por José Benedito Schumann Cunha
jbscteologo@gmail.com
A Igreja nos ensina, na liturgia do Tempo de Natal, sobre a Família de Nazaré. Deus quis nascer em uma família. Lá Jesus teve todos os cuidados e aprendeu tudo de Maria e José. A Família de Nazaré passou por muitas provações desde a anunciação, na fuga da família com menino de Jesus para o Egito e na perda e encontro do menino Jesus, de doze anos, no templo de Jerusalém. Devemos nos espelhar na Família de Nazaré para ter uma atenção especial aos desafios de Deus no mundo atual e às necessidades dos irmãos e irmãs que sofrem.
No Livro do Eclesiástico, temos as orientações sábias para as pessoas que vivem em família. Aqui há os conselhos de honrar os pais, de obedecer às orientações deles e respeitá-los e ampará-los na velhice. Deus dá uma promessa às pessoas que cuidam dos pais, quando estes estão desprovidos de saúde ou sanidade, que é ter uma vida longa a todos que têm esses cuidados com eles, perdão das inúmeras faltas cometidas, e quando precisar pedir a Deus por uma necessidade será atendido.
O povo de Deus passava por um período conturbado. Os selêucidas estavam dominando a Palestina e, por causa disso, estava tendo uma imposição aos judeus da cultura helênica. Embora havia uma atmosfera contagiante dessa nova cultura, muitos estavam sendo seduzidos por esta nova cultura grega. Isso provocava crise de identidade, esfriamento da fé em Deus para outros deuses gregos e diminuição dos valores tradicionais da família, comunidade e religião.
Essa modernidade traria uma consequência desastrosa para o povo de Deus. Então o escritor sagrado exorta para que os judeus voltem e não abandonem os valores tradicionais da religião que dá vida ao povo que quer estar em comunhão com Deus libertador. A felicidade vem da nossa fidelidade a Deus na vida de comunidade, de família e na religião. Hoje podemos atualizar essa passagem bíblica, pois muitos se afastam da verdadeira religião para buscar tranquilidade em uma vida descompromissada com os irmãos que precisam da nossa ajuda. São muitas vezes egoístas e frios nas questões de família, de defesa da vida e do amor entre as pessoas (Cf. Eclo 3, 3-7.14-17a).
O apóstolo Paulo nos mostra o valor do amor e da bondade que deve estar intimamente ligado a Cristo. Se formos novos, devemos nos revestir do homem novo que se traduz nos gestos de amor, misericórdia, partilha, justiça, serviço-doação que se faz aos pais na velhice, aos doentes, aos desempregados e a todos que necessitam da nossa ajuda (Cf. Cl 3, 12-21). Ser cristão é ter atitude de Jesus de acolher e amar a todos nos serviços desinteressados para que todos tenham vida em abundância.
O evangelista Lucas nos mostra o episódio da apresentação de Jesus no Templo. Segundo a Lei de Moisés, todos os primogênitos (tanto dos homens como dos animais) pertenciam a Javé e deviam ser oferecidos a Javé. Isto está escrito no Livro do Êxodo (Cf. Ex 13, 1-2.11-16). Esse costume era dos cananeus de oferecer os primogênitos aos deuses, mas Israel transformou-o em oferecer animais nos lugares dos primogênitos como gratidão e resgate a Deus por eles.
Sendo assim, Maria cumpriu o que mandava no Livro do Levitico (Lv 12, 2-8) que diz: quarenta dias após o nascimento de uma criança, esta devia ser apresentada no Templo, onde a mãe oferecia um ritual de purificação. Nessa cerimônia, devia ser oferecido um cordeiro de um ano (para as famílias mais abastadas) ou então duas pombas ou duas rolas (para as famílias de menores recursos) [Cf. Lc 2, 22-40].
Aí percebemos que a Família de Nazaré era pobre, pois levaram duas rolinhas para o ritual de purificação. O evangelista narra nesse acontecimento numa catequese bem definida da missão de Jesus no mundo. Percebemos claramente que a Família de Jesus obedecia a Deus e que Jesus aprendeu deles esta obediência e Ele foi fiel aos mandamentos e projeto do Pai. No templo, estavam Simeão e Ana, duas figuras notáveis que representa Israel fiel que espera ansiosamente o salvador, o Messias prometido desde o Antigo Testamento.
Deus vem libertar e restaurar o seu povo no reinado de justiça e paz para todo. Jesus é essa promessa concretizada. Agora temos o salvador que nos liberta de todo o mal e escravidão do pecado. Precisamos aprender da Família de Nazaré esta fidelidade a Deus no cumprimento de sua vontade, obedecendo aos seus mandamentos e vivendo em conformidade aos valores cristãos que são de amor, justiça, fraternidade e partilha com todos.
Amém!
Bacharel em Teologia pela Pontificium Athenaeum S. Anselmi de Urbe (Roma/Itália) e Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), José Benedito Schumann Cunha é engenheiro. Tem ainda formação em História e Pedagogia. Nasceu em 03 de abril de 1957, em Cristina, Minas Gerais. Atualmente mora em Itajubá (MG). Além de colaborar com o Blog da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Arquidiocese de Montes Claros, ajuda na Pascom da Paróquia São José Operário de Itajubá. Preside também Celebração da Palavra nesta Paróquia e em algumas paróquias vizinhas. Já esteve, por dois meses e meio, experimentando a vocação religiosa.
Texto pensado, produzido e escrito em 26 de dezembro de 2011
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