ALVORADA

O SOL NASCE NO LESTE (VOSTOK) E PÕE-SE NO OESTE (EAST)

Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Irmã Franciscana Missionária Diocesana da Encarnação faz serviço missionário na África

Das Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação, originárias da Arquidiocese de Montes Claros, Raimunda Dorilene Pinheiro Pereira (primeira à esquerda na imagem), ao lado da colega Etelvina Moreira de Arruda, está hoje na África depois de retirar crianças e adolescentes do lixão e afastá-las do tráfico de drogas em Montes Claros, Norte de Minas Gerais, através do trabalho social "Casa do Pão"; Irmã Dorilene já protestou bastante em defesa dos direitos humanos no Grito dos Excluídos, promovido todo dia 07 de setembro em todo o Brasil; confira artigo escrito pela médica e jornalista Mara Narciso sobre a religiosa  
 
 
 
Ajuda Humanitária Integral
 
POR Mara Narciso
 
Ninguém entende o motivo de alguém agir assim. Despir-se de si mesma, largar o nome, a casa, o meio social e familiar, criar uma irmandade, mudar-se para perto dos paupérrimos, abraçar uma causa honrosa, agir, ser eficaz, e ainda assim, insatisfeita, sair mundo afora. A intenção é encontrar e trabalhar com os povos mais primitivos e pobres da face da Terra.
 
Depois de trabalhar com famílias que viviam no lixão de Montes Claros, Irmã Raimunda Dorilene Pereira, paraense, parte novamente para a Guiné Bissau, onde já viveu por três anos. Desta vez ficará por mais dois anos. Precisa retornar porque lá deixou pessoas que urgem pela sua ajuda humanitária. É gente que nada possui: nem terra, nem água, nem comida. Está sob três jugos: Governo autoritário, milícias e crenças ancestrais, que são seguidos rigorosamente, sem nenhum questionamento. Nem poderia.
 
A Mãe África é pródiga em dialetos e mitos. As tribos desse ponto do planeta mal se comunicam entre si. A língua oficial é o Português, falado por 27% da população. A maioria fala o kriol, um dialeto. Não há trabalho nem posses. O estado de miserabilidade das comunidades é de fazer chorar. Mas não há lágrimas. A população vive trespassada. Há o Exército, cuja cúpula manda no país - que já assassinou alguns presidentes-, os rebeldes e as vítimas. A selvageria da violência é assustadora, numa nação que viveu uma guerra civil e pelotões de fuzilamento.
 
As freiras fazem um trabalho social e de evangelização. Cerca de 90% da população professa um sincretismo entre o islamismo e o animismo (seres não humanos têm espírito), e os restantes são cristãos. Cada tribo tem uma linguagem, uma crença, um medo, mas todos têm a necessidade universal de comer. Mas o quê?
 
O país não tem indústria, nem trabalho e nem comida para a maior parcela da população. Quando chove (julho e agosto), todos se envolvem com o plantio de arroz. As pessoas somem para a roça. Quando conseguem colher, passam alguns meses tendo comida: arroz.
 
O governo proibiu a mutilação genital feminina, há anos, mas o costume da amputação persiste. As mães e avós incentivam a prática por vê-la associada à felicidade e à honra femininas. O corte do clitóris, e em algumas tribos, também dos pequenos e grandes lábios genitais, sem anestesia nem higiene alguma, cortando-se e costurando-se de qualquer maneira, leva muitas meninas à morte e algumas mulheres a imensas hemorragias no parto, ocasião em que a genitália se rompe.
 
Os homens também são submetidos a um rito de passagem semelhante à circuncisão. Os jovens do sexo masculino são levados a savana e passam por toda sorte de provações, nas quais alguns morrem.
 
Após o parto, o marido bebe o primeiro leite, o colostro. Caso o homem esteja ausente, é preciso esperá-lo chegar e se não chega, a mãe não alimenta seu filho, deixando-o morrer. Acredita que fazendo isso os maus espíritos não se apoderam da família para fazer-lhe mal, e sim, a protege. Não vê a perda do filho como uma tragédia, mas como um mal menor.
 
A criança não tem valor algum na sociedade daquela parte do país. Quando há comida, o homem se alimenta e o que sobra a mulher pode comer. Às crianças só restam migalhas. São corriqueiras as mortes por fome, especialmente de crianças.
 
Não há água e nem noção do que seja higiene e a Aids está matando seres humanos como moscas. Quando a pessoa consegue algum dinheiro, naturalmente o coloca na boca. O choque cultural é tão chocante, que as catequistas brasileiras sentem-se apavoradas e até adoecem, não conseguindo permanecer em seu trabalho social. Já houve caso de perda do juízo, com retorno para casa, mas nunca mais ao estado mental anterior.
 
Podendo escolher outros caminhos para fazer caridade, é impressionante ver alguém nascida em Belém do Pará, com traços e cor indígena em seus 148 cm e 64 anos, após passar por Montes Claros, novamente atravessar o Oceano Atlântico, e voltar a ser missionária na África. E pagando pessoalmente todas as suas despesas.
 
16 de agosto de 2017

Nenhum comentário: