ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Casamento inesperado na porta do céu

(...) Vive! Que eu viverei servindo/ Teu culto, e, obscuro,/Tuas custódias esculpindo/No ouro mais puro. (...) [Trecho do Poema “Profissão de Fé”, de Olavo Bilac (1865-1918)]

Romeira morre atingida por galho de árvore durante peregrinação à Aparecida/SP: Uma romeira de 47 anos morreu durante peregrinação até o Santuário Nacional de Aparecida, na terça-feira (10/10), à noite, em Pindamonhangaba, São Paulo. Um galho de árvore caiu durante uma chuva e acabou atingido Poliana Abraão de Paiva, 47 anos.

Segundo o G1, ela fazia o trajeto da Rota Luz, roteiro usado pelos peregrinos para chegar até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Por volta das 17h, caía uma forte chuva e um galho caiu de uma árvore atingindo Poliana e um carro. Ela fazia parte de um grupo de pessoas que seguia para celebrar o 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora. Poliana foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas chegou ao pronto-socorro já sem vida. O irmão, Etienne Abraão, lamentou a perda. “Foi muito triste essa notícia. Minha irmã ela trabalhadora, honesta, sempre cumpria obrigações. Estava no trajeto para cumprir uma promessa”, afirmou.

A romeira era de Bilac, em São Paulo, onde foi sepultada na quinta-feira (12). Segundo familiares, ela havia se recuperado de uma forte crise de asma e iria para o Santuário em agradecimento. “Ela recebeu essa graça e estudou muito o roteiro, como por exemplo quantos quilômetros iria andar por dia. No trajeto ela foi adotada por um grupo, porque ela estava sozinha”, explicou uma prima. 

CRÔNICA DA NOTÍCIA

Cuidado com as palavras ao fazer uma oração

Poliana Abraão era solteira, asmática, moradora do interior, devota de Nossa Senhora Aparecida e acostumada à vida simples das cidades pequenas. Ao final da tarde, colocava sempre cadeiras na porta da rua de casa à espera que alguém sentasse a seu lado e conversasse com ela. Psicólogos e psiquiatras são bem caros para devotos de Nossa Senhora Aparecida e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) vivem à míngua por causa de políticas públicas de saúde municipais, estaduais e federais bastante precárias. Há estacionamentos para guardar carros, a paixão nacional brasileira, e casas e lojas vazias para o próximo interessado em pagar aluguel.

Os fundos municipais estão cheios de dinheiro, mas, apesar da legislação exigir conselhos tripartites e deliberativos, é o executivo quem manda na farsante democracia brasileira. Os pagadores de promessas e os anormais devem se aventurar a fazer poesia, produzir arte do lixo como Arthur Bispo do Rosário, virar um excelente pintor como Raymundo Colares ou encenar a vida atrás das cortinas do teatro como Igor Xavier.

Poliana adorava crianças e sonhava que batizaria sua primeira filha com o nome de Ana. Foi curada da asma que a oprimia e, para agradecer pelo milagre, jurou percorrer os quilômetros de Bilac a Aparecida a pé. Poliana Abraão tinha a linguagem popular e afirmou. “Se Nossa Senhora Aparecida me quebrar esse galho, firmo uma peregrinação até a cidade santa brasileira nos 300 anos da imagem mameluca e barroca”.

Surpreendeu-se com tantos caminhões e carros nas rodovias. Um desses caminhões, carregados de carvão originário do eucalipto que seca a terra e a vida, encostou, em uma das árvores seculares às margens da rodovia, no instante em que ultrapassava o carro de passeio que acolhia Poliana Abraão. O galho caiu sobre o automóvel e matou a bilaquense.


Na porta do céu, Poliana se encontrou com um certo Damião, que tinha os mesmos costumes da moça. Era vigia em uma escola à noite, devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida, fazia picolés, produzia escultura de animaizinhos no gesso, cuidava de uma horta em casa e, todo final de tarde, saía à rua para conversar com seu pai. Damião só não gostava de uma tal pós-modernidade que insistia em reformar sua cultura de raiz. Poliana e Damião se casaram e herdaram as crianças Yasmim, Cecília, Renan, Juan Pablo, Sidney Júnio, Ana Clara, Luiz Davi, Juan Miguel e muitas outras vítimas capitais de uma sociedade produtora de tragédias em série. A professora de Ciências da Religião, Heley, foi a sacerdotisa do casal e das crianças. 

Amém!              

Nenhum comentário: