Mais de 300
famílias ocupam área entre o Distrito Industrial e a Vila Castello Branco para
exigir direito constitucional à moradia em Montes Claros, Norte de Minas Gerais; ocupação é próxima à fábrica da Alpargatas; Pastoral da Terra, Cáritas
Arquidiocesana e Proderur acompanham caso
POR Rogeriano Cardoso
(texto e imagens)
Em um terreiro empoeirado entre lonas pretas, crianças
correm, brincam e festejam com qualquer pedaço de
madeira que encontram pela frente. Para elas tudo é diversão. Mas na vida real,
em frente aos barracos homens e mulheres, com ferramentas em mãos cavam buracos
para levantarem seus barracos de lona. Debaixo do sol quente eles conversam e
dão testemunhos do que enfrentaram em suas vidas de muitas dificuldades e
sofrimento, entre um gole de café ou o resto da água potável.
Em frente a um barraco
improvisado, feito com pedaços de madeiras e lona preta, a idosa Maria dos Reis
Souza Miranda, 72 anos, sorridente, se exibe e fala que agora tem onde morar.
Segundo ela, antes morava em um barraco, com três filhos, próximo à linha
férrea na mesma região.
São pessoas simples, sem
muito estudo e que não tiveram muitas oportunidades na vida, são vítimas de um
sistema que cada vez mais as oprime, mas são atores desta história, estão
protagonizando um momento de luta. “São pessoas corajosas, lutadoras, não são
invasores, são ocupadores de um pedaço de terra, pois quando morar é um
privilégio, ocupar é um direito”, desabafa um dos integrantes do movimento pelo
direito constitucional à moradia.
Em visita feita pela
reportagem, as famílias pedem apoio, tanto na questão política, quanto na
estrutural. “Nós além de precisarmos de gente para ficar do nosso lado,
precisamos de alimentos, pois muitos de nós aqui não temos um meio de
sobrevivência”, reclama Sílvio Souza Miranda, 46 anos, casado e pai de quatro
filhos, que naquele momento ajudava a construir um barraco para um amigo, de 29
anos, casado e pai de três filhos pequenos. “Nós nos ajudamos, quem já está com
o barraco pronto, ajuda a fazer o do vizinho”.
Na ocupação, estão morando
cerca de 320 famílias, vindas de diferentes lugares, muitas viviam com
familiares, outras em áreas de risco e pagando aluguel. “Eu morava numa casa
aqui no Bairro Cidade Industrial, possuía despesa com aluguel e no momento
estou desempregada, pois, tenho dois filhos e vivo para sustentá-los. Acho que
a gente não tá fazendo nada de errado, estamos lutando por um cantinho para
morarmos, todos têm direito, por que a gente não tem?”, indaga Eliene Mendes
dos Santos, de 40 anos, uma das mulheres que está abrigada com os filhos num
dos barracos da ocupação do terreno.
Próximo ao seu pequeno
barraco de lona, madeira e papelão, o trabalhador rural Valsão Soares, 49 anos,
casado e pai de quatro filhos, mostra o exíguo espaço onde improvisou uma cama.
Ele não se preocupa com a falta de banheiro ou em ter que dividir a cozinha com
a vizinha do barraco ao lado. Para ele, o importante é que o sacrifício gere um
pedaço de terra no final do processo de desapropriação.
Soares, antes morava na roça. Preocupado com os estudos das filhas resolveu migrar para o perímetro urbano. Sem lugar para morar e sem ter condições para pagar aluguel, ele resolveu se
unir aos ‘invasores’. O sonho de ter um pedaço de terra para viver e criar suas
filhas com dignidade é maior. E mesmo diante de tanta dificuldade, ele revela,
com orgulho, que sua mulher está grávida de seu quinto filho.
As mais de 320 famílias que
ocupam o terreno passam por várias dificuldades, como alimentação e a falta de
água potável. “A água que ainda resta do rio do Cedro não é própria para o
consumo humano, usamos para lavar roupas e até mesmo para cozinhar e tomar
banho. Para beber nós precisamos pedir aos vizinhos”, diz Valsão.
A Cáritas Arquidiocesana de
Montes Claros, a Pastoral da Terra e o Projeto de Desenvolvimento Rural e
Urbano (Proderur) acompanham o caso. O Regional Norte do Sindicato de
Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) foi conferir junto a essas
entidades a ocupação legítima das famílias. Quem quiser oferecer doações, procure
a Casa de Pastoral Comunitária, cujo endereço é Rua Januária, 387, Centro, CEP
39.400-077, em horário comercial. As
famílias ocupam terreno desde julho de 2017 em área urbana para pressionar o
governo a garantir o direito constitucional do ser humano a moradia, pleno
emprego e alimentação digna. Outras informações pelo telefone (38) 3016-7707.
Dobra número de lojas fechadas no centro
comercial de Montes Claros, Norte de Minas Gerais, desemprego ampliado atinge
mais de 20 milhões de brasileiros, informalidade no trabalho cresce a cada dia,
rede hoteleira do município apresenta rendimento muito abaixo da média e a
política de governo permanece historicamente medíocre: enormes incentivos
fiscais a grandes empresas e multinacionais e medidas severas de aumento de impostos para o
setor de serviços. Por isso, venha participar no dia 07 de setembro de 2017, às
7h30min, do 23º Grito dos Excluídos com o tema “Vida em primeiro lugar: por
direitos e democracia, a luta é todo dia! Proteste já e sempre! Marque
presença! Estenda o tapete vermelho porque o povo vem para as ruas! Você também
está marginalizado dos meios de produção da sociedade capitalista
contemporânea. Junte-se ao Brasil Real contra o Brazil oficial caricato e
burlesco! Faça valer a história nacional verdadeira! Mobilize a sua comunidade
e responda com veemência aos ataques sócio-econômicos dos políticos à nossa “Brava
gente brasileira! Longe vá... temor servil: ou ficar a pátria livre ou morrer
pelo Brasil!”.
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