por João Renato
Diniz Pinto
Insistiram
para eu escrever sobre o arcebispo emérito de Montes Claros, dom Geraldo Majela
de Castro, nascido João José de Castro, em 24 de junho de 1930, nesta cidade em
que ele foi responsável por transformar em sede arquidiocesana, referência para
outras igrejas locais católicas (Januária, Janaúba e Paracatu). A tão sonhada
consolidação da Província Eclesiástica de Montes Claros e posse do seu primeiro
arcebispo aconteceu em 29 de julho de 2001, na Catedral Metropolitana Nossa
Senhora Aparecida.
A
ação da Igreja no Norte Sertanejo de Minas Gerais sempre se deu sem
preconceitos, mas, infelizmente, hoje o cenário mudou muito, sobretudo com a
entrada de novos movimentos religiosos, das igrejas neopentecostais e da
intensificação do comércio religioso como exposição cinematográfica do
espetáculo. Deixemos as análises críticas de lado e voltemos ao assunto ao qual
fui chamado a escrever: dom Geraldo, ordenado sacerdote pela Ordem
Premonstratense em 08 de dezembro de 1953. Sua ordenação episcopal se deu em 08
de setembro de 1982, para ser bispo-coadjutor do bispo do sertão, dom José
Alves Trindade (1956-1988), até assumir definitivamente a Diocese em 1º de
junho de 1988.
Formei-me
em comunicação social, habilitação em jornalismo, em 2003. De formação
católica, sempre me interessei pelo trabalho social. A convite do sociólogo
Luiz Eduardo de Souza Pinto, passei a integrar, primeiro voluntariamente, a
equipe de comunicação da Arquidiocese de Montes Claros. Em uma de minhas
matérias iniciais, em uma quarta-feira, 08 de setembro de 2004, informamos: “No
dia de seu aniversário episcopal, d. Geraldo revela seu nome e número
prediletos”. O título original era pra ser “Oito de Maria”, mas, dom Geraldo
não gostou e preferiu a mudança. Naquela data, ele destacou as pessoas e os fatos
que marcaram a sua vida nesses anos de ordenação. “Maria vem à frente, indicando
paz ao mundo. A nossa Arquidiocese está consagrada ao Sagrado Coração de Maria.
Vocês devem se esforçar para, cada vez mais, se parecerem com Maria”. Para ele,
o nome ‘Maria’ e o número ‘8’ são especiais em sua vivência cristã. Em 08 de
setembro de 1982, houve a sua consagração como bispo-coadjutor. E, em 08 de
setembro de 1929, aconteceu o casamento de seus pais. Fatos como esses
impulsionam d. Geraldo a prosseguir em sua caminhada.
Outras
de minhas matérias iniciais foram sobre a formidável ação social da Pastoral do
Menor, tão desvalorizada pela sociedade brasileira. Mexer com adolescente não é
fácil. É a fase das crises. Cobri a inauguração do primeiro telecentro
comunitário do Norte de Minas, no Bairro Independência, ao lado de dom Geraldo,
do padre Antônio Alvimar Souza e de Gil Pereira. Naquele momento, o arcebispo
emérito destacou. “Na década de 1980, quando já era
bispo, ficava preocupado com este bairro. Não havia ainda o templo e, às vezes
a gente celebrava em pequenos salões, às vezes em casas de família, e reunimos
algumas lideranças para que pudéssemos construir uma coordenação leiga para o
bairro. O pessoal mais antigo ainda se lembra dessa sementinha que Nosso Senhor
foi plantando através do trabalho de tantos leigos aqui”.
Participei
da 1ª (em 2004) e da 2ª (em 2010) Assembleia Arquidiocesana de Pastoral (AAP).
Cobri a criação do Comitê Municipal de Combate à Corrupção Eleitoral e
Administrativa, em junho de 2004. Também em 2004 estava nas celebrações pelos
20 anos da Pastoral da Criança de Minas Gerais. Montes Claros foi a primeira
cidade do estado a criar essa pastoral para diminuir a taxa de mortalidade
infantil através do apoio de dom Geraldo, das religiosas Juliana Philomena
Verbist e Venina de Oliveira Tristão, de
dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, do padre Marco Ceroni, dentre milhares de
outras pessoas.
No
primeiro Grito dos Excluídos, ou grito pelos excluídos, do qual tive a
oportunidade de documentar, também em 2004, aquele em que se comemorava a sua
primeira década de vida e de luta, dom Geraldo explicou que “o Grito nasceu da
Bíblia quando, lá no Egito, Jesus disse que ouviu o clamor de seu povo” (...).
“Celebramos 10 anos do Grito e muitas vezes não somos compreendidos”. É “uma
alternativa de nos reunirmos e criarmos um senso crítico de que a nossa
Independência não foi só um encanto”. “O Brasil não é só dos governantes. É do
povo!”, afirmava o arcebispo metropolitano ao mencionar a lei de combate à
corrupção eleitoral (lei 9.840/1999). “A lei somente será cumprida se todos nós
nos esforçarmos. Pela moral, é até pecado vender o voto. Quando vendemos o
voto, prejudicamos a construção de uma sociedade do bem”, adiantou-se.
Foram
muitos mais textos, transcrições de homilias e até gravações de programas para
a televisão. Nesse tempo, de 2004 a 2006, tempo em que convivi mais de perto com
dom Geraldo, o que dá para concluir é que as palavras do cinegrafista Paulo
Rodrigues o definem melhor: “o bom velhinho”. Cinegrafista da
Hipervideoprodutora, da TV Geraes e da InterTV Grande Minas-Globo, Paulo
trabalhou com dom Geraldo no “Revista Católica”, programa de televisão
independente que foi ao ar na TV Geraes, canal 02 da televisão aberta, de 2004
a 2005. Lembro que foram nove meses exatos. Televisão não é brincadeira. O arcebispo
emérito de Montes Claros, dom Geraldo Majela de Castro, gravava vários de seus
momentos de fé e concedia a sua benção aos finais dos programas. Foi o
cinegrafista Paulo Rodrigues que melhor definiu dom Geraldo: o bom velhinho... E como o número oito é o seu número predileto,
esse número deitado se torna o símbolo do infinito. Que seja infinita a sua
vida...
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