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segunda-feira, 1 de julho de 2013

"Se o sistema tem culpa é porque colocamos todos os nossos meios nas mãos do sistema"


CULTURA E SOCIEDADE
"Se o sistema tem culpa é porque colocamos todos os nossos meios nas mãos do sistema"

Conversa com Pe. Hélio Luciano a respeito das ondas de protestos que invadem o Brasil - Parte II

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira
BRASíLIA, 25 de Junho de 2013 (Zenit.org) - Publicamos a seguir a segunda parte da conversa com o Pe. Hélio Luciano sobre os motivos dessas ondas de protestos que invadem o país.
Nessa entrevista Pe. Hélio Luciano discorre sobre a necessidade de não só criticar o sistema - que é muito fácil - mas de também comprometer-se na política, na busca do bem comum, não abandonando a nação nas mãos das pessoas más.
A primeira parte pode ser lida clicando aqui.
***
ZENIT: Diante de tanta pobreza, injustiça, impostos, roubalheiras, quais são os princípios cristãos que podem reger uma verdadeira "revolução"?
Pe. Hélio Luciano: De fato são muitos os problemas atuais e são questões que exigem uma solução. Se o sistema tem culpa é porque também nós colocamos todos os nossos meios nas mãos do sistema. Creio que existem dois modos muito concretos para mudar esta realidade – a participação política e o correto emprego do princípio de subsidiariedade.
Em primeiro lugar, não teremos mudança sem uma real participação política de pessoas realmente interessadas no bem comum da sociedade. Se o mal é por definição a ausência de bem, o dia que as pessoas de bem desistirem da política teremos uma sistema perverso. A sociedade e o sistema existem enquanto conjunto de pessoas concretas – não há um ente, um ser, social, ou um sistema como uma entidade, mas sim pessoas que compõe um sistema e uma sociedade. Um sacerdote me dizia que há cinco anos a CNBB está chamando pessoas para pensarem em uma proposta de reforma política e conseguem poucas pessoas para participarem. Será que é porque exige esforço, estudo, comprometimento? É mais fácil sair na rua e protestar do que comprometer-se com um projeto real de mudança? Precisamos destes milhões de pessoas revoltadas com o sistema agora comprometidas com realizar a mudança. Não se pode simplesmente colocar a culpa no governo, no sistema, na sociedade – é necessário mudar a sociedade com estes princípios claros de honestidade e de pensar no bem comum.
Um princípio cristão muito esquecido – claramente explicado no “Compêndio de Doutrina Social da Igreja” – é o princípio da subsidiariedade. Tal princípio afirma que todas as sociedades de ordem superior devem pôr-se em atitude de ajuda («subsidium») — e portanto de apoio, promoção e incremento — em relação às menores. Isso significa que não é a pessoa individual, a família, a escola, a comunidade, etc. que deve estar a serviço do Estado, mas justamente o contrário. Significa também que não é o Estado o responsável por entregar tudo a estas sociedades menores, mas sim de colaborar naquelas necessidades que estas pequenas sociedades e indivíduos não tenham capacidade de fazer por si mesmos. Sendo assim, é hora de nós, indivíduos de bem, nos unamos para construir a nossa sociedade. Façamos associações de famílias que construam o bem de família e que exijam do Estado uma ajuda para realizar este bem. Façamos associações de moradores que procurem o bem para suas comunidades, exigindo do Estado a ajuda somente naquilo que não somos capazes de alcançar com nossas próprias forças. Criemos escolas de qualidade para nossos filhos, que transmitam valores concretos, e peçamos do Estado ajuda para que possamos cumprir, como pais, nosso papel primário de educação de nossos próprios filhos. E não permitamos que a corrupção, o egoísmo, o interesse próprio fiquem por cima do bem comum.
Suponho que existam outras alternativas, mas nenhuma será pouco árdua, nenhuma será imediata. Para sermos respeitados com a dignidade própria de pessoas que somos, será necessário que também nós atuemos como pessoas, comprometendo-nos com o bem de todos.
ZENIT: A Igreja, o Papa, o que têm a dizer diante desses protestos?
Pe. Hélio Luciano: A Igreja é prudente antes de tomar partido em algum acontecimento histórico concreto. E não é uma prudência fruto do medo, mas fruto da responsabilidade que tem como Mãe e mestra – não pode dizer que está bem ou mal aquilo que nós mesmos ainda desconhecemos.
Por outro lado, a Doutrina Social da Igreja – que norteia todos os princípios de ação social – deixa claro que as manifestações por melhoras são lícitas, mas também que é necessário trabalhar, apresentar propostas, pensar. Não basta criticar – isso qualquer um é capaz, sem muito esforço, de fazer – é necessário também indicar caminhos de mudança, sempre norteados pelo bem comum da sociedade.
ZENIT: É moralmente lícito destruir, depredar, para poder promover uma revolução?
Pe. Hélio Luciano: Sinceramente não creio que o movimento atual tenha como ideia de fundo promover o vandalismo como forma de pressão para conseguir seus objetivos. De fato, dentro de uma sociedade democrática, que permite o diálogo e o direito de expressão, seria totalmente ilícito utilizar-se de atos de vandalismo como modo de pressão.

Por outro lado, parece claro que dentro de um protesto tão amplo e tão heterogêneo – no qual nem mesmo existe um concreto conjunto de reivindicações – haja grupos que não estão preocupados com a ordem. Também não parece que utilizem do vandalismo para obter resultados, mas simplesmente desprezam a ordem. Pelo que até agora se percebe, estes não representam a maioria das pessoas que reivindicam mudanças sociais através de manifestações pacíficas pelas ruas das cidades.

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