Separação

 

POR Miguel Ribeiro (Da Roda de Conversa do Grande Maracanã)


Edvar gostava de futebol. Era um zagueiro fino na adolescência. Não dava botinadas nem bicão pra cima. Um acidente de carro o retirou dos campos de várzea. Trabalhava em uma oficina. Ficou paraplégico e com uma placa de titânio nas costas para sustentar a coluna perdida. Casou-se. Teve três filhas com sua mulher e criou mais uma menininha. Sua mulher foi acometida de um acidente vascular cerebral. Mora no Bairro Santo Amaro aos cuidados das três filhas. Edvar reside com a mãe e a irmã no Bairro Delfino Magalhães. É acompanhado pelo programa "Melhor em Casa", porque a segurança pública foi engolida pela privada. Ele fica imaginando se cada posto de saúde de Montes Claros fosse um mini-hospital, equipado com psicólogos, enfermeiros e médicos, e com medicamentos à disposição, em caso de urgência da população de cada bairro. Sonhar não custa nada pra seu Edvar, que agora está em uma cadeira de rodas e pode participar de corridas atléticas pelo município, pois, "se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão". Seu Edvar só tem medo se um catador de material reciclável descobre que ele tem uma placa de titânio nas costas. Ele não quer ir para a reciclagem.