"O novo Pontificado mudou o
ambiente da Igreja", diz teólogo
Rádio Vaticano
O fundador e prior da Comunidade
italiana de Bose, escritor e teólogo Enzo Bianchi, fez uma análise do início do
pontificado do Papa Francisco. Ele fala das expectativas criadas em torno do
novo Papa, especialmente a partir de alguns gestos que demonstram uma nova
forma de ‘governar a Igreja’. Segundo ele, 'mudou a atmosfera', 'existe uma
nova forma de perceber as coisas’, fato reconhecido por Bispos, sacerdotes e
simples fiéis. A expressão 'Papa Francisco' “traz uma serenidade e por vezes
também uma alegria para quem a pronuncia e para quem a escuta”.
Enzo Bianchi
afirma que negar esta mudança equivale “a não querer aderir à nova realidade
que se configurou” – e acrescenta -, “alguns temem que afirmar a mudança e a
novidade deste pontificado possa representar uma crítica ou até mesmo um
contraponto em relação ao Papa precedente”. Mas isto, segundo Bianchi, “é um
mito existente em relação ao papado, de que este deva ser de uma absoluta
continuidade”. “A continuidade – explica Enzo – diz respeito à verdade da fé
professada, mas os estilos, os modos de presidir e de ser pastor devem ser
muito diferentes, porque os dons do Senhor são diferentes, e não somente
abundantes”.
Para o
teólogo, já é tempo de os católicos compreenderem que “o ministério petrino
assumido pelo Bispo de Roma é no seu conteúdo sempre o mesmo – confirmar na fé
os irmãos e estar a serviço da comunhão entre as Igrejas -, enquanto a forma
deste ministério, como mudou ao longo dos séculos, assim muda ainda, aliás,
deve mudar, se entre as Igrejas houver uma convergência ecumênica em direção de
uma comunhão visível”.
Na análise, o
teólogo sublinha que ocorreu uma mudança palpável que foi acolhida com
admiração pela Igreja, “pela novidade trazida pelo Papa Francisco no estilo de
vida cotidiana; houve uma mudança na maneira de ensinar por parte do Papa” e
“houve uma promessa de renovação do exercício do ministério petrino, através do
início da reforma da cúria romana a qual, às vésperas da renúncia de Bento XVI,
se encontrava em contradição com a caráter evangélico que é exigida dela no
estar a serviço do sucessor de Pedro”.
Enzo Bianchi
observa que Papa Francisco não é um Papa teólogo, no sentido de uma teologia
especulativa e doutrinal e nem é exercitado na arte exegética da interpretação
das Escrituras. No entanto “é exercitado no conhecimento e no assumir
pensamentos e comportamentos que foram de Jesus”. “Mas de forma alguma – faz a
ressalva – isto deve levar a pensar que ele não tenha qualidade de teólogo: ele
é teólogo porque reza, é teólogo porque conhece Cristo na escuta das Escrituras
e na sua busca na face dos homens, nas periferias do mundo, nos caminhos que
estão sempre abertos para aqueles que iniciam os caminhos, nas regiões
infernais nas quais os homens às vezes caem e moram...”. E isto emerge de toda
a sua pessoa e de seu ministério”, ressalta Bianchi.
Francisco é o
primeiro Papa latino-americano da história da Igreja. E o fato de não ser
italiano, também trouxe algumas novidades na maneira de expressar-se, maneiras
estas observadas por Enzo Bianchi: “sua linguagem é muito direta, às vezes
dura, por vezes pode parecer para alguém até mesmo rude, mas é uma linguagem do
coração, é a linguagem do pastor que conhece as suas ovelhas, que as ama e
divide com elas sua vida”.
O fato de Papa
Francisco ter anunciado uma 'Igreja pobre e para os pobres', gerou
expectativas. Segundo Bianchi, uma ‘Igreja a serviço e pobre’ é o primeiro
ponto decisivo para a reforma da Igreja. Considerando que Bergoglio provém de
uma Igreja que elaborou a opção preferencial pelos pobres - primeiros
destinatários por direito da Palavra de Deus -, “ele está habilitado a conduzir
a Igreja a viver a pobreza evangélica”. “Ou a Igreja é pobre ou não está de
acordo com o seu Senhor e assim, está em contradição com a encarnação do
Senhor, com o Deus-homem que é Jesus Cristo, o único Senhor de todos”, disse
Bianchi.
Na sua
análise, o teólogo defende ainda a necessidade de uma Igreja sinodal, “onde
caminham juntos Papa, bispos, presbíteros, povo de Deus”. O Concílio Vaticano
II traçou linhas que deram lugar à 'eclesiologia de comunhão', “mas a comunhão
verdadeira, ordenada, eficaz – sublinha Bianchi – requer que o ministério de
quem preside seja exercido numa dimensão sinodal, em que todos sejam ouvidos,
todos sejam sujeitos que tem direito à palavra, onde todos são chamados à
unidade, à comunhão que pode ser dada pelo Espírito Santo, que mantém a
pluralidade na unidade. E é nesta dimensão sinodal que as Igrejas das
periferias poderão fazer com que seja ouvida a sua voz e poderão confiar os
seus progressos e o seu testemunho a quem é encarregado do serviço de comunhão
entre as Igrejas e pela confirmação desta unidade.
Fonte: www.cancaonova.com
Colaboração: Teólogo
Jose Benedito Schumann Cunha jbscteologo@gmail.com
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