Quem
tem mais de 39 anos de centro urbano sabe a sensação de sair da cidade e
encontrar-se com outro mundo. Para quem vive em cidades de porte médio a grande
visitar o interior é viajar para fora e conhecer estrangeiros, não estrangeiros
habituais, como o norte-americano, o francês, o alemão, mas a realidade social
de gente que deveria ser como a gente, porém é tratada com indiferença pela
grande mídia e pela sociedade em geral. São os geraizeiros, veredeiros,
pescadores artesanais, baianeiros, quilombolas, indígenas, enfim, as populações
tradicionais do Norte de Minas Gerais e Bahia, valorizadas pela Pastoral da
Terra e centro de atenção no Encontro “Minas e Bahia Cuidando da Casa Comum”,
acontecido de 27 a 29 de julho de 2018, no Centro de Pastoral da Paróquia Santo
Antônio de Grão Mogol e organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), pelo
Projeto de Desenvolvimento Rural e Urbano (Proderur) e pela Arquidiocese de
Montes Claros. O tema do evento abordou o meio ambiente: “Água e Cerrado,
cultivai e guardai a criação” (Gn 2, 15).
“Esta casa comum está gemendo em dores de parto e precisamos entrar em sintonia com esta casa”, alertou a assistente social, Sônia Gomes de Oliveira, ao abrir a mística do encontro. “Tudo está interligado como se fôssemos um”, afirmou ao apontar para a capilaridade do trabalho de rede da sociedade contemporânea e sua unidade. Mais de 50 militantes de movimentos sociais participaram do Encontro “Minas e Bahia Cuidando da Casa Comum”, como o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), o “Correntina pela Vida”, o Coletivo de Mulheres do Norte de Minas, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Coletivo São Francisco e a CPT do sudoeste baiano. “Sejam todos bem-vindos à Chácara Santo Antônio de Grão Mogol. Eu que sou daqui, acolho vocês, povos de luta. Sintam-se acolhidos”, saudou a Irmã Etelvina Moreira de Arruda, das Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação.
“Esta casa comum está gemendo em dores de parto e precisamos entrar em sintonia com esta casa”, alertou a assistente social, Sônia Gomes de Oliveira, ao abrir a mística do encontro. “Tudo está interligado como se fôssemos um”, afirmou ao apontar para a capilaridade do trabalho de rede da sociedade contemporânea e sua unidade. Mais de 50 militantes de movimentos sociais participaram do Encontro “Minas e Bahia Cuidando da Casa Comum”, como o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), o “Correntina pela Vida”, o Coletivo de Mulheres do Norte de Minas, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Coletivo São Francisco e a CPT do sudoeste baiano. “Sejam todos bem-vindos à Chácara Santo Antônio de Grão Mogol. Eu que sou daqui, acolho vocês, povos de luta. Sintam-se acolhidos”, saudou a Irmã Etelvina Moreira de Arruda, das Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação.
“Viemos
fazer barulho em terra alheia”, cantava a liderança da Pastoral da Terra, Luzia
Alane Rodrigues, ao animar as comunidades presentes no evento, a exemplo do
Vale das Cancelas, Curral de Varas, Bocaina, Batalha, Morro Grande, Taquaral,
Ferreirópolis e as cidades mineiras e geraizeiras de Josenópolis, Riacho dos
Machados, São João das Missões, Manga, Itacarambi, Januária, Varzelândia,
Novorizonte, Salinas, Fruta de Leite e Montes Claros, além de municípios
baianos como Correntina.
“Nada
melhor do que as pessoas que vivem o dia a dia de luta para falar da sua
realidade”, declarou a liderança Ana Paula Alencar, ao dar abertura para o
momento de reflexão da conjuntura política, econômica e social das comunidades.
As populações tradicionais reclamaram do avanço da exploração da terra na
região de Grão Mogol. A paisagem dos cerca de 150 quilômetros de distância do
município de 17 mil habitantes à MOC é caracterizada por plantações de
monocultura de eucalipto, identificando um grande deserto verde regional.
Reclamaram ainda da liberação das riquezas nacionais para o capital
internacional. “Na década de 1970, nosso território foi entregue às grandes
empresas”, fizeram memória, além de mencionar a contaminação dos rios por
veneno e esgoto das cidades. “Grandes transtornos esse modelo de
desenvolvimento trouxe”, concluíram ao salientar que “a história se repete, os
personagens que são outros”, acrescentaram.
As
populações tradicionais denunciaram os conflitos contra as empresas de
eucalipto que matam as nascentes dos rios, a falta de água em muitas
comunidades, o aumento do desemprego e da violência, o enfraquecimento da saúde
pública, a Reforma da Previdência que prejudicou aposentados, a crescente
dívida pública. “Grande parte dos nossos problemas está ligado às medidas
aprovadas no Congresso Nacional. Vivemos um tempo de desesperança, de
descrédito nos movimentos sociais”, emendou a assistente social, Sônia de
Oliveira. A importância das comunidades tradicionais para o governo brasileiro
é estratégica: ora são valorizadas, ora são desrespeitadas. “O que está
acontecendo é reflexo da conjuntura nacional de repressão social, uma onda
muito forte contra os trabalhadores e suas comunidades”, completou a assistente
social ao ouvir o clamor comunitário contra a privatização das empresas de
saneamento básico, a criação do mercado das águas e a proibição de produtos
orgânicos em feiras livres.
A
geração de problemas sociais não para. Disputa comercial em relação à água:
água como bem comum e água como mercadoria. “A água é um instrumento que liga
todas as lutas. Não existe defesa da água se não existir defesa do território”,
garantiu a assistente social embasada na história de que nas décadas de 1970 e
1980 começaram as grilagens de terras e a criminalização dos movimentos
sociais. Passaram a enfraquecer o trabalho de base da Igreja católica e a
enaltecer o modelo de Igreja de televisão nas comunidades. A relação entre fé e
vida foi enfraquecida para, em contrapartida, esconder o mapa da corrupção. O
Norte de Minas Gerais é o lugar onde mais se vende votos.
Há
ameaças a lideranças camponesas pelos fazendeiros. A Secretaria de Patrimônio da União (SPU) dificulta
documentação que oficializa as comunidades tradicionais dos quilombolas, dos geraizeiros
e dos vazanteiros em prol dos grandes proprietários rurais. Empresários também
são beneficiados. Eles incluem áreas de moradores como Área de Preservação
Ambiental (APP) das empresas. Há discriminação da polícia aos movimentos
sociais. Assim, é necessária a luta pela autodeterminação do território pelas
comunidades com a unificação popular.
Texto e imagens: João Renato Diniz Pinto jornalista voluntário da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Norte de Minas Gerais
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