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sexta-feira, 5 de julho de 2019

O autismo e a inclusão social

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

Quando o mundo ficou sabendo que Leonel Messi tem Síndrome de Asperger, um tipo de autismo, pôde-se concluir que o autista consegue tudo quando bem orientado, inclusive ser o melhor em sua atividade. Mas é preciso ter cautela nas expectativas, e entender que há vários tipos e graus de autismo, e cada um dos seus portadores tem uma maneira diferente de funcionamento cerebral. Partindo do princípio elementar da medicina de que “nem sempre e nem nunca”, também o autismo, em sua essência, dificulta a interação do indivíduo com o seu meio, impossibilitando a comunicação, a convivência e a socialização. A capacidade intelectual não está obrigatoriamente comprometida, mas a maneira específica de se comportar e de ver o mundo sim.

Historicamente o autista é visto como alguém que não olha nos olhos, que não manifesta afetividade, que não se enturma, e tem dificuldades em se comunicar, seja falar, seja entender. Tradicionalmente espera-se que o autista típico fique fechado em seu mundo, alheio, ausente, como se não visse e nem ouvisse o que o rodeia. As trocas interpessoais são menores, e há uma tendência a executar atividades repetitivas, e, desde o nascimento, observa-se que não fixa o rosto da mãe. Pode balançar o corpo por intermináveis vezes, olhar sem ver, parecer surdo e usar objetos de forma inapropriada. Porém, esse estereótipo não corresponde à totalidade dos autistas, pois muitos têm inteligência acima da média, e a fala normal, podendo se destacar entre seus pares e ter uma vida adulta de sucesso. Dentro de um quadro de transtorno global do desenvolvimento, no qual sintomas podem desaparecer, enquanto outros novos podem surgir, apenas a trajetória da pessoa poderá definir quem ela de fato é.

As causas são genéticas e ambientais, como a contaminação por metais pesados tais como chumbo e mercúrio. O problema é físico, portanto tem claras bases biológicas. Embora muito estudado, desde 1943, quando foi descrito, ainda é um transtorno sem uma definição final. A palavra autismo foi empregada pela primeira vez em casos de esquizofrenia, e foi tomada emprestada para explicar o isolamento do autista, que fica fora desse mundo. Pode não interagir por dificuldade em começar essa interação do que propriamente por não se interessar pelo que acontece em sua volta. 

Acomete 20 indivíduos em cada 10 mil, sendo quatro vezes mais comum no homem do que na mulher. Causas psicológicas, relacionadas com o ambiente vivido pela criança, não foram estabelecidas. Aqui o ambiente familiar parece não ter relevância no desencadear do problema. Os sintomas advêm de alterações físicas no cérebro e incluem inabilidade de comunicação, ausência ou linguagem atrasada, pouca imaginação, incompreensão de ideias, uso inadequado das palavras que podem ser faladas de forma desvinculada do seu significado. O relacionamento com eventos e pessoas é diferente do habitual. As variações são imensas, havendo, em geral, interesse por poucas atividades, e até mesmo ocorrer períodos em que se instala uma verdadeira ideia fixa. Não há padrão de imagem cerebral, ou dosagem laboratorial e nem mesmo escala de sintomas. Estes se estabelecem antes dos três anos de vida e podem incluir alterações do sono e da alimentação, fobias, agressividade e auto-agressividade. A sensibilidade aos sons e às dores também parece alterada. Apatia ou hiperatividade podem ocorrer.

O diagnóstico é feito pela observação clínica e o que se destaca é a necessidade de ser precoce para haver uma estimulação adequada, e uma retomada do desenvolvimento. Os tratamentos envolvem equipe multidisciplinar com neurologista, psiquiatra, psicóloga, fonoaudióloga e nutricionista. Usam-se estímulos com sons e figuras para direcionar o comportamento, ensinando-se cuidados consigo mesmo, o relacionar-se com o outro e a prática de tarefas. 

Algumas vezes, estabelecer-se um contato verbal com o terapeuta parece impossível, e a musicoterapia tem um lugar marcante nesse estabelecimento. A terapia do abraço, bem aos poucos, sem impor, e respeitando a escolha da criança, ajudam e quebram a resistência. Há quem defenda o uso de dieta restrita, e garanta que a suspensão de alimentos com sacarose, trigo, leite e derivados propicia um crescimento intelectual e da comunicação de forma gradual e constante.

Os remédios variam para cada caso. A dopamina e serotonina podem ser necessárias naqueles casos de tiques, estereotipias e agressividade. Cada autista é único, e os sintomas gerais devem servir apenas de eixo, pois há quem os tenha e não seja autista. Os transtornos de comportamento, todos eles, exigem atenção permanente, e estímulos adequados, para que a criança possa desenvolver-se dentro da sua capacidade máxima. 

Os autistas são pessoas que não pedem ajuda, assim, mais do que nunca, o tratamento deve ser exaustivamente individualizado. Aceitar, acolher e respeitar precisa ser a norma quando o objetivo é melhorar a vida do portador desse transtorno, cujo cérebro funciona a seu modo, avesso a respeitar regras. O autista precisa de aconchego e amor, para que se sinta feliz, podendo ser ele mesmo, sem proibição de ser o que realmente é.

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