O verdadeiro cristão não tem medo de sujar as mãos
O Papa, em Santa Marta, critica os "cristãos de meio caminho" que simplesmente condenam os outros e elogia aqueles que, como Cristo, vai "aonde tem que ir" sem medo de perder a sua comodidade
Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 06 de Novembro de 2014 (Zenit.org) - Na missa hoje em Santa Marta, o Papa parecia falar de si mesmo, descrevendo a figura do cristão que "não tem medo de sujar as mãos com os pecadores", mesmo que isso signifique "a arriscar sua fama". Parecia também que respondia às críticas sobre alguns de seus comportamentos considerados ‘pouco ortodoxos’.
Mas, Jesus mesmo não teve um tratamento melhor: fariseus e escribas ficavam chocados ao vê-lo receber os pecadores e comer com eles: "era um verdadeiro escândalo naquele tempo... Imaginemos se naquele tempo existissem os jornais”, observa o Santo Padre.
Por esta razão, Cristo conta as parábolas da ovelha perdida e da moeda perdida, narradas no Evangelho de Lucas da liturgia de hoje. Essas explicam claramente o motivo pelo qual o Filho de Deus veio ao mundo, ou seja, para "procurar aqueles que se afastaram do Senhor.”
As duas parábolas também nos mostram “como é o coração de Deus": um Deus que "não para, não vai só até certo ponto, mas vai até o fundo, vai ao limite; não para no meio do caminho da salvação, como se dissesse: "Eu fiz tudo, agora o problema é deles". Ele sempre vai, sai, vai até o campo."
O oposto dos escribas e fariseus, que ficam "no meio do caminho", porque não estavam interessados no bem do povo, mas no "balanço das perdas e ganhos mais ou menos favoráveis". E continuavam tranquilos: "Sim, sim, eu perdi três moedas, perdi dez ovelhas, mas ganhei muito".
Tal raciocínio "não entra na cabeça de Deus", disse o Papa, simplesmente porque "Deus não é um negociante," Ele "é Pai" e, como tal, salva seus filhos até o fim.
Pensando nisso, é muito "triste" - observou Bergoglio - que o pastor, chamado a seguir o exemplo do Senhor, fique "no meio do caminho". "É triste o pastor que abre a porta da Igreja e fica ali esperando". Como é "triste" ver um cristão "que não se sente dentro, no coração, a necessidade de contar aos outros que o Senhor é bom".
Porque, devemos admitir, disse o Papa, alguns "não querem sujar as mãos com os pecadores". Eles são como os fariseus "que se crêem justos", apesar de ter um coração cheio de "perversão" e "desprezo". Como é demonstrado pelas suas palavras: "Bem, se ele fosse profeta, saberia que ela é uma pecadora". Eles costumavam “usar as pessoas e depois as desprezavam.”
Portanto, a conclusão é clara: "Ser um pastor pela metade é uma derrota", afirmou Francisco. "O verdadeiro pastor, o verdadeiro cristão" deve ter “o coração de Deus, ir até o limite"; deve ter este “zelo interior para que ninguém se perca”. E por isso “não tem medo de sujar as mãos".
O Bom Pastor "não tem medo”. Ele vai “aonde precisa ir; arrisca sua vida, sua fama, arrisca perder sua comodidade, seu status, até mesmo perder sua carreira eclesiástica, mas é bom pastor". E vai adiante, continua Bergolio, "sai, está sempre em saída: de si mesmo, rumo a Deus, na oração, na adoração"; sai "rumo aos outros para levar a mensagem de salvação".
"Os cristãos devem ser assim", observou o Papa, ou seja, pastores que se preocupam com o seu rebanho, que não escolhem o caminho mais fácil de "condenar os outros", como faziam os publicanos. Porque "essas pessoas não sabem o que é alegria". Os “fariseus não sabiam o que significa carregar a ovelha sobre os ombros, com ternura, e reconduzi-la a seu lugar, junto às outras”.
“O cristão e o pastor do meio do caminho talvez conheçam a diversão, a tranquilidade, mas não a verdadeira alegria que vem de Deus, que vem para salvar”, insiste o Santo Padre. “O Filho de Deus vai ao limite, dá a vida pelo outros, como fez Jesus”.
“É belo, concluiu o Papa, não sentir medo de quem fala mal de nós para encontrar os irmãos e irmãs que estão distantes do Senhor”.
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