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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

Gripe espanhola-estadunidense no início do século XX... Coronavírus no início do século XXI... Barragem de rejeitos minerários arrasa Mariana-MG em 05/11/2015... Barragem de rejeitos minerários arrasa Brumadinho-MG em 25/01/2019... Anderson Gomes e Marielle Franco são executados no Rio de Janeiro-RJ em 14/03/2018... Médicos ortopedistas são executados com 30 tiros em 30 segundos em restaurante na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro-RJ... (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...) (...)(...) (...) (...)(...) (...) (...) E por aí vai...

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Desolação

"A versão oficial, mil vezes repetidas e reiteradas por todo o país e por tudo que era meio de divulgação que o governo encontrou ao seu alcance, acabou se impondo: não houve mortos, os trabalhadores tinham voltados satisfeitos para suas famílias, e a companhia bananeira suspendia suas atividades enquanto a chuva não passasse."

Cem Anos de Solidão
Gabriel Garcia Marquez


A principal praça de Macondo estava batizada de sangue. A revolta dos trabalhadores contra a multinacional por melhores condições de vida no serviço foi reprimida pelo exército colombiano. As rajadas de metralhadoras não perdoaram ninguém: homens, mulheres e crianças foram assassinados sem dó, nem piedade.

Quem sobreviveu preferiu pensar que aquilo tudo não passou de um pesadelo, um sonho ruim. Mais de três mil mortos. Ninguém comentou nada o fato histórico um dia após o ocorrido. A lembrança torturava. Todos os sobreviventes de Macondo ficaram desmemorializados e desmoralizados. Chovia na aldeia fundada por José Arcádio Buendia. O céu estava cinza como se demonstrasse a tristeza de Deus com tamanha injustiça. O luto predominava.


Os mortos de Macondo daquele dia foram considerados desaparecidos, fugidos ou perdidos pela vida afora. Era esse o argumento utilizado pelas famílias das vítimas para justificar a ausência de seus entes queridos na comunidade.

A chuva na aldeia durou anos. Alagamentos e enchentes foram registrados na memória e vividas por todos. Os moradores de Macondo tiveram que improvisar palafitas. Os alimentos escasseavam. Não havia possibilidade de reabastecer a comunidade. Animais eram vistos mortos pelas ruelas da aldeia.

Macondo padecia do sofrimento de ter permitido que a modernidade chegasse ao lugar. Tragédias se curavam com mais tragédias e assim seguia a vida chuvosa naquela aldeia colombiana idealizada por José Arcádio Buendia para ser progressista apenas socialmente.

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