Arcebispo incentiva brasileiro a comer sal
Desde sua posse como arcebispo metropolitano de Montes Claros, no Norte
de Minas Gerais, há 10 anos, é comum ouvir dom José Alberto Moura fazer uma
brincadeira séria ou trocadilho bem humorado ao comentar os problemas sociais
do Brasil. Para ele, o brasileiro deveria comer muito sal para aumentar a
pressão... não a arterial... a pressão social sobre os políticos, empreiteiras
e multinacionais que mandam e desmandam em assuntos internos nacionais ao longo
da história como se a nação fosse a casa de Pedro: quem quer mete o dedo!
Semelhante comparação fazia o bispo emérito de Duque de Caxias, dom
Mauro Morelli, em entrevista ao jornal “Pasquim 21”, extinto. Ele dizia que se
o povo brasileiro fosse menos bonzinho, já teria feito Brasília/DF ferver há
muito tempo. Os brasileiros ainda não queimaram a capital federal, mas o
ministro da Fazenda, Rui Barbosa, que batiza com o seu nome ruas em muitas cidades
do país e divulgado como símbolo de homem público honesto, em 1890, “manda
queimar todos os documentos sobre o período escravocrata brasileiro”, dois anos
após a abolição da escravidão pela princesa Isabel. Rui Barbosa é retratado
ironicamente na charge “Os Últimos Vestígios da Escravidão”, de Ângelo
Agostini, publicada na revista “Ilustrada” e reproduzida no livro “Retrato do
Brasil: da Monarquia ao Estado Militar, Volume 1, Ano 1984.
Machado de Assis declarava que “o Brasil real é bom, revela os seus melhores
instintos e o Brasil oficial é caricato e burlesco”, citava o paraibano Ariano
Suassuna ao se referir aos horrores cometidos pelo recém instituído exército
republicano contra o Arraial de Canudos/BA em 1896 e 1897. Bastantes conflitos localizados sempre
ocorreram pelo Brasil ao longo da sua história contra o poder dominante. A
maioria foi combatida até ser totalmente eliminados quaisquer focos de
resistência.
No final do século XX e início deste século XXI, é organizado pela
Igreja católica há 23 anos o Grito dos Excluídos, que quer andar na contramão
da história oficial e ser o protesto da gente oprimida pela sociedade intimista
que subjuga desde 1500 no maior país da América do Sul. Em Montes Claros/MG,
militantes se uniram para reivindicar pelo direito à moradia em 1993. Em 2017,
manifestantes ocupam área nas proximidades da Vila Castelo Branco e Distrito
Industrial para solicitar o mesmo direito constitucional.
Em carta endereçada a padres, diáconos e agentes de pastoral, datada em
09 de agosto, dom José Alberto Moura é direto. “Solicito que convidem e motivem
fieis, além de vocês, para participarem do Grito dos Excluídos e Excluídas”,
que acontecerá na Praça da Matriz, às 7h30min, do dia 07 de setembro. Ali,
hoje, mais de mil moradores de rua residem e são assistidos pela Pastoral do
Povo de Rua. No município, é notório o aumento significativo de moradores por
todos os cantos da cidade. Este ano, o Grito dos Excluídos enfoca “Vida em
Primeiro Lugar: por direitos e democracia a luta é todo dia”.
“Os direitos e os avanços democráticos no Brasil conquistados nas
últimas décadas são fruto de lutas populares. Exemplo disso foi a significativa
participação da sociedade civil no debate para a elaboração e promulgação da
Constituição Federal de 1988, o que contribui para a criação de novas leis,
estatutos, bem como para o surgimento de espaços de participação popular. Embora
muitas leis que garantam direitos sociais tenham sido regulamentadas, correm o
risco de serem retiradas”, analisa dom José Alberto Moura na carta chamativa
para o 23º Grito dos Excluídos.
“(...) Aqui em Montes Claros são 24 anos de realização do Grito. Por
isto, é importante a organização dos grupos de periferia, dos grupos de base,
das pastorais e movimentos sociais. Vamos nos unir neste momento na defesa dos
direitos e da democracia, porque estas são lutas de todos os dias e não podemos
nos calar neste momento”, convoca o arcebispo e anima.
“Ajudem a organizar as pessoas para participarem no dia 07 de setembro
do Grito e entre os dias 1º e 06 de setembro. Serão vários os momentos de
debates e mobilização. Ajudem a mobilizar e venham fazer parte deste momento”, motiva na carta convocatória do dia
09 de agosto.
As pastorais e movimentos sociais da cidade se preparam desde o início
do ano para este Grito. Nesta terça-feira (15/08), encontraram-se
representantes das Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação, da
Cáritas Arquidiocesana, da Comissão Pastoral da Terra, do Centro de Agricultura
Alternativa do Norte de Minas Gerais (CAA-NM), do Regional Norte do Sindicato
Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), do Regional
Norte do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), do
Sindicato dos Servidores Municipais, do Levante Popular da Juventude, dentre
outros organismos de ação social, para traçar as últimas estratégias de
mobilização para o protesto do dia 07/09.
Antes, em 18/08, está agendada manifestação contra a privatização da
Usina de São Simão, no Sul de Minas Gerais. No dia 21/08, acontecerá Roda de
Conversa entre as Pastorais Sociais. Também nesse dia, às 18h, está marcada Roda
de Conversa na Fundação Fé e Alegria. No dia 22/08, às 18h, a Roda de Conversa
será no Sindicato dos Servidores Municipais.
Haverá no dia 02/09, das 8 às 12h, na Escola da Saúde da Universidade
Estadual de Montes Claros (Unimontes), Seminário dos Movimentos Sociais para
trabalhar análise de conjuntura política-econômica-social e estudo dos eixos
saúde, educação, previdência, terra, trabalho, moradia, água, mídia e violência.
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