ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

sábado, 19 de agosto de 2017

O "Muro de Berlim" de Montes Claros/MG

Hoje a Estação Ferroviária Central do Brasil (EFCB) e o que ela gerou de riqueza social permanece na memória popular. Privatizada a preço de banana em 1996 pelo presidente metido a sociólogo Fernando Henrique Cardoso (FHC), a EFCB pode, a meu ver, ser considerada neste século XXI o “Muro de Berlim” invisível da maior cidade do Norte de Minas Gerais. A ferrovia que atravessa toda a cidade e toda a região nos fazia sentir mais regional e internacional. Atualmente os trilhos do sertão cortam o município em duas partes distintas: uma mais capitalista, localizada a Oeste, e outra mais socialista, ao Leste. A Avenida Ovídio de Abreu seria o meu ponto de referência. O sol sempre nasce no lado oriental. As casas na localidade, à primeira vista, são até classificadas como de “pior” edificação, contudo ali residem vidas de onde brotam a verdadeira e espontânea cultura alegre humana.

Temos o militar bairro Santa Rita de Cássia, o bairro operário-cultural Morrinhos, o Cintra, o Nossa Senhora de Fátima, o Lourdes, o Monte Alegre, o Alvorada (tem nome mais bonito que este?), o Ipiranga, o Sumaré, a Vila Telma, o Renascença e tantos outros que se desenvolvem à medida que os meios de produção lhe são acessíveis. Na área, há o Batalhão de Polícia Militar, o Trevo da Real com o monumento em homenagem ao sertanejo (a enxada, símbolo do trabalho do homem do campo), igrejas católicas, evangélicas e de outras denominações religiosas, o cadeião e outras obras e empreendimentos comerciais.

Por ali viveram Zé Coco do Riachão e Zé Coquinho, Elthomar Santoro Júnior e muitos outros heróis sociais anônimos. Observe, no relato do livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, organizado pelo historiador, folclorista e médico, Hermes Augusto de Paula, edição de 1960, às páginas 34, 35, 37 e 38, como a cidade e todo o Norte de Minas Gerais se modificaram para acolher a chegada de uma nova tecnologia à região.


O MAIOR DIA DE MONTES CLAROS

Mais ou menos em 1889 organizou-se uma sociedade anônima com sede no Rio de Janeiro para se construir uma estrada de ferro ligando Montes Claros a Extrema, no Rio São Francisco - Estrada de Ferro Montes Claros. O concessionário do serviço, tenente coronel Cipriano de Medeiros Lima, o mais importante fazendeiro do Norte de Minas, Barão de Jequitaí, passou seus direitos à sociedade, cujo capital era de três mil contos. Imediatamente os engenheiros foram contratados e se iniciaram os estudos preliminares. A 9 de dezembro de 1890 o serviço de exploração, começando em Extrema chegara a Montes Claros, justamente pelo local por onde penetra na cidade a Estrada de Rodagem de Maria da Cruz, sendo localizada a estação na Várzea (Praça de Esportes).

Diante de tão promissores trabalhos, Montes Claros em peso promoveu uma manifestação aos engenheiros. Logo de madrugada fizeram uma “alvorada” com música e foguetes; à noite organizou-se uma passeata, tendo à frente o jovem intendente - Camilo Prates - que, à porta dos engenheiros, falou em nome do povo. O dr. Teófilo B. Otoni respondeu em nome dos homenageados. E comenta Silvio Teixeira de Carvalho: “Às 10h da noite deu-se início ao baile-monstro”.

Além desta - diz-nos o desembargador Veloso em 1896 - outras vias férreas projetadas têm por objetivo a sede do próspero município; e tais são a estrada de ferro já contratada, de Montes Claros ao Salto Grande e a de Montes Claros a São João Batista.

Entretanto, não sabemos o motivo, tudo fracassou.

As gerações se sucederam e hoje quase ninguém se lembra ou tem conhecimentos daqueles projetos... A Central do Brasil veio se aproximando devagar... devagarinho mesmo, a ponto de satisfazer os otimistas, mas agradar também os pessimistas.

Ora, aconteceu que em 1922 o Ministério da Viação foi ocupado por um filho do Norte de Minas - o Dr. Francisco Sá, que sabia do nosso abandono e das nossas necessidades econômicas. Resolveu por isso nos trazer as paralelas de aço. Era presidente de nossa Câmara o coronel Antônio dos Anjos, que não mediu esforços para facilitar os movimentos em torno da Estrada de Ferro. E muito se ficou devendo à sua atuação.
Desde a aproximação dos serviços de terra, a cidade foi invadida pelos “tarefeiros” e seus auxiliares, não regateando os montes-clarenses os bons trabalhos a esses possíveis benfeitores para os quais se improvisaram inúmeras festas. De vez em quando aparecia aqui um engenheiro mais graduado, que era alvo de atenções especiais, com jantares e bares - Dr.  Xenofonte, Dr. Ajax Correia Rabelo ou Dr. Caetano Lopes, Augusto Catoni, dos quais os montes-clarenses nunca se esquecem com simpatia.

A estação de Bocaiuva ia ser inaugurada em 7 de junho de 1924 com a presença de Francisco Sá, Ministro da Viação, e este prometera visitar Montes Claros. “A vinda do ministro” tomou conta da cidade desde os princípios do ano. A Câmara votou créditos especiais para fazer uma recepção oficial condigna. “É assunto do dia” - escreveu Jair de Oliveira - “no cinema, nos cafés e nas farmácias, onde haja gente e se converse, só se houve esta palestra: a vinda do ministro.

Tudo foi posto de lado. Os banqueiros de bicho quebraram à falta de jogadores. Houve tréguas aos bailes e piqueniques. O futebol, já em caminho, mercê da boa vontade de uma plêiade de rapazes amantes do desporto, foi esquecido. Nos botequins, o consumo de cerveja decresceu. Todos estão trabalhando ativamente. A própria vagabundagem, envergonhada, dando o braço ao tédio do nosso ramerrão, abandonou-os. Há semanas já, mal o sol doira o horizonte, ouve-se o bando garrulo da meninada que trabalha limpando as ruas. E as enxadinhas cantam nas calçadas, entoando um hino de trabalho e alegria. É o bando de menores humildes e dos abandonados que enchiam as nossas esquinas e agora, honradamente, ganham o pão com o suor dos rostos sujos, pequeninos e satisfeitos.

Tudo trabalha e palpita. As brochas dos pintores, num vaivém constante, vão vestindo de novo o casario e o amarelado branco da cidade. Aqui, ergue-se um andaime, onde operários marinham pelos caibros, como um bando de formigas laboriosas. Ali aparelham-se madeiras: os serrotes ringem nas tábuas, acompanhando o bater estridente dos martelos. Acolá, pisam o barro, cessam areia, removem caliças, preparam o cimento, rebocam, limpam, caiam.

E a cidade vai se tornando garrida, faceira, orgulhosa de receber em seu seio o seu grande amigo e benfeitor. Novos automóveis, fonfonando, cruzam as ruas, impregnando-as de um cheiro forte de civilização, enquanto passam carroças entulhadas de seixo de capina.

E à noite, quando as lâmpadas elétricas abrem os olhos faiscantes, atônitos, como se acordassem do seu sono diurno, é intenso o movimento que vai em nosso urbs [cidade, município].

Os armarinhos regorgitam...

Em frente às vitrines, que deitam jorros de luz para as calçadas, param bandos de senhorinhas discutindo enfeites, falando de modas e figurinos, com os narizes colados ao vidro.

Membros das comissões passam angariando donativos. E todos contribuem, satisfeitos e generosos.

Forasteiros de todos os recantos atulham pensões, alugam casas, procuram cômodos.

E a cidade vibra de manhã à noite. Até altas horas ouve-se o martelar dos carpinteiros e o perfume penetrante e bom de madeiras serradas fica envolvendo o ar puro da noite constelada”...

E o ministro não faltou com sua palavra: - no dia 8 de junho daquele ano entrava na cidade uma caravana de automóveis guiados pelo belíssimo Pacard ministerial.

Polidoro dos Reis Figueiredo, na véspera, publicara na “Gazeta” as boas-vindas:      

Aos Drs. Francisco Sá, Daniel de Carvalho, Melo Viana, Alfredo Sá.

Até que enfim se ruma para o Norte
Onde é fértil a terra e a gente é forte...
........................................................................
........................................................................
Aí vêm os ilustres timoneiros
Da Nau do Estado - os ínclitos mineiros
Encher-nos de esperança o coração
Pela glória futura do Sertão.
- Brilhe de novo a terra d’Esmeralda,
Onde a nova bandeira se desfralda,
Com promessas de vida e de trabalho!
E que haja pomos d’oiro em cada galho,
D’oiro branco se alustram as estradas,
E canta a mocidade outras baladas,
Dos tempos bons de Paz, de União e d’Amor!
Haja mel e perfume em toda flor;
Palmas, rumores, lábios em sorrisos,
Em todo olhar de moça um paraíso
Para aqueles que vêm, com nobre anseio
Nesta terra sentir no próprio meio!...

O povo delirou de entusiasmo. A cidade superlotada de hóspedes, pois de todos os municípios do Norte de Minas vieram representações, paralizaram-se tôdas as atividades, concentrando-se as atenções no Ministro e sua comitiva. Foram dois dias ininterruptos de festa; entretanto podemos destacar alguns fatos.

Logo à entrada da cidade, rua Bocaiúva, foi armada um artístico arco, com os dizeres: “Salve. A cidade a seus ilustres hóspedes”. De onde o dr. Sá seguiu a pé entre alas do povo até o prédio onde se hospedaria, situado na avenida Estrela (hoje avenida Coronel Prates), no qual funciona atualmente o Colégio Imaculada Conceição. Aí havia um arco iluminado, com a legenda: “O operariado ao Dr. Francisco Sá”.

À noite houve um banquete de cem talhares, durante o qual as municipalidades do norte brindaram-no com um quadro a óleo da Fazenda Santo André, onde nasceu Francisco Sá, obra prima do pintor Genesco Murta.

Após o banquete deu-se lugar ao baile de gala, no qual, lá pela meia noite, levaram a efeito o que ficou chamado “ato de surprêsa”, constituído de canções regionais, modinhas, acompanhadas ao violão e cantadas por elementos visitantes e gente da terra, acabando de vez com o protocolo, que prejudicava a expressão de alegria. Nesse “ato” os de fora levaram a melhor, pois alguns membros da comitiva ministerial arvoraram-se em poetas sertanejos e compuseram quadras em louvor a Montes Claros, inclusive pelo dr. Francisco Sá:

Eis as quadrinhas que foram cantadas, com a música “O casaco da mulata”:

No portá de Montes Claro
Tão bunita e tão festiva
Todos fica embasbacado
Todos grita: Viva! Viva!

Estribilho
Vem cá morena
Não vou lá não
É Montes Claro
A Princesa do Sertão.

É gente da terra
Antonces, quando se trata
Presos de tanta bondade
Os corações se desata.

Vou dizê a todo mundo
Que na terra existe sim
Uma cidade na quá
A bondade não tem fim.

D’oios pretos, lábios claro
Moça bunita aos punhado
Doutô Pires, com tais óios
Tem ficado atrapaiado.

Os tarefero dos trecho
Uma vorta há de cortá
Doutô Pires perta eles
Prá em Montes Claros chegá!

Rica jóia sertaneja
Hospitaleira, sem pá,
Quando a gente chega nela
Cadê jeito de vortá...

Montes Claro tem feitiço.
Oh, que sodade sem fim!
Exclama por todos nós
O nosso amigo Cotrim.

Quando a gente fôr s’imbora
Todo o dia vai rezá
Prá chega depressa a hora
Que nós possa aqui vortá.

Montes Claros - berra terra
Do sertanejo valente.
Não existe neste mundo
Gente igual à sua gente!...

No dia seguinte a comitiva regressou a Bocaiuva, logo pela manhã, deixando muita saudade e a esperança de novo encontro por ocasião da chegada do primeiro trem a Montes Claros, que seria em 1926.

De fato, a 1º de setembro daquele ano, cá estava entre nós o Ministro Francisco Sá, cognominado de “O nosso melhor amigo”. Com êle vieram muitos dos companheiros da primeira viagem e também senadores, deputados, jornalistas e elementos de destaque da capital federal. O povo em massa encheu a “gare”. Honor Sarmento saudou o grande Ministro e em nome de Sua Excelência agradeceu o nosso conterrâneo Milton Prates.

O Ministro se hospedou no Palácio Episcopal. Como da primeira vez, houve uma “marche aux flambeaux”, queima de profusos e lindos fogos de artifícios; manifestações populares, banquete e baile, tendo sido assentada a pedra fundamental do monumento a Francisco Sá, que se inaugurou solenemente em 16 de outubro de 1932, integrando os festejos do centenário de nossa emancipação política. Falou em nome do grande brasileiro seu filho dr. Carlos Sá que proferiu belíssimo discurso que anos depois ainda era relembrado. Ficou o dia 1º de setembro de 1926 considerado “o maior dia de Montes Claros”, a estrada de ferro, aí estava, facilitando o comércio e as comunicações. Um sonho acalentado havia anos pelos nossos avós, tornara-se naquele dia uma realidade, graças ao ministro sertanejo, que transformou o primitivo ramal em linha tronco: a grande longitudinal.

Polidoro Figueiredo, velho professor, sentiu o despertar das energias adormecidas e seu estro vibrou mais uma vez:

O centro está marcado - é Montes Claros
“O coração robusto do sertão”
Donde o foco de luz se irradiará
Com mais intenso e rútilo clarão.

Vêde: as ruas se alargam, já se entendem
Com novas casarias, que resplandem.
Pela encosta suave da montanha
Que o Rio Verde Grande, fértil, banha.

Automóveis coleiam para o norte
Sem respeito, siquer, ao contra-forte
As Serra do Espinhaço... a máquina apita
E os grandes chapadões do norte agita!

Agora sim, terra sertaneja,
Nova seiva de vida, já poreja,
E da locomotiva o grito acode
Do passado o torpor bate e sacode.

Vai se aumentar a farta sementeira;
Os rebanhos do campo e da lareira,
As chamas do conforto e da alegria!
Há no espaço mais notas de harmonia
E novas esperanças.
   
O centro está marcado - é Montes Claros
A Princesa - o milagre do Sertão
Como o chamou dos filhos seus preclaros
O mais ilustre - d’alma e coração.


Depois da privatização, o Trem do Sertão parou de servir às nossas gentes. Optou por transportar matéria-prima bruta, como o minério de ferro. A urbanidade começava a transformar a vida do povo. A cidade cresceu pelas redondezas dos trilhos sertanejos. Assim como se constroem empresas à margem de rios que são utilizados para receber esgotos dessas mesmas, também são erguidas modestas construções no entorno das ferrovias. Ao mesmo tempo em que trouxe felicidade para a cidade e a região, a EFCB jogou para a “marginalidade” parte dos 400 mil moradores do município, que se amontoam por aí afora.

Em trecho da Ideologia Alemã, Karl Marx e Friedrich Engels nos recordam das necessidades populares. “(...) devemos lembrar a existência de um primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, a saber, que os seres humanos devem estar em condições de poder viver a fim de fazer história. Mas, para viver, é necessário, antes de mais, beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se, etc. O primeiro fato histórico é pois a produção dos meios que permitem satisfazer as necessidades (...)” humanas vitais.

Para quem minimamente dirige um olhar sobre as Festas de Agosto de Montes Claros, as mais antigas comemorações populares do Norte de Minas Gerais, nota-se claramente que nestas épocas pós-modernas essas festividades são levadas pelos moradores do lado leste da cidade. Em 2017, os festeiros eram originários da Vila Anália, do Renascença e do Cintra. Catopês, marujos e caboclinhos se direcionam todo ano ao cruzeiro da Avenida Coronel Prates para louvar o que lhes tem valido neste vale de lágrimas: Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e o Divino Espírito Santo. Na labuta do dia a dia, Montes Claros é agitada socialmente.

Três anos antes da privatização da EFCB, a cidade já fervia em protestos. Aqui nasceu o primeiro Grito dos Excluídos. O Plano Real entrava em vigor, mas a realidade pirraçava em continuar perturbadora. Desde o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) e o Golpe Militar de 1º de abril de 1964, a Igreja católica se aventurava pela Teologia da Libertação. A religiosa irmã Marilda de Souza Lopes participou dessa manifestação na cidade e descreve um pouco aquele instante. “Como nasceu o Grito dos Excluídos? Estávamos no ano em que a Campanha da Fraternidade teve como slogan “Onde moras?”. Os grupos Profeta Isaías e o Juac fizeram visitas em várias favelas, dentre elas os moradores do lixão. Eram 26 barracos de plástico preto. Nas 26 famílias, havia muitas crianças e jovens. As crianças disputavam pedaços de carne que vinham do lixo nos restaurantes com os urubus que avançavam em suas mãos para tomá-los. Depois da visita, fizemos uma reflexão com os jovens que foram ao lixão. Era véspera de 7 de setembro, pensei nas fanfarras que desfilam no dia 7 de setembro e expus meu pensamento de fazer um clamor naquele dia (na parada cívica), fazermos um pelotão com o slogan da Campanha da Fraternidade. A ideia foi bem aceita. Geraldo, do Profeta Isaías, fez as casinhas de plástico preto. Kelly, Kênia, Noé e outros jovens organizaram o pelotão. Ficamos com medo de enfrentar a polícia, conversamos com o padre Antônio Carlos da Silva que deu todo o apoio aos jovens e a nós. Quando a Escola Estadual Dulce Sarmento entrou, nosso pelotão, com seus cartazes de manifestação contrária, aproveitou e entrou também e chegou em frente ao palanque. Combinamos de não dizer nada. Somente mostrar os cartazes. As autoridades, que até então estavam recebendo aplausos, depararam com frases verdadeiras e francas: “O QUE VOCÊS ESBANJAM, FALTA PARA NÓS!!!”; “POLÍTICOS, SEU SALÁRIO É UMA AFRONTA AO POVO”... e outras. A primeira dama sentiu mal e foi para a Santa Casa. No dia seguinte, 08 de setembro de 1993, a primeira página do jornal narrou o fato. Padre Antônio recebeu uma carta desaforada do prefeito. Assim nasceu o Grito. Depois que chegou a Equipe Diocesana de Pastoral, recebeu o nome de GRITO DOS EXCLUÍDOS. Em 1993, foi apenas: “CLAMOR DOS SEM TETO”. Foi no dia 7 de setembro de 1993 que nasceu o “GRITO DOS EXCLUÍDOS” na porta da igreja Nossa Senhora Aparecida do Major Prates, em Montes Claros, Norte Sertanejo de Minas Gerais”, revela irmã Marilda Lopes.


O Grito dos Excluídos vai para a sua 23ª edição em toda a região. Terá como enfoque “Vida em primeiro lugar: por direitos e democracia, a luta é todo dia”, Em 1993, a bandeira de luta unificadora maior foi a moradia. Em 2017, moradores de Montes Claros ainda acampam, desta vez em área urbana entre o Distrito Industrial e a Vila Castello Branco. Só no entorno da praça da matriz, mais de mil pessoas dormem na rua. A sociedade capitalista se desenvolve como nunca, mas os problemas sociais persistem. Muita gente sem casa, muita casa sem gente.

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