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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

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domingo, 31 de março de 2019

Josecé, por ele mesmo

POR Mara Narciso, médica-endocrinologista e jornalista

José Ferreira dos Santos, baiano de Bem Bom, depois nomeada Casa Nova, e Maria Helena tiveram nove filhos: Josenaldo, Josevilson, Joseval, Josemir, Josenor, Josedilson, Josemar e Josecé, quatro baianos e quatro mineiros. O nono morreu pequeno.  Josecé é de Juazeiro, nascido em 11 de outubro de 1950, e, quando seu pai, um timoneiro de gaiolas no Rio São Francisco, se mudou com a família para Pirapora, tinha dois anos. Motivo: a sede da Companhia do Vale do São Francisco foi deslocada para lá. Eram 36 vapores, se cruzando pelo caminho do rio e agora resta um: Benjamim Guimarães. Acompanhou seu pai nas viagens, e o espírito do rio entrou em seu sangue, assim, passou a vida participando de reuniões e ações para revitalizar o rio.

Josecé Alves dos Santos fez um ano de medicina em Recife, mas não era vocacionado, daí foi morar em Montes Claros, se formou em economia e trabalhou na prefeitura. Sua veia poética determinou, e, nos 35 anos de serviço, voltou-se para projetos populares artísticos e culturais.



Contido, sentiu-se constrangido em citar seus feitos. É que fora convocado a falar, como sócio efetivo, sobre sua Literatura de Cordel, e para justificar sua arte, seria preciso falar de si. Foi numa reunião do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, entidade que registra a história da região há 12 anos. Num pequeno pátio da sede, à Rua Coronel Celestino 140, onde estavam expostos seus cordéis, livros, CD e LP, Josecé falou para cerca de 30 associados.

Trabalhou na cultura, produzindo e fomentando na área de composição musical, canto, grupos de música regional, seresta, cordel, repente, bateria, carnaval, associação de moradores, construção do templo, plantio de árvores, educação ambiental de crianças, cerimonial, festas, buscando recursos junto às autoridades.

É um vencedor corajoso, brigão, coerente, e fez muitos amigos. Tem alguns desafetos, pois, quem produz desperta disputas e ciúmes. De estopim curto, quando vê que não dá para ganhar prefere sair de cena. A julgar pela sua popularidade (chegou a ser candidato a vereador, com boa votação), conhecidíssimo e reconhecido pelos trabalhos prestados, mantém-se firme em qualquer temporal, sem desistir dos seus ideais e princípios.

Confiável, foi presidente da Associação dos Moradores do Bairro Morada do Parque, assim como sua esposa Leonora, realizando melhoras e manutenção do bairro, além de festas e a semanal Feirinha Namorada, com barraquinhas, shows, artesanato, guloseimas e hortifrutigranjeiros. Acabam de entregar a Associação a um grupo idôneo e com caixa saneado.

Casado há 32 anos com Leonora Aparecida Barbosa, tem nela, nos filhos Mateus e Nayanne e na neta Maria Helena, suas paixões, seguidos pelo Rio São Francisco, seu motor de vida. Faz versos todos os dias para o amado rio, e fica irado em ver pessoas do eixo Rio-São Paulo ir embonecadas a reuniões para salvar o rio, sem ter intimidade com ele, sem saber dos problemas locais. Saía no meio dos encontros, que não iriam dar em nada, como de fato não deram.

Compositor de alta produção faz muita letra e música. Lançou seu 1º CD “Rio e Sonhos” só sobre o Rio São Francisco, sendo que, uma delas, “O Gaiola”, composta há mais de 40 anos, foi gravada por Marcos Assunção e é tocada em todo o país. Participou do Grupo Agreste e fundou o Grupo Aroeira. Criou há 30 anos o Grupo de Serestas Namorados da Lua, que permanece ativo.

Há mais de trinta anos criou o PROMEMOC - Projeto de Memória de Montes Claros, entrevistando grandes vultos culturais da cidade. Gravou em videocassete entrevistas com próceres da cultura montes-clarense. Foi trabalhoso digitalizar em DVD todo o acervo, e o doaria à UNIMONTES, mas se aborreceu com o desinteresse. Procura um destino para essas preciosidades.

Combativo, faz denúncias, e suas atitudes, muito políticas, não são ligadas a ideologias ou partidos, mas em pessoas que naquele momento ganham sua confiança. Pensa que os adultos estão impregnados por convicções pétreas, e por isso investe nas crianças. Elas gostam de aprender a fazer cordel, que tem esse nome por ficar dependurado num barbante, o que facilita a visão e a comercialização. Não concorda de que seja uma subliteratura. Entende que a rima, o ritmo, a métrica, a temática são vivos e têm valor.

Participou da criação do 1º Carnamontes - Carnaval de Montes Claros, e, a despeito dos embates, reconhece quem merece tal reconhecimento, por exemplo, Ildeu Braúna, homenageado por Josecé, que destacou seu valor musical, até por uma questão de justiça, na 28ª Festa Nacional do Pequi.

Foi quem primeiro deu oportunidade a Zé Côco do Riachão. Criou e foi presidente da Associação de Repentistas do Norte de Minas. Idealizou e foi locutor do Programa Nossa Arte Nossa Gente, na Rádio Unimontes, que durou 14 anos. Estava voltado para a produção musical regional, dando oportunidade a todos. Gosta de trabalhar com arte sem visar lucro, em grupo e pelo grupo, e não faz coisa alguma apenas para si. Produziu três CD com participantes do programa, e ficou entristecido com o seu fim.

Nos primórdios do PT, na 1ª visita de Lula a Montes Claros, Josecé o hospedou em sua casa. Mas também conheceu e foi reconhecido por José de Alencar, e uma vez, em Brasília estando o vice-presidente da república numa reunião com os capas-pretas do governo, foi-lhe entregar um trabalho encomendado por ele. O porteiro assegurou que seria impossível. Após insistência, o funcionário passou o recado, e José de Alencar, que estava com Lula, foi até a portaria receber a encomenda. Quando foi lhe apresentar Lula, o próprio lhe reconheceu.

Mesmo conhecendo o personagem há 30 anos - agosto de 1989 -, vi pela fresta das palavras revelações surpreendentes de dons suspeitados e então confirmados nessa pessoa realizadora.

Domingo, 31 de março de 2019

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