Encíclica papal aponta caminhos
para a santificação dos padres
Arquivo Canção
NovaEm encíclica, João XXIII aponta aos sacerdotes a vivência da castidade,
pobreza e obediência como meio de santificação
Nesta sexta-feira, 7, a Igreja
celebra a Jornada de Santificação Sacerdotal, realizada desde 1995, em todas as
dioceses do mundo. O Dia de Oração pela Santificação do Clero acontece todos
anos na sexta-feira seguinte à Festa de Corpus Christi, em consonância com a
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
Em 1959, o
Papa João XXIII escreveu a Encíclica Sacerdotii Nostri Primordia, sobre o
sacerdócio. A carta considerou o centenário da morte do Santo Cura D’Ars - São
João Maria Batista Vianney, patrono dos sacerdotes.
Na encíclica,
o Pontífice ressalta os conselhos evangélicos (castidade, pobreza e obediência)
como caminho para a santificação dos padres. Segundo João XXIII, os sacerdotes
que fazem o caminho destes conselhos são instrumentos de conversão para muitos
fiéis.
"A Divina
Providência dispôs que nunca faltem no mundo pastores de almas que, levados
pelo Espírito Santo, não hesitem em encaminhar-se por estas vias, porque tais
homens operam com este exemplo o regresso de muitos, que se convertem da
sedução dos erros e dos vícios para o bom caminho e a prática da vida cristã!".
Mas pode-se
pensar que os conselhos evangélicos são destinados apenas aos religiosos. No
entanto, João XXIII contrapõe afirmando que a prática dos mesmos apresenta-se
ao padre e aos discípulos de Cristo como o caminho mais seguro para alcançar a
desejada meta da perfeição cristã. Logo, com base na vida do Santo de Ars, o
Pontífice aconselha os sacerdotes à vivência da castidade, da pobreza e da
obediência, aplicada nos dias atuais.
A castidade
“Em muitas
regiões, infelizmente, os padres são obrigados a viver, em virtude do seu
cargo, num mundo onde reina uma atmosfera de excessiva liberdade e
sensualidade", disse o Papa. Citando São Tomás de Aquino, o Pontífice
reconhece ser difícil aos pastores do povo a vivência das virtudes em meio aos
“perigos exteriores”. Disse isso se referindo à vivência da castidade.
O "Papa
Bom", como era conhecido João XXIII, diz aos sacerdotes que o exercício da
castidade, no âmbito mais profundo de seu significado, torna o coração
sacerdotal mais aberto e mais acessível a todas as necessidades dos seus
irmãos. "Quando o coração é puro não pode deixar de amar, porque encontrou
a fonte do amor, que é Deus", sublinhou.
A pobreza
Utilizando o
termo "Aplicações aos padres de hoje", o Pontífice explica como os
sacerdotes atuais podem viver a pobreza em meio a uma sociedade materialista.
Por primeiro, o Papa propõe a "receita" de Cura D’Ars que diz:
"O meu segredo é bem simples: dar tudo e nada guardar".
“O seu
desinteresse fazia-o atender a todos os pobres, sobretudo os da sua paróquia,
aos quais testemunhava extrema delicadeza, tratando-os "com verdadeira
ternura, com os maiores cuidados e até com respeito", disse o Pontífice.
João XXIII completou: “exortamos nossos queridos filhos do sacerdócio católico,
a meditar num tal exemplo de pobreza e caridade”.
Citando Pio
XI, o Papa afirmou que a ação dos sacerdotes de vida modesta - os quais,
segundo a doutrina evangélica, não procuram seus próprios interesses - resulta
em extraordinários benefícios para o povo cristão. Em seguida, completou com uma frase do mesmo
Pio XI definida por ele como sendo um "grave aviso" aos padres:
"Ao ver
que os homens vendem e compram tudo pelo dinheiro, os padres caminhem
desinteressadamente pelos engodos do vício, e desprezando todo baixo desejo de
ganhar, busquem almas e não dinheiro, a glória de Deus e não a sua!"
"Estas palavras devem estar
inscritas no coração de todos os padres", afirmou João XXIII. E continuou:
"Se há alguns que possuem legitimamente bens pessoais, que não se prendam
a eles! Que se lembrem, antes, da obrigação que formula o Direito Canônico, a
propósito dos benefícios eclesiásticos, "de dispender o supérfluo com os
pobres ou com as obras pias".
Mas, ao
recomendar esta "heroica pobreza", o Papa disse não pretender aprovar
a pobreza total a que, segundo ele, são reduzidos os ministros do Senhor nas
cidades e no campo. Logo, no intuito de prevenir o clero de qualquer
interpretação abusiva sobre o assunto, o Pontífice explica a pobreza do padre
com um comentário de São Beda:
"Não se
deve crer que seja prescrito aos santos não conservar dinheiro para seu uso
pessoal ou para dar aos pobres, visto ler-se que o próprio Senhor tinha algum dinheiro
para os gastos da Igreja nascente; mas que não se sirva Deus por causa disso,
nem se renuncie à justiça com receio da pobreza". Pois o operário tem
direito ao seu salário, (cf. Lc 10, 7), acrescentou o Papa referindo-se ao
Evangelho.
A obediência
Na Encíclica
Sacerdotii Nostri Primordia, o "Papa Bom" propõe aos padres a
"rigorosa obediência" de São João Maria Vianney. Segundo o Pontífice,
a total adesão à vontade dos superiores por parte do Santo era sobrenatural no
seu motivo: "era um ato de fé na palavra de Cristo que dizia aos seus
apóstolos: ‘Quem vos ouve, ouve a mim’ (Lc 10,16)".
Recordando Pio
XII, João XXIII reforçou que "a santidade da vida pessoal e a eficácia do
apostolado têm por base e sustentáculo a obediência constante e exata à sagrada
hierarquia". Segundo o Papa, há graves perigos no "espírito de
independência no clero", tanto para o ensino da doutrina como para os
métodos de apostolado e para a disciplina eclesiástica.
Diante disso,
o Pontífice Romano pede: "Padres de Jesus Cristo, nós estamos no braseiro
que o fogo do Espírito Santo anima; tudo recebemos da Igreja; só agimos em seu
nome e pelos poderes que ela nos conferiu: esforcemo-nos para servi-la nos
laços da unidade e pela forma por que ela deseja ser servida".
Com a encíclica
Sacerdotii Nostri Primordia, o Papa João XXIII não quis abordar todos os
aspectos da vida sacerdotal contemporânea, mas apontar no testemunho do Cura de
Ars, aos padres de todo o mundo, "um modelo de ascese sacerdotal, de
piedade, e sobretudo de piedade eucarística, modelo enfim de zelo
pastoral".
fonte: www.cancaonova.com
colaboração Jose Benedito Schumann Cunha jbscteologo@gmail.com
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