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"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

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domingo, 20 de agosto de 2017

A “Festa de Agôsto” é necessária

por Geraldo Ataíde

Meia noite, o côro entoado de uma cantiga sem forma quebra o silêncio da hora final.

O rufar das caixas, com qualquer coisa de místico e bárbaro, o tilintar dos pandeiros, o côro lamentoso das violas, rabecas e gaitinhas de bambu formam ao lado da cantiga sem forma um som profundo, uníssono, soturno, expressando bem a alma simples do sertanejo semicivilizado.

É da despedida dos catopês, marujos e caboclinhos que me refiro. O último dia da tradicional festa, a última hora de uma voz saudosa que sente o desaparecimento desta folgança. Faz pena!

Êste ano já não houve cavalhada e deslocaram um dia de festejos. As bombas foram poucas, foguetes quase nenhum. O elemento rural não compareceu. Não houve propaganda. O “civilizado” se rebela contra esta coisa de dansantes e cavaleiros fantasiados. Isto dispõe contra Montes Claros, dizem com empáfia. O clero, por sua vez, recebe o “cobre” do rei, da rainha, dos juízes, etc. e condena a “palhaçada”.

Agora, vejamos: o que podem estes homens fazer mais do que fazem? Onde receberam eles cultura, instrução e educação artística para se exibirem melhor em palcos e cenários diferentes? Que dia o poder público auxiliou esta gente e lhes aperfeiçoou o gôsto? O Clero também, porque não protege a festa, já que o povo a quer? Ela não é profana e dá à Igreja alguma renda.

Não, não acabem com a “Festa de Agôsto”. Ela é a única festa popular de Montes Claros. Dansem, catopês, teçam cipós, caboclinhos; naveguem, marujos; corram, cavaleiros! A diversão não é privilégio de uma só classe - aquela que detém o dinheiro.

O povo, o operário, o trabalhador rural e urbano precisam se expandir, necessitam descarregar a libido ao menos nessas reuniões, cujo móvel é culto do catolicismo, onde reina a paz, a amizade.

Onde não se vê a faca de ponta, a garrucha, nem a pinga. Onde por alguns momentos se esquecem a rudeza brutal da natureza do sertão. Ademais, o homem é animal social por excelência, e numa zona como esta, de população pequena e espalhada, é mistér que haja mesmo um ponto de reunião de indivíduos. Um contato direto destes com o meio civilizado, a fim de que não amorteça (como acontece com o homem isolado) o espírito de solidariedade humana, de cortezia, de arte, de educação.

É dever, como se faz nos centros civilizados, é dever dos poderes públicos incentivar as festas populares, subvencioná-las até, dar-lhes um cunho original para atração do elemento de fora.

Que se improvizem coretos, que se enfeitem as ruas, que haja música, que queimem girândolas e façam as belíssimas demonstrações de fogos de artifícios, que muito agrada a todos. Busquemos o exemplo em São Paulo, Rio, São Salvador, e, se quisermos, na Europa.

A cidade não é somente um entreposto de compra e venda. Lugar onde se busca o café, o sal, o querozene e o remédio. Na cidade deve-se buscar algo de nuevo, de alegre, de bom. Coisas enfim que façam o homem mais amigo e sincero, menos desconfiado, menos ganancioso e materializado.

Deixar a “Festa de Agosto” com sua parcela de função social. Auxiliem-na, porque além do povo, muita gente boa e civilizada gosta dela.

Não diz, mas gosta...         


Geraldo Ataíde foi advogado e deputado estadual. Era casado com Maria da Conceição Prates. Este artigo foi reproduzido à página 434 e 435 do livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, edição de 1960, organizado pelo médico, historiador e folclorista Hermes Augusto de Paula

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