Muito
embora eu goste de coisas solares, vira e mexe me pego debatendo com crueza
sobre o findar das coisas. Uma amizade que se esvai, por afastamento do caminho
ou indiferença, um amor que deixou de ser, um projeto que agonizou antes do
início, o fim prematuro, aquele que pouco se entende por que aconteceu, o fim
longevo, aquele que chega quando tudo já se viveu e tudo já se fez para que ele
não chegasse.
Acontece que há muita dificuldade em dialogar sobre essa coisa tão natural e tão presente. Disse-me certa vez um amigo:
Acontece que há muita dificuldade em dialogar sobre essa coisa tão natural e tão presente. Disse-me certa vez um amigo:
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Por que falarmos sobre isso se existem tantas outras coisas boas para abordar?
Acontece que é justamente por nutrirmos esse medo do fim que precisamos falar sobre ele. Os debates e os pensamentos sobre questões angustiantes descaracterizam os fantasmas que alimentamos e o fim por mais que pareça ruim também tem seu lado bonito. Ele pode, por exemplo, apresentar um universo de novos acontecimentos, um respirar de expectativas e perspectivas, pode ajudar para que aprendamos a reorientar nosso caminho, pode ainda polir o nosso olhar, nos ajudar com a maturidade e nos fazer entender e filtrar o que queremos e o que não queremos na nossa vida.
É por isso que precisamos falar sobre o fim: para perdermos o medo, para educarmos o nosso íntimo sobre a transitoriedade da vida, pois ela é um pacote de coisas e o sofrimento está incluído no movimento da existência.
O fato é que a vida também é um fechar de leques, um despedir-se incessante, um processo de admitir rupturas, de desapego ao que não conseguiremos cumprir, um abrir mão doloroso, mas ao mesmo tempo ela é de uma abundância absurda, pois para cada fim que corajosamente reconhecemos e encaramos apresentam-se outros começos e novas relações até que o fim inquestionável e universal chegue.
Assim, quando entendemos a naturalidade do fim nos tornamos mais fortes, as inseguranças ficam para trás, aprendemos a deixar com que nos deixem, ou que fiquem se quiserem e que sejam como quiserem ser, sem moldes, sem desenhos de relações perfeitas, sem obrigatoriedades e, do mesmo modo, nos permitimos ser como somos.
Precisa-se evitar a morte lenta, o fim que por nos recusarmos a ver acontece aos poucos, precisa-se aprender a virar a mesa quando o trabalho é debilitante, quando o outro nos machuca, sufoca, ou oferece pouco, quando os sonhos que cultivamos se mostram inviáveis, quando o ponto final é irremediável e mesmo assim insistimos porque temos pena do nosso próprio coração partido. O inquestionável da vida é que todos nós em algum momento precisaremos encarar o fim e ele virá menos dolorido se tivermos um plano de contingência.
Fechar portas, apagar as luzes, encerrar ciclos, cortar vínculos, entender que tudo bem, que não será para sempre e que falar sobre essas coisas é não ter medo de se aprofundar na vida é olhar com coragem para o que um dia chegará mesmo que a gente passe a vida embaixo de um coqueiro se recusando a enxergar.
Foi mais ou menos isso que a poetisa Elizabeth Bishop me transmitiu quando li parte de sua poesia: “A arte de perder não é nenhum mistério, tantas coisas contém em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério”.
Acontece que é justamente por nutrirmos esse medo do fim que precisamos falar sobre ele. Os debates e os pensamentos sobre questões angustiantes descaracterizam os fantasmas que alimentamos e o fim por mais que pareça ruim também tem seu lado bonito. Ele pode, por exemplo, apresentar um universo de novos acontecimentos, um respirar de expectativas e perspectivas, pode ajudar para que aprendamos a reorientar nosso caminho, pode ainda polir o nosso olhar, nos ajudar com a maturidade e nos fazer entender e filtrar o que queremos e o que não queremos na nossa vida.
É por isso que precisamos falar sobre o fim: para perdermos o medo, para educarmos o nosso íntimo sobre a transitoriedade da vida, pois ela é um pacote de coisas e o sofrimento está incluído no movimento da existência.
O fato é que a vida também é um fechar de leques, um despedir-se incessante, um processo de admitir rupturas, de desapego ao que não conseguiremos cumprir, um abrir mão doloroso, mas ao mesmo tempo ela é de uma abundância absurda, pois para cada fim que corajosamente reconhecemos e encaramos apresentam-se outros começos e novas relações até que o fim inquestionável e universal chegue.
Assim, quando entendemos a naturalidade do fim nos tornamos mais fortes, as inseguranças ficam para trás, aprendemos a deixar com que nos deixem, ou que fiquem se quiserem e que sejam como quiserem ser, sem moldes, sem desenhos de relações perfeitas, sem obrigatoriedades e, do mesmo modo, nos permitimos ser como somos.
Precisa-se evitar a morte lenta, o fim que por nos recusarmos a ver acontece aos poucos, precisa-se aprender a virar a mesa quando o trabalho é debilitante, quando o outro nos machuca, sufoca, ou oferece pouco, quando os sonhos que cultivamos se mostram inviáveis, quando o ponto final é irremediável e mesmo assim insistimos porque temos pena do nosso próprio coração partido. O inquestionável da vida é que todos nós em algum momento precisaremos encarar o fim e ele virá menos dolorido se tivermos um plano de contingência.
Fechar portas, apagar as luzes, encerrar ciclos, cortar vínculos, entender que tudo bem, que não será para sempre e que falar sobre essas coisas é não ter medo de se aprofundar na vida é olhar com coragem para o que um dia chegará mesmo que a gente passe a vida embaixo de um coqueiro se recusando a enxergar.
Foi mais ou menos isso que a poetisa Elizabeth Bishop me transmitiu quando li parte de sua poesia: “A arte de perder não é nenhum mistério, tantas coisas contém em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério”.
Catarinense,
26 anos, estudante de marketing e apaixonado por tudo que possa tornar a
existência mais leve. Observador, gosta de todas as coisas que dizem respeito
ao comportamento humano, se interessa por opostos e por dissecar experiências,
para extrair não só o que é dito, mas também o que está subentendido. Gosta de
avaliar as circunstâncias sob outro ponto de vista, e acredita que escrever é
de certa forma materializar o campo de sensações que são as experiências de
vida.
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