa desses pecados. Eu sofro não só por causa dos meus pecados, mas também por causa dos pecados dos homens, de todos os tempos e lugares, especialmente daqueles que estão mais ligados a mim: parentes, amigos etc. A humanidade é solidária.
É lógico que os vícios de um pai fazem sofrer os filhos e a esposa; e assim por diante. Deus não é o culpado nem deseja nada disso. A culpa é nossa mesmo. Que culpa teria Deus, se, por exemplo, um pai irresponsável, passasse uma noite bebendo e, depois, sofresse um acidente de carro e morresse por dirigir embriagado? Não! A culpa não é de Deus, é do homem.
O Senhor não desrespeita as leis que Ele mesmo criou
Se você teimar em ligar o seu ventilador em uma tomada de 220 volts, quando o manual manda ligar em 110 volts, é claro que você vai queimar o motor do ventilador. Que culpa tem Deus disso?
O mesmo se deu e se dá com o mundo e com o homem.
Temos um Projetista que fez o homem e mundo belos, organizados, harmoniosos, mas não respeitamos o seu catálogo; então, destruímos Sua bela obra e geramos o sofrimento.
Quando ouvimos que é preciso “aceitar a vontade de Deus” diante do sofrimento e da morte, não quer dizer que foi Deus quem quis aquele mal, aquela tragédia, doença etc. Não! Deus não pode querer o mal. Mas Ele o permite, porque não desrespeita as leis que Ele mesmo criou e, de modo especial, o nosso livre arbítrio. Deus respeita a nossa dignidade e semelhança a Ele.
Se Ele ficasse nos livrando das consequências dos nossos pecados, nunca nos tornaríamos filhos maduros. Se Ele, por exemplo, suspendesse a lei da gravidade quando alguém salta de uma altura para a morte, ele destruiria o mundo todo.
“Deus não fez a morte nem tem prazer em destruir os viventes”, diz o livro da Sabedoria (1,13). “Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão” (Sab 2,23).
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Podemos então dizer que é, principalmente por causa de sua liberdade, que o homem é grande; por isso, pode sofrer. Ele é imagem de Deus sem ser Deus. Na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus achou por bem correr o risco de poder nos ver errar e sofrer. Foi o preço da nossa semelhança a Ele.
O Criador poderia estar constantemente vigiando o mundo, de modo que nunca houvesse algum desastre ou sofrimento. Mas esse procedimento seria menos digno de Deus, que deseja dar ao homem a oportunidade de realizar-se, tornar-se grande, com liberdade e nobreza.
As crianças e os inocentes sofrem, porque participam da dignidade humana, como já explicamos, e compartilham a sorte da humanidade.
Então, a criança não sofre para pagar os pecados de uma suposta vida anterior. Ela sofre, porque é solidária com a humanidade; e as consequências de seus erros a atingem também, embora inocente. Não é precioso inventar teorias complicadas para explicar o sofrimento, nem mesmo culpar Deus pelo erro que é nosso.
Deus não interfere no sofrimento da criança a todo instante, fazendo milagres para impedir o mal, para não destruir a ordem natural que Ele mesmo criou.
Em consequência do pecado, o sofrimento e a morte fazem parte da história de todos os homens, inocentes ou pecadores. A fé ensina que Deus Pai, pelo sofrimento redentor de Jesus, resgatará todo sofrimento da criança inocente e fará cada uma ressuscitar um dia com Cristo.
Não devemos esquecer que os primeiros mártires da Igreja são os inocentes que morreram pelas mãos de Herodes, em Belém (Jr 31,15). Hoje, são santos mártires da Igreja. O seu sofrimento não foi em vão. Não podemos olhar os fatos só com os olhos deste mundo; é preciso vê-los à luz da fé.
A Paixão e Morte de Jesus resgataram o mundo. O Pai entregou Jesus por nós assim. Ainda duvidaremos do Seu amor?