ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Bloco "Boi com Abóbora"

Comtur projeta Carnaval de Rua nos bairros em MOC para 2018

Foi realizada nesta quarta-feira (30/08), das 16h às 17h e 10min, na sede da Gerência de Turismo, Feiras e Eventos, Sala 234 do Prédio da Prefeitura Municipal de Montes Claros, a reunião mensal do Conselho Municipal de Turismo de Montes Claros (Comtur-MOC), o qual possui cadeira desde 1999 o Regional Norte do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG). Participaram deste encontro, além do Regional Norte do SJPMG, representantes da Associação Comercial e Industrial de Montes Claros (ACI-MOC), do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, da Prefeitura de Montes Claros, da Secretaria de Cultura, da Câmara Municipal, dentre outras entidades de classe.

As lideranças Marco Túlio e Lucas Lafetá Vargas apresentaram o projeto de Carnaval de Rua para a cidade. O planejamento inicial prevê que o evento seja promovido de 09 a 13 de fevereiro de 2018 nos bairros do município que demonstrarem animação e mobilização para o evento. A estimativa de público é de 50 mil participantes. O objetivo do Carnaval de Rua é evitar a retração de capital do município durante o período (considerado fraco para as atividades comerciais locais), gerar trabalho e renda e assim aquecer a economia da cidade. Busca-se um modelo de carnaval de rua cultural, democrático, acessível, colaborativo e solidário. Será bem-vindo o apoio de patrocinadores convencionais municipais. O Fundo Municipal de Turismo também é preparado para auxiliar no que for preciso.

Para a promoção do Carnaval de Rua de MOC haverá a necessidade de gradil, sinalização de trânsito, segurança, limpeza urbana, etc. A Gerência de Turismo, Feiras e Eventos pretende cadastrar cada bloco carnavalesco participante ao exigir o nome do bloco, nome do responsável, local do desfile e estimativa de público. Há blocos de rua nos bairros Planalto, Morada do Parque, Melo e Morrinhos. O objetivo do credenciamento é o planejamento e organização de todas as ações de estruturas e apoio em blocos carnavalescos de rua. A Gerência de Turismo sublinha ainda a necessidade do estudo do impacto ambiental da festa para a cidade. A proposta de roteiro do Carnaval demonstra preocupação com o início e o fim das festividades promovidas por cada bloco carnavalesco em seu bairro ou comunidade de origem.

Serão envolvidos no esquema de organização da festa popular a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, a Secretaria de Comunicação, a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Meio Ambiente, a Secretaria de Saúde, MCTrans e Empresa de Serviço Urbanos (Esurb), dentre outras secretarias e demais órgãos envolvidos. O marketing do evento será feito pelo site da Prefeitura de Montes Claros, redes sociais virtuais, televisão e campanha de conscientização. O plano financeiro antevê investimentos com banheiros químicos, segurança, ambulância, grades, palcos, publicidade e taxa do Ecad.

Durante esta reunião do Comtur-MOC foi mostrado “Projeto de Turismo Valorizando O Artesanato Montes-Clarense”, que busca a parceria de todos os hotéis do município para a exposição da arte regional (como a Casa do Artesão, no Bairro Cintra) em seus espaços. Quem for proprietário de hotel, pensão ou similar e quiser conversar com a Gerência de Turismo, Feira e Eventos para se aprofundar na ideia, basta entrar em contato com o gerente de Turismo, Lucas Lafetá Vargas, pelo telefone 38 9 9198 4141 ou pelo e-mail getur.sedetur@gmail.com.

Outros pontos mencionados neste encontro de conselheiros municipais foi que: a Prefeitura de Montes Claros, através da Procuradoria Jurídica do Município, vetou os R$ 10 mil e 384 solicitados pela Associação Comercial e Industrial de Montes Claros para a Feira Nacional da Indústria, Comércio e Serviços (Fenics), programada anualmente para acontecer em setembro, a fim de auxiliar o turismo de negócios da feira através de seis circuitos turísticos. Na reunião de 26 de julho de 2017, a ACI havia pedido o montante de R$ 26 mil e 800. Todavia, o Comtur só pôde aprovar, por unanimidade, a quantia de R$ 10 mil e 384. Este montante  também não pôde ser repassado por causa de algum entrave jurídico; Como o desenvolvimento de Montes Claros atinge e influencia todo o Norte de Minas Gerais, indicou-se a importância de valorizar o Roteiro Turístico de Grão Mogol, o Presépio idealizado pelo economista Lúcio Benquerer e o Festival de Inverno de Grão Mogol, assim como outros roteiros turísticos regionais; o representante da Câmara Municipal informou que haverá audiência pública sobre o Mercado Sul (Morrinhos) nesta quinta-feira (31/08); sublinhou-se a urgência da reativação do Conselho Municipal de Economia Solidária; informou-se que será construído no Parque Municipal Milton Prates o teatro da cidade. A próxima reunião do Comtur-MOC está marcada para o dia 27/09.

História municipal do Carnaval

No princípio era o entrudo, que perdurou até quase nossos dias. Nesse tempo muita gente saia da cidade ou fechava suas portas nos dias de entrudo. Aquêles que se dispunham a brincar de entrudo, vestiam-se com roupas próprias e se armavam de seringas, copos, baldes regadores, enfim, de qualquer vaso que servisse para apanhar água. E iam jogando-a em quem passava pela rua. Quantas vêzes um cidadão descuidado ao passar debaixo de uma janela recebia um banho completo! Alguns brincalhões se muniam de estacadas e iam “atacar” os amigos no sobrado. Além de água, usavam também farinha de trigo e outros aniláceos aderentes. As pessoas mais educadas usavam “água de cheiro”, a princípio em seringas, surgindo depois os “limões” de cheiro. Os “limões” consistiam em pequenos depósitos de cêra, semelhantes a casca de ovo, que se enchiam de “água de cheiro” e eram atirados nos amigos. Êsse tipo de divertimento teve aceitação geral e era tal a procura de “limões”, que algumas famílias, dias antes, se preparavam com grandes estoques para a venda durante os três dias de carnaval. Isto chegou a ser mesmo para certas pessoas uma pequena indústria doméstica.

O entrudo com água, ou por outra, os excessos de entrudo causavam grande dissabores, muitas brigas, doenças e até mortes. Por isto mesmo é que no ano de 1906 ficou gravado na história do nosso carnaval. Neste ano não houve entrudo. [O entrudo começou a terminar no Brasil a partir de 1854 por causa da intensa repressão policial]  

Naquele tempo existia o Clube São Genesco – agremiação dramática dirigida pelo Padre Carlos Vincart, onde os rapazes de Montes Claros se reuniam e se educavam. No sábado, véspera de Carnaval, após representação de um drama, Dr. José Tomaz de Oliveira, sempre alegre, lembrou de improvisar um “Zé Pereira”, semelhante aos de Recife. Terminado o espetáculo, a rapaziada do São Genesco, munida de tudo capaz de produzir som, saiu pelas ruas da cidade numa barulheira infernal. O delegado levantando-se às pressas e com o seu pequeno destacamento, partiu em busca dos turbulentos. Ao se aproximar a polícia do grupo de pândegos, o Dr. José Tomaz explicou: “A idéia do Pe. Carlos... Êle não veio porque tem de celebrar a missa muito cedo amanhã e como se achava muito cansado, foi se deitar...”. Se a idéia era do Pe. Carlos, que poderia fazer o delegado? Muito simples: concordar. Foi o que fêz o nosso excelente delegado. Consentiu e entrou com os soldados na brincadeira, oficializando assim o “Zé Pereira”. Animado com essa vitória e seus companheiros, Dr. José Tomaz trabalharam intensamente para, na têrça-feira gorda, apresentar um carro intitulado “Estrada de Ferro Sistema Monail”, criticando a estrada, cujo privilégio pertencia a Viana do Castelo. Tôda a cidade aplaudiu a idéia e o entrudo foi por água abaixo.

Em 1907, fundaram o “Club dos Philomonos”, que apresentou vários carros (carros de boi) alegóricos e de crítica: um carro com a música, um carro estandarte com mefistófeles; a “Caixa de Conversa”, crítica sobre a caixa da conversação; o “Mata-Bicho”, crítica aos paus d’água; e por último, o carro principal: “Uma Eleição em Minas Coas”... onde se viam almas do outro mundo... votando... Uma sátira à eleição a “Bico de Pena”.

“A Opinião do Norte”, um dos jornais da época comentou da seguinte maneira o Carnaval de 1907:
“... Definitivamente , está implantando o Carnaval em Montes Claros, que além de outros efeitos, trouxe a incontestável vantagem de terminar com o estúpido brinquedo d’água, que foi esquecido e substituído por confetis, flores e serpentinas.

Em 1907, o entusiasmo redobrou, saindo um préstito extraordinário. Na comissão da frente vinham os clarins e a música; em seguida os carros alegóricos “A Primavera”, “O Deus Ouro”. Atrás, os carros de críticas: “A Gaiola do Marechal”, crítica ao Sorteio Militar; “Teimoso-Bicho”, crítica ao Serviço dos Correios; e “Mulheres eleitoras”, crítica ao alistamento de três senhoras em Minas Novas. Sucesso retumbante do Club dos Philomonos, organizador dos carros. Não havia bailes carnavalescos naquele tempo, os quais tiveram início com o Club Sete de Setembro, fundado em 1912.

Naquele tempo o Carnaval não era considerado uma festa pagã, como hoje. Damos abaixo o comentário de “A Verdade”, jornal católico, sob censura da autoridade eclesiástica, inserido em sua edição de 29 de fevereiro de 1914: “Estréia hoje o Club Carnavalesco Colibri. É um bando de meninos que se está preparando para festejar pomposamente o Carnaval. Todos alegres, satisfeitos, hoje hão de sair como louquinhos a pular, a rir, a falar das causas locais que não andam muito direitas. É natural e não faz mal a diversão dos petizes, contanto que elles não se esqueçam dos estudos, das obrigações para com seus pais que hoje lhes proporcionam a diversão. Amanhã é o Club dos Philomonos, esse que no ano passado fez um verdadeiro sucesso. Contaram-nos que este ano vai sair melhor ainda o Carnaval. Também não faz mal, contanto que o Carnaval seja devidamente compreendido, isto é, Carne-vale. Queremos dizer que os bons rapazes não devem se esquecer das penitências da quaresma, a fim de agradar a Cristo, dando realmente adeus à carne por alguns dias, alimentando-se por motificação (aliás saudável) como vegetarianos. Desejamos ao pessoal alegre muitas diversões”.

Mas... Dr. José Tomaz mudou de residência; e dos préstitos maravilhosos ficaram apenas a lembrança e a saudade.

O carnaval continuou sendo festejado anualmente sem chamar a atenção, sem atingir o apogeu em 1908. Tanto assim que em 1915, “A Verdade” tece o seguinte comentário:

“Confetis, serpentina, lança-perfumes andaram em turbilhões pelos ares e atapetaram nossas ruas com as suas multicores.

Grupos espirituosos fantasiados percorreram nossas ruas e em diversas casas executaram seus diversos bailados. No domingo um belo préstito com seus carros de críticas que muito nos fêz rir, abrilhantando o mesmo com lindas peças a “Euterpe Montesclarense”.

Fechou os festejos o baile masquê que teve lugar na terça-feira gorda, em casa do Coronel Camilo Carvalho, situada na Chácara do Melo”.

Em 1920, havia um belo coreto na praça Dr. Chaves em frente ao Palácio Episcopal. Nesse ponto, justamente sob as vistas de Dom João Antônio Pimenta, desenrolaram-se as batalhas de confetis.
Em 1921 novo bloco surgiu: “Mulher Engraçada e Adorada” de Ari de Oliveira, filho do Dr. José Tomaz de Oliveira, com as canções “Alivias êsses olhos” e “Vou me benzer”...

Em 1922 nova animação; as batalhas de confetis e serpentinas estavam em moda. Os blocos “Maria vai com as outras”, compostos de moças, trajando prêto e branco e cantando “Mulher Engraçada e Adorada” com orquestra e ainda “As caipirinhas”.

Nesse ano iniciaram os bailes de sábado de aleluia – micarême. Em 23 apareceram os blocos “Meninas de Sorte” e “Folia” com uma rivalidade que durou o ano inteiro, preparando um melhor Carnaval para 24. Nesse ano o Ari preparou o “Mulher Engraçada e Adorada”, composto de quatorze rapazes e quatorze moças de nossa melhor sociedade e com uma orquestra chefiada por Tonico Teixeira, autor das canções: “Até que enfim” e “Foliões”. Surgiu também neste ano os “Mimosos Colibris”, com Iolanda, Maurício, Lili Oliveira e Biás Fróis na direção.

Eis como a “Gazeta” noticiou a passeata do “Mulher Engraçada e Adorada”: “Às nove horas da noite tocaram os clarins na Praça Dr. Chaves, atraindo a atenção do povo. Logo após os clarins, a cavalo, a dez jardas a ingleza, vinha seis rapazes do bloco formando a comissão de frente, montando lindos e fogosos ginetes. Seguiram quatro autos lindamente ornamentados a serpentinas e iluminados a lanternas e fogo de bengala, conduzindo senhoritas e damas e rapazes do bloco. No primeiro carro vinha o cordão do “Mulher Engraçada e Adorada”. O povo alvoroçado acompanhou de perto, em todo o trajeto, a passeata atirando-lhe com suas palmas e ovações, serpentinas, confetis e flôres...”. O seu repertório estava assim composto: “Foliões”, marcha oficial; “Nem sei dizer”; “Pai Adão”; “Até que em fim”; “Se me dé de cumê”...; “Yayá e Yoyó”; “Quem quiser ver” e “Tem que haver combinação”.

O ponto culminante do Carnaval de 24 foram os bailes que se realizaram no palacete do Sr. Jorge de Souza Santos, pertencente hoje a Gentil Gonzaga, na rua Presidente Vargas. Uma novidade – Ari, o extraordinário Ari – revolucionou a orquestra, fez um jazz-band que pela primeira vez foi ouvido em Montes Claros; com o Tonico Teixeira na batuta. No baile de têrça-feira houve um concurso de fantasias, masculino e feminino. Comissão julgadora: Coronel Artur Vale, Antônio Augusto Teixeira e Major Honor Sarmento. 1º prêmio feminino: Iraci de Oliveira com fantasia de bebê. 1º prêmio masculino coube a Rodrigão (Antônio Rodrigues Ferreira, viajante português muito relacionado em nosso meio e viajava de longe para assistir o nosso Carnaval). Rodrigão trajava um finíssimo pierrô vindo especialmente do Rio. Benedito Gomes com uma fantasia de oriental tirou o 2º lugar. Montes Claros em peso compareceu neste baile. O acordo na política motivou a “inchente”. E um sereno especial permaneceu até a madrugada.

Em 1927, depois de dois anos de frieza, Ari resolveu fazer um Carnaval de deixar saudade e João Novais Avelins entrou no cordão, com um rancho: “Eu vou se você for...” cuja marcha oficial era de autoria de Jair de Oliveira (Música de Dulce). Apareceu também o “Gurigui” e muitos mascarados avulsos. O clube do Ari, “Mulher Engraçada e Adorada”, fêz sucesso apresentando um préstito com carros alegóricos: “À frente vinham os clarins, a cavalo, seguidos pela comissão de frente lindamente fantasiados de Luiz XV, montados em belos animais da qual faziam parte as senhorinhas: Sinhazinha Alves, Vicentina Fernandes, Nair Câmara, Conceição Leão, Nina Alves, Sinhá Fernandes e Sr. Deicola Neves. Em seguida um belo carro alegórico – uma biga romana, puchada por duas fantásticas borboletas conduzida pela senhorinha Dudu Viana. Empunhando o alvi-negro pavilhão do Clube com um alinda e vistosa fantasia, ao cume do carro, estava a senhorinha Conceição Fernandes, que recebia com gentil agradecimento as aclamações ao querido Clube. Um guarda de honra romana seguia êste carro e após alguns automóveis, em um dos quais ia a Diretoria do Clube conduzindo o glorioso estandarte.

Em um elegante pavilhão à chineza, via-se a banda de música fantasiada de chins, executando durante o trajeto as melhores peças do seu repertório. Seguindo igualmente uma guarda de honra chineza. Depois de alguns outros consócios e suas famílias, vinha o segundo carro alegórico “Rosas e Crisantemos”, uma enorme cesta em cuja alça ia magnificamente fantasiada a senhorinha Mundinha Araújo. Dentro da enorme e florida cesta iam várias rosas e crisantemos representados por sócios e sócias do Clube, tendo o carro uma guarda de fantasia de crisântemos” (Gazeta do Norte).

Em 1929, não houve Carnaval. Por isso mesmo alguns comerciantes do Mercado, chefiados por João Soares da Silva, resolveram na terça-feira gorda fazerem o entêrro do Momo. É da “Gazeta” a descrição que reproduzimos: “O esquife de grandes proporções saiu às 7 horas da noite da Praça Doutor Carlos com uma comissão de frente e trajada a rigor (casaca e cartola) sendo acompanhados por grande massa popular. Seguravam as alças do caixão seis rapazes trajados de fraque e cartola com uma grande comissão atrás também trajada a rigor.

Vinham à frente dois estandartes empunhados por rapazes solenemente trajados, com as seguintes inscrições: “Última homenagem do “Mulher Encantada e Adorada” e “Saudades Eternas do “Eu Vou Se Você Fôr”... Ao passar o cortejo junto à nossa redação fez uma parada tendo usado da palavra em bela oração o Sr. João Soares da Silva, que fez o necrológio do “extinto”. Seguiu o grande préstito que percorreu ainda várias ruas, falando durante o trajeto vários oradores. Sobre o caixão viam-se várias coroas, destacando as seguintes: “Saudades de Ari”, “Homenagem do Rodrigão”, “Último Adeus de João Novais”. Durante o trajeto uma orquestra executou marchas funebres”.

De 1929 em diante o Carnaval em Montes Claros se resumia, quando muito animado, em um corso de automóveis; utilizavam automóveis com a capota descida, cabendo assim mais gente. Os carros se enchiam de moças e rapazes, meninos fantasiados, munidos de lança-perfumes, confetis e serpentinas; entoavam principalmente as canções populares do ano. O trajeto era pequeno, compreendia a Rua 15 de Novembro, partindo do atual Hotel São Luiz, subia a rua Dr. Veloso no Clube Montes Claros, virava à esquerda pela Rua Padre Augusto, atingindo a Rua Bocaiuva (hoje Dr. Santos), descia por esta até o ponto de partida. Êsse volteio ia se repetindo das 19 até as 22, quando iam para os bailes. Com uma hora de brinquedo já os carros estavam emendados com serpentinas, formando uma enorme “cobra”. Com o desaparecimento dos carros de capota, esta prática foi caindo em desuso e hoje nota-se apenas um outro carro isolado a percorrer as ruas. Também o gasto de lança-perfume, serpentinas e confetis diminuiu consideravelmente. Antes com duas ou três horas de baile era necessário uma pausa para fazer uma limpeza no salão porque a quantidade de serpentinas e confetis era tanta que não se podia dansar facilmente. Hoje o Carnaval de rua se resume em um ou dois blocos de operários, tendo à frente madame Bichara, Lionel Beirão, a “Escola de Samba” de Vavá e alguns “caretas” avulsos... E uma multidão para ver...

Nos Montes Claros e nos Bancários realizam-se bailes carnavalescos, sábado, domingo, segunda e têrça-feira, havendo também matinées infantis às duas horas da tarde, distribuindo-se prêmios às fantasias mais bonitas. Nos bailes dansa-se pouco aos pares; organiza-se um cordão – todos de mãos dadas, pulando no ritmo da música e cantando. A orquestra não para quase. Quando a alegria chega ao auge aquêles mais identificados com os folguedos vão levando para o “cordão” os mais retraídos e daí a pouco não há ninguém triste. Naturalmente não faltam bebidas alcoólicas e refrigerantes. Nosso carnaval em todos os tempos foi sempre uma festa de moral sã, sem predomínio da carne, como querem muitos. Consiste em folguedos simples, onde paradoxalmente o indivíduo tira a máscara das convenções e se mostra alegre, brincalhão, sem se preocupar com outras coisas.

Fonte: Páginas 590, 591, 592, 593, 594 e 595 do livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, organizado pelo médico, historiador e folclorista, Hermes Augusto de Paula, edição de 1960

Depois aconteceram em Montes Claros carnavais fora de época com trios elétricos ao gosto dos partidários do prefeito do período. Jairo Athaíde Vieira criou o Carnamontes de 1998 a 2005 e Luiz Tadeu Leite (2009-2012), com seu populismo peculiar, tentou resgatar muito precariamente um carnaval com blocos de rua. O Samba Enredo do Bloco “Feijão Maravilha”, do Bairro Operário-Cultural Morrinhos, foi o que aproximou um pouco das raízes populares do carnaval brasileiro. Com o título “SERÁ?”, composto e musicado por Eduardo Bastos, a letra trouxe para a Avenida João Luiz de Almeida nos dias 23, 24 e 25 de maio de 2008 elementos característicos do samba-raiz. “Será mentira? Ou é verdade?/Que o carnaval voltou para esta cidade./Será verdade ou é mentira?/Que o carnaval voltou pra avenida./Será que a alegria voltou a reinar?/Com o carnaval se voltou para ficar./Será que a alegria voltou a reinar?/Com o carnaval se voltou para ficar./O morro desce/O morro desce para a avenida/Com o bloco Feijão Maravilha/Tem mulher bonita pois é! Tem capoeira e muito samba no pé/Mas a alegria não vai faltar/Com o FEIJÃO MARAVILHA vamos lá/Mas a alegria não vai faltar/Com o FEIJÃO MARAVILHA vamos lá”.

Um dos fundadores do Grêmio Recreativo Estação Primeira de Mangueira, a segunda escola de samba do Rio de Janeiro, Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980), nunca gostou da expressão “samba-enredo”. Jamais se adaptou ao crescimento acelerado e comercial do samba. Para ele, a letra de um samba deveria brotar espontaneamente da mente de um verdadeiro compositor. Quando Cartola tinha uma ideia para uma composição, ele parava imediatamente o que estava fazendo, dizia para a família que teve “um boi com abóbora” e ia escrever a sua composição, uma verdadeira obra de arte. No início do século XX, o samba nasce da expulsão da população negra e pobre do Rio de Janeiro pelos especuladores imobiliários. Há as célebres disputas musicais entre Noel Rosa, boêmio branco que defende os pobres e os negros, e Wilson Batista, negro comportado que se alia à ideologia dominante. A primeira favela (nome de uma planta rasteira) tem origem no final do século XX, em 1897, quando os combatentes de Canudos/BA não recebem nada em troca por terem lutado contra os cerca de 30 mil aliados a Antônio Conselheiro. Foram necessárias quatro expedições do nascente Exército Republicano Brasileiro para massacrar o segundo maior arraial baiano de então. Os combatentes do Exército Brasileiro criam a Favela da Providência, que completa 120 anos de existência em 2017.  

Conforme Nelson Sargento, o samba se transforma conforme a classe média vai se apropriando dessa proposta musical nascida para ser revolucionária. Cartola e Dona Zica criam o Zicartola, restaurante inaugurado em 05 de setembro de 1963 na Rua da Carioca, centro do Rio, “um ponto de resistência cultural” segundo Rildo Hora, curiosamente tendo seu fim com a ascensão da Ditadura Civil-Militar de 1º de Abril de 1964. Mas o samba continuou dando o seu grito de desabafo, sobretudo na clandestinidade.

Atenciosamente,


João Renato Diniz Pinto, diretor do Regional Norte do SJPMG 2017-2020  

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