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"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

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domingo, 24 de maio de 2015

O bom velhinho...





por João Renato Diniz Pinto

Insistiram para eu escrever sobre o arcebispo emérito de Montes Claros, dom Geraldo Majela de Castro, nascido João José de Castro, em 24 de junho de 1930, nesta cidade em que ele foi responsável por transformar em sede arquidiocesana, referência para outras igrejas locais católicas (Januária, Janaúba e Paracatu). A tão sonhada consolidação da Província Eclesiástica de Montes Claros e posse do seu primeiro arcebispo aconteceu em 29 de julho de 2001, na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida.

A ação da Igreja no Norte Sertanejo de Minas Gerais sempre se deu sem preconceitos, mas, infelizmente, hoje o cenário mudou muito, sobretudo com a entrada de novos movimentos religiosos, das igrejas neopentecostais e da intensificação do comércio religioso como exposição cinematográfica do espetáculo. Deixemos as análises críticas de lado e voltemos ao assunto ao qual fui chamado a escrever: dom Geraldo, ordenado sacerdote pela Ordem Premonstratense em 08 de dezembro de 1953. Sua ordenação episcopal se deu em 08 de setembro de 1982, para ser bispo-coadjutor do bispo do sertão, dom José Alves Trindade (1956-1988), até assumir definitivamente a Diocese em 1º de junho de 1988.

Formei-me em comunicação social, habilitação em jornalismo, em 2003. De formação católica, sempre me interessei pelo trabalho social. A convite do sociólogo Luiz Eduardo de Souza Pinto, passei a integrar, primeiro voluntariamente, a equipe de comunicação da Arquidiocese de Montes Claros. Em uma de minhas matérias iniciais, em uma quarta-feira, 08 de setembro de 2004, informamos: “No dia de seu aniversário episcopal, d. Geraldo revela seu nome e número prediletos”. O título original era pra ser “Oito de Maria”, mas, dom Geraldo não gostou e preferiu a mudança. Naquela data, ele destacou as pessoas e os fatos que marcaram a sua vida nesses anos de ordenação. “Maria vem à frente, indicando paz ao mundo. A nossa Arquidiocese está consagrada ao Sagrado Coração de Maria. Vocês devem se esforçar para, cada vez mais, se parecerem com Maria”. Para ele, o nome ‘Maria’ e o número ‘8’ são especiais em sua vivência cristã. Em 08 de setembro de 1982, houve a sua consagração como bispo-coadjutor. E, em 08 de setembro de 1929, aconteceu o casamento de seus pais. Fatos como esses impulsionam d. Geraldo a prosseguir em sua caminhada.

Outras de minhas matérias iniciais foram sobre a formidável ação social da Pastoral do Menor, tão desvalorizada pela sociedade brasileira. Mexer com adolescente não é fácil. É a fase das crises. Cobri a inauguração do primeiro telecentro comunitário do Norte de Minas, no Bairro Independência, ao lado de dom Geraldo, do padre Antônio Alvimar Souza e de Gil Pereira. Naquele momento, o arcebispo emérito destacou. “Na década de 1980, quando já era bispo, ficava preocupado com este bairro. Não havia ainda o templo e, às vezes a gente celebrava em pequenos salões, às vezes em casas de família, e reunimos algumas lideranças para que pudéssemos construir uma coordenação leiga para o bairro. O pessoal mais antigo ainda se lembra dessa sementinha que Nosso Senhor foi plantando através do trabalho de tantos leigos aqui”.

Participei da 1ª (em 2004) e da 2ª (em 2010) Assembleia Arquidiocesana de Pastoral (AAP). Cobri a criação do Comitê Municipal de Combate à Corrupção Eleitoral e Administrativa, em junho de 2004. Também em 2004 estava nas celebrações pelos 20 anos da Pastoral da Criança de Minas Gerais. Montes Claros foi a primeira cidade do estado a criar essa pastoral para diminuir a taxa de mortalidade infantil através do apoio de dom Geraldo, das religiosas Juliana Philomena Verbist e Venina de Oliveira Tristão, de dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, do padre Marco Ceroni, dentre milhares de outras pessoas.

No primeiro Grito dos Excluídos, ou grito pelos excluídos, do qual tive a oportunidade de documentar, também em 2004, aquele em que se comemorava a sua primeira década de vida e de luta, dom Geraldo explicou que “o Grito nasceu da Bíblia quando, lá no Egito, Jesus disse que ouviu o clamor de seu povo” (...). “Celebramos 10 anos do Grito e muitas vezes não somos compreendidos”. É “uma alternativa de nos reunirmos e criarmos um senso crítico de que a nossa Independência não foi só um encanto”. “O Brasil não é só dos governantes. É do povo!”, afirmava o arcebispo metropolitano ao mencionar a lei de combate à corrupção eleitoral (lei 9.840/1999). “A lei somente será cumprida se todos nós nos esforçarmos. Pela moral, é até pecado vender o voto. Quando vendemos o voto, prejudicamos a construção de uma sociedade do bem”, adiantou-se.

Foram muitos mais textos, transcrições de homilias e até gravações de programas para a televisão. Nesse tempo, de 2004 a 2006, tempo em que convivi mais de perto com dom Geraldo, o que dá para concluir é que as palavras do cinegrafista Paulo Rodrigues o definem melhor: “o bom velhinho”. Cinegrafista da Hipervideoprodutora, da TV Geraes e da InterTV Grande Minas-Globo, Paulo trabalhou com dom Geraldo no “Revista Católica”, programa de televisão independente que foi ao ar na TV Geraes, canal 02 da televisão aberta, de 2004 a 2005. Lembro que foram nove meses exatos. Televisão não é brincadeira. O arcebispo emérito de Montes Claros, dom Geraldo Majela de Castro, gravava vários de seus momentos de fé e concedia a sua benção aos finais dos programas. Foi o cinegrafista Paulo Rodrigues que melhor definiu dom Geraldo: o bom velhinho...  E como o número oito é o seu número predileto, esse número deitado se torna o símbolo do infinito. Que seja infinita a sua vida...                        
                                                                                          
João Renato Diniz Pinto é católico por formação. Estudou jornalismo na Universidade Fumec de 1999 a 2003, ano em que começou a exercer o jornalismo: de 2003 a 2007 no arcebispado de dom Geraldo Majela de Castro e de 2007 a 2013 no arcebispado de dom José Alberto Moura. Editou o jornal “Clarão de Norte” de dezembro de 2008 a julho de 2013. Este artigo foi solicitado pela Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Montes Claros bem antes do falecimento do arcebispo emérito em 14 de maio.

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