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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

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domingo, 20 de agosto de 2017

Escola para todos

“É importante lembrar que em 1500 só chegaram homens ao nosso país: soldados e aventureiros. Entre eles, notem-se criminosos, degredados de Portugal, que deviam cumprir penas no Brasil. Nem todos eram de origem portuguesa. Para satisfazer suas necessidades sexuais usavam as índias que eram habitualmente estupradas. Mais tarde satisfaziam-se com as africanas, compradas como escravas e separadas de seus maridos. Criou-se, desse modo, nos homens, e por meio deles, nas mulheres, a base moral sexual dupla que até hoje vigora fruto dessa simples rotina da sexualidade colonial” (STRIK, Brasilhoeve, 2009, p. 73)

Quando aportaram no Brasil no século XVI, os portugueses jamais se interessaram em implantar no país escola, meios de comunicação e universidade, diferentemente da colonização espanhola no restante da América Latina. A Coroa Portuguesa agia com frieza até com os problemas sociais de seus compatriotas. Em 1808, acobertado por ingleses e em fuga das tropas francesas esfomeadas e raquíticas de Napoleão Bonaparte que invadiria Portugal, o rei dom João VI pouco se importou em alfabetizar os nativos. Havia, sobretudo, a catequese católica dos jesuítas que foram expulsos logo do seu papel em função de que executavam um trabalho de inculturação. Coube aos carmelitas e franciscanos a tarefa de pacificar os indígenas. Na maioria das vezes, esses foram exterminados durante as guerras por ocupação de território nacional apenas pelo contato com a raça branca. Restava apenas a fé do miscigenado povo brasileiro. Duzentos e sete anos após o descobrimento do Brasil, era fundada a Vila do Arraial das Formigas. Esta foi elevada à categoria de cidade 150 anos depois da sua criação. O mundo vivia a influência da Revolução Industrial e da Revolução Francesa.

“O próprio rei, entretanto, não interferiu imediatamente nesta questão. O trabalho dos jesuítas era importante e indispensável para a educação da população. Aí tinham uma posição indiscutível: suas escolas formavam dirigentes e políticos, a nova elite do país. Foi só em 1760 que o ministro português, Marquês de Pombal, maçom, proibiu o trabalho dos jesuítas. Eles foram expulsos de Portugal e do Brasil, suas propriedades foram confiscadas e os índios das reduções foram mortos ou aprisionados. A mão pesada do estado caiu sobre a Companhia de Jesus”, escreve à página 71 o sacerdote salesiano holandês Ben Strik para o livro “Morrer para viver: a luta de Tito de Alencar Lima contra a Ditadura Brasileira”, Brasilhoeve, 2009.  
 
Oito anos após a dita Independência nacional, em 18 de novembro, particulares se preocuparam em alfabetizar localidades afastadas da capital do regime monárquico. O primeiro colégio no Arraial das Formigas foi iniciativa do capitão Joaquim José de Azevedo. Na sessão da Câmara Municipal de 03 de novembro de 1832, leu-se o ofício da Sociedade Promotora da Instrução Pública e Pacificadora do Centro. Contudo, somente em 20 de junho de 1833, chegava a autorização para lecionar no sertão norte-mineiro do professor Luís José de Azevedo. Mas, em 24 de outubro de 1834, a Câmara alertou ao Estado que o normalista era inapto e desleixado. A escola foi suspensa. Com o impedimento, o sacerdote Felipe Pereira de Carvalho tentava ensinar a excessiva demanda por educação formal na região da melhor maneira possível: cobrava 500 cifrões por aluno. Até 1906, era dificultoso aprender a ler e a escrever em MOC.  
 
“(...), só havia escolas isoladas e particulares, quando em 22 de julho daquele ano foi instalado o nosso primeiro grupo escolar, criado pelo decreto número 2.352, de 05 de janeiro. A Câmara, sob a presidência de dr. João Alves, em um esforço extraordinário, adquiriu o prédio do coronel Juca Versiani para nele funcionar o novo estabelecimento de ensino. Custou trinta contos de réis. Esse primeiro grupo denominou Grupo Escolar Gonçalves Chaves e tinha como diretor o professor José Rodrigues Prates”, está descrito no livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, organizado pelo médico e historiador Hermes Augusto de Paula, edição de 1960. Grupos educativos fechados, como a Escola Normal (1887), o Colégio Imaculada Conceição (1907) e o Colégio Diocesano Nossa Senhora Aparecida (1918) eram as opções existentes.

No início do século XX, havia até educação para enquadrar subversivos. “A escola de Neco Veloso era afamada - para lá iam os meninos insubordinados e alguns outros cujos pais não acreditavam em ensino de grupos. Pois seu Neco, apesar de normalista, confiava imensamente na ação pedagógica do cipó de marmelo e da ‘Santa Luzia de cinco buracos’ - a palmatória, dos quais faziam largo uso com permissão dos pais ou responsáveis pelos alunos. Em 1916, conta-nos ainda Urbino Viana, havia ainda dez escolas rurais situadas em pontos diversos do município”, registra o livro de 1960 à página 136. A partir daí, começa o crescimento social. O mundo vivia a 1ª Grande Guerra Mundial (1914-1918). A Rússia, praticamente de origem feudal e escravizada por um czar autoritário, faz a maior e mais duradoura revolução proletária do planeta. Bastaram três palavrinhas - Paz, Pão e Terra -, para a maioria do sofrido povo russo se unir aos soldados do Exército Vermelho e proclamar a saída da guerra (a Rússia foi o país que saiu mais arrasado do conflito), a necessidade de matar a fome dos milhares de camponeses e trabalhadores urbanos, e autorizar a estatização dos meios de produção do país, o que geraria terra e trabalho para todos. Era a Grande Revolução Bolchevique de Outubro de 1917.
 
“Houve momentos quando a situação era simplesmente desastrosa. No decorrer da Primeira Guerra Mundial e da guerra civil, milhões de pessoas aptas ao trabalho morreram durante as hostilidades e por causa de epidemias e fome. Só a agricultura perdeu 14 milhões de trabalhadores do sexo masculino. Na indústria, vítima duma ruína terrível, o nível de produção de 1920 foi apenas 13,8% do de 1913, o último ano antes da guerra. Durante o mesmo período de 1913-1920, o número de operários industriais no país diminuiu mais de 50%. Em 1920, o país produziu apenas cerca de metade dos cereais produzidos antes da Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918)”, faz a descrição Aleksandr Lébedev a respeito do contexto russo sob o czarismo no livro “Lênin sobre o compromisso na política nos primeiros anos pós-Revolução (1918-1921)”, Edições da Agência de Imprensa Nóvosti, Moscou, 1989.  

O mundo passaria mais adiante pela Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, que assolou de pobreza os Estados Unidos. O livro “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck, retrata bem o período. No Brasil, ocorreria a Revolução de 1930. Liberais começavam a tomar o poder do maior país da América do Sul e a República Velha (1889 a 1930) terminava o seu império. A politização da população era concreta. A Coluna Prestes, o Cangaço e o peso das ordens de coronéis como padre Cícero percorriam o país. De 1945 a 1964, o Brasil vive o período mais democrático da sua história. Marechal Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, Jânio Quadros e João Goulart comandam os destinos da nação, todos eleitos pelo voto direto e popular. O clima de mobilização social contagiava todo o Brasil, sobretudo suas áreas mais sofridas, como o Nordeste. Nascia o Movimento de Cultura Popular (MCP) em Recife, Pernambuco, a Igreja católica se anima e cria o Movimento de Educação de Base (MEB), a União Nacional dos Estudantes (UNE) incentiva o Centro de Cultura Popular (CCP). Programas de alfabetização de crianças, jovens e adultos surgiam pelo país. O presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, dava apoio aos projetos sociais através da Aliança para o Progresso. “A primeira turma da experiência de Angicos [RN] concluiu o curso no dia 2 de abril de 1963 com a cerimônia de entrega de certificados aos que haviam se alfabetizado (300) com a presença do presidente da República João Goulart e de vários governadores do Nordeste e de representantes da Aliança para o Progresso, na qual também falou Aluísio Alves, Paulo Freire e o aluno alfabetizado Antônio Ferreira”, escreve Moacir Gadoti na revista “Educatrix”, de 2014.

O Instituto Dom Bosco (1935) e o Instituto Norte-Mineiro de Educação (1936) iniciavam o seu trabalho em Montes Claros. A cidade recebeu “em 17 de março de 1947, estando na Prefeitura o dr. Demóstenes Rockert, o Grupo Escolar Carlos Versiani. A diretora - d. Raimunda Ataíde de Oliveira - já estava nomeada desde o ano anterior, mas o estabelecimento não funcionara por falta de prédio. A Caixa Escolar foi organizada a 5 de agosto do mesmo ano, tendo como presidente o dr. Alfredo de Souza Coutinho. A 10 de agosto de 1947, inaugurou-se a cantina ‘Diva Rockert, homenageando desta maneira o prefeito que tanto esforço despendeu em prol daquele educandário. Pois o dr. Rockert adaptou em poucos dias o velho chalé da família Sarmento, situado à rua Belo Horizonte, para nele funcionar provisoriamente o grupo. Atualmente o Grupo Escolar Carlos Versiani funciona em três turnos, mantém um biblioteca, uma cantina e uma caixa escolar”, lê-se à página 137 do livro “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes” (1960). Outros grupos escolares se estabeleciam e eram batizados com o nome de Francisco Sá (1948), Dom Aristides de Araújo Pôrto (1955), Colégio Marista São José (1957), Jardim da Infância Presidente Bernardes (1961), Colégio Tiradentes (1964), Escola Estadual Dulce Sarmento (1965) e Colégio São Norberto (1967). O Seminário Nossa Senhora Medianeira de Todas As Graças também existia na época e formava seus primeiros estudantes para a vida: Aureliano José Porto Gonçalves, Geraldo Reis Calixto, Geraldo Marcos Tolentino, José Osmar Teixeira e Raimundo Tadeu de Carvalho.        

As reformas de base se desenvolviam não pelo desejo de um presidente republicano e latifundiário, mas pela pressão social real e verdadeira da população. No entanto, alegria de pobre dura pouco. Abate-se sobre o Brasil o seu período mais sombrio. “Caia a tarde feito um viaduto/E um bêbado trajando luto/Me lembrou Carlitos/A Lua/Tal qual a dona dum bordel/Pedia a cada estrela fria/Um brilho de aluguel/E nuvens!/Lá no mata-borrão do céu/Chupavam manchas torturadas/Que sufoco!/Louco!/O bêbado com chapéu-coco/Fazia irreverências mil/Pra noite do Brasil./Meu Brasil!...” (João Bosco e Aldir Blanc).

Era madrugada de 1º de abril de 1964 e acontecia o golpe civil-militar. A 12ª Delegacia Regional de Ensino de Montes Claros é instalada em 07 de janeiro de 1966, sob a batuta do governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, torturador e um dos mandantes da dita revolução. Conforme relação de estabelecimentos de ensino das redes estadual, municipal e particular contida na obra “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, até 1979, contam-se na cidade 68 escolas públicas, sendo 57 estaduais (uma de música), uma municipal e 10 particulares. Hoje, de acordo com informações atualizadas da 12ª Superintendência Regional de Ensino (SRE), contabilizam-se 60 escolas estaduais, 107 municipais e 100 particulares. Dentre essas, o ensino médio é ofertado por 41 escolas estaduais e 15 particulares. O ensino fundamental é oferecido por 44 escolas estaduais, 59 municipais e 58 particulares. Trinta e sete espaços escolares possuem a oferta de cursos técnicos e profissionalizantes. Dentre esses, 19 são estaduais.

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