“Há
mais de cem anos que nos dias 16, 17 e 18 de agosto se realizam em Montes
Claros festas religiosas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito
e Divino Espírito Santo, respectivamente. Além das práticas puramente
religiosas, tais como missas, bênçãos e levantamento de mastros, realizam-se
também as marujadas, cabocladas ou caboclinhos, catopês ou dansantes,
cavalhadas e bumba meu boi”. A descrição está registrada à página 611 do livro “Montes
Claros: sua história, sua gente, seus costumes”, edição de 1960, organizado
pelo médico, historiador e folclorista Hermes Augusto de Paula que não
imaginava que, depois de 57 anos, o Norte de Minas Gerais abrigaria o Centro de
Referência em Direitos Humanos Território/Norte, ligado à Secretaria Estadual de
Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania.
Hermes
de Paula catalogou muitos andarilhos no período em que organizou as duas
edições de “Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes” (1960 e 1979).
No artigo “Mendigos”, de autoria de Ciro dos Anjos, publicado às páginas 430 e
431, salienta-se que os moradores de rua eram tratados com certa cordialidade
pelos munícipes. “Os mendigos usavam placa da Municipalidade e eram pessoas de
certa importância na vida local. Davam, Deus me perdoe, a impressão de estarem
perfeitamente à vontade. Não me lembro de ter conhecido nenhum lamuriento que
vivesse a maldizer a sorte. Participavam freqüentemente das conversações de
porta de farmácia, opinando sôbre a solução de problemas urbanos e discutindo
as posturas municipais. Citarei, entre outros, o Braz Tesoureiro, e o Vicente
Cego (que, trancado num quarto, para deixar o vício da embriaguês, fabricou
aguardente com duas ou três melancias que lá achou e foi encontrado bêbado), a
Brasilina, também chamada ‘meu anjo’, a Custódia”, faz memória Ciro dos Anjos.
Os
mendigos naquela época eram tratados com cortesia. Recebiam até doação de um
pires de farinha todo sábado para se alimentar melhor. Atualmente, basta ver
alguém em atitude de estereótipo suspeito (negro, manco, maltrapilho) para logo
apressar o passo, chegar em casa, abrir a porta e assegurar a vida, enquanto,
ao ligar a televisão ou passar o dedo na tela do telefone celular, deparamo-nos
com inúmeros casos de corrupção na capital federal. Mas o público alvo do
Centro de Direitos Humanos não se reduz a salvaguardar a vida daqueles
infortunados pelo dito destino. Pretende proteger a cultura regional das comunidades
rurais dos seis núcleos territoriais do Norte de Minas Gerais: São Francisco,
Planaltos Sanfranciscanos, Encosta da Serra Geral, Gerais da Serra, Alto Rio
Pardo e Serra do Espinhaço. “Nessas regiões, inserem-se distintas
territorialidades e vive-se uma grande diversidade de povos e comunidades
tradicionais denominados como veredeiros, indígenas xakriabás, vazanteiros,
quilombolas, caatingueiros, geraizeiros e apanhadores de flores”, explica o
material de divulgação do Centro de Direitos Humanos que tem a parceria da Cáritas
Brasileira Regional Minas Gerais, das Pastorais Sociais da Arquidiocese de
Montes Claros, da Pastoral da Pessoa em Situação de Rua e do Governo de Minas
Gerais.
O
lançamento oficial do Centro de Referência em Direitos Humanos Território/Norte
aconteceu no entardecer da última quarta-feira (16/08) no Solar dos Sertões do
Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), outra entidade
apoiadora do trabalho social que é feito desde a década de 1980, sobretudo pela
Pastoral da Terra, Pastoral Operária e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O
Centro de Referência, Apoio e Defesa da Cidadania (Cerradania) sempre colabora
com a questão.
Participaram
da inauguração do Centro de Referência em Direitos Humanos Território/Norte Nilmário
Miranda, da Secretaria Estadual de Direitos Humanos, Participação Social e
Cidadania (Sedpac); Marilene Alves de Souza, do CAA-NM; Sônia Gomes de
Oliveira, do Setor Social Arquidiocesano; Maria Tereza Queiroz Carvalho, do
Cerradania; Rodrigo Vieira, da Cáritas Regional; Lucas Chaves, do Setor
Juventude Arquidiocesano; Felipe Gomes da Silva, da Cáritas Arquidiocesana,
onde será a sede organizativa do Centro, cujo endereço é Rua Januária, 387,
Centro de MOC, CEP 39.400-077. Outras informações pelo telefone (38) 3016-7707
ou pelo e-mail caritasarquimoc@hotmail.com. Prestigiaram o lançamento oficial
do Centro de Referência em Direitos Humanos Território/Norte a Pastoral do
Menor, o Regional Norte do Sindicato Único dos Professores em Educação de Minas
Gerais (Sind-UTE-MG), o Regional Norte do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA),
a Cooperativa Grande Sertão, dentre outros organismos de ação social.
O Centro visa “assegurar
o atendimento jurídico, social e psicológico com equipe técnica com experiência
na área, sempre com a perspectiva de um atendimento formativo para o acesso aos
direitos e com a perspectiva de atuação” regional, “produzir conhecimento
crítico acerca dos dados de violações de direitos humanos, bem como colaborar
com a construção de indicadores sociais e com a execução das políticas públicas”,
“desenvolver atividades de fortalecimento da participação social, de
mobilização coletiva no território e de construção de processos organizacionais
para a resolução de conflitos sociais, de forma coletiva, bem como o
fortalecimento de vínculos enquanto grupos, coletivos de minorias e das
próprias organizações da sociedade civil”.
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