Protestos sim; violência não

A manifestação de estudantes das escolas públicas de Montes Claros, que aconteceu ontem de manhã na Prefeitura de Montes Claros e foi organizada pelo vereador Lipa Xavier (PCdoB), tem um motivo justo: a adoção do passe escolar. O que não pode acontecer é protestos como esse descambar para a violência. A mobilização provocou um confronto desnecessário entre estudantes e policiais militares. A ordem na Polícia Militar (PM) é, caso haja depredação de patrimônio público, como ocorreu, dispersar os manifestantes com meios nada humanos. Pensamos que é inadequado destruir nosso patrimônio municipal. Ele já se encontra numa situação de tamanho sucateamento que não convém aprofundar mais esse problema.

Vale a pena seguir o relato e a sugestão implícita de Chico Alencar, historiador e deputado federal pelo Psol, em entrevista à revista "Caros Amigos", edição de abril de 2008. "Eu vejo no Congresso Nacional, como via na Assembléia Legislativa, como via na Câmara de Vereadores, ou seja, a história vem de longe. Quando temos qualquer votação importante e as galerias começam a se encher, o incômodo dos representantes do povo é enorme. "Que pessoal é esse? Quem está trazendo? 'Presidente, limita: ó, já lotou o espaço'." Deve ser o contrário do craque de futebol, o craque que vibra com o estádio cheio. Como nós somos, na maioria, uns pernas-de-pau, ficamos com medo. Então o desencanto com a política interessa muito aos que estão cada vez mais voltados para o mundo particular deles mesmos".

Sugerimos então a qualquer manifestante que não esteja satisfeito com a situação de seu bairro, comunidade, cidade, estado, país e mundo que proteste, acampe nos pátios públicos e nas praças públicas, faça apitaço, panelaço, siga o exemplo dos nossos irmãos argentinos, participe presencialmente das reuniões nas câmaras municipais, mas tudo pacificamente. Só de as pessoas observarem e sentirem você e mais gente se organizando em algum lugar, já será incômodo para nossas autoridades públicas. E que o episódio de ontem na Prefeitura não seja utilizado para outros fins politiqueiros. Como escreve Frei Betto em seu livro "Calendário do Poder", Política é uma coisa muito séria para estar nas mãos de profissionais e de marqueteiros.