Fui com uma camisa branca com a imagem da sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) escrito em letras gráficas “Pelo tombamento da Casa do Jornalista”, em Belo Horizonte, pois a especulação imobiliária já está de olho nela para construir mais um dos “poucos” prédios existentes na capital mineira e acabar com a memória material e histórica do povo brasileiro. A camisa ainda tinha escrito, com minha letra, “Casa do Jornalista: 70 anos de resistência à Ditadura Militar Brasileira (1964-1985) e solidarizava-se com os 100 operários da notícia demitidos sem justa causa do jornal "Hoje em Dia", em fevereiro de 2016 e que até hoje não receberam os valores previstos na legislação trabalhista para tal ação feita pelos mais de 100 Cadastros Nacionais das Pessoas Jurídicas (CNPJs) ligadas a Ruy Adriano Borges Muniz e transgêneros. Este rouba tanto do público-estatal, como do público-privado através de laranjas e capangas previamente selecionados e de confiança.
Sensibilizei-me também com a situação dos professores das Faculdades Unidas Norte de Minas (Funorte)/Sociedade Educativa do Brasil (Soebras) em apoio ao Sinpro-MG. Os professores da Funorte/Soebras já começam a sofrer assédio moral para se enquadrarem logo no processo de terceirização imposto pelo Estado Republicano Democrático de Direito antes de novembro deste ano, prazo para a lei entrar em vigor. Mais uma vez, como ocorre com os adolescentes autores de atos ditos criminosos, a sociedade capitalista criminaliza sempre a vítima do processo mercantil: os professores, que entrarão agora na pejotização e precarização das relações trabalhistas.
O Estado Republicano Democrático de Direito Brasileiro é o maior cobrador de impostos, talvez do mundo. Para ajeitar a situação, passa seus problemas para terceiros, ao invés de resolvê-los por conta própria. Não oferece praticamente um retorno social sequer das taxas cobradas à população brasileira. Entrega, de bandeja, os bens público-estatais duramente construídos pelos trabalhadores brasileiros durante o período mais democrático da história do país: de 1945 a 1964.
Pela leitura do folder (tem propaganda parlamentar por trás) do Projeto “Escola Sem Partido”, vê-se o anarquismo de Direita. Acredite! Anarquismo de Direita! Na pergunta nove do folder, há a pergunta: “a lei não representaria uma intervenção estatal na educação?”. E a própria autoria do projeto responde: “Obviamente, não. O ensino obrigatório é que é uma gigantesca intervenção estatal na vida dos indivíduos e suas famílias. O Programa Escola sem Partido apenas explicita os marcos jurídicos dessa intervenção, com o objetivo de impedir o abuso de poder por parte dos agentes do Estado, e de proteger os direitos da parte mais fraca, como determina o Artigo do ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente]”: “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente”.
Quanta baboseira anarquista liberal de Direita! Utilizar-se do ECA como argumento do Projeto “Escola Sem Partido”! O ECA é de 1990 e até hoje sucessivos governos não têm o mínimo interesse em colocar em prática e dar prosseguimento a essa legislação. Já tivemos excelentes trabalhos desenvolvidos pelo ECA, como o Programa “Liberdade Assistida”, desenvolvido por verdadeiros missionários da Pastoral do Menor do Bairro Maracanã, da Vila Greice, São Judas, Alto São João, Vila Guilhermina. Tivemos o Projeto “Egressos” no Bairro Todos Os Santos, administrado pela Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros e que acolhia adolescentes recém saídos do Centro Socioeducativo do Adolescente Nossa Senhora Aparecida (Cesensa), trazido para a região graças a luta de missionários da Pastoral do Menor, tão desvalorizada pelas igrejas e pelo Estado. Até hoje não temos os quatro conselhos tutelares previstos pelo Estado para a cidade. Será que só quatro conselhos resolverão o nosso problema de caos social?
A Pastoral observa primeiro a realidade social e cultural da criança e do adolescente. Faz um trabalho de inculturação e não de aculturação, típico das sociedades altamente burguesas. A sociedade dirigente capitalista brasileira quer é enjaular crianças e adolescentes empobrecidas, entorpecidos pelos restos da cocaína (o crack), entre quatro paredes e transformá-los em marginais com alto poder destrutivo para trabalhar no comércio paralelo do tráfico de drogas. Os empresários e políticos do tráfico de drogas nunca são vigiados e punidos. Apenas os operários desse setor o são.
Não compensa aqui comentar mais o Projeto “Escola Sem Partido”. É perda de tempo e de neurônios. Só pela presença dos convidados para a audiência pública, vê-se que é um projeto fadado ao fracasso. Apenas sete (nem um terço) dos 23 vereadores compareceram ao chamamento da sessão. Dos 13 convidados, quatro se animaram a debater o assunto, e bastante perfumados: o casal coordenador da Direita Minas em Montes Claros, o coordenador do Projeto “Escola Sem Partido” e a representação do Movimento Estudantil local (este porque pressionaram pela participação social). Nem os deputados federais Jair Messias Bolsonaro e o seu filho Eduardo Bolsonaro (Nepotismo na Câmara dos Deputados? Pode isso, Arnaldo?) compareceram à audiência pública. Mandaram representação.
Parabéns ao secretário municipal de Educação, Benedito Said; ao representante da Superintendência Regional de Ensino, Roberto Jairo Torres; ao representante das escolas particulares, Hélio Soares; ao representante da Funorte, Cristiano Júnior; ao representante das Faculdades Santo Agostinho, Antônio Pereira; ao reitor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), João dos Reis Canela; e à representante das Faculdades Pitágoras, Maria de Fátima Turano. A ausência de vocês significa o boicote da sociedade brasileira a uma lei que se traveste de neutra, porém carrega a mais dura doutrinação política liberal anarquista de Direita.
Fui aluno dos professores Andréia e José Gílson, de História, e de Hellen, de Geografia, na década de 1990, no Colégio Padrão/Pitágoras. Todos ligados à verdadeira esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT). Era o ano de 1989. Filiar-se ao PT era motivo de orgulho e de ética. Uma professora tinha um automóvel Gol antigo, da cor bege, com o adesivo surrado e honrado do PT. A disputa com o confiscador de poupança do povo brasileiro, Fernando Collor de Melo (Partido da Reconstrução Nacional), foi cruel. Havia as edições macabras e permissivas do “Jornal Nacional”, da Rede Globo, apresentado por Cid Moreira, com aquela voz transmissora de credibilidade e seriedade.
Nenhum dos professores de esquerda acima citados doutrinavam os seus estudantes. Muito pelo contrário. A escola brasileira se preocupa hoje em dia se o aluno está aprendendo apenas português formal e matemática, orientado por uma pedagogia estatal para formar tecnicistas e especialistas para mão-de-obra cada vez mais barata. Em matéria de Geografia e História, os brasileiros são péssimos estudantes. Os aparelhos de telefones celulares são os norteadores do nosso caminho atual. Nós odiamos conhecer o que os nossos antepassados fizeram. Será por qual motivo? Foi tão ruim assim? Atente-se para as convicções que mais crescem no mundo: o ateísmo, a teologia da prosperidade e o espiritismo. Só o inventado Estado de Israel já conta com 70% de ateus em sua população.
E se o PT foi perdendo sua coesão moral e ética foi porque ele foi sendo moldado e institucionalizado pelo marketing político. O Lula de 1989 jamais foi o mesmo de 2002. Aliou-se a um liberal para vencer as eleições e acalmar a luta de classes no Brasil. Depois, em 2010, o PT se juntou a um conservador para ganhar o pleito nacional. Uma mulher torturada pela história (nos dizeres de Karl Marx, presa e servidora da luxúria coletiva), aguentou seis dos oitos anos a que tinha direito. Foi caçada pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o partido mais corrupto e prostituído (perdoe-me as prostitutas) da sociedade brasileira.
A sociedade brasileira precisa urgentemente resgatar a ortodoxia marxista leninista, tão dissimulada por teóricos reformistas, anarquistas e pelo capitalismo ocidental.
“Um regime tão fortemente enraizado nas massas não tem o menor motivo para atentar contra a democracia”, Vladimir Lênin (página 38 do livro “O Sistema Judicial na URSS”, de Igor Volochin e Lev Simkin, Edições da Agência de Imprensa Nóvosti, Moscou, 1989). Nos anos 1801, o papa Pio XI já havia alertado: “o grande escândalo da Igreja, no século XIX, foi ter perdido o contato com a classe operária”.
Não deu outra. O mundo estourou em revoluções burguesas e proletárias. Ocorrerá de novo? Quem sabe! “A história se repete: a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, Karl Marx. A sua boa alma ainda ronda o mundo contemporâneo.
Como gritei muito para protestar na audiência pública do Projeto “Escola Sem Partido”, o presidente da sessão me chamou a atenção e sugeriu-me: em respeito à sua pessoa, peço que se comporte. Respeite a todos e não só um. Nunca personifique e personalize, pensei comigo mesmo e, poucos minutos depois, deixei aquela audiência pública caricata e burlesca.