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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

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segunda-feira, 25 de março de 2019

“É preciso ter fé na vida” (Milton Nascimento)

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

Quanto mais fé melhor. Porém, o batalhão de céticos aumenta. Enquanto os ingênuos vão caindo em contos do vigário, outros desconfiam de tudo. Links suspeitos de ser um Cavalo de Tróia, os antigos vírus fatais, que invadiam o computador e destruíam o disco rígido, são clicados por quem não resiste a uma oferta de rendimento ou vantagem. Ou, inocente, acredita que ganhou um prêmio, mesmo sem ter se inscrito em nenhum concurso, recebendo por telefone a informação de ter ganhado um milhão, mas que, para recebê-lo precisa transferir meio milhão como pedágio. O tolo chega a se endividar para atender ao estelionatário. Foi-se o tempo em que os incautos caíam na conversa do vilão vendedor de lotes na lua. Agora, meliantes ousados, usam argumentos e meios sofisticados, enquanto seus lucros se multiplicam.

Há quem acredite em qualquer um, especialmente se tiver boa aparência, que, no Brasil, significa pessoa de pele clara, cabelo liso, jovem, magra, bonita e bem vestida, que, por essas credenciais, serão dignas de credibilidade. Gente conhecida pela internet ganha crédito total. Falaram-se uma meia dúzia de vezes sem nunca terem se visto pessoalmente, as referências recebidas foram dadas pela própria pessoa, e, a partir daí as portas da casa e do coração estão abertos e a confiança é completa. Após se verem cara a cara, acontece o golpe com inexplicável entrega de cartões e senhas, além do convite para se hospedar na residência. Esse comportamento de risco não é raro.

Na internet há várias ofertas de curas milagrosas, usando-se a mesma estratégia do homem da cobra. Antigamente, um homem bem falante se postava numa esquina movimentada qualquer, e, para vender remédios, vidros com determinada beberagem, falava tanto, que espumava pelos cantos da boca. Aos seus pés ficava uma mala fechada e a promessa de abri-la para mostrar seu conteúdo: uma cobra. Por mais apressada que a pessoa estivesse, não resistiria e pararia para ouvir as promessas daquele medicamento que cura tudo, não conseguindo ir embora antes da abertura da tal mala. Por sua vez, a rede promete curas para doenças que a ciência, até o momento, considera distantes, e lá está um site, com mensagem aberta durante vários minutos, oferecendo um chá ou assemelhado, para de repente se fechar e fazer uma cobrança exorbitante, para a qual não se terá nenhuma garantia, caso se decida pagar para ver. Existe esse tipo de negócio, porque há quem pague por ele.

Tratamentos ditos ineficazes pela ciência são difundidos pelos meios de comunicação, angariando adeptos a cada dia, e os novos aficionados nem aceitam discutir as mentirosas promessas do tratamento. Engrossam o pelotão de testemunhas oculares, ditas beneficiadas pelos métodos que, muitas vezes não são apenas desacreditados, mas contra-indicados por oferecerem riscos à saúde. Tais depoimentos equivocados seguem inchando os bolsos dos garotos-propaganda, que arregimentam batalhões com alegadas melhoras. Muito já deu o que falar a auto-hemoterapia, que recomenda tirar cinco a dez ml de sangue na veia e injetá-lo no músculo da mesma pessoa, a cada semana. Os adeptos ficam furiosos com o descrédito dos médicos, e até mesmo da proibição desse tipo de terapêutica, considerada uma infração sanitária e contam que muitos dos seus sintomas desapareceram com esse tratamento.

Sendo a sensação de cura uma questão de convicção, fica mais fácil entender, que, da mesma maneira que o medo de uma doença grave diante de um sintoma sugestivo faça aumentar o referido indício, a crença de que aquilo seja um remédio para todos os males tem o efeito similar em sentido oposto: efeito placebo. Pode parecer absurdo, mas uma mulher afirma que, estando com fome, mesmo sem alimento, sobe no telhado da casa e sua fome passa. Sim, e há também quem se alimente de luz ou de vento e se sinta igualmente saciado. A fé é assim. 

Domingo, 24 de março de 2019

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