POR Mara Narciso
No
começo da década de 1990, primos e irmã frequentavam a internet. Não sabia que logo
seria um instrumento universal no qual estaríamos todos inseridos. Quando
palavras como surfar, site, link, e-mail, copiar e colar, download, nada
significavam, eu, mergulhada na burrice digital, dizia não ter interesse naquilo.
Em
1999 decidi como tarefa de janeiro de 2000, comprar um computador e fazer um
curso de informática. Tive 40 horas-aula em casa e passei a usar a internet
para estudar Endocrinologia em sites americanos, fazer contato com outras
pessoas através de e-mails, e usar o chat Mirc/ ICQ. Em 2001 comecei a
frequentar salas de chat no Portal Terra e fiz amizades virtuais que duram até
hoje.
Em
2005, frequentadora desde 2004, tive a oportunidade de ser vítima de
linchamento virtual no Orkut, dentro da comunidade literária “Espancadores de
teclados”. Muito opinativa, fiz um comentário, não depreciativo, que afirmava
ser a autora do texto, possivelmente, portadora de TDAH - Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade, um assunto que me dominava na época. Todos se
viraram contra mim, e com tal agressividade que saí arrasada, sumindo do site
por três dias. Ficou a marca desde então, e sei o que isso significa. As ofensas
soam como bofetadas e são inesquecíveis.
No
curso de Jornalismo, terminado em 2010, tive diversas matérias voltadas para o
mundo digital. Depois surgiu o Facebook, no qual entrei em janeiro de 2011.
Desde então, venho assistindo a escalada da violência verbal até superar o
nível máximo. Os usuários, que poderiam ser positivos para educar e construir,
fazem elogios automáticos e mentirosos, muitas vezes invejosos, ou cutucam o
“amigo” com comentários irônicos. Isso no campo pessoal. Noutros campos são
ainda mais agressivos. Circulam mensagens religiosas, assim como críticas debochadas
a outras religiões ou aos ateus. Alívio: deixam anjinhos, florezinhas e bichinhos,
com suas bobagens do tempo do Orkut nas mensagens inbox. Assim não poluem a
Linha do Tempo.
Eu
uso o Facebook durante seis horas por dia, e já alcancei diversas vezes o
número máximo permitido de 5000 contatos. Então, depois de quase 18 anos de
internet, posso assegurar aos recém-chegados, que, atualmente, a maior diversão
é derrubar mitos, deixar a reputação de um político ou celebridade, ou pessoa
menos votada, mas de algum destaque, em frangalhos.
O
que importa não é opinar, é destruir. Os contendores parecem estar dentro das
quatro linhas de um ringue, levando o inimigo para as cordas, dando-lhe milhões
de sopapos, até vê-lo desfalecido. Podem se valer do anonimato de um fake, desferir
os maiores despautérios, até o tiro de misericórdia. O motivo do xingamento é a
pessoa ter opinião diferente da do ofensor. E trazendo a surrada comparação da
árvore cheia de frutos, de fato, quem não é nada e não produziu nada, dificilmente
será atacado, exceto em casos específicos.
O
gosto de quem ataca é ler a resposta, para aumentar o poder de fogo. Quando a
pessoa está ausente ou não faz parte daquela rede social, os covardes,
confiantes se fortalecem. É fácil desferir o golpe fatal. Os ídolos, numa
época em que não mais se acredita no que se ouve, nem no que se vê (vídeos
inclusos), em que as autorias são trocadas e falsas notícias dominam a festa da
infâmia, tirar alguém de circulação é a meta dos brigões. Poucos se calam
diante de uma provocação. É automático revidar, no entanto, a melhor arma
dentro de uma rede social, que vale como uma bomba atômica às avessas é se
calar, e à Justiça, cabe rastrear as ofensas e punir os agressores com a força
da lei.
23
de julho de 2017
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