O CAOS - Por Dom Fernando Arêas
Rifan
Posted: 26 Jun 2013 12:03 PM PDT
O CAOS
Dom Fernando Arêas Rifan*
As recentes manifestações - à
parte os lamentáveis excessos, desordens e infiltrações dos que querem o pior,
- mostram o lado positivo de os jovens, saindo de uma lamentável inércia, se
entusiasmar por uma causa comum, fora deles mesmos, pelo bem da sociedade.
Somos-lhes solidários nas justas causas e protestos. Mas é claro que devem
sempre discernir sobre os limites da sua inconformidade e saber contra quem e o
quê estão se manifestando.
“O direito democrático a
manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos
espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição
do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e
instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente,
que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores
inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao
descrédito” (Nota da CNBB, 21/6/2013).
Segundo análise da imprensa, a
mensagem deixada pelas manifestações foi clara: o sentimento contra a política
atual. Política deveria ser “uma prudente solicitude pelo bem comum” (João
Paulo II, Laborem exercens, 20 e). Por isso, os jovens católicos devem
participar da política, em vista do bem comum. E devem usar uma arma mais
poderosa do que as passeatas: o voto consciente. Como já disse alguém: “não
adianta rugir nas ruas como um leão e nas urnas votar como um jumento!” Se urge
uma reforma política, uma reforma dos políticos é mais urgente ainda! Parecendo
falar hoje, Eça de Queirós em 1871, escrevia: “Estamos perdidos há muito
tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral... A prática da
vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja
desmentido... Ninguém crê na honestidade dos homens públicos... A classe média
abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia... Os serviços públicos
são abandonados a uma rotina dormente... A certeza deste rebaixamento invadiu
todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o país está perdido! Algum
opositor do atual governo? Não!”.
É preciso menos intervencionismo
estatal e mais iniciativa de cada cidadão e da sociedade civil organizada;
menos Estado açambarcador e mais princípio de subsidiariedade; menos
protecionismo do Governo e mais competitividade e qualidade da iniciativa
particular; menos autoritarismo do Estado e menos monopólio do poder nas mãos
de uma casta e mais instituições democráticas sérias e sólidas, como uma
imprensa livre, veraz e conscienciosa; menos esmolas estatais e mais
oportunidades e incentivo ao trabalho; menos desperdício e mais transparência e
correção no uso do dinheiro público; menos impunidade e mais justiça imparcial
para todos; e, sobretudo, nada de corrupção.
A existência de partidos políticos,
oposição e situação, faz parte do regime democrático, bem como o equilíbrio que
deve haver entre os três poderes, legislativo, executivo e judiciário. Quando
deixa de existir a legítima oposição, com os seus partidos comprados pela
situação em espúrias alianças, quando o equilíbrio dos três poderes vacila por
influências de interesses inconfessos, aí a democracia começa a perecer, a
ditatura velada aparece, o fisiologismo e o populismo imperam e a política, de
coisa boa se transforma em ruim, se torna um caos.
Diz uma anedota que alguns
profissionais, um médico, um arquiteto, um advogado e um político, discutiam
sobre qual seria a mais antiga profissão. O médico disse que era a sua, pois
Deus ao criar Eva, tirada da costela de Adão, fez uma cirurgia. O arquiteto
interveio dizendo que antes de Deus criar Adão ele arquitetou o universo. O
advogado interpelou dizendo que antes de Deus criar o universo, ele pôs ordem
no caos, o que é uma função de advogado. E o político, com um sorriso maroto de
vitória, perguntou: e quem fez o caos?!
*Bispo da Administração
Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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