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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Projeto “Escola Sem Partido” é anarquismo de Direita


Na última quinta-feira (28/09), participei da audiência pública do Projeto “Escola Sem Partido” na Câmara Municipal de Montes Claros, Norte de Minas Gerais, solicitada pela Direita Minas e inicialmente com representantes únicos, sem pluralidade social como exige uma democracia decente. Após pressão do Regional Norte do Sindicato dos Professores da Educação de Minas Gerais (Sinpro-MG) é que houve abertura para a diversidade de ideologias.

Fui com uma camisa branca com a imagem da sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) escrito em letras gráficas “Pelo tombamento da Casa do Jornalista”, em Belo Horizonte, pois a especulação imobiliária já está de olho nela para construir mais um dos “poucos” prédios existentes na capital mineira e acabar com a memória material e histórica do povo brasileiro. A camisa ainda tinha escrito, com minha letra, “Casa do Jornalista: 70 anos de resistência à Ditadura Militar Brasileira (1964-1985) e solidarizava-se com os 100 operários da notícia demitidos sem justa causa do jornal "Hoje em Dia", em fevereiro de 2016 e que até hoje não receberam os valores previstos na legislação trabalhista para tal ação feita pelos mais de 100 Cadastros Nacionais das Pessoas Jurídicas (CNPJs) ligadas a Ruy Adriano Borges Muniz e transgêneros. Este rouba tanto do público-estatal, como do público-privado através de laranjas e capangas previamente selecionados e de confiança.

Sensibilizei-me também com a situação dos professores das Faculdades Unidas Norte de Minas (Funorte)/Sociedade Educativa do Brasil (Soebras) em apoio ao Sinpro-MG. Os professores da Funorte/Soebras já começam a sofrer assédio moral para se enquadrarem logo no processo de terceirização imposto pelo Estado Republicano Democrático de Direito antes de novembro deste ano, prazo para a lei entrar em vigor. Mais uma vez, como ocorre com os adolescentes autores de atos ditos criminosos, a sociedade capitalista criminaliza sempre a vítima do processo mercantil: os professores, que entrarão agora na pejotização e precarização das relações trabalhistas.

O Estado Republicano Democrático de Direito Brasileiro é o maior cobrador de impostos, talvez do mundo. Para ajeitar a situação, passa seus problemas para terceiros, ao invés de resolvê-los por conta própria. Não oferece praticamente um retorno social sequer das taxas cobradas à população brasileira. Entrega, de bandeja, os bens público-estatais duramente construídos pelos trabalhadores brasileiros durante o período mais democrático da história do país: de 1945 a 1964.

Pela leitura do folder (tem propaganda parlamentar por trás) do Projeto “Escola Sem Partido”, vê-se o anarquismo de Direita. Acredite! Anarquismo de Direita! Na pergunta nove do folder, há a pergunta: “a lei não representaria uma intervenção estatal na educação?”. E a própria autoria do projeto responde: “Obviamente, não. O ensino obrigatório é que é uma gigantesca intervenção estatal na vida dos indivíduos e suas famílias. O Programa Escola sem Partido apenas explicita os marcos jurídicos dessa intervenção, com o objetivo de impedir o abuso de poder por parte dos agentes do Estado, e de proteger os direitos da parte mais fraca, como determina o Artigo do ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente]”: “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente”.

Quanta baboseira anarquista liberal de Direita! Utilizar-se do ECA como argumento do Projeto “Escola Sem Partido”! O ECA é de 1990 e até hoje sucessivos governos não têm o mínimo interesse em colocar em prática e dar prosseguimento a essa legislação. Já tivemos excelentes trabalhos desenvolvidos pelo ECA, como o Programa “Liberdade Assistida”, desenvolvido por verdadeiros missionários da Pastoral do Menor do Bairro Maracanã, da Vila Greice, São Judas, Alto São João, Vila Guilhermina.  Tivemos o Projeto “Egressos” no Bairro Todos Os Santos, administrado pela Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros e que acolhia adolescentes recém saídos do Centro Socioeducativo do Adolescente Nossa Senhora Aparecida (Cesensa), trazido para a região graças a luta de missionários da Pastoral do Menor, tão desvalorizada pelas igrejas e pelo Estado. Até hoje não temos os quatro conselhos tutelares previstos pelo Estado para a cidade. Será que só quatro conselhos resolverão o nosso problema de caos social?

A Pastoral observa primeiro a realidade social e cultural da criança e do adolescente. Faz um trabalho de inculturação e não de aculturação, típico das sociedades altamente burguesas. A sociedade dirigente capitalista brasileira quer é enjaular crianças e adolescentes empobrecidas, entorpecidos pelos restos da cocaína (o crack), entre quatro paredes e transformá-los em marginais com alto poder destrutivo para trabalhar no comércio paralelo do tráfico de drogas. Os empresários e políticos do tráfico de drogas nunca são vigiados e punidos. Apenas os operários desse setor o são.

Não compensa aqui comentar mais o Projeto “Escola Sem Partido”. É perda de tempo e de neurônios. Só pela presença dos convidados para a audiência pública, vê-se que é um projeto fadado ao fracasso. Apenas sete (nem um terço) dos 23 vereadores compareceram ao chamamento da sessão. Dos 13 convidados, quatro se animaram a debater o assunto, e bastante perfumados: o casal coordenador da Direita Minas em Montes Claros, o coordenador do Projeto “Escola Sem Partido” e a representação do Movimento Estudantil local (este porque pressionaram pela participação social). Nem os deputados federais Jair Messias Bolsonaro e o seu filho Eduardo Bolsonaro (Nepotismo na Câmara dos Deputados? Pode isso, Arnaldo?) compareceram à audiência pública. Mandaram representação.

Parabéns ao secretário municipal de Educação, Benedito Said; ao representante da Superintendência Regional de Ensino, Roberto Jairo Torres; ao representante das escolas particulares, Hélio Soares; ao representante da Funorte, Cristiano Júnior; ao representante das Faculdades Santo Agostinho, Antônio Pereira; ao reitor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), João dos Reis Canela; e à representante das Faculdades Pitágoras, Maria de Fátima Turano. A ausência de vocês significa o boicote da sociedade brasileira a uma lei que se traveste de neutra, porém carrega a mais dura doutrinação política liberal anarquista de Direita.

Fui aluno dos professores Andréia e José Gílson, de História, e de Hellen, de Geografia, na década de 1990, no Colégio Padrão/Pitágoras. Todos ligados à verdadeira esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT). Era o ano de 1989. Filiar-se ao PT era motivo de orgulho e de ética. Uma professora tinha um automóvel Gol antigo, da cor bege, com o adesivo surrado e honrado do PT. A disputa com o confiscador de poupança do povo brasileiro, Fernando Collor de Melo (Partido da Reconstrução Nacional), foi cruel. Havia as edições macabras e permissivas do “Jornal Nacional”, da Rede Globo, apresentado por Cid Moreira, com aquela voz transmissora de credibilidade e seriedade.

Nenhum dos professores de esquerda acima citados doutrinavam os seus estudantes. Muito pelo contrário. A escola brasileira se preocupa hoje em dia se o aluno está aprendendo apenas português formal e matemática, orientado por uma pedagogia estatal para formar tecnicistas e especialistas para mão-de-obra cada vez mais barata. Em matéria de Geografia e História, os brasileiros são péssimos estudantes. Os aparelhos de telefones celulares são os norteadores do nosso caminho atual. Nós odiamos conhecer o que os nossos antepassados fizeram. Será por qual motivo? Foi tão ruim assim? Atente-se para as convicções que mais crescem no mundo: o ateísmo, a teologia da prosperidade e o espiritismo. Só o inventado Estado de Israel já conta com 70% de ateus em sua população.   

E se o PT foi perdendo sua coesão moral e ética foi porque ele foi sendo moldado e institucionalizado pelo marketing político. O Lula de 1989 jamais foi o mesmo de 2002. Aliou-se a um liberal para vencer as eleições e acalmar a luta de classes no Brasil. Depois, em 2010, o PT se juntou a um conservador para ganhar o pleito nacional. Uma mulher torturada pela história (nos dizeres de Karl Marx, presa e servidora da luxúria coletiva), aguentou seis dos oitos anos a que tinha direito. Foi caçada pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o partido mais corrupto e prostituído (perdoe-me as prostitutas) da sociedade brasileira.         

A sociedade brasileira precisa urgentemente resgatar a ortodoxia marxista leninista, tão dissimulada por teóricos reformistas, anarquistas e pelo capitalismo ocidental.

“Um regime tão fortemente enraizado nas massas não tem o menor motivo para atentar contra a democracia”, Vladimir Lênin (página 38 do livro “O Sistema Judicial na URSS”, de Igor Volochin e Lev Simkin, Edições da Agência de Imprensa Nóvosti, Moscou, 1989). Nos anos 1801, o papa Pio XI já havia alertado: “o grande escândalo da Igreja, no século XIX, foi ter perdido o contato com a classe operária”.

Não deu outra. O mundo estourou em revoluções burguesas e proletárias. Ocorrerá de novo? Quem sabe! “A história se repete: a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, Karl Marx. A sua boa alma ainda ronda o mundo contemporâneo.  

Como gritei muito para protestar na audiência pública do Projeto “Escola Sem Partido”, o presidente da sessão me chamou a atenção e sugeriu-me: em respeito à sua pessoa, peço que se comporte. Respeite a todos e não só um. Nunca personifique e personalize, pensei comigo mesmo e, poucos minutos depois, deixei aquela audiência pública caricata e burlesca.


No caminho de casa, na Praça Capitão Enéas, havia encostados em uma das poucas árvores de Montes Claros, um vinho, uma taça com água, cestas com frutas devidamente ornamentadas para algum ato. Macumba?, perguntaram uma adolescente e uma criança. Acho que alguém quer é tornar o ambiente mais romântico como as músicas de samba do Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980). Até para nascer e morrer esse cara foi poeta. 




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