Novembro
de 1970 passou devagar, no ritmo imposto pela cadeia. Naquela altura eram
apenas sete pessoas na cela de Tito. Uma delas era o padre Marcelo Carvalheira,
de Recife, Pernambuco, o principal assessor de dom Helder Camara. O padre
Marcelo foi solto em novembro e ele mesmo contou como foi sua soltura: ele foi
levado pelo delegado Fleury para sua própria casa, onde a esposa do delegado o
esperava, com um bebê no colo. Ela própria pôs a mesa para que o delegado e seu
hóspede jantassem. O jantar foi servido por mulheres semi-nuas, bem ao estilo porno-cafona
do delegado. Terminada a refeição, o padre Marcelo foi deixado por Fleury num
lugar qualquer, fora de São Paulo, e lhe foi dito que procurasse, ele mesmo, o
caminho de volta para sua casa. Tinha passado 51 dias preso no Deops [Departamento
de Ordem Política e Social]. Pouco tempo depois, o padre Marcelo Carvalheira
foi nomeado [pelo papa Paulo VI] bispo de Guarabira, na Paraíba.
Fonte: Livro “Morrer para viver: a luta de Tito de Alencar Lima contra
a Ditadura Brasileira”, de Ben Strik, Brasilhoeve, Holanda, 2009, página 359
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