Infelizmente, o proletariado negro valia mais na senzala durante a Monarquia, enquanto era tratado como propriedade, do que hoje como assalariado. A gente só vale porque trabalha. O trabalho descomprometido não traz lucro para a sociedade capitalista.
“Rui é criticado por ter ordenado a destruição de documentos preciosos. Nesse sentido, Rui diminuiu nossas possibilidades de contato com uma realidade histórica que nos explica. Por outro lado, sua ordem também é justificada pelo contexto no qual vivia, quando a ameaça reacionária era constante. Com o benefício do retrospecto, o culpamos por nos privar de documentação histórica irrecuperável.”
POR Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy em “Rui Barbosa e a polêmica queima dos arquivos da escravidão”
Crônica:
Ele era de Campinas, São Paulo, branco, mais para mestiço, torcedor doente do São Paulo Futebol Clube (SPFC). Ela era de Montes Claros/MG, negra, da gema, torcedora doente do Clube Atlético Mineiro (CAM). Conheceram-se em uma festa de confraternização, em novembro de 2013, realizada pelo hotel onde os dois exerciam o papel social de recepcionista.
O pai dela, negro, de aparência muito séria, era moto-taxista, evangélico, rígido, ganhava bastante dinheiro, mas era competente, capitalista e conservador. Vivia simplesmente em sua casa, sem conforto algum, e doava tudo para a igreja neo-pentecostal à qual acreditava em Deus. A mãe dela era perfeita, socialista e liberal de bom-senso.
Os jovens duraram no serviço até janeiro de 2014. Enamoraram-se. O positivo se encontrou com o negativo. Relampejaram e trovejaram de alegria legítima. Geraram uma vida. O pai não aceitava de jeito nenhum descendente, caso o casal não contraísse núpcias em sua igreja. A juventude pediu aviso-prévio. Nove meses depois, você vê o resultado. Foram para Campinas e região, do Aeroporto da Cachaça Vira Copos, e onde a família do rapaz era mais liberal. Fumante inveterado, o jovem poderia trabalhar de vigilante armado e ganhar mais dinheiro para ajudar no sustento da família que criara.
Ela, negra, de lábios carnudos, sorrisos brancos cativantes, olhos pretos, corpo de violino, educação pessoal exemplar, quando saía do serviço, pedia gentilmente para o gerente acompanhá-la até o ponto de ônibus, pois, tinha caso de hóspedes que a cortejavam para dormirem com ela. Alguns chegavam até a ficar de plantão na hora da troca de turno. Ela negava, com classe. Sabia que, se cedesse, o cliente teria sempre razão.
Coletivus Urbanus
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